sábado, 24 de dezembro de 2022

Safo de Lesbos

Safo de Lesbos – (612 a 570) a.C    

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa da Grécia antiga pertencente à filosofia da “arte literata”. Viveu próxima a região da ilha de Lesbos. Escreveu suas obras em formato de poesia, essas obras eram vistas como um clássico da sabedoria e eloquência. Ficou conhecida pelo apelido de “sábia poeta” e marcada como uma escritora do gênero lírico. Lecionou os campos da música, canto, poesia, e estética corporal. Pertencia a uma família aristocrática, e por isso conseguiu estudar poesia, retórica e dança. Figura na lista dos nove poetas líricos. Platão a caracterizava como sendo a “décima musa”. O poeta Alceu a descrevia como tendo cabelos de cor violeta-escuro. Compunha sua poesia para ser cantada ao som da lira. Era tida como sendo uma das primeiras poetas femininas da Grécia antiga as quais realizavam a chamada “cultura da canção”, onde eram declamados versos mélicos da tradição oral. A palavra “Safo” seria uma derivação do termo “sáfico” e significava o amor entre duas mulheres. Seu pai era conhecido pelo nome de “Escamandrônimo” e sua mãe por “Cléis”. Nasceu aproximadamente, em 612 a.C, na localidade de Mitilene, situada na ilha de Lesbos e faleceu, por volta de 570 a.C, em local incerto. Historiadores presumem que ela tenha se jogado de um penhasco localizado próximo ao mar Jônico. 

Filosofia Política

A origem da palavra “lésbica” vem da localidade em que ela vivia e tem influência também das ideias que ela tinha sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. Existe muita especulação em torno da sua sexualidade, mas a corrente majoritária acredita que ela era bissexual. Supõe-se que nessa época, em alguns locais da Grécia, os homens também praticavam mais livremente que as mulheres essas pederastias, por isso, Safo acreditava estar relacionando o amor homoafetivo com as questões de igualdade social, visto que, na Grécia antiga prevalecia o contexto de sociedade patriarcal que proibia a prática homoerótica entre as mulheres. Desse modo, sua luta em defesa dessa prática, visava dar as mulheres os mesmos direitos de praticarem relações conjugais entre si. Demonstrando as angústias, aflições e o preconceito social que as mulheres lésbicas sofriam nesse tempo.  

Devido ao fato de suas obras terem um conteúdo erótico que não era aceito pela igreja, elas foram queimadas na época medieval, muitas dessas obras foram marginalizadas e esquecidas nos porões do tempo. Escreveu um belo poema para uma de suas amantes, chamado de: “Adeus a Átis”. Em razão do medo que os estadistas do seu tempo tinham dela, ela foi exilada da cidade de Lesbos, voltando posteriormente depois de cinco anos e assumindo um papel cultural importante na comunidade local. Alguns pesquisadores apontam que sua obra levantavam questões morais, políticas e sociais, transitando por um lado erótico e amoroso, que se encaminhava para a força do universo feminino.

Filosofia Literária

Por conta de ter desenvolvido um estilo original para o lirismo, ela era considerada por muitos pesquisadores como a mãe da poesia lírica. Seu lirismo rítmico era caracterizado por aspectos perfeccionistas, sentimentalistas e intimistas. Esse estilo objetivava contrapor-se a poesia épica masculina. Sua obra era cantada com o auxílio de instrumentos musicais como a lira. Desenvolveu um método próprio de declamação rítmica que ficou conhecido como “estrofe sáfica”. Esse método era composto por quatro versos que se subdividiam em três decassílabos sáficos e um pentassílabo adônico¹. Além disso, também teria sido considerada por alguns pesquisadores como a precursora do “eu-lírico” na literatura. Reinterpretava reflexos da poesia épica que se relacionavam com seu lirismo singular. Sua poesia explorava aspectos da identidade individual do ser humano, direcionando-se para um enfoque nas emoções pessoais. Alguns temas como o desejo, o ciúme e o amor estavam presentes na sua obra.

Filosofia da Educação

Fundou um centro cultural para mulheres que ficou conhecida como “a casa das musas”. Nessa escola, ela realizava reuniões sociais em que eram declamados os seus poemas. Também eram ensinadas regras de etiqueta para cerimoniais como o casamento. As musas aprendiam alguns ofícios artesanais como confecção de roupas e bijuterias. Possuía uma hábil capacidade de se socializar, por isso conseguia juntar pessoas e formar grupos para recitar suas obras. Safo viveu uma vida desprendida dos valores morais e após fundar uma escola, ela passou a viver sobre uma ideia total de liberdade, o que fez com que ela tivesse relacionamentos amorosos com suas alunas. Isso acabou lhe proporcionando o fim de sua escola. Também se especula que as suas alunas viviam romances entre si e com outras professoras dentro da escola.

Filosofia Sapiencial

- “O que não pode ser dito será chorado."

- “Amar é curtir muito e depois chorar muito mais”.

- "O amor é um astuto tecelão de fantasias e fábulas."

- “Sei que alguém no futuro também se lembrará de nós”

- “Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais”.

- “Perante a cólera nada é mais conveniente do que o silêncio.”

- “Quando você não tem mais nada, você tem que arriscar tudo”

- “Para mim, o que há de mais belo. É a pessoa a quem se ama”.

- “O que é belo é bom e o que é bom depressa será também belo”

- “De todos os filhos da terra e do céu, o amor é o mais precioso."

- "Embora sejam apenas respiração, as palavras que falo são imortais."

- “Acho que você é uma estrela vespertina, a mais bela de todas as estrelas”.

