domingo, 5 de abril de 2020

Parmênides de Eleia

Parmênides de Eleia – (530 a 460) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega que era considerado o principal representante da Escola Eleática. Alguns historiadores o conceituam como sendo um dos pais do imobilismo universal. Refutou as ideias do filósofo Heráclito de Éfeso, fazendo-lhe contraposição de pensamentos. Pertencia a uma família nobre, tendo sido admirado pelos sábios da época por sua elevada conduta moral e ponderada. Exerceu grande influência nas ideias de Platão. A escola eleática, à qual ele fez parte, teve filósofos notáveis como Zenão de Eléia, Melisso de Samos e Xenófanes, que foi seu mestre. Era amigo de um filósofo pitagórico conhecido por Amínias, por isso teria estudado também algumas ideias da Escola pitagórica. Parmênides era um poeta e escreveu sua  obra em versos hexâmetros semelhantes aos de Homero, além disso, ele atribuiu suas ideias a uma revelação divina. Escreveu uma obra intitulada “sobre a natureza e sua permanência”. Nesse texto, ele teria afirmado que a tal revelação divina, teria lhe iluminado sobre a verdade em relação à imutabilidade das coisas. Ele nasceu aproximadamente em 530 a.C na cidade grega de Eleia (atual Itália), situada na região da Magna Grécia. O nascimento e morte de Parmênides  ainda não é bem definido por historiadores, tendo vivido aproximadamente entre os séculos VI e V a.C. Acredita-se que tenha falecido por volta de 460 a.C.

Filosofia Cosmológica

Para o descrito filósofo, havia uma espécie de organização racional do universo que era unitária, infinita, indivisível, indestrutível, imutável e imóvel. Nesse sentido, o “ser” das coisas era o princípio fundamental de tudo, pois seria baseado em uma espécie de ideia infinita e universal. Na sua visão, toda a realidade seria imutável, estática, e sua essência estaria incorporada na individualidade divina do “ser-absoluto”, ao qual permearia todo o universo. Esse “ser” na visão de Parmênides era onipresente, já que qualquer descontinuidade em sua presença seria equivalente à existência de seu oposto, isto é, do “não-ser”. Desse modo, ele concluía que: o que está fora do “ser”, não é “ser”, pois o “não-ser” é nada; o “ser”, portanto, “é”. Ele acreditava que o “ser” seria a causa primeira de tudo no universo, essa visão do “ser” era uma visão de matéria, como se dessa matéria que era denominada “ser”, surgisse tudo no universo. Parmênides observava as mudanças físicas que ocorriam no mundo como sendo uma mistura em que participam o “ser” e o “não ser”, resultando disso tudo um “vir-a-ser”. A mistura seria feita pelo desejo e quando o desejo era satisfeito o “ser” e o “não-ser” novamente se separavam. Para ele, não existia nada além do “ser”, desse modo, ele dizia que: 

“se o mundo é logicamente imutável e o mundo que observamos é completamente mutável, podemos deduzir que esse mundo só pode ser falso e tudo não passa de uma ilusão. O mundo sensível é uma ilusão. Uma vez que o mundo é cheio, não há espaço para o movimento e, portanto, nem para a mudança”. (Parmênides).

Nesse sentido, ele quis dizer que só seria possível chegarmos a alguma verdade universal, se conseguíssemos nos desprender dos sentidos, pois o que é verdadeiro só poderia ser capitado pela razão. Desse modo, afirmava que no caminho da verdade que seria a realidade, tudo “é o que é”, pois a existência seria atemporal, uniforme, engendrada, necessária e indestrutível. Já em relação ao movimento dizia ser impossível, negando a existência do nada e do “não-ser”. Pode-se concluir que o “ser” apenas “é”, pois se tivesse sido criado por algo, teria sido originado por outro “ser”. Ele também não poderia ter sido criado do nada, pois se assim fosse, esse nada, que seria o “não-ser”, então, existiria, e como não existe o “não-ser”, pode-se deduzir que o “ser” simplesmente “é”.

