sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Isócrates de Atenas

Isócrates de Atenas – (436 a 338) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Isócrates foi um filósofo grego antigo pertencente à escola do movimento sofista, é tido também como um dos primeiros filósofos da educação e considerado um dos pais da oratória. Escreveu alguns exemplos de discursos escritos que eram utilizados pelos seus discípulos como modelos prontos para serem seguidos. Ele foi um excelente orador e retórico ateniense, considerado pelo filósofo Cícero como o pai da eloquência. Fundou sua escola de pensamento por volta do ano 392 a.C tendo atuado também na profissão de logógrafo. Chegou a implantar a disciplina de retórica no currículo escolar da Atenas antiga. Figura-se presente na lista tradicional dos proeminentes “Dez oradores áticos”. Teve como seu mestre o sofista Górgias. Seu pai conhecido por Teodoro foi um grande comerciante de flautas que teria lhe deixado uma boa herança. Nasceu por volta do ano 436 a.C e veio a falecer aproximadamente em 338 a.C. Relata-se que a causa de sua morte teria sido por inanição. Possuía relativa timidez e uma voz mansa, por isso dava mais atenção aos discursos escritos com destaque para a elegância literária.

Escreveu uma obra chamada “Contra os Sofistas” onde criticava a falta de objetivo dos discursos feitos por alguns sofistas e também destacava a importância que a filosofia deveria ter na educação do homem grego. Entre os principais filósofos que ele teria divergido estão: Platão, Alcídamas e Demosténes. Possuía grande habilidade na produção de discursos epidícticos e apologéticos. É considerado um dos primeiros estudiosos a sistematizar o conhecimento da área de Humanas. Inspirou com seus discursos vários formatos de defesas jurídicas. É visto por muitos pesquisadores como um pensador que utilizou a sua filosofia como estilo de vida, ou seja, de forma autobiográfica, pois algumas de suas obras dialogam entre aspectos de sua vida pessoal e a relação com o seu contexto cultural, social e histórico em que vivia.

Filosofia da Educação

Ele explicava que o “ensino dos discursos” denominado por ele de "filosofia", era fundamental para uma sólida formação do indivíduo. Acreditava que a filosofia platônica era incapaz de formar cidadãos éticos e preparados para a vida política. Segundo Isócrates, a filosofia ensinada por Platão era inútil para a vida prática do homem grego, pois ela não seria capaz de suprir as necessidades básicas que eram importantes para a participação na vida democrática de Atenas. Dessa forma, ele pontuava ações importantes para serem ensinadas, como por exemplo, a elaboração de discursos para a formação dos jovens com a finalidade prática deles poderem colaborar com a política local. O aprendiz deveria aprender a falar bem, possuir boa oratória, saber escrever discursos e ser moralmente correto. Desse modo, Isócrates advertia que o jovem não deveria ser formado para ganhar debates a qualquer custo, sem compromisso com a verdade, mas antes de tudo, deveria aprimorar sua moral para que fosse um cidadão honesto. Portanto, ele era contra uma formação voltada para a competição, demonstrando a importância de uma instrução que aperfeiçoasse a inteligência e a civilidade.

Seus pensamentos seguem uma direção contrária ao dos filósofos clássicos, pois ele se opusera a ideia de que seria possível encontrar uma verdade definitiva sobre os fatos. Para Isócrates, um bom professor de oratória deveria levar em conta algumas características em seus discípulos como a “natureza” e a “experiência” dos alunos. Desse modo, um bom professor poderia delimitar o campo de atuação do aluno e seu papel na educação cívica. Ele não acreditava em um caminho certo ou em manuais que pudessem ensinar os discípulos a serem sábios e justos, pois, para isso, seria necessário adquirir primeiro a virtude. Daí caberia ao mestre identificar os talentos de seus discípulos através de um processo de descobertas e investigações. A partir disso, o mestre poderia encorajar a vocação dos discípulos e direcioná-los para alguma arte que estivessem conectadas com a virtude, a experiência e a felicidade desenvolvida pelo discípulo. Acreditava que homem possuía certas limitações inatas que o impediam de alcançar alguns conhecimentos, porém uma mente disciplinada e bem orientada poderia adquirir os saberes pragmáticos. Na sua compreensão, as situações imprevisíveis que surgem ao acaso também seria outra questão que impossibilitava o indivíduo de obter um saber totalizante, no entanto, caberia ao mestre à tarefa de educar o pupilo nos desafios de um futuro incerto.

Dissertava que existiam quatro virtudes fundamentais para a construção moral de um cidadão e para sua atuação na “pólis”: prudência, força, temperança e justiça. Esta última deveria ser buscada através de uma boa educação. Para isso, seria necessário realizar exercícios de aprendizagem da “virtude”, destarte, o sujeito deveria praticar essas atividades tanto de forma individual bem como também de maneira social, visando com isso, adquirir experiências para a vida e para a comunidade. Os alicerces dessa educação estavam divididos em três partes essenciais: talento, prática e estudo. Desse modo, o mestre iniciaria uma relação de investigação com o aluno, a fim de fazer brotar nele seus “talentos naturais”. Isócrates utilizava “situações-problemas” e “práticas do cotidiano” para desabrochar no discípulo as qualidades que procurava nele. O estudo seria uma espécie de reforço sobre os saberes conquistados, tornando com isso, os conhecimentos que eram adquiridos, em um saber mais consolidado.