- “O Amor agita meu espírito como se fosse um vendaval a desabar sobre os carvalhos”.

- “Você talvez esqueça, mas deixe-me falar isto: ‘alguém no futuro pensará sobre nós’.”

- “Nos doces transportes por onde vagueia a minha alma, não encontro linguagem nem voz”.

- “Os seus lindos pardais desceram do céu, através dos ares agitados pela batida apressada de suas asas”.

- “O homem belo só o é quando o contemplam, mas o homem sábio é belo mesmo quando ninguém o vê”.

- “Adolescência, adolescência, você se vai, aonde vai? Não volto mais para você. Para você não volto mais”.

- “Não me cante canções do dia, pois o sol é inimigo dos amantes. Cante as sombras e a escuridão, cante as lembranças da meia-noite”.

- “O poder intoxica os homens. Quando um homem está embriagado pelo álcool, ele pode se recuperar, mas quando está embriagado pelo poder, raramente se recupera."

- “Semelhante aos deuses me parece o homem que diante de ti se senta e, tão doce, a tua voz escuta. ou amoroso riso – que tanto agita meu coração de súbito, pois basta ver-te para que nem atine com o que diga, ou a língua se me torne inerte. Um subtil fogo me arrepia a pele. Deixam de ver meus olhos, zunem meus ouvidos, o suor inunda-me o corpo frio, e tremendo toda, mais verde que as ervas, julgo que a morte não pode já tardar”.

Obras:

+ Hino à afrodite

+ Fragmentos de Poesia

Fontes:

BARBOSA, Tereza Virgínia Ribeiro. Safo 31 Voigt: Mil traduções e mais uma. Revista Da Anpoll 44. Florianópolis: UFSC, 2018.

BOEHRINGER, Sandra. Homossexualidade Feminina na Antiguidade Grega e Romana. Paris: Les Belles Lettres, 2007.

DEMARCHI, Cristiane. Uma Safo à francesa: estudo das representações de Safo em imagens pictóricas na França do século XIX. Tese de Doutorado. Campinas: UNICAMP, 2013.

RAGUSA, Giuliana. Fragmentos de uma deusa: a representação de Afrodite na lírica de Safo. Campinas: Editora Unicamp, 2005.

GONTIJO, Guilherme. Fragmentos completos de Safo. São Paulo: Editora 34, 2017.

JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

POMEROY, Sarah. Goddesses, Whores, Wives, and Slaves: Women in Classical Antiquity. New York: Schocken Books, 1995.

PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. São Paulo: contexto, 1997.

REYNOLDS, Margaret. A história de Safo. Londres: Palgrave MacMillan, 2003.

SNELL, Bruno. A Cultura Grega e as Origens do Pensamento Europeu. Trad. Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2001.

 

Notas:

_________________

¹ é uma unidade de verso eólico, um pé métrico de cinco sílabas que consiste em um dáctilo seguido por um troqueu.  Segundo o dicionário online do Oxford Linguagens, a última linha de uma estrofe sáfica é um adônico.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Soren Kierkegaard

Soren Kierkegaard – (1813 a 1855) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Soren Aabye Kierkegaard foi um filósofo dinamarquês do período contemporâneo pertencente a corrente de pensamento do existencialismo. Ficou conhecido na filosofia como sendo o “pai do existencialismo”. Realizou uma contraposição de ideias para com as chamadas filosofias idealistas, racionalistas e especulativas. Trabalhou como crítico, professor, teólogo, poeta e filósofo. Escreveu alguns diários em que assinava seus textos se utilizando de vários pseudônimos. Iniciou seus estudos em uma conhecida Escola de “Virtude Cívica” e posteriormente foi estudar Teologia na Universidade de Copenhague. A vida desse jovem filósofo foi marcada por tragédias pessoais, além disso, ele tinha um corpo físico disforme. Esses fatos são vistos por críticos como fatores que influenciaram seu sistema de pensamento. Ao nascer, seu pai já tinha 56 anos e sua mãe 45, razão pela qual ele dizia que era “um filho da velhice”. Nasceu em Copenhague, no ano de 1813, e faleceu na mesma cidade, em 1855. Foi sepultado no cemitério Parque Assistens.

Filosofia Existencialista

O foco de seu pensamento filosófico estava embasado nas questões relativas ao existencialismo humano. Dessa forma, ele refletia sobre questões existenciais como a morte, a vida, a liberdade, a verdade, a angústia, o desespero e a subjetividade do homem. Esses conceitos possuíam uma interligação que constituíam a natureza humana, por isso, caberia ao filósofo, compreender através de uma análise crítico-reflexiva, os aspectos subjetivos desse fenômeno. Para Kierkegaard, a vida humana seria composta por muitos sofrimentos e falsas expectativas, e isto diminuía a existência do homem lhe causando dor, sofrimento e angústia. Acreditava que a vida do homem era despropositada e permeada por subjetivismos, por esse motivo, o homem deveria encontrar uma verdade própria, pela qual ele pudesse viver e morrer. Nesse sentido, ele refletia sobre a finalidade, a motivação e os efeitos das ações humanas na realidade do homem. Pontuando aspectos da realidade humana concreta em relação ao pensamento abstrato. A sua obra dialogava entre as vertentes do asceticismo moral e da ética teológica.