Filosofia ontológica

Parmênides abordou temas relacionados à ontologia do "ser" e sobre a "razão lógica". A ciência conhecida como ontologia estuda o ser enquanto ser, ela nasceu do embate entre as ideias de Parmênides e Heráclito. Nesse sentido, enquanto Heráclito afirmava que um homem não poderia entrar duas vezes no mesmo rio, pois tudo estaria em constante movimento, Parmênides dizia o contrário, afirmando que tudo estaria em um eterno repouso. Explicava que só poderia existir o “ser”, desse modo, ele pontuava que: “o ser é e o não ser não é.”. O devir de Heráclito seria o processo de mudança entre o “ser” e o “não-ser” ao qual chamou de “vir-a-ser”. Para Parmênides esse “vir-a-ser” não seria possível, pois dizia que esse processo de mudança era ilusório, dado que, o “vir-a-ser” seria na verdade uma ilusão ofuscada pelos sentidos do corpo. Argumentava que a ideia apontada por Heráclito de que as mudanças, isto é, o “vir-a-ser” seria um “ser”, era completamente equivocada, porque na verdade essa mudança não era real e o conceito de “vir-a-ser” não poderia ser considerado algo como o “ser”. A frase de Parmênides que sintetizava esse pensamento era “toda mutação é ilusória”. 

Para Parmênides a sensação levava o indivíduo pelo caminho errado da falsa verdade, a sensação gerava contradições e isso levaria os indivíduos a confundirem o “ser” com o “não ser”. Ele criou uma teoria sobre o que estaria por trás das aparências e das transformações das coisas. Em vista disso, ele fazia comparações entre pares de opostos, explicando as divisões e contradições dos pares de opostos. Assim sendo, ao comparar os pares de opostos, ele fazia a mesma analogia da luz com a escuridão, dizendo que o segundo par era a negação do primeiro. Cada um seria apenas como a negação do outro, e então, de maneira metafisica, o “não-ser”, seria apenas a negação do “ser”. O “ser” e o “não-ser” originavam o “vir-a-ser”, porém esse “vir-a-ser” seria uma ilusão, pois só existe o “ser”, dado que, o “não-ser” é apenas a negação do “ser”.

Filosofia da Metafísica

Para alguns estudiosos ele também seria o fundador da metafísica do ser. Na filosofia de Parmênides, a ideia de pensar e de ser era a mesma coisa, seu pensamento influenciou muito o filósofo Platão sobre o conceito de "doxa", daí ele explicava que o caminho da opinião e dos sentidos, levaria a uma conclusão falsa. Parmênides trabalhava a ideia de que a “alethéia” seria a luz da verdade, daí o "ser" seria tudo aquilo que pode ser pensado. Já o que "não é", seria o “não-ser”, e esse não poderia ser pensado. O “não-ser” seria a “doxa”, que seria o caminho da opinião, esse caminho era ilusório, pois a via da verdade que era o pensamento, deveria ser falado, logo, para Parmênides existe uma relação de identidade entre o ser, o pensar e o dizer, já em vista do “não-ser”, este seria vazio, ausente e não existente. Para Parmênides, apenas as divindades possuíam essa verdade, ao homem seria dado conhecer apenas a ilusão ou caminho da opinião.

O pensamento de Parmênides se apresenta como uma ideia de oposição entre a verdade e a aparência das coisas. Essa ilusão seria vista pelos sentidos que nos mostram o “ser” e o “não ser”, porém também levaria a vários erros. A verdade, portanto, poderia ser buscada pela razão, pois o “não-ser” não existe, já que ao se pensar em nada, nada se pensa da mesma forma que ao não se falar, nada se fala. Ele dizia que só podemos pensar e expressar o que pensamos através de algum objeto, e esse objeto já demonstra que algo existe, ele já é um "ser". Dessa maneira ele pontuava que o “ser” “é”, e não pode “não-ser”. Essa ideia fundamentou as bases da metafísica, já que o “ser” não é apenas o “ser” da natureza, mas também o "ser" do homem, do pensar, do agir e de qualquer coisa que possa ser imaginada.

