segunda-feira, 25 de maio de 2020

Melisso de Samos

Melisso de Samos – (470 a 430) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo antigo do período pré-socrático que pertenceu à escola eleática. Era considerado um dos discípulos de Parmênides. Atuou como estadista e militar naval. Estudou as áreas da Filosofia, Política e Poesia. Suas ideias também são consideradas uma sistematização da ontologia clássica. Alguns fragmentos de sua obra foram preservados. Segundo o filósofo e historiador Diógenes Laértios, Melisso escreveu uma obra em prosa que se chamava “Sobre a natureza ou sobre o ser”, a obra teria esse título porque visava igualar a ideia de natureza ao conceito de ser. Sua filosofia exerceu grande influência no pensamento dos atomistas antigos, tendo também se contraposto às ideias de alguns filósofos pluralistas. Historiadores relatam que Melisso comandou uma esquadra que teria derrotado os navios atenienses do estadista Péricles quando estes tentaram bloquear, invadir e passar pela ilha de Samos.  Melisso nasceu na ilha de Samos, localizado próximo ao Mar Egeu na Grécia antiga, por volta de 470 a.C e faleceu aproximadamente, no ano de 430 a.C, em um lugar ainda não descoberto pela história da filosofia.       

Filosofia Eleática

Contribuiu de forma significativa para a sistematização da filosofia eleática, desenvolvendo novos horizontes sobre os atributos do ser. Ele explicou e corrigiu alguns dos conceitos filosóficos dessa escola, tendo organizado com maestria as crenças desse sistema de pensamento. Realizou uma comparação entre os valores do pensamento sensitivo com o pensamento racional. Sua originalidade estava ancorada na ideia de que todos os sentidos seriam corrompidos de ilusão, por isso o conceito de “ser” só seria acessível através da razão. Melisso desenvolveu uma teoria que ficou conhecida como “a natureza infinita e inalterável do ser”. Sobre a imutabilidade do “ser”, ele afirmava que o "ser" não se transformava e não se alterava. Nesse sentido, à sua natureza seria inalterável, ele exemplificava isso através da teoria do cabelo: “Se o ser fosse modificado em dez mil anos em apenas um fio de cabelo, ele teria se autodestruído, pois assim ele teria se tornado outro ser na eternidade, mesmo que seja em uma pequena medida”. 

Filosofia da Natureza

O filósofo eleata explicava que o “ser” era infinito e assim da mesma forma que o tempo, ele também era eterno.  Ao contrário do que dizia seu mestre Parmênides, Melisso afirmava que o “ser” era infinito porque ele não poderia ter limites no tempo e nem no espaço, pois se o “ser” fosse finito, ele teria que fazer limite com o vazio, e o vazio seria um “não-ser”, por isso era impossível que o “ser” fosse limitado pelo “não-ser”. Segundo ele, o “ser” além de ser infinito era “uno” porque se fossem “dois” ou se fossem “múltiplos”, então, um deveria fazer limite com o outro, e fazer limite, na sua visão, significaria limitar, porém o “ser” não poderia ser limitado por outra coisa, mesmo que essa coisa fosse outro “ser”. Para ele, o “ser” sempre: “foi”, “é” e sempre “será”. Não teria início e nem fim. Seria, dessa forma, algo além do tempo, isto é, atemporal. Esse “ser”, não teria forma, desse modo ele explicava que o que teria forma seria algo limitado e o “ser” era ilimitado, ou seja, não poderia ter limites. O filósofo Simplício, na obra Física, descreve um trecho dos fragmentos de Melisso sobre esse pensamento:

Uma vez, portanto, que não veio a ser, é, sempre era e sempre será e não tem princípio, nem termo, mas é infinito. Pois, se tivesse vindo a ser, teria princípio (pois, vindo a ser, teria principiado) e termo (pois teria terminado, se tivesse vindo a ser); mas, uma vez que nem principiou, nem terminou, sempre era, sempre será e não tem princípio, nem termo; pois não é exequível ser sempre o que não totalmente é. (Simplício, 2009).