Segundo ele, em relação à angústia, ela seria necessária e inerente à condição humana, desse modo, ele afirmava que: “a angústia é a vertigem da liberdade”. Nesse sentido, compreender a angústia, era o mesmo que perceber a liberdade como possibilidade, pois a angustia servia como um motor de propulsão humana, guiando os indivíduos moralmente para um processo de compreensão e amadurecimento da vida. Através dela, o homem atingiria um estágio de fé que poderia salvá-lo do desespero. Retirando o homem de sua condição de espécie animal e o tornando um protagonista da sua própria existência. Ele definia três tipos de existência: a estética, a ética e a religiosa. Na primeira, o indivíduo centrava sua existência na busca desmedida pelo prazer. Já na segunda, homem teria certa responsabilidade, sabendo diferenciar o bem e o mal. Em relação à última, o ser humano alcançaria uma moral religiosa que o aproximaria de Deus. Essa posição teológica elevaria o homem a um status maior de nobreza.

Filosofia do Conhecimento

Para ele, a realidade humana era formada pela relação das emoções dos indivíduos com as experiências da vida. Nesse contexto, ele advertia que: “os filósofos constroem castelos conceituais, mas vivem em celeiros existenciais”. Dessa maneira, ele criticou a supremacia da razão humana, em detrimento das experiências subjetivas, caracterizando os sentimentos como um norte para se chegar ao conhecimento. Utilizava-se da ironia como principal elemento oratório de expressão das suas ideias. Criticou as correntes idealistas utilizando o método socrático da ironia. Empregava um método de escrita literária que denominava de “comunicação indireta” em que usava vários pseudônimos para descrever ideias diferentes. Segundo Kierkegaard, todo conhecimento científico produzido pelo homem não seria nada perante o saber divino, por isso o homem deveria colocar a ciência em segundo plano e dar preferência ao conhecimento de Deus. A ciência não possuía efetividade legítima, em razão disso, o homem deveria apostar sua existência no amor e na fé. Sua obra transcorria de maneira transdisciplinar por várias áreas do saber como a filosofia, a teologia, a psicologia, a arte e a literatura. Nessa perspectiva, sua filosofia objetivava a tomada de consciência do ser humano frente às indagações realizadas pelo homem para alcançar uma existência autêntica.   

Filosofia Teológica

Abordou alguns temas relacionados com a ética e a filosofia cristã, pontuando um contínuo embate entre o “temor e tremor” do homem perante Deus, pois esse “temor e tremor” constantes sinalizavam ao homem que um dia ele teria que prestar contas da vida que ele levou. Segundo Kierkegaard, as experiências do homem com Deus seriam experiências únicas, diretas e individualizadas, que não poderiam ser traduzidas na linguagem própria de outro ser humano, ou seja, não poderia ser comunicada pela perspectiva do outro, por isso cada indivíduo teria que resolver seu dilema e suas angústias, por si mesmo, a partir de suas próprias escolhas e possiblidades. O desespero seria um estágio de morte da alma em que o homem passaria a negar a existência de Deus. O indivíduo que chega nesse estágio estaria em um nível de doença da mente, negando suas esperanças e se reduzindo ao nada. 

Criticou as hipocrisias e contradições que eram realizadas por algumas religiões e instituições. Esclarecia que o cristianismo não poderia ser confundindo com um sistema cultural, diferenciando cristianismo de cristandade. Para ele, a cristandade é que estaria ligada a ideia de cultura, pois se vinculava ilusoriamente ao mundo de aparências, ela teria se dissimulado ao longo da História e se transformado em uma cultura superficial. Enquanto que o cristianismo representava verdadeiramente a angustia do espírito, e por ser autêntico, serviria como instrumento para que o homem pudesse alcançar a eternidade.

Filosofia Moral

Na visão de Kierkegaard, a fé seria superior à ética. Nessa linha de pensamento, ele citava o exemplo de Abraão, que através da fé decidiu tomar uma escolha conflitante com seus anseios e valores. Dessa maneira, a fé ultrapassaria os limites da ética, colocando o homem diante dos dilemas existenciais que caracterizam a vida de um verdadeiro cristão. A sua obra explorava as emoções e sentimentos dos indivíduos que eram confrontadas com os desfortúnios e impasses que surgem na vida. A fé serviria como um antídoto para aliviar a dor. Essa relação entre moral e fé, caracterizava sua busca pela verdade. Segundo Kierkegaard, a ideia de fé seria um “salto no escuro”, pois seu objetivo era respeitar os mistérios de Deus, para aceitar aquilo que o homem não era capaz de compreender racionalmente. A ideia que o indivíduo tem de finitude da vida, ou seja, que o homem vai morrer um dia, o leva a fazer escolhas entre a fé e a ética, desse modo, nesse processo de busca pela fé, o homem tende a se aproximar de Deus.

Obras:

Diário de um Sedutor; O Conceito de Ironia constantemente Referido a Sócrates; Discursos Edificantes; Migalhas Filosóficas; Temor e Tremor; O conceito de angústia; A Repetição; O Desespero Humano; Etapas do caminho da vida; As Obras do Amor; Discursos Cristãos; Ponto de Vista Explicativo da minha Obra como Escritor; Três Discursos para a Comunhão de Sexta-feira; Enten – Eller, Ou isso, ou aquilo: um fragmento de vida;

Pseudônimos:

Victor Eremita, Johannes de Silentio, Anti-Climacus, Hilarante Bookbinder e Vigilius Haufniensis. 

Filosofia Sapiencial

- “Sinto, logo sou”.

- “Não ousar é perder-se”.

- "A verdade é a subjetividade."

- “A angústia é a vertigem da liberdade”.

- “A inveja é uma admiração que se dissimula”

- "Quando você me rotula, você me nega."

- “A ironia é uma determinação da subjetividade”

- “O que é a verdade senão viver por uma ideia?”

- “Só quem já se modificou pode mudar os outros”.

