sábado, 11 de abril de 2020

Xenófanes de Cólofon

Xenófanes de Cólofon – (570 a 475) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga que era considerado o fundador da escola Eleática. Direcionou seus estudos para o campo da Teologia, Filosofia, Poesia e Cosmologia. Figura na lista dois chamados filósofos da “phisis”, isto é, que investigavam na natureza a origem racional do cosmos. Escreveu suas obras em formato de poesia, muitas delas desapareceram com o tempo, tendo restado apenas alguns fragmentos ou citações em trabalhos de outros pensadores. Ficou conhecido como “o rapsodo”, pois vivia perambulando pelas ruas, recitando poemas contra as crenças religiosas e dominantes da época, por isso, também era visto como um andarilho errante. Segundo biógrafos, seu nomadismo deu a ele a sabedoria necessária para questionar, explicar e instruir-se por diversas áreas do conhecimento. De acordo com os historiadores, ele teria sido mestre do filósofo Parmênides de Eléia. Xenófanes nasceu em 570 a.C, na cidade de Cólofon região que hoje é conhecida como Turquia e que fica situada nas proximidades da Ásia menor, possivelmente faleceu com mais de 90 anos, por volta de 475 a.C, em algum local pelo sul da Itália.

Filosofia Teológica

No campo da teologia, Xenófanes foi um forte combatente do antropomorfismo, pois ele dizia que se os animais pudessem pintar, eles representariam seus deuses em forma de animais. Ele quis dizer que o homem tende a formular um conceito de Deus a sua própria imagem, queria demonstrar a unidade e perfeição de Deus, como sendo à essência de todas as coisas, com isso, ele teria rebatido principalmente o pensamento antropomórfico dos poetas da época. Sua filosofia se relacionava com uma concepção teológica de mundo. Na sua visão, só existe um Deus único, em nada semelhante aos homens, que é eterno, imóvel, puro e nunca foi gerado. Argumentava que era necessário dá ao conceito divino uma pura e elevada formulação, dessa maneira, ele pontuava que:

O tudo é “um” e o “um” é Deus. O verdadeiro Deus é único, com poder absoluto, clarividência perfeita, justiça infalível, majestade imóvel; que em nada se assemelha aos deuses homéricos sempre a perambular pelo mundo sob o império das paixões. (Xenófanes de Colófon).

O combate ao antropomorfismo consistia na ideia que ele tinha de que Deus não poderia ter formas humanas, essas formas não poderiam ser físicas, espirituais ou psicológicas. Desse modo, ele era considerado um “panteísta idealista”, pois argumentava que Deus seria o próprio cosmos, porém dotado de imutabilidade. O conceito de Deus para Xenófanes seria de um ser diferente da visão dos pensadores da época, com uma identidade abstrata, pois não possuía nenhuma qualidade entendida pelo homem, e não poderia ter nenhuma semelhança ou aparência com o homem. Nesse sentido, não teria nenhuma simetria material, espiritual ou estética, assim sendo, ele acreditava que a verdade das coisas era inatingível aos homens, porque mesmo que alguém dissesse a verdade sobre algo, ele não poderia saber o que seria de fato um axioma da verdade. Para Xenófanes, Deus não teria origem, pois ele acreditava que se Deus pudesse nascer, logicamente também poderia morrer, pois, o que tivesse origem também teria um fim. Então, a realidade seria definida pela opinião e aparência das coisas. Embora defendesse a existência de apenas um Deus supremo, ele acreditava na possibilidade da haver seres superiores aos humanos e inferiores ao Deus supremo, ou seja, semideuses. Devido a sua visão de combate ao pensamento antropomórfico, ele foi considerado por muitos historiadores como sendo um reformador religioso.


Filosofia da Natureza

Estabeleceu como “arché” do universo um elemento chamado de “terra”, essa substância seria o principal elemento de formação das coisas na natureza. Dessa forma, esse princípio teria como características básicas o conceito de “unicidade” e “imutabilidade”. A “terra” seria o princípio físico das coisas, principalmente do homem, que na sua visão era formado de “terra e água”, assim sendo, ele definia que: “tudo vem da terra e para ela volta”. Sua crença panteísta trabalhava um conceito idealista de que haveria uma unidade em toda a matéria. Essa ideia de “Um” não era apenas uma noção de matéria, mas estava relacionado também ao conceito de “Deus”. Ele argumentava que o universo seria “uno” e que essa singularidade era vista também como uma totalidade, isto é, a “unidade do todo” com um aspecto esférico.

