Xenófanes de
Cólofon – (570 a 475) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo
pré-socrático da Grécia antiga que era considerado o fundador da escola
Eleática. Direcionou seus estudos para o campo da Teologia, Filosofia, Poesia e
Cosmologia. Figura na lista dois chamados filósofos da “phisis”, isto
é, que investigavam na natureza a origem racional do cosmos. Escreveu suas obras em formato de poesia,
muitas delas desapareceram com o tempo, tendo
restado apenas alguns fragmentos ou citações em trabalhos de outros pensadores.
Ficou conhecido como “o rapsodo”, pois vivia perambulando
pelas ruas, recitando poemas contra as
crenças religiosas e dominantes da época, por isso, também era visto como um andarilho errante. Segundo biógrafos,
seu nomadismo deu a ele a sabedoria necessária para questionar, explicar e
instruir-se por diversas áreas do conhecimento. De acordo com os historiadores,
ele teria sido mestre do filósofo Parmênides de Eléia. Xenófanes nasceu em 570
a.C, na cidade de Cólofon região que hoje é conhecida como Turquia e que fica
situada nas proximidades da Ásia menor, possivelmente faleceu com mais de 90
anos, por volta de 475 a.C, em algum local pelo sul da Itália.
Filosofia
Teológica
No campo da
teologia, Xenófanes foi um forte combatente do antropomorfismo, pois ele dizia
que se os animais pudessem pintar, eles representariam seus deuses em forma de
animais. Ele quis dizer que o homem tende a formular um conceito de Deus a sua
própria imagem, queria demonstrar a unidade
e perfeição de Deus, como sendo à essência de todas as coisas, com isso, ele
teria rebatido principalmente o pensamento antropomórfico dos poetas da época. Sua
filosofia se relacionava com uma concepção teológica de mundo. Na sua visão, só existe um Deus único, em nada
semelhante aos homens, que é eterno, imóvel, puro e nunca foi gerado. Argumentava
que era necessário dá ao conceito divino uma pura e elevada formulação, dessa
maneira, ele pontuava que:
O
tudo é “um” e o “um” é Deus. O
verdadeiro Deus é único, com poder absoluto, clarividência perfeita, justiça
infalível, majestade imóvel; que em nada se assemelha aos deuses homéricos
sempre a perambular pelo mundo sob o império das paixões. (Xenófanes de
Colófon).
O
combate ao antropomorfismo consistia na ideia que ele tinha de que Deus não
poderia ter formas humanas, essas formas não poderiam ser físicas, espirituais
ou psicológicas. Desse modo, ele era considerado um “panteísta idealista”, pois
argumentava que Deus seria o próprio cosmos, porém dotado de imutabilidade. O
conceito de Deus para Xenófanes seria de um ser diferente da visão dos
pensadores da época, com uma identidade abstrata, pois não possuía nenhuma
qualidade entendida pelo homem, e não poderia ter nenhuma semelhança ou
aparência com o homem. Nesse sentido, não teria nenhuma simetria material,
espiritual ou estética, assim sendo, ele acreditava que a verdade das coisas
era inatingível aos homens, porque mesmo que alguém dissesse a verdade sobre
algo, ele não poderia saber o que seria de fato um axioma da verdade. Para
Xenófanes, Deus não teria origem, pois ele acreditava que se Deus pudesse
nascer, logicamente também poderia morrer, pois, o que tivesse origem também
teria um fim. Então, a realidade seria definida pela opinião e aparência das
coisas. Embora defendesse a existência de apenas um Deus supremo, ele
acreditava na possibilidade da haver seres superiores aos humanos e inferiores
ao Deus supremo, ou seja, semideuses. Devido a sua visão de combate ao pensamento antropomórfico, ele foi
considerado por muitos historiadores como sendo um reformador religioso.
Filosofia da Natureza
Estabeleceu
como “arché” do universo um elemento chamado de “terra”,
essa substância seria o principal elemento de formação das coisas na natureza.
Dessa forma, esse princípio teria como características básicas o conceito de
“unicidade” e “imutabilidade”. A “terra” seria
o princípio físico das coisas, principalmente do homem, que na sua visão era
formado de “terra e água”, assim sendo, ele definia que: “tudo
vem da terra e para ela volta”. Sua
crença panteísta trabalhava um conceito idealista de que haveria uma unidade em
toda a matéria. Essa ideia de “Um” não era apenas
uma noção de matéria, mas estava relacionado também ao conceito de “Deus”. Ele
argumentava que o universo seria “uno” e que essa singularidade era vista
também como uma totalidade, isto é, a “unidade do todo” com um aspecto
esférico.