- “O cristão é o único que conhece a doença mortal”

- “A fé é a mais elevada paixão de todos os homens”.

- “Não se esqueça da obrigação de amar a si mesmo”.

- “Acima de tudo, não perca seu desejo de prosseguir”

- "A verdade não deve ser buscada senão na paixão".

- "O que já existia, agora começa a existir novamente."

- “Apenas a verdade que é construída é verdade para ti”

- “Nada é superior em sedução e maldição do que um segredo”.

- “O infinito temor dum único perigo torna inexistentes todos os outros”.

- “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se”.

- “Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo”

- "Minha vida não será, apesar de tudo, mais do que uma existência poética."

- “É o desespero que define o grau de autenticidade ou inautenticidade do ser”.

- “Quem se perde em sua paixão perde menos do que aquele que perde a paixão”.

- “Os homens persegue o prazer com tanta impetuosidade que passam por ele sem vê-lo”

- "Aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si próprio."

- “Os filósofos constroem castelos conceituais, mas vivem em celeiros existenciais”.

- “Ficar em pé e provar a existência de Deus é diferente de ficar de joelhos e agradecê-Lo”

- “A angústia é a realidade da liberdade como possibilidade para a possibilidade”.

- "A vida não é um problema para ser resolvido, mas uma realidade a ser experimentada."

- "A personalidade de um homem só está madura quando ele encontra sua própria verdade."

- “O indivíduo, na sua angústia de não ser culpado, mas de passar por sê-lo, torna-se culpado”.

- "A tarefa deve ser tornada difícil, visto que apenas a dificuldade inspira os nobres de espírito".

- “A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”.

- “O povo pede o poder da palavra para compensar o poder de livre pensamento a que ele foge”.

- “O homem é uma síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade."

- “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.

- "Deve-se ferir mortalmente a esperança terrena - só então é que nos salvamos pela esperança verdadeira."

- “A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”.

- “Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber.”

- "Se houver coragem de ir mais além, se constatará que a então realidade será muito mais leve do que era a possibilidade."

- “A decepção mais comum é não podermos ser nós próprios, mas a forma mais profunda de decepção é escolhermos ser outro antes de nós próprios.”

- “A inocência é ignorância. Na inocência, o ser humano não está determinado como espírito, mas determinado psiquicamente em unidade imediata com sua naturalidade”

- “A raça humana deixou de temer a Deus. Depois disso, veio o castigo: passou a temer a si mesma, a ansiar pelo fantasmagórico, e agora treme diante dessa criatura de sua própria imaginação”.

- "É verdade quando a filosofia diz que a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. No entanto, esqueceu-se de outra frase: que ela só pode ser vivida olhando-se para frente."

- "O desespero é uma doença do espírito, do eu, e por isso pode assumir três formas: o desespero por não se ter consciência de ser um eu; o desespero pelo desejo de não ser um eu próprio; o desespero pelo desejo de ser um eu próprio."

- “A possibilidade da liberdade não consiste em poder escolher entre o bem e o mal. Um tal disparate não prossegue nem das escrituras nem do pensamento. A possibilidade consiste em ser-capaz-de. Em um sistema lógico, é bem fácil dizer que a possibilidade passa para a realidade”

- “Enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual não existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que não é possível recuperar nem nesta vida... nem na futura!”

- "Existir significa 'escolher', mas isso não representa a riqueza, mas a miséria do homem. Sua liberdade de escolha não é sua grandeza, mas seu drama permanente. De fato, ele sempre se depara com a alternativa de uma 'possibilidade de sim' e uma 'possibilidade de não', sem possuir qualquer critério seguro. E tateando no escuro numa posição instável de indecisão permanente."

- “O que me falta, é o que devo ter clareza comigo mesmo sobre o que devo fazer e não sobre o que devo conhecer, a não ser na medida em que ideias claras devem preceder toda a ação. Trata-se para mim, de compreender qual é a minha vocação, ver o que a Providência quer propriamente que eu faça. Trata-se de encontrar uma verdade que seja para mim, encontrar a ideia pela qual eu possa viver e morrer”

- “Se te casas, arrependes-te; se não te casa, arrependes-te também; cases-te ou não te cases, arrependes-te sempre. Ri-te das loucuras do mundo e irás arrepender-te; chora sobre elas, e arrependes-te também; ri-te das loucuras do mundo ou chora sobre elas, e de ambas as coisas te arrependes; quer te rias das loucuras do mundo, quer chores sobre elas irás sempre arrepender-te. Acredita numa mulher, e irás arrepender-te, não acredites nela e arrependes-te também; acredites ou não numa mulher, arrependes-te de ambas as coisas. Enforca-te, e arrependes-te; não te enforques, e na mesma te arrependes. É esta, meus senhores, a soma e substância de toda a filosofia”.

-  “Rir é arriscar-se a parecer louco. Chorar é arriscar-se a parecer sentimental. Estender a mão para o outro é arriscar-se a se envolver. Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor seu eu verdadeiro. Amar é arriscar-se a não ser amado. Expor suas ideias e sonhos ao público é arriscar-se a perder. Viver é arriscar-se a morrer...Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção. Tentar é arriscar-se a falhar. Mas... é preciso correr riscos. Porque o maior azar da vida é não arriscar nada...Pessoas que não arriscam, que nada fazem, nada são. Podem estar evitando o sofrimento e a tristeza. Mas assim não podem aprender, sentir, crescer, mudar, amar, viver...Acorrentadas às suas atitudes, são escravas; Abrem mão de sua liberdade. Só a pessoa que se arrisca é livre...Arriscar-se é perder o pé por algum tempo. Não se arriscar é perder a vida..."