Ao observar, em seus estudos, os fósseis de animais, ele conseguiu formular evidências sobre a teoria da “História da Terra”, percebendo que alguns fósseis de animais marinhos, estariam em locais distantes e diferentes uns dos outros, desse modo, ele compreendeu que em outros tempos àqueles locais poderiam estar embaixo da água. Teorizava que os ventos e as nuvens surgiam da água, pois explicava que a força que impulsiona o vento, vem do mar. Definia que o arco-íris era formado por uma espécie de nuvem púrpura, vermelha, roxa, azul, e amarela; Na sua cosmologia, ele presumia que o Sol seria um novo Sol a cada dia, pois segundo ele, o Sol era formado por pequenas fagulhas que se combinavam ao amanhecer e desapareciam no fim da tarde. Desse modo, ele acreditava na existência de infinitos Sóis e Luas. Dizia que o movimento era uma ilusão, pois seria na verdade a separação entre o percebido e o refletido.

Filosofia Moral

Destacava os valores intelectuais enaltecendo a superioridade da virtude e do comedimento. Dizia que essas seriam as forças verdadeiras para o desenvolvimento do “logos”. Para ele, o homem deveria viver em busca da sabedoria e dos prazeres de forma sociável, isto é, mantendo o equilíbrio em relação aos prazeres, sem grandes excessos. Explicava que o saber era mais importante que a aparência e acreditava que o progresso era conquistado através da sabedoria. Dessa forma, pontuava os valores da sabedoria e da inteligência, como sendo valores superiores, pois a moral do sábio seria superior a moral dos atletas, aos quais teriam destaques, em sua época, pela força física e pela estética corporal. Para Xenófanes, o que tornava melhor os homens e as cidades (polis) em que eles viviam era à força da inteligência e da sabedoria, e não a força física. Esse pensamento visava combater a valorização que os gregos davam para a força física, pois não adiantava lutar por um corpo perfeito, quando na verdade, tudo teria vindo da terra e para ela retornaria. Nesse sentido, ele condenava a imoralidade dos deuses da mitologia grega, criticava a crença pitagórica na transmigração da alma e censurava o vício da luxúria. Ele defendeu alguns valores éticos que influenciaram outros filósofos que o sucederam.

Curiosidades

Xenófanes ironizava o conceito de metempsicose descrito por Pitágoras, dessa feita, ele descreveu um episódio sobre Pitágoras, que este, passando um dia por um cão que estava sendo espancado, tomou-se de piedade e pediu ao dono do animal que parasse de bater-lhe, pois se tratava de um amigo de Pitágoras, reencarnado em cão, e que este reconhecera ao ouvi-lo gemer.

Obras:

- Sobre a Natureza

- Elegias

- Paródias

- Fundação de Cólofon;

- Colonização de Eléia;

 

Filosofia Sapiencial

- “É preciso um sábio para reconhecer um sábio.”.

- “Não é justo usar a força contra a sabedoria.”.

- "Nenhum ‘homem’ conhece a verdade ou a certeza e nenhum nunca saberá.”

- “O mundo não foi gerado, pois é eterno e incorruptível”.

- “Os etíopes dizem que os seus deuses são de pele escura e possuem o nariz achatado, os trácios, que os seus são loiros e de olhos azuis.”.

- “Se os bois e os cavalos tivessem mãos e pudessem pintar e produzir obras de arte similares às do homem, os cavalos pintariam os deuses sob forma de cavalos e os bois pintariam os deuses sob forma de bois.”.

- “Todo inteiro vê, todo inteiro pensa, todo inteiro ouve”.

- "Não disse Deus tudo a nós, mortais, quando o tempo começou, apenas através de uma investigação demorada o conhecimento ao homem aportou".

- “Os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm vestuário, fala e corpos iguais aos seus.”.

- “Sem esforço tudo vibra com o coração do pensamento”.  

- “O que de belo e honesto os deuses não concedem aos homens senão o poder de muito trabalho e persistência.”

 - “Tudo aos deuses atribuíram Homero e Hesíodo, tudo quanto entre os homens merece repulsa e censura. Roubo, adultério e fraude mútua".

- “É de louvar-se o homem que, bebendo, revela atos nobres, como a memória que tem e o desejo de virtude, sem nada falar de Titãs, nem de Gigantes, nem de Centauros, ficções criadas pelos antigos. ou de lutas civis violentas, nas quais nada há de útil”.

 

Fontes: 

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