Pródico de Céos – (465 a 399) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo sofista da Grécia
antiga que nasceu na ilha de Céos próximo a região Ática. Teria sido um exímio
conhecedor da política e também teria iniciado alguns dos pensamentos céticos.
Ele definia um sofista como sendo um indivíduo dotado de um saber intermediário
entre o filósofo e o político, pois teorizava que um bom sofista tinha que unir
a sabedoria e a reflexão do filósofo com o pragmatismo e a eloquência do
político, isso seria necessário para o bem da sociedade. Condenava o
homossexualismo que era uma prática comum na região onde ele vivia. Alguns
historiadores dizem que ele explicava que a origem das religiões teria se dado
através da personificação dos elementos da natureza. Sua filosofia é vista como
sendo um tipo de ceticismo-pessimista no campo do conhecimento e como
relativista no âmbito da ação individual-coletiva. Ficou conhecido como
o “Precursor de Sócrates”.
Os filósofos Platão, Sexto Empírico e
Aristófanes citam em suas obras que Pródico tinha bons conhecimentos nas áreas
de Astronomia, Astrologia, Cosmogonia e Cosmologia. Ele se Tornou discípulo de
Protágoras de Abdera, e além de ter sido um dos mestres de Sócrates, também
teve como aluno os seguintes proeminentes filósofos: Isócrates, Eurípedes,
Terâmenes e Tucídides. Segundo Platão, o filósofo Sócrates chegou a enviar
alguns de seus alunos para ter aulas iniciais com Pródico, pois eles ainda não
estariam preparados para terem instrução socrática. Exerceu o cargo de
embaixador na cidade de Atenas e escreveu uma obra chamada “As
estações” que foi dividida em dois tratados: “Sobre a natureza e Da
natureza do homem”. Tinha um físico muito franzino e por isso teria sido
dispensado de alguns deveres civis que eram obrigatórios aos cidadãos de
sua “pólis”. Também se menciona que ele tinha uma voz grave e uma
encantadora sabedoria. Nasceu em 465 a.C e especula-se que tenha falecido por
volta de 399 a.C.
Filosofia da Mitologia
Pródico descreve a origem das
sociedades a partir da junção de elementos da natureza com conceitos divinos.
Esse tipo pensamento é chamado de teologia natural ou filosofia da
mitologia. A partir desses conceitos, ele afirmava que o
desenvolvimento da humanidade teria forte relação com as divindades que
influenciavam na natureza e na agricultura. Por conta disso, ele considerava
como deuses o Sol, a Lua e os quatro elementos (terra, água, fogo e ar). Daí
ele acreditava que esses seres poderiam realizar mutações que davam origem à
vida e se transformavam em outros elementos da natureza. Nesse processo de
transformações entre a vida do homem e as coisas da natureza, Pródico explicava
que existiam “entes” necessários que precisavam ser descobertos. Ele chamava
esses elementos de “Descobridores”, pois seriam essenciais para a
vida do homem e para sua relação com a natureza. Os “descobridores”
eram fundamentais para a realização das metamorfoses nessas relações entre o
divino, o homem e a natureza.
Explicava que a observação e o estudo
da natureza eram muito úteis ao ser humano e ao desenvolvimento da sociedade. Definia que os homens
tinham uma visão dos deuses segundo seus interesses utilitários. Nesse sentido,
os homens julgavam que os elementos da natureza e os astros eram meios de
objetivarem sua compreensão fictícia a respeito da
realidade. Afirmava que em relação a Deus, primeiro a humanidade
adorava as grandes forças da natureza da qual dependiam, e depois desse estágio
inicial, passavam a adorar os homens notáveis da humanidade que realizaram
grandes feitos.
Filosofia da Linguagem
Ele tinha ótimos conhecimentos no campo
da sinonímia, sua arte de ensino se enquadrava no que era denominado por
sinonímica. Nesse sentido, a partir de palavras sinônimas ele traçava uma
investigação sobre os fatos. Por isso ele acreditava que duas opiniões opostas
sobre um mesmo assunto não eram totalmente diferentes, desse modo, seria
necessário investigar se o fenômeno estudado teria palavras com sinônimos
muitos próximos que levassem os interlocutores a pensarem de maneira diferente.