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

FARAGO, France. Compreender Kierkegaard. Petrópolis, Vozes, 2011.

GARDNER, Patrick. Kierkegaard. São Paulo. Loyola, 2001.

GUTIÉRREZ, Jorge Luiz. Soren Aabye Kierkegaard. Revista Pandora Brasil. Internet: Existencialismo Deus, 1996.

KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia. Petrópolis: Vozes, 2010.

___________________ O Conceito de Ironia Constantemente Referido a Sócrates. Petrópolis: Vozes, 2013.

___________________ Migalhas filosóficas. Petrópolis: Vozes, 2008.

LE BLANC, Charles. Kierkegaard. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.

REDYSON, Deyve. A filosofia de Soren Kierkegaard. Recife: Elógica, 2004.

REICHMANN, Ernani. Soeren Kierkegaard. Curitiba: Edições Jr., 1972.

VALLS, Álvaro. Entre Sócrates e Cristo: ensaios sobre a ironia e o amor em Kierkegaard. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

VERGEZ, André. História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Frei Caneca

Frei Caneca – (1779 a 1825) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Joaquim da Silva Rabelo foi um filósofo brasileiro pertencente às correntes de pensamento teopolíticas. Floresceu no período de transição do Brasil colônia para o Brasil Imperial. Destacou-se como professor, teólogo, político, escritor e principalmente como um líder revolucionário. Publicou vários textos sobre assuntos políticos, onde defendia as suas ideias através desses escritos. Estudou no conhecido seminário de Olinda. Após ser ordenado padre, recebeu o codinome de “Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo”. Atuou como professor, lecionando as disciplinas de Gramática, Matemática e Filosofia. Também exerceu o ofício de conselheiro do exército republicano. Quando criança teria recebido o apelido de “Caneca”, em homenagem a seu pai que fabricava vasilhas. Por isso, também era conhecido como o “Frei Caneca”. Era filho de um tanoeiro português chamado Domingos da Silva Rabelo com a senhora Francisca Maria Alexandrina de Siqueira. Teria Nascido no Recife, em 20 de agosto, de 1779 e falecido também em Recife, no dia 13 de janeiro, de 1825. Sua morte se deu por fuzilamento em praça pública. Foi sepultado no Convento do Carmo, no Recife. Seu nome se encontra escrito no “livro dos heróis da pátria”. Atualmente, existem pelas cidades do Brasil, em sua homenagem, diversas ruas e avenidas com seu nome.

Filosofia Política

Sua visão política teria sido inspirada nas ideias dos filósofos Iluministas, com ênfase nos seguintes pensadores: Montesquieu, Rousseau, John Locke e Adam Smith. Caneca foi um grande líder político que lutou em favor de mudanças revolucionárias para o Brasil. Abraçou as causas abolicionistas, aderindo aos ideais libertários. Visto como um profundo revolucionário, ele teria utilizado a arte da oratória e sua influência política, para lutar contra práticas autoritárias que ameaçavam os direitos do povo brasileiro. Suas reflexões eram semeadas em praça pública, bem como também, nos sermões da Igreja. Seus escritos assombraram o poder vigente que passou a chamá-lo de “o escritor de papéis incendiários”. Defendeu ideias liberais, especialmente na defesa de uma república federalista para o país. Buscando, com isso, lutar em prol da independência do Brasil. Seu liberalismo se fundamentava nas ideias clássicas com destaque para as teorias econômicas. Advogou de maneira contrária as cobranças vultosas de impostos que a coroa portuguesa infligia a colônia. Chegou a publicar os princípios constitucionais de formação do pacto social brasileiro. Para ele, era necessário que a ideia de nação brasileira fosse fundamentada por um pacto entre os membros de uma assembleia livre e soberana. Considerado como um dos mentores da chamada Revolução Pernambucana, também teria participado da famosa “confederação do Equador”. O líder revolucionário morreu como mártir e entrou para a história como um dos homens mais importantes para a formação do Estado brasileiro.

Filosofia da Educação

Era tido como um dos grandes pensadores eruditos da época. Teria sido nomeado pela junta do governo constitucional para lecionar Matemática na cidade de Recife. A Educação foi o meio que Caneca utilizou para se introduzir no nicho político o qual era permeado apenas por pessoas ligadas a elite. Sua escolarização serviu como ponte para o seu reconhecimento intelectual, inserindo-o entre os vários campos sociais. Seu pensamento foi caracterizado, por alguns pesquisadores, como sendo um reflexo da formação do sentimento nativista brasileiro. Mesmo preso, Frei Caneca organizava na prisão algumas atividades laborais de ensino, realizando oficinas educacionais, onde cada aluno ensinava suas competências aos demais.  Defendia que a Educação era o melhor caminho para que o poder público pudesse vencer seus desafios. Pontuando que a intelectualidade brasileira deveria promover uma articulação entre sociedade e governo, com o claro objetivo de enfrentarem juntos, os dilemas sociais. Praticava uma espécie de educação popular com a finalidade de esclarecer as massas a respeito dos seus direitos. Desse modo, ele dizia que: “a instrução elementar é necessária, a todos, e a sociedade deve prestar igualmente a todos os seus membros”.

Filosofia Sapiencial

+ “[...] do Rio nada, não queremos nada”

+ “Que liberdade é essa, se a língua é escrava?”

+ “Quem bebe da minha "caneca" tem sede de liberdade”

+ “Quando a Nau da Pátria está em perigo, todos somos marinheiros”

+ “Tem fim a vida daquele que não soube a pátria amar; A vida do patriota não pode o tempo acabar”.