Ao
observar, em seus estudos, os fósseis de animais, ele conseguiu formular
evidências sobre a teoria da “História da Terra”, percebendo que alguns fósseis
de animais marinhos, estariam em locais distantes e diferentes uns dos outros,
desse modo, ele compreendeu que em outros tempos àqueles locais poderiam estar
embaixo da água. Teorizava que os ventos e as nuvens surgiam da água, pois
explicava que a força que impulsiona o vento, vem do mar. Definia que o
arco-íris era formado por uma espécie de nuvem púrpura, vermelha, roxa, azul, e
amarela; Na sua cosmologia, ele presumia que o Sol seria um novo Sol a cada
dia, pois segundo ele, o Sol era formado por pequenas fagulhas que se
combinavam ao amanhecer e desapareciam no fim da tarde. Desse modo, ele
acreditava na existência de infinitos Sóis e Luas. Dizia
que o movimento era uma ilusão, pois seria na verdade a separação entre o
percebido e o refletido.
Filosofia
Moral
Destacava
os valores intelectuais enaltecendo a superioridade da virtude e do
comedimento. Dizia que essas seriam as forças verdadeiras para o
desenvolvimento do “logos”. Para ele, o homem deveria viver em busca da
sabedoria e dos prazeres de forma sociável, isto é, mantendo o equilíbrio em
relação aos prazeres, sem grandes excessos. Explicava que o
saber era mais importante que a aparência e acreditava que o progresso era
conquistado através da sabedoria. Dessa forma, pontuava os valores da sabedoria
e da inteligência, como sendo valores superiores, pois a moral do sábio seria
superior a moral dos atletas, aos quais teriam destaques, em sua época, pela
força física e pela estética corporal. Para Xenófanes, o que tornava melhor os
homens e as cidades (polis) em que eles viviam era à força da
inteligência e da sabedoria, e não a força física. Esse pensamento visava combater a valorização que os gregos davam para a
força física, pois não adiantava lutar por um corpo perfeito, quando na
verdade, tudo teria vindo da terra e para ela retornaria. Nesse
sentido, ele condenava a imoralidade dos deuses da mitologia grega, criticava
a crença pitagórica na transmigração da
alma e censurava o vício da luxúria. Ele defendeu alguns valores
éticos que influenciaram outros filósofos que o sucederam.
Curiosidades
Xenófanes
ironizava o conceito de metempsicose descrito por Pitágoras, dessa feita, ele
descreveu um episódio sobre Pitágoras, que este, passando um dia por um cão que
estava sendo espancado, tomou-se de piedade e pediu ao dono do animal que
parasse de bater-lhe, pois se tratava de um amigo de Pitágoras, reencarnado em
cão, e que este reconhecera ao ouvi-lo gemer.
Obras:
- Sobre a Natureza
- Elegias
- Paródias
- Fundação de
Cólofon;
- Colonização de
Eléia;
Filosofia
Sapiencial
- “É preciso um
sábio para reconhecer um sábio.”.
- “Não é justo
usar a força contra a sabedoria.”.
- "Nenhum
‘homem’ conhece a verdade ou a certeza e nenhum nunca saberá.”
- “O mundo não foi
gerado, pois é eterno e incorruptível”.
- “Os etíopes
dizem que os seus deuses são de pele escura e possuem o nariz achatado, os
trácios, que os seus são loiros e de olhos azuis.”.
- “Se os bois e os
cavalos tivessem mãos e pudessem pintar e produzir obras de arte similares às
do homem, os cavalos pintariam os deuses sob forma de cavalos e os bois
pintariam os deuses sob forma de bois.”.
- “Todo inteiro
vê, todo inteiro pensa, todo inteiro ouve”.
- "Não disse
Deus tudo a nós, mortais, quando o tempo começou, apenas através de uma
investigação demorada o conhecimento ao homem aportou".
- “Os mortais
imaginam que os deuses foram gerados e que têm vestuário, fala e corpos iguais
aos seus.”.
- “Sem esforço
tudo vibra com o coração do pensamento”.
- “O que de belo e
honesto os deuses não concedem aos homens senão o poder de muito trabalho e
persistência.”
- “Tudo aos
deuses atribuíram Homero e Hesíodo, tudo quanto entre os homens merece repulsa
e censura. Roubo, adultério e fraude mútua".
- “É de louvar-se
o homem que, bebendo, revela atos nobres, como a memória que tem e o desejo de
virtude, sem nada falar de Titãs, nem de Gigantes, nem de Centauros, ficções
criadas pelos antigos. ou de lutas civis violentas, nas quais nada há de útil”.
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