Enquanto seu mestre dava a forma de esfera ao “ser”, Melisso dizia que o “ser” não poderia ter aparência, pois essa aparência traria limites ao “ser”. Dizia que o “ser” era pleno.  Segundo ele, a ilusão do mundo sensível provocava a ideia de movimento, mas o “ser” não poderia ter forma, não era composto de partes, se apresentaria de maneira infinita no espaço e no tempo, e seria sempre idêntico a si mesmo. Também acreditava na indestrutibilidade do “ser”, pois seria impossível para o “ser” se transformar no “não-ser”. Desse modo, os atributos fundamentais do “ser” seriam, portanto: a unidade, a completude e a imobilidade. Nesse sentido, essa ideia de unicidade do ser era imutável, homogênea, indivisível, eterna, insurgida, indestrutível, incorpórea, e imóvel.

Ele explicava que a única realidade que poderia existir seria a do “ser-uno-infinito”, pois o “múltiplo-finito” só poderia existir se fosse igual ao “ser-uno-infinito”. Dessa maneira, seria contraditório existir a ideia de “dois” ou do “múltiplo”, pois um não poderia fazer limite com o outro. Já em relação ao “não-ser”, Melisso o caracterizava como sendo uma forma de vazio ou sinônimo do nada. Explicava que o vácuo não poderia existir, pois o universo seria preenchido em si mesmo. O vazio ou o nada seriam, então, apenas a negação da existência, ou seja, o vazio não existiria em essência. Como o vazio não existiria, ele também não poderia se mover, dado que não existiria um lugar para onde se mover, visto que ele era incompleto. Para ele, o “ser” também não poderia nascer, pois teria que surgir do nada, mas isso seria impossível, dado que algo não poderia surgir do que “não-existe”, logo ele concluía que o “ser” seria insurgido. Sendo assim, nada poderia delimitá-lo.

Obra:

- Sobre a natureza ou sobre o ser

Filosofia Sapiencial

- “O Ser é infinito”

- "Se as coisas mudam, não são reais" 

- “Aliás, o limite confinaria com o vazio”.

- “Sempre era o que era, sempre foi e sempre será”.

- “O ser não sente dor e nem possui força igual ao do sadio”

- “Se nada é, o que podia ser dito dele, como se fosse algo?”.

- “Se o ser se divide, move-se; e, movendo-se, não poderia ser”.

- “O ser é pleno e qualquer forma de vazio e nada não existem.”

- “Aquilo que teve princípio e fim não é nem eterno e nem infinito”.

 - “Se os muitos existissem cada qual deles deveria ser como é o Uno”.

- “Sobre os deuses, não se deve falar; pois não há conhecimento disso."

- “Mas enquanto é sempre, consequentemente deve também que seja sempre infinito em tamanho.”

- “Mas como não teve começo nem fim, sempre foi e sempre há de ser; pois o que não é todo não pode ser sempre”.

- “Se, pois, o ‘ser’ é, deve ser uno; e, sendo uno, não deve possuir corpo. Mas, se tivesse espessura, teria partes e já não seria uno”.

- “O ser sempre foi o que foi e sempre será, porque se tivesse sido gerado, antes de ser gerado não seria nada. Mas se nada era, nada poderia ser gerado a partir do nada”.

- “Se de fato são seres que a terra, o ar, o fogo, se isto está vivo, aquele morto, este branco, aquele negro, se todas as outras coisas que os homens dizem são verdadeiras são, se vamos ver e se estamos ouvindo bem , tudo deve permanecer como primeiro nos apareceu, sem mudar ou se deteriorar, e sempre sendo o que é. [...] Tudo o que vemos em todos os lugares parece estar alterado e transformado. Portanto, é claro que não vemos o certo, mas também que é errado que todas essas coisas nos pareçam ser. "

Fontes:

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BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Citrix, 1967.

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DUMONT, Jean Paul. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.

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GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Rio de Janeiro: Editora Difel, 1980.

HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

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PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Gregos, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3ª ed. Vol.1. São Paulo: Paulus. 1990.

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SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiro mestres da filosofia e da ciência grega. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2003.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro: PUC, 1965.































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