+ “Nenhuma pessoa pode ser privada da menor porção da sua propriedade sem seu consentimento”.

+ “Entre Marília e a Pátria coloquei meu coração, a Pátria o roubou-lhe todo, Marília que chore em vão”.

+ “Se amor vive além da morte, Eterno o meu há de ser: Se amor dura só na vida, Hei de amar-te até morrer”.

+ “A instrução elementar é necessária, a todos, e a sociedade deve prestar igualmente a todos os seus membros”.

+ “Quem passa a vida que eu passo, não deve a morte temer; com a morte não se assusta, quem está sempre a morrer”.

+ “Não posso cantar meus males, nem a mim mesmo em segredo; É tão cruel o meu fado, que até de mim tenho medo”.

+ “Os direitos naturais, civis e políticos do homem são a liberdade, a igualdade, a segurança, a propriedade e a resistência à opressão”.

+ “A liberdade da imprensa, ou outro qualquer meio de publicar estes sentimentos, não pode ser proibido, suspenso nem limitado”.

+ “Todos os cidadãos são admissíveis a todos os lugares, empregos e funções públicas. Os povos livres não conhecem outros motivos de preferência, senão os talentos e virtudes”.

+ “O princípio deste século tem sido empregado em política: constituições e seus projetos ocupam todos os espíritos. Não há quem não queira dar suas rajadas sobre formas de governo, suas vantagens e seus danos.”

+ “Sua Majestade pode dar títulos de barões, viscondes, condes, marqueses e duques; porém dar ciência a um tolo, valor a um covarde, virtude a um vicioso, honra a um patife, amor da pátria a um traidor, Sua Majestade não pode”

+ “Governe quem governar, seja nobre ou mecânico, rico ou pobre, sábio ou ignorante, da praça ou do mato, branco ou preto, caboclo ou pardo, só há um partido, que é o da liberdade civil e da felicidade do povo; e tudo o que não for isso há de ser repulsado a ferro e fogo”..

Fatos e Curiosidades:

Conta-se que após ser preso no interior do Ceará, Caneca teria sido levado para Recife e após ser julgado, foi condenado à forca. Porém na hora da execução, nenhum carrasco queria realizar o ato. As autoridades decidiram, então, que ele fosse fuzilado em praça pública. Segundo algumas fontes, o seu corpo foi colocado junto a uma das portas do templo carmelita.

Obras:

Compêndio de cronologia; Dissertação Político-Social; Orações Sacro-Apologéticas; Cartas de Pítias a Damão; Typhis Pernambucano; Itinerário; Poemas; Breve Compêndio de Gramática Portuguesa; Tratado de Eloquência; Tábuas Dinóticas do Sistema Retórico; O Caçador: Resposta às calúnias e falsidades da Arara Pernambucana; Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para com a mesma pátria.  


Fontes:

BERNARDES, Denis Antônio de Mendonça. A Ideia do Pacto Social e o Constitucionalismo em Frei Caneca. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da USP, 1996.

CLAUDIO, Aguiar. O suplício de Frei Caneca. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001.

DOBBIN, Elizabeth. Frei Caneca. Site: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Acesso em 2022.

ERMAKOFF, George. Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: Casa Editorial, 2012.

MELLO, Evaldo Cabral de. Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São Paulo: Editora 34, 2001.

NEAMP. Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política. Joaquim da Silva Rabelo. Site: Lideranças Políticas. São Paulo: PUC, 2022.

NETO, João Cabral de Mello. Auto do Frade. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994.

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2013.

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das letras, 2015.

SÓDRE, Nelson Werneck. A História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: MAUAD, 2004.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Galileu Galilei

Galileu Galilei – (1564 a 1642) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Galileu de Vincenzo Bonaiuti de Galilei foi um filósofo racionalista italiano ligado as correntes de pensamento cientificistas do período renascentista. Destacou-se nas áreas da Física, Matemática e Astronomia. Considerado um dos fundadores da ciência moderna, ele iniciou seus estudos em um mosteiro jesuíta, localizado na Toscana. Chegou a cursar Medicina na Universidade de Pisa, mas abandonou o curso para estudar Filosofia, Matemática, Física e Astronomia. Tido por muitos como um polímata, teria ministrado aulas de Geometria, Mecânica e Astronomia na Universidade de Pádua. Era filho de um comerciante de lã e músico chamado Vincenzo Galilei com a senhora Giulia Amnannati. Pelo fato de ter tornado público suas crenças, estudos e teorias, ele foi acusado de heresia pela Igreja Católica. Nesse ínterim, foi perseguido e julgado pela Igreja, que considerava suas teorias controversas e polêmicas. A inquisição passou, então, a ameaçá-lo com a pena de morte para que ele negasse suas descobertas. Após isso, foi condenado à prisão domiciliar até o final de sua vida. Nasceu na cidade de Pisa, em 1564 e faleceu na localidade de Arcetri-Florença, em 1642. Estava quase cego por observar as manchas solares sem a devida proteção.

Filosofia das Ciências

Fundamentou cientificamente a teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico, contribuindo, assim, para uma grande revolução na ciência. Realizou algumas pesquisas no campo da hidrostática, da dinâmica e da mecânica dos corpos. Comprovou através de experiências científicas a chamada “Lei da queda dos corpos”. Segundo Galileu: “Dois corpos, caindo a um só tempo de alturas iguais, tocarão o solo no mesmo instante, apesar da diferença de peso”. Nesse experimento, ele teria lançado dois objetos do alto de uma torre, sendo um objeto mais leve que o outro. Ambos chegaram ao solo ao mesmo tempo, comprovando, então, sua teoria. Elaborou métodos simples de determinação do centro de gravidade dos sólidos. Teve grande destaque nas pesquisas sobre geometria, sobre o movimento uniformemente acelerado e também a respeito do movimento retilíneo uniforme. Após a realização de observações sobre os períodos constantes dos fenômenos físicos, ele sistematizou a chamada “lei do pêndulo” e os princípios da “lei da inércia”.  

