Isócrates de
Atenas – (436 a 338) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Isócrates foi um
filósofo grego antigo pertencente à escola do movimento sofista, é tido também
como um dos primeiros filósofos da educação e considerado um dos pais da
oratória. Escreveu alguns exemplos de discursos escritos que eram utilizados
pelos seus discípulos como modelos prontos para serem seguidos. Ele foi um
excelente orador e retórico ateniense, considerado pelo filósofo Cícero como o
pai da eloquência. Fundou sua escola de pensamento por volta do ano 392 a.C
tendo atuado também na profissão de logógrafo. Chegou a implantar a disciplina
de retórica no currículo escolar da Atenas antiga. Figura-se presente na lista
tradicional dos proeminentes “Dez oradores áticos”. Teve como seu mestre o
sofista Górgias. Seu pai conhecido por Teodoro foi um grande comerciante de
flautas que teria lhe deixado uma boa herança. Nasceu por volta do ano 436 a.C
e veio a falecer aproximadamente em 338 a.C. Relata-se que a causa de sua morte
teria sido por inanição. Possuía relativa timidez e uma voz mansa, por isso
dava mais atenção aos discursos escritos com destaque para a elegância
literária.
Escreveu uma obra
chamada “Contra os Sofistas” onde criticava a falta de objetivo dos
discursos feitos por alguns sofistas e também destacava a importância que a
filosofia deveria ter na educação do homem grego. Entre os principais filósofos
que ele teria divergido estão: Platão, Alcídamas e Demosténes. Possuía grande
habilidade na produção de discursos epidícticos e apologéticos. É considerado
um dos primeiros estudiosos a sistematizar o conhecimento da área de Humanas. Inspirou
com seus discursos vários formatos de defesas jurídicas. É visto por muitos
pesquisadores como um pensador que utilizou a sua filosofia como estilo de vida,
ou seja, de forma autobiográfica, pois algumas de suas obras dialogam entre
aspectos de sua vida pessoal e a relação com o seu contexto cultural, social e
histórico em que vivia.
Filosofia da
Educação
Ele explicava que
o “ensino dos discursos” denominado por ele de "filosofia", era
fundamental para uma sólida formação do indivíduo. Acreditava que a filosofia
platônica era incapaz de formar cidadãos éticos e preparados para a vida
política. Segundo Isócrates, a filosofia ensinada por Platão era inútil para a
vida prática do homem grego, pois ela não seria capaz de suprir as necessidades
básicas que eram importantes para a participação na vida democrática de Atenas.
Dessa forma, ele pontuava ações importantes para serem ensinadas, como por
exemplo, a elaboração de discursos para a formação dos jovens com a finalidade
prática deles poderem colaborar com a política local. O aprendiz deveria
aprender a falar bem, possuir boa oratória, saber escrever discursos e ser
moralmente correto. Desse modo, Isócrates advertia que o jovem não deveria ser
formado para ganhar debates a qualquer custo, sem compromisso com a verdade,
mas antes de tudo, deveria aprimorar sua moral para que fosse um cidadão
honesto. Portanto, ele era contra uma formação voltada para a competição, demonstrando
a importância de uma instrução que aperfeiçoasse a inteligência e a civilidade.
Seus pensamentos
seguem uma direção contrária ao dos filósofos clássicos, pois ele se opusera a
ideia de que seria possível encontrar uma verdade definitiva sobre os fatos.
Para Isócrates, um bom professor de oratória deveria levar em conta algumas
características em seus discípulos como a “natureza” e a “experiência” dos
alunos. Desse modo, um bom professor poderia delimitar o campo de atuação do
aluno e seu papel na educação cívica. Ele não acreditava em um caminho certo ou
em manuais que pudessem ensinar os discípulos a serem sábios e justos, pois,
para isso, seria necessário adquirir primeiro a virtude. Daí caberia ao mestre
identificar os talentos de seus discípulos através de um processo de descobertas
e investigações. A partir disso, o mestre poderia encorajar a vocação dos
discípulos e direcioná-los para alguma arte que estivessem conectadas com a
virtude, a experiência e a felicidade desenvolvida pelo discípulo. Acreditava
que homem possuía certas limitações inatas que o impediam de alcançar alguns
conhecimentos, porém uma mente disciplinada e bem orientada poderia adquirir os
saberes pragmáticos. Na sua compreensão, as situações imprevisíveis que surgem
ao acaso também seria outra questão que impossibilitava o indivíduo de obter um
saber totalizante, no entanto, caberia ao mestre à tarefa de educar o pupilo
nos desafios de um futuro incerto.
Dissertava que
existiam quatro virtudes fundamentais para a construção moral de um cidadão e
para sua atuação na “pólis”: prudência, força, temperança e
justiça. Esta última deveria ser buscada através de uma boa educação. Para
isso, seria necessário realizar exercícios de aprendizagem da “virtude”, destarte,
o sujeito deveria praticar essas atividades tanto de forma individual bem como
também de maneira social, visando com isso, adquirir experiências para a vida e
para a comunidade. Os alicerces dessa educação estavam divididos em três partes
essenciais: talento, prática e estudo. Desse modo, o mestre iniciaria uma
relação de investigação com o aluno, a fim de fazer brotar nele seus “talentos
naturais”. Isócrates utilizava “situações-problemas” e “práticas do cotidiano”
para desabrochar no discípulo as qualidades que procurava nele. O estudo seria
uma espécie de reforço sobre os saberes conquistados, tornando com isso, os
conhecimentos que eram adquiridos, em um saber mais consolidado.