A “paideia” (sistema de educação da Grécia antiga) na visão de Isócrates deveria priorizar o ensino da Filosofia da História como disciplina elementar, pois ele definia essa disciplina como um forte instrumento intelectivo de construção dos saberes necessários para a atuação política. Baseava seus ensinamentos em três princípios fundamentais que eram: a “doxa” (opinião), a “empería” (experiência) e o “kairós” (ocasião ou oportunidade). Realizava uma espécie de seminário com os alunos a fim de debater os assuntos. Defendia uma educação autêntica que pudesse desenvolver nos alunos suas habilidades naturais e suas maturidades das quais eram adquiridas de acordo com o tempo específico de cada um. Seu modelo de educação influenciou os sistemas de pensamento liberais e foram implementados por vários pensadores ao longo dos séculos.

Filosofia Política

Ele discursava de maneira contrária aos filósofos que utilizavam a filosofia sem um objetivo útil, daí explicava que a boa filosofia deveria se afastar da erística que seriam debates sem fundamentações sólidas. Desse modo, ele atacava os sofistas erísticos afirmando que essas ideias debatidas por eles não eram plausíveis, eram meras opiniões ou apenas crenças sem reflexões. Nesse sentido, uma filosofia prática teria como princípio desenvolver no aluno a capacidade de atuação política. O mestre deveria exercitar no discípulo a experiência que ele já teria sobre alguns assuntos, pois, de acordo com Isócrates:

É muito melhor opinar acerca de coisas úteis do que ter o conhecimento exato de coisas inúteis, e que é muito melhor se distinguir pouco nas coisas de suma importância, do que se diferir nas coisas insignificantes, as quais em nada servem para a vida. (Isócrates)

 

Para Isócrates os discípulos de Sócrates e de Platão que levantavam questões individuais sobre a natureza humana como a coragem, a sabedoria e a justiça, estavam perdendo tempo ao defenderem posições contra ou a favor de tais assuntos, pois não haveria uma verdade única da qual eles buscavam ao discutirem sobre esses temas. Alegava que essas disputas verbais não serviriam para nada, e que eles deveriam se preocupar com questões políticas e assuntos públicos que dissessem respeitos à vida coletiva da “polis”. A filosofia deveria ensinar questões que levassem os alunos a praticar ações concretas na vida pública, como o pensar, o falar e o agir. Desse modo, ele explicava que o falar bem estava associado ao pensar bem e que ambos se complementavam em direção as ações corretas.  

Defendia o conceito de “pan-helenismo” que era a adesão política de todas as cidades-estados e de todos os cidadãos gregos em uma só nacionalidade e com a mesma identidade cultural. Argumentava que Atenas deveria herdar a liderança política dessa possível união dos povos helênicos, pois ela teria uma grande influência cultural e uma forte hegemonia. Para ele, as diferenças naturais influenciavam na posição social dos sujeitos, por isso, alguns cidadãos teriam direitos ao status de forma natural, enquanto outros poderiam adquirir status pela meritocracia. De acordo com alguns autores, as obras de Isócrates enaltecem os valores gregos e exaltam os princípios da elite aristocrática de Atenas, pois ele apoiava a ideia de extradição dos pobres da Grécia para assentamentos ou colônias conquistadas durante as guerras.

Obras:

- Contra os sofistas

- Elogio de Helena

- Panatenaico

- Antídose

- Eutidemo

- Busíris

- Areópago

- Panegírico

- Discurso Sobre a Paz


Filosofia Sapiencial

 - “Os mesmos argumentos com os quais persuadimos os outros são também os que usamos quando refletimos”.

- “Conservar a lembrança do passado permite acarretar as melhores decisões para o futuro”.

- “A maior prova de uma boa inteligência, e uma palavra sincera, legítima e justa é imagem de uma alma boa e fiel”.

- “O maior e o mais justo tesouro que se pode dar aos filhos é o afeto”

- "Que ninguém pense, no entanto, que em minha opinião a prática da justiça possa ser ensinada".

- “Ninguém pode governar bem nem cavalos, nem cães, nem homens ou qualquer outra coisa, se não experimentar prazer na companhia dos seres ou das coisas sobre os quais deve velar”.

- “Se queres saber com precisão o que é conveniente aos reis conhecer, conjuga experiência e filosofia: o filosofar te indicará os caminhos, mas o treino nos próprios atos (experiência) fará com que possas cuidar melhor de teus assuntos”.

- “Considero os sábios que, pelas suas opiniões, na maioria das vezes podem chegar à melhor solução, e os filósofos os que se dedicam aos estudos que lhes proporcionarão mais rapidamente esta faculdade, de reflexão”.

- “À filosofia, ademais, que todas essas coisas ajudaram a descobrir e estabelecer, e para a vida pública nos educou e nos tornou gentis uns com os outros, que distinguiu os infortúnios, uns advindos da ignorância, outros, da necessidade, e nos ensinou a nos proteger dos primeiros e a suportar dignamente os últimos, a ela nossa cidade revelou”.

 

Fontes:

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