quarta-feira, 22 de abril de 2020

Crátilo de Atenas

Crátilo de Atenas - (450 a.C)

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga que era considerado um dos poucos discípulos do filósofo Heráclito de Éfesos. Sabe-se que ele floresceu em meados do século V a.C, porém a data de sua morte é incerta. Era visto como um dos primeiros filósofos a defender um conceito naturalista da linguagem. Sua historiografia é escassa, pois são poucos os dados coletados e produzidos a seu respeito, quase todas as informações do seu sistema de pensamento estão citadas em fontes indiretas. Platão escreveu uma obra intitulada de “Crátilo”, cujos indícios apontam para a possibilidade do personagem dessa obra ter sido o mesmo Crátilo que era discípulo de Heráclito. Segundo o filósofo Aristóteles, Crátilo teria sido um dos mestres de Platão antes deste ter se tornado discípulo de Sócrates. Pesquisadores apontam que as principais teses defendidas por Crátilo com base na filosofia Heraclicista discorriam ideias sobre: o fluxo universal; o mobilismo radical; a incognoscibilidade do real; e sobre a justeza dos nomes. Nesse contexto, ele traduzia seu conceito de “logos” discorrendo sobre os horizontes do pensamento, da palavra, do conhecimento, da sabedoria, e da linguagem. Sua filosofia teria exercido grande influência nas bases do pensamento cético.

Filosofia Mobilista

Crátilo aperfeiçoou as ideias de seu mestre Heráclito, pois enquanto Heráclito dizia que uma pessoa não poderia entrar duas vezes no mesmo rio, visto que na segunda vez nem a pessoa seria a mesma e nem o rio seria o mesmo, para Crátilo não seria possível entrar sequer uma única vez, pois na sua visão, a água que molhasse a ponta do pé não seria a mesma que iria banhar o calcanhar. Desse modo, sua doutrina é considerada como uma interpretação radical do pensamento de seu mestre. Nesse sentido, Crátilo levou ao extremo o conceito de “panta rei”, isto é, de “devir” criado por Heráclito, formulando sua teoria com base nas ideias de seu mestre, porém com um aprofundamento maior dessas teorias. Da mesma forma, ele dizia que era impossível dar um nome às coisas, pois estando “estas” em um constante “devir”, não poderiam em um segundo momento, serem mais “aquelas”. Argumentava que devido à impermanência rápida e a transformação constante das coisas, o conhecimento sobre elas seria impossível, ou seja, nada se poderia saber, nada se conseguiria afirmar. Limitava-se, portanto a apontá-las, contentando-se em apenas mover os dedos. Chegando a sugerir que o homem deveria silenciar a respeito da diferença entre a linguagem e a realidade das coisas. Crátilo teria estudado também as relações que as letras teriam com os objetos, dessa maneira, ele estudava como a natureza era simbolizada através da arte com uso da linguagem.   

Filosofia da Linguagem

Platão escreveu um diálogo chamado de "Crátilo" em que discorre sobre a gênese da linguagem e suas relações com a comunicação.  A obra dialoga entre duas correntes de pensamento que se dividem em: tese convencional e tese naturalista. Crátilo defendia a segunda corrente, pois acreditava que as coisas teriam um nome próprio por natureza. Durante o diálogo, Crátilo elabora questionamentos sobre os nomes das coisas, desse modo, ele problematiza ideias a respeito da origem das palavras e o sentido delas. É nessa obra que a famosa frase de Platão: “o pensamento é o diálogo da alma consigo mesma”, tornou-se conhecida. No decorrer do diálogo, Platão descreve que a linguagem oral seria uma cópia do pensamento e que a linguagem escrita seria uma cópia da linguagem oral, nesse sentido, ele prossegue fazendo reflexões sobre a natureza dos nomes e os seus possíveis significados. Embora defendesse a discrição para alguns assuntos, Crátilo possuía grande poder oratório em que descrevia sua dialética singular e autêntica, pontuando discursos retóricos que conduziam seus interlocutores a debates inconclusos.

Filosofia Sapiencial

+ “Todas as leis são igualmente justas”.

+ “Não se pode nunca afirmar se uma coisa é falsa ou verdadeira”.

+ “Todas as coisas possuem nomes justos conforme a sua natureza”.

+ “Ninguém se banha sequer uma única vez em um mesmo rio, pois a água que molha a ponta dos pés não é a mesma que toca o calcanhar”.  

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução do português. Textos adicionais e notas de Edson Bini. São Paulo. Edipro. 2012.

AUROUX, Silvain. A Filosofia da Linguagem. Campinas: Unicamp, 1998.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo. Cultrix, 1967.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA. 1996.

DIELS, Hermann; KRANZ, Walther. Os Fragmentos dos Pré-socráticos. Berlim: Weidmannsche Buchhandlung, 1906.

KOYRÉ, Alexandre. Introdução à Leitura de Platão. Lisboa: Ed. Presença, 1984.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília. UnB. 2008.

MARCONDES, Danilo. Iniciação a História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. 13ª ed. Rio de Janeiro. Zahar. 2010.

MARTINS, Mary Julia. Crátilo e a Origem dos Nomes. Rev. Internacional de Humanidades. Barcelona: FEUSP, 2007.

MUTSCHLER, Hans Dieter. Introdução à filosofia da natureza. Trad. Enio Paulo Giachini. São Paulo: Loyola, 2008.

PLATÃO. Diálogo: Crátilo e Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 1988.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª.ed. Vol.1. São Paulo: Paulus.1990.

RUSSELL, Bertrand. História da filosofia ocidental. São Paulo. Companhia editora nacional. 1957.

SILVA, André Luiz Braga. Platão e Heráclito: parricídio e Ressuscitação. Uberlândia: Rev. Ítaca 16, UFRJ, 2011.

SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2010.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do Pensamento Grego, São Paulo: Difel, 1981.

Nenhum comentário:

Postar um comentário