A “paideia”
(sistema de educação da Grécia antiga) na visão de Isócrates deveria priorizar
o ensino da Filosofia da História como disciplina elementar, pois ele definia
essa disciplina como um forte instrumento intelectivo de construção dos saberes
necessários para a atuação política. Baseava seus ensinamentos em três
princípios fundamentais que eram: a “doxa” (opinião), a “empería” (experiência)
e o “kairós” (ocasião ou oportunidade). Realizava uma espécie de
seminário com os alunos a fim de debater os assuntos. Defendia uma educação
autêntica que pudesse desenvolver nos alunos suas habilidades naturais e suas
maturidades das quais eram adquiridas de acordo com o tempo específico de cada
um. Seu modelo de educação influenciou os sistemas de pensamento liberais e
foram implementados por vários pensadores ao longo dos séculos.
Filosofia Política
Ele discursava de
maneira contrária aos filósofos que utilizavam a filosofia sem um objetivo
útil, daí explicava que a boa filosofia deveria se afastar da erística que seriam
debates sem fundamentações sólidas. Desse modo, ele atacava os sofistas
erísticos afirmando que essas ideias debatidas por eles não eram plausíveis,
eram meras opiniões ou apenas crenças sem reflexões. Nesse sentido, uma
filosofia prática teria como princípio desenvolver no aluno a capacidade de
atuação política. O mestre deveria exercitar no discípulo a experiência que ele
já teria sobre alguns assuntos, pois, de acordo com Isócrates:
É
muito melhor opinar acerca de coisas úteis do que ter o conhecimento exato de
coisas inúteis, e que é muito melhor se distinguir pouco nas coisas de suma
importância, do que se diferir nas coisas insignificantes, as quais em nada
servem para a vida. (Isócrates)
Para Isócrates os
discípulos de Sócrates e de Platão que levantavam questões individuais sobre a
natureza humana como a coragem, a sabedoria e a justiça, estavam perdendo tempo
ao defenderem posições contra ou a favor de tais assuntos, pois não haveria uma
verdade única da qual eles buscavam ao discutirem sobre esses temas. Alegava
que essas disputas verbais não serviriam para nada, e que eles deveriam se
preocupar com questões políticas e assuntos públicos que dissessem respeitos à
vida coletiva da “polis”. A filosofia deveria ensinar questões
que levassem os alunos a praticar ações concretas na vida pública, como o
pensar, o falar e o agir. Desse modo, ele explicava que o falar bem estava
associado ao pensar bem e que ambos se complementavam em direção as ações corretas.
Defendia o
conceito de “pan-helenismo” que era a adesão política de todas as
cidades-estados e de todos os cidadãos gregos em uma só nacionalidade e com a
mesma identidade cultural. Argumentava que Atenas deveria herdar a liderança
política dessa possível união dos povos helênicos, pois ela teria uma grande
influência cultural e uma forte hegemonia. Para ele, as diferenças naturais
influenciavam na posição social dos sujeitos, por isso, alguns cidadãos teriam
direitos ao status de forma natural, enquanto outros poderiam adquirir status
pela meritocracia. De acordo com alguns autores, as obras de Isócrates
enaltecem os valores gregos e exaltam os princípios da elite aristocrática de
Atenas, pois ele apoiava a ideia de extradição dos pobres da Grécia para
assentamentos ou colônias conquistadas durante as guerras.
Obras:
- Contra os
sofistas
- Elogio de Helena
- Panatenaico
- Antídose
- Eutidemo
- Busíris
- Areópago
- Panegírico
- Discurso Sobre a
Paz
Filosofia
Sapiencial
- “Os mesmos
argumentos com os quais persuadimos os outros são também os que usamos quando
refletimos”.
- “Conservar a
lembrança do passado permite acarretar as melhores decisões para o futuro”.
- “A maior prova
de uma boa inteligência, e uma palavra sincera, legítima e justa é imagem de
uma alma boa e fiel”.
- “O maior e o
mais justo tesouro que se pode dar aos filhos é o afeto”
- "Que
ninguém pense, no entanto, que em minha opinião a prática da justiça possa ser
ensinada".
- “Ninguém pode
governar bem nem cavalos, nem cães, nem homens ou qualquer outra coisa, se não
experimentar prazer na companhia dos seres ou das coisas sobre os quais deve
velar”.
- “Se queres saber
com precisão o que é conveniente aos reis conhecer, conjuga experiência e
filosofia: o filosofar te indicará os caminhos, mas o treino nos próprios atos
(experiência) fará com que possas cuidar melhor de teus assuntos”.
- “Considero os
sábios que, pelas suas opiniões, na maioria das vezes podem chegar à melhor
solução, e os filósofos os que se dedicam aos estudos que lhes proporcionarão mais
rapidamente esta faculdade, de reflexão”.
- “À filosofia,
ademais, que todas essas coisas ajudaram a descobrir e estabelecer, e para a
vida pública nos educou e nos tornou gentis uns com os outros, que distinguiu
os infortúnios, uns advindos da ignorância, outros, da necessidade, e nos
ensinou a nos proteger dos primeiros e a suportar dignamente os últimos, a ela
nossa cidade revelou”.
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