Filosofia Monista

O filósofo argumentava que a mudança era uma ilusão, pois somente existem o “ser” e o “não-ser”, o “vir-a-ser” seria, portanto uma ilusão dos nossos sentidos, ou seja, a ideia de movimento era uma ficção. O pai do imobilismo universal explicava boa parte do seu pensamento se baseando no conceito de monismo, pois enquanto Heráclito dizia que havia uma pluralidade de realidades, Parmênides revelava a existência de apenas uma realidade, esse embate entre os dois filósofos ficou conhecido como “mobilismo versus imobilismo”.  Outro conceito notável em sua obra foi a “lei de identidade”, em que ele descrevia que se a realidade era caracterizada como algo imutável, então, quando uma coisa mudasse, ela deixaria de ser o que era, sem ainda ter se tornado algo, portanto, pode-se concluir que esse algo não é nada.

Filosofia da Linguagem

Seu poema foi estruturado em três partes principais: proêmio, realidade e opinião. Parmênides também desenvolveu o seguinte pensamento sobre as vias da indagação: “o que é” que pode ser traduzido também por “não pode ser que não seja”, seria chamada de "persuasão" e traduzida por Parmênides de “a verdade”. A outra via então seria: “o que não é” e que pode ser definido por “é preciso que não seja”. Nessa via ele chamou de “impraticável”, visto que, “o que não é” não se pode conhecer e nem se expressar. Esse pensamento é construído através de um diálogo imaginário pela morada da deusa justiça, que segundo ele, teria o poder de conduzir o homem ao coração da verdade.

A obra aponta os conceitos sobre as chamadas “via da verdade” e a “via da opinião”. Onde ele descreve a narração da viajem simbólica que faz o "homem que sabe". Nela ele diz assim: o “homem que sabe” faz uma viagem de carro e esse carro é conduzido por duas éguas, ao qual seria impulsionado pelas Helíades. O caminho por onde ele é conduzido, é um caminho distante do caminho usual dos mortais, esse caminho teria a via do dia e a via da noite, durante o caminho ele é interrompido por um enorme portal de pedra, cuja guardiã é Dice (deusa da justiça). As filhas do Sol persuadem e seduzem a deusa, e esta hipnotizada abre a porta para que o carro passe. Logo ele é recebido por ela, a Deusa, esta então lhe explica, que em primeiro lugar, ele não foi enviado por um destino funesto, mas pela lei e pela justiça. Então, por isso, segue que seja necessário que ele conheça todas as coisas, tanto "o coração inabalável da verdade persuasiva" bem como também "as opiniões dos mortais", porque, apesar de que nestas “não existe convicção verdadeira”, no entanto desfrutavam de prestígio. 

 

Filosofia Sapiencial

- "O movimento e a mudança são impossíveis".

- "Não há espaço vazio; O mundo é cheio".

- "O ser é e não pode não ser".

- "O pensamento e o ser são a mesma coisa".

- "O ser é imóvel porque se se movesse poderia vir a ser e então seria e não seria ao mesmo tempo".

- "O mundo sensível é uma ilusão".

- “É necessário que o Ser, o dizer, e o pensar sejam”.

- "O Ser é uno, eterno, não-gerado e imutável".

- "Não se confia no que se vê".

- "A essência das coisas não muda". 

- "O ser é e o "não-ser" não é".

- "Não importa por onde eu comecei, pois para lá eu sempre voltarei".

- "A linguagem é a etiqueta das coisas ilusórias".

- "Só o que é, é".

- "Uma vez que o mundo é cheio, não há espaço para o movimento e, portanto, nem para a mudança".

- “O que é, é – e não pode deixar de ser”.

  

Fontes:

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