A realidade poderia ser investigada por esse prisma e posteriormente aconteceria
uma interseção desses conceitos. Dizia que não era possível existir contradição
e que era necessário analisar o motivo particular para cada caso concreto. Em
vista disso, Pródico acreditava que as discussões existiam porque as pessoas se
equivocavam ao achar que estavam falando sobre assuntos divergentes quando na
verdade haveria uma ligação sinonímica sobre o fato.
Por isso ele defendia que as palavras
deveriam ser rigorosamente bem definidas em um discurso para que o palestrante
não fosse mal interpretado, dessa maneira, as palavras tinham que ser precisas
em seus significados, com definições exatas na formulação de ideias e
conceitos. Pródico era preciso no uso das palavras, ele se esforçava para
estabelecer a definição mais apropriada para cada palavra. Devido seus esforços
e a ênfase no estudo da linguagem, ele era visto por alguns historiadores como
sendo o primeiro filósofo grego a desenvolver um pequeno dicionário. Platão o
via como sendo uma pessoa apaixonada pelo sentido correto das palavras e pelo significado
de suas etimologias, sabendo descrever com excelência uma análise semântica de
expressões afins. Ele buscava uma distinção perfeita dos significados das
palavras para que elas não fossem utilizadas de maneira inapropriada. Segundo
alguns pensadores, suas ideias teriam influenciado Sócrates no desenvolvimento
do método da “maiêutica”.
Filosofia Moral
Dizia que o trabalho poderia servir
como terapia para as dores da vida. Foi um grande orador tendo se especializado
no ensino da ética. Ele compreendia a ética com certo pessimismo, mesmo assim,
preocupava-se em ensinar os fundamentos da moral para seus alunos. Suas ideias
também eram consideradas relativistas em certos pontos, pois defendia que o que
era bom para uns, poderia não ser bom para outros, dessa maneira, não existiria
um critério absoluto a respeito do julgamento de valores. Argumentava que um
bom cidadão deveria ser treinado tanto para a realização de assuntos do lar
como para questões de interesse público.
Alguns pensamentos desenvolvidos pelo
Pródico eram explicados através de fábulas, desse modo, os pesquisadores
atribuem a ele também um apólogo chamado de “Hércules na encruzilhada”,
em que ele descreve a bifurcação existencial entre uma vida ociosa e uma vida
virtuosa. O filósofo Xenofonte descreve essa fábula sobre um herói conhecido
por Héracles ou Hércules da qual teria sido formulada por Pródico. Nessa obra
ele destacava os pontos bons e ruins que poderiam surgir para o ser humano
quando o homem realiza a escolha de um desses caminhos. A fábula conta que o
Herói Héracles na flor da puberdade se retira para um lugar sozinho, e lá passa
a refletir sobre a existência. Em dado momento, surge à figura de duas mulheres
com dois propósitos de vida diferentes para se alcançar a felicidade. A primeira
está relacionada aos prazeres da carne e a segunda as virtudes de excelência.
Para se chegar à primeira via não é necessário muito esforço e a recompensa é
um prazer passageiro, por isso o homem tende a se deixa seduzir com mais
facilidade. A segunda via exige mais esforços e a dificuldade garante prêmios
permanentes e alegrias que perduram por mais tempo. Os dois caminhos seguem; um
para a estrada do que é sensível e o outro para a rota do que é mais racional.
Nesse contexto a obra reflete sobre os caminhos da excelência, da disciplina e
do trabalho.
Filosofia Sapiencial
+ “O dobro do desejo é o amor, e o amor
a dobrar é a loucura”.
+ “De tudo o que é bom e belo, os
deuses nada concedem aos homens sem esforço e dedicação”.
+ “O melhor modo de argumentar não deve
ser nem muito breve, nem muito longo, mas na medida certa”.
+ “É necessário investir no esforço e
no trabalho para se conquistar o que se deseja, isso também proporciona um corpo
saudável e uma mente Sã”.
+ “Em virtude da vantagem que daí
derivava, os antigos consideraram como deuses o sol, a lua, as fontes e, em
geral, todas as forças da natureza que influem sobre a nossa vida, como, por
exemplo, os egípcios fizeram em relação ao Nilo”. Nessa frase
Pródico estabelece as bases para uma teoria naturalista da religião, dizendo
que cada cultura diviniza o que é mais útil para ele, através dos elementos da
natureza.
Fontes:
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