Filosofia do Conhecimento

Visto por muitos como o “Pai da Ciência Moderna”, ele teria sido pioneiro no método científico experimental. Segundo Galileu, a justificação do conhecimento científico se dava por processos objetivos como a observação, experimentação e demonstração, ou seja, de forma impessoal. Por isso, era necessário separar o saber teológico da ciência racional, isto é, separar fé e razão. A ciência deveria se apropriar da razão natural do homem, como, por exemplo, seus sentidos, seu intelecto e suas linguagens, para, com isso, construir uma autonomia da razão científica, ou melhor, com critérios diferentes dos que eram adotados pelas religiões. De acordo com Galileu, os resultados experimentais deveriam estar acima de qualquer autoridade. Dessa forma, todas as hipóteses levantadas pelos cientistas deveriam ser verificadas por meio da realização de experimentos e de cálculos. Os cientistas deveriam comprovar suas teorias através de métodos científicos, que fossem bem elaborados, sem achismos ou superstições. Ao elaborar uma hipótese, por exemplo, ele antes determinava seu objeto de estudo, a partir daí, selecionava algumas possíveis variáveis que pudessem suplementar sua teoria. Nesse contexto, ele dizia que: “penso que na discussão dos problemas da natureza deveríamos começar não pelas escrituras, mas antes pelas experiências e demonstrações.”.

Filosofia Astrofísica

Fez importantes descobertas astronômicas através da observação direta dos astros com sua luneta. Defendeu o conceito de que a Terra não era o centro do universo, afirmando que o Sol é que seria o centro do Universo e que os planetas giravam ao seu redor. Detectou manchas presentes na superfície do Sol, essa descoberta contribuiu para provar sua teoria de que a descrita estrela girava sobre um eixo. Localizou as quatro maiores luas de Júpiter, denominadas de: Europa, Calixto, Ganímedes e Lo, as quais ficaram conhecidas como “as Luas de Galileu”. Identificou as montanhas e crateras existentes na superfície da Lua. Descobriu os anéis de Saturno e alguns aglomerados de estrelas. Realizou estudos a respeito das fases de Vênus. Explicava que a Via Láctea era constituída de uma massa enorme de aglomerados de estrelas compactadas. Nesse sentido, ele descrevia que: “o céu parece, repentinamente, povoado de uma incrível massa de outras estrelas, invisíveis a olho nu, tão numerosas que quase não podemos acreditar”.

Filosofia Tecnológica

Resolveu um importante problema militar, que consistia em prever a trajetória de uma bala de canhão. Devido a sua grande habilidade manual, ele fabricava brinquedos e engenhocas, criava seus próprios equipamentos de pesquisa, ainda jovem, por exemplo, Galilei já construía complexos sistemas de moinhos de água. Engendrou importantes invenções como o relógio de pêndulo, o binóculo, o telescópio astronômico, a balança hidrostática, o compasso geométrico, o termômetro termoscópico, criou um instrumento de medição de pulso, uma bomba de água operada por cavalo, um compasso militar e uma espécie de régua calculadora.

Filosofia da Arte

Em relação ao campo das artes, ele fez excelentes pinturas, algumas delas simbolizando a sensibilidade e a razão do espírito da arte renascentista. Outras eram apenas um meio de representar as suas descobertas científicas. Teve como amigo um grande pintor dessa época conhecido por “Ludovico Cardi” o “Cigoli” que também pintava as relações existentes entre arte e ciência. Galileu realizou grandes estudos sobre o campo musical. Gostava de tocar alguns instrumentos como o órgão e a cítara. Elaborou resenhas, ensaios e críticas literárias a grandes personalidades da literatura. Foi considerado uma figura importante no cenário cultural italiano. Chegou a utilizar-se de um pseudônimo chamado “Alimberto Mauri” para assinar alguns trabalhos. Galileu recebeu inúmeras homenagens ao longo da história, sua vida é retratada em filmes, documentários, teatro, pinturas, músicas e livros.

Obras:

As operações da bússola geométrica e militar; O mensageiro das estrelas; Discurso sobre corpos na água; Diálogo sobre os dois principais sistemas do universo; Duas novas ciências; Manchas solares; Tratado das Esferas; Ciência e fé; O ensaiador.

Curiosidades:

Relata-se que Galileu possuía uma personalidade sarcástica e irônica. Daí, após ser ameaçado de morte pelos inquisidores, ele decide se retratar perante o tribunal. Mesmo assim, foi condenado a cumprir prisão domiciliar e proibido de ensinar ou divulgar suas teorias.  Ao final de todo o julgamento, ele teria se levantado e murmurado em voz baixa para as pessoas próximas a seguinte frase: "Eppur si muove!", que quer dizer, “no entanto, ela se move!”.

Filosofia Sapiencial

- “A paixão é a gênese do gênio”

- “A dúvida é a mãe da invenção”.

- “Conhecer a si próprio é o maior saber”.

- “A Matemática é a linguagem da natureza”.

- “A verdade é filha do tempo, e não da autoridade”

- “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar”

- “Gravem-se os benefícios no bronze e as injúrias no ar”

- “A verdade não resulta do número dos que nela creem”.

- “Os planetas não emitem luz, eles refletem a luz do Sol.”

