Aspásia de Mileto
– (470 a 410) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi uma filósofa
sofista da Grécia antiga que viveu no período clássico. Nasceu na cidade de
Mileto que ficava situada na região da Ásia menor. Aspásia lecionou
Retórica e exerceu papel importante como mentora do estadista Péricles. Atuou
de maneira influente na educação política e cultural de Atenas. Sabe-se que ela
era filha de um homem muito rico conhecido por Axíoco. Acredita-se que ela
teria saído de Mileto para Atenas com a idade aproximada entre vinte a trinta
anos e de lá teria levado uma bagagem de aprendizado cultural para Atenas.
Supõe-se que ela também teria parentesco com um homem respeitado chamado
Alcebíades e que este pode ter influenciado os primeiros contatos dela com a
aristocracia ateniense. O significado do nome Aspásia seria uma espécie de
saudação como “bem-vinda” ou “bela recepção”. Ela auxiliou Sócrates em partes
da sua teoria sobre o método socrático, relatos afirmam que ele recomendava aos
seus discípulos que visitassem a escola de Aspásia para que pudessem adquirir
conhecimentos com ela. Platão em sua obra Menêxeno informa que ela teria
ensinado retórica e oratória para Sócrates. Especula-se que Sócrates tenha tido
um romance com ela, mas essas informações ainda não estão bem historiografadas.
Também exerceu colaboração no ensino do filósofo Anaxágoras e de outros
sofistas. Muitos filósofos antigos escreveram obras com o título de Aspásia,
desse modo, não se sabe ao certo se estas eram obras em sua homenagem ou para
divulgar seus conhecimentos. A enciclopédia “Suda” menciona as
habilidades dela em relação ao mundo das palavras e da arte argumentativa.
Filosofia da
Educação
Estudou os campos
da Filosofia, Retórica, Oratória e Medicina. Lecionou as disciplinas de Artes,
Retórica, Oratória e Administração Doméstica. Ela teria transformado o salão
principal do palácio de Péricles em um grande centro cultural. Além de
participar do círculo político, ela promovia reuniões literárias onde eram
debatidas questões sobre Filosofia, Política, Arte, Literatura, Cultura e
Educação. Também criou uma escola para mulheres na cidade de Atenas. Sua escola teria ficado conhecida como
“Academia de eloquência e artes amadoras”. Na sua escola ela ensinava as
mulheres a como pensarem e como expressarem seus conhecimentos, pois isso
permitiria para essas mulheres uma educação voltada ao gerenciamento do lar e
também um melhor prestígio junto ao marido.
Segundo estudiosos,
ela ministrava instruções medicinais relacionados à gravidez e ao estado
pós-parto das mulheres. Colaborou na pesquisa e na prevenção da gravidez de
risco, inclusive desenvolvendo remédios. Teve forte atuação no campo cirúrgico
da obstetrícia e da ginecologia. Esse papel exercido por ela é
visto como um forte símbolo de apoio à luta da emancipação da mulher. Ela
incentivava as mulheres de Atenas a se libertarem do complexo de inferioridade
que era imposto pela classe conservadora da época. Ensinava as mulheres a
desenvolverem suas potencialidades físicas, sexuais e intelectuais. Ela teria
desenvolvido um método de argumentação chamado de “indução” em que descreve
técnicas de utilização de um argumento duvidoso que concorde com outro
argumento semelhante ao de seu oponente. Para Aspásia o casal deveria ser o
melhor cônjuge um para o outro ao invés de desejar um parceiro ideal.
Filosofia Política
As estrangeiras de
Atenas eram denominadas de “metecas”, elas geralmente exerciam
os ofícios de artesãs, tecelãs e cortesãs. Aspásia era considerada uma “hetera” (mulher
que na Grécia antiga trabalhava como cortesã de maneira independente). Essas
mulheres aconselhavam os homens da classe política e possuíam um status social
de maior elevação em relação às outras mulheres. Elas se diferenciavam das
prostitutas, das escravas e das esposas, pois eram mulheres admiradas pela
cultura que tinham e pela inteligência que possuíam. Sua condição de “hetera” e
seus saberes teria lhe proporcionado viver como os sofistas, ou seja, da venda
de seu conhecimento. Sua posição social era vista com relativa independência,
pois contribuía com os impostos igualmente como os cidadãos do sexo masculino.
