Crátilo de Atenas
- (450 a.C)
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo
pré-socrático da Grécia antiga que era considerado um dos poucos discípulos do
filósofo Heráclito de Éfesos. Sabe-se que ele floresceu em meados do século V
a.C, porém a data de sua morte é incerta. Era visto como um dos primeiros
filósofos a defender um conceito naturalista da linguagem. Sua historiografia é
escassa, pois são poucos os dados coletados e produzidos a seu respeito, quase
todas as informações do seu sistema de pensamento estão citadas em fontes
indiretas. Platão escreveu uma obra intitulada de “Crátilo”, cujos indícios
apontam para a possibilidade do personagem dessa obra ter sido o mesmo Crátilo
que era discípulo de Heráclito. Segundo o filósofo Aristóteles, Crátilo teria
sido um dos mestres de Platão antes deste ter se tornado discípulo de Sócrates.
Pesquisadores apontam que as principais teses defendidas por Crátilo com base
na filosofia Heraclicista discorriam ideias sobre: o fluxo universal; o
mobilismo radical; a incognoscibilidade do real; e sobre a justeza dos nomes.
Nesse contexto, ele traduzia seu conceito de “logos” discorrendo
sobre os horizontes do pensamento, da palavra, do conhecimento, da sabedoria, e
da linguagem. Sua filosofia teria exercido grande influência nas bases do
pensamento cético.
Filosofia
Mobilista
Crátilo
aperfeiçoou as ideias de seu mestre Heráclito, pois enquanto Heráclito dizia
que uma pessoa não poderia entrar duas vezes no mesmo rio, visto que na segunda
vez nem a pessoa seria a mesma e nem o rio seria o mesmo, para Crátilo não seria
possível entrar sequer uma única vez, pois na sua visão, a água que molhasse a
ponta do pé não seria a mesma que iria banhar o calcanhar. Desse modo, sua
doutrina é considerada como uma interpretação radical do pensamento de seu
mestre. Nesse sentido, Crátilo levou ao extremo o conceito de “panta rei”,
isto é, de “devir” criado por Heráclito, formulando sua teoria
com base nas ideias de seu mestre, porém com um aprofundamento maior dessas
teorias. Da mesma forma, ele dizia que era impossível dar um nome às coisas,
pois estando “estas” em um constante “devir”, não poderiam em um segundo
momento, serem mais “aquelas”. Argumentava que devido à impermanência rápida e
a transformação constante das coisas, o conhecimento sobre elas seria
impossível, ou seja, nada se poderia saber, nada se conseguiria afirmar.
Limitava-se, portanto a apontá-las, contentando-se em apenas mover os dedos.
Chegando a sugerir que o homem deveria silenciar a respeito da diferença entre
a linguagem e a realidade das coisas. Crátilo teria estudado também as relações
que as letras teriam com os objetos, dessa maneira, ele estudava como a
natureza era simbolizada através da arte com uso da linguagem.
Filosofia da
Linguagem
Platão escreveu um
diálogo chamado de "Crátilo" em que discorre sobre a gênese da
linguagem e suas relações com a comunicação. A obra dialoga entre duas
correntes de pensamento que se dividem em: tese convencional e tese
naturalista. Crátilo defendia a segunda corrente, pois acreditava que as coisas
teriam um nome próprio por natureza. Durante o diálogo, Crátilo elabora
questionamentos sobre os nomes das coisas, desse modo, ele problematiza ideias
a respeito da origem das palavras e o sentido delas. É nessa obra que a famosa
frase de Platão: “o pensamento é o diálogo da alma consigo mesma”,
tornou-se conhecida. No decorrer do diálogo, Platão descreve que a linguagem
oral seria uma cópia do pensamento e que a linguagem escrita seria uma cópia da
linguagem oral, nesse sentido, ele prossegue fazendo reflexões sobre a natureza
dos nomes e os seus possíveis significados. Embora defendesse a discrição para
alguns assuntos, Crátilo possuía grande poder oratório em que descrevia sua
dialética singular e autêntica, pontuando discursos retóricos que conduziam
seus interlocutores a debates inconclusos.
Filosofia
Sapiencial
+ “Todas as leis
são igualmente justas”.
+ “Não se pode
nunca afirmar se uma coisa é falsa ou verdadeira”.
+ “Todas as coisas
possuem nomes justos conforme a sua natureza”.
+ “Ninguém se
banha sequer uma única vez em um mesmo rio, pois a água que molha a ponta dos
pés não é a mesma que toca o calcanhar”.
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