Devido sua
condição de mulher e de estrangeira, existiu um forte debate sobre o impacto
que sua atuação causava na Atenas clássica, isso teria lhe rendido falsas acusações
e discriminações. Ela teria sido acusada pelo crime de “impiedade” (ofensas aos
deuses), por um poeta cômico chamado de Hermipo. Relata-se que Péricles
conseguiu intervir em sua absolvição com um discurso emocionante e isso teria
sensibilizado os jurados. O fato é que muitos filósofos e políticos de
Atenas visitavam sua escola, por isso as esposas dessas personalidades ficavam
enciumadas e acusavam a escola de ser um bordel, pois algumas mulheres acabavam
tendo casos com os visitantes. O próprio Péricles se apaixonou por Aspásia e
acabou deixando sua esposa para ir viver com ela, isso gerou muita polêmica na
cidade e Aspásia passou a sofrer discriminações e perseguições na localidade.
Após a morte de Péricles, Aspásia teria se casado novamente com um comerciante
chamado Lísicles e com o passar do tempo, teria transformado ele em um político
influente de Atenas. Conta-se que ele era um homem sem instrução, porém com
pouco tempo, Aspásia teria lhe dado uma boa formação e ele teria se tornado um
grande orador muito eloquente em Atenas.
Aristófanes,
filósofo comediante, tecia críticas irônicas afirmando que os discursos de
Péricles eram escritos por Aspásia e que este era incapaz de escrevê-los
sozinho. Aspásia é tida como uma figura paradigmática do ponto de vista feminino
e considerada também como enigmática devido aos mistérios sobre a sua vida,
pois o que intriga os pesquisadores, é o fato de que ela era mulher e estrangeira, duas condições que
dificultavam a sua atuação política em Atenas, isso é observado por estudiosos
como um fato muito curioso para a época. Porém, mesmo diante dessas
adversidades, ela conseguiu influenciar as principais lideranças políticas de
seu tempo. Platão teceu duras críticas a ela e teria lhe acusado de ter se
aproveitado da filosofia para influenciar a política de Atenas e com isso
persuadir os governantes. Também foi acusada por críticos de ter insuflado os
estadistas e aristocratas a apoiarem Atenas a lutar na guerra de Samos e na
guerra do Peloponeso.
Filosofia Moral
Ela argumentava
que o homem que dedicava sua vida para cuidar da família suportava melhor os
infortúnios do destino. Ensinava aos homens que na covardia não se vive, apenas
se padece, desse modo, ela enaltecia a ideia de nobreza e de honra entre os
homens. Acreditava em uma irmandade fraterna em que a Terra seria a pátria-mãe
de todos, por isso, chamava essa pátria de “mátria”, isto é, casa em que todos
eram irmãos, ou também, “fratria” de onde deriva o termo fraterno. Desse
modo, ela defendia o amor fraterno entre os irmãos, até mesmo entre os
estrangeiros. Também defendia o amor ao solo em que se vive ou a cidade que lhe
acolhe. O amor defendido por ela seria o amor materno relacionado à mãe-terra,
por isso a expressão “mátria” traduziria a ideia de fraternidade
defendida por ela. Adotava esse conceito ético de união entre todos como forma
de reconhecimento das virtudes de coragem e honra dos guerreiros mortos nas guerras
em defesa da pátria.
Destacava um
princípio formulador da inteligência e da justiça que era definida por “nous”, esse
princípio seria o que diferenciava os homens de coragem dos animais selvagens
da natureza, daí os homens de valor de uma cidade seriam guiados pelo “nous”, ou
seja, uma espécie de “inteligência-justiça” traduzida também por “no que a
linguagem se mostra”. Nesse sentido, o indivíduo que teria amor a “mátria”
saberia conviver com o outro, sendo fraterno e solidário, sendo inteligente e
justo, por isso morreria pelo outro, por fim veria a morte como glória. Esse conceito
de ligação entre amor, Terra, mãe, natureza, irmandade, inteligência e justiça,
também se une a ideia de divindade para compreensão do conceito de “nous”.
Obras:
Discurso Fúnebre
de Péricles
Aspásia – Obra de
Ésquines Socrático
Comentários de
filósofos
"Que arte ou
poder de encantamento tão grande esta mulher tinha, que lhe permitia cativar,
como fez com os maiores estadistas, e brindar os filósofos com a oportunidade
de falar tanto dela em termos tão exaltados." (Plutarco).
Filosofia
Sapiencial
- “Todo
conhecimento dissociado da justiça e das demais virtudes é apenas astúcia,
jamais sabedoria”.
- “É melhor morrer
em glória do que viver na covardia”
- “A virtude deve
ser imitável, e não simplesmente ensinável”.
- “O passado é verdadeiro
o futuro é escuro”.
- “Se ambos querem
ter o melhor marido e a melhor esposa, ambos devem procurar ser o melhor marido
e a melhor esposa, respectivamente”.
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