- “Vaidade e medo nunca constroem conhecimento algum”.

- “O livro do mundo está escrito em linguagem matemática.”

- "Meça o que é mensurável e torne mensurável o que não é".

- “Falar obscuramente, qualquer um sabe; com clareza, raríssimos”.

- "A condição natural dos corpos não é o repouso, mas o movimento."

- “Não se pode ensinar tudo a alguém, mas se pode ajudá-lo a encontrar por si mesmo o caminho”.

“A filosofia está escrita nesse grande livro que é: “o Universo”, ele permanece continuamente aberto.”

- “A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos”.

- "O movimento dos corpos é uniforme, perpétuo e circular ou composto de movimentos circulares".

- “Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância”.

- "Todas as verdades são fáceis de perceber depois de terem sido descobertas; o problema é descobri-las."

- “Existem aqueles que raciocinam bem, mas são muito superados em número por aqueles que raciocinam mal.”

- “Digamos que existem dois tipos de mentes poéticas: uma apta a inventar fábulas e outra disposta a crer nelas”.

- “O céu parece, repentinamente, povoado de uma incrível massa de outras estrelas, invisíveis a olho nu, tão numerosas que quase não podemos acreditar”.

- “É vaidade imaginar que se pode introduzir uma nova filosofia ao refutar um ou outro autor. Primeiro, é necessário ensinar a reforma do espírito humano, e torná-lo capaz de distinguir a verdade da falsidade...o que só Deus pode fazer!”

- “A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende, pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito humano é obra de Deus, e a mais notável”.

- “Permanecer calado não me ofereceu vantagem alguma, pois meus inimigos, tão desejosos de me atrapalhar, chegaram a atribuir-me as obras dos outros escritores; e, tendo-me atacado à base destes textos, chegaram a fazer coisas que, a meu parecer, pertencem claramente a ânimos fanáticos e sem raciocínio”.

- “Acredito que os filósofos voam como as águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo”.

Fontes:

CANIATO, Rodolpho. Redescobrindo a Astronomia. Campinas: Átomo, 2010.

CANTORI, Valentina. Para uma ciência dos sentidos: a lição de Galileu Galilei. Site: Cosmos e Contexto. Rio de Janeiro: Revista eletrônica de cosmologia e cultura, 2022.

GALILEU, Galileu. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. Trad. Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, 2011.

GEYMONAT, Ludovico. Galileo Galilei. Torino: Einaudi, 1984.

GRIBBIN, John. Galileu (1564-1642) em noventa minutos. Londres: inlibrary, 1997.

KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Rio de Janeiro: Forense, 1982.

MARICONDA, Pablo Rubem; VASCONCELOS, Júlio. Galileu e a nova física. São Paulo: Odysseus, 2006.

MARTINS, Jader. A Vitória de Galileu: a Luta Contra o Obscurantismo. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2008.

PIRES, Antônio. Evolução das ideias da Física. São Paulo: Livraria da Física, 2008.

RIBEIRO, Daniel. Galileu Galilei. Revista de Ciência Elementar. Vol. 02 N; 04. Porto: Casa das Ciências, 2014.

VIEIRA, Patrese. Galileu Galilei e o movimento relativo. Lages: IFSC, 2020.  

ZYLBERSZTAJN. Arden. Galileu: um cientista e várias versões. Florianópolis: UFSC, 1988.

domingo, 20 de novembro de 2022

Enheduanna da Acádia

Enheduanna da Acádia – (2354 a 2300) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa acadiana da antiguidade ligada a corrente de pensamento moralista. Acredita-se que ela tenha sido a primeira pessoa do mundo a assinar suas próprias obras escritas, em vista disso, ela foi considerada por muitos pesquisadores como sendo a primeira pensadora da história humana. Ficou conhecida também como a “deusa do amor”, pois sua compilação enaltecia uma deidade lunar que celebrava o amor entre os sumerianos. Utilizou-se da literatura poética, orações e de hinos para descrever sua exaltação a uma entidade conhecida como “deusa Inanna ou Nanna-Suen, rainha dos céus e da Terra, deusa do amor, do sexo e da guerra”. Seu pai era o famoso “rei Sargão” da Acádia e sua mãe era conhecida como a rainha “Tashlultum”.

Praticava os ofícios de sacerdotisa, poetisa, escritora, professora, sábia e filósofa do chamado templo da deusa Lua. Esse templo era um local onde se exerciam atividades comerciais e praticava-se o ensino das ciências e das artes. Seu nome era a junção derivada do prefixo “En” que significava um título alto da nobreza política, com o termo “Heduanna” que denotava o conceito de adorno do céu, desse modo, seu nome era transliterado como “alta sacerdotisa que adorna o Céu”. Especula-se que ela tenha florescido aproximadamente entre os anos de (2354 a 2300) a.C, na antiga Mesopotâmia, próximo a região de Ur, localizado entre a Acádia e a Suméria. Uma cratera no planeta Mercúrio teria sido registrada com seu nome, em sua homenagem.

Filosofia Mítica

Deixou um grande legado literário antigo para a História, em que estava escrita sua obra mítica. Seus textos foram escritos na linguagem cuneiforme, em formato de cunha, e teriam sido gravadas em tábuas de barro. Aproximadamente mais de 100 poemas em tabloides cuneiformes foram encontrados e atribuídos a Enheduanna. O resultado dessa obra é uma descrição poética repleta de lutas, agonia, êxtase e louvor, em que Inanna era mostrada de maneira profundamente humana, como sendo uma mulher feroz e cruel, mas também amorosa e doce. Essa obra é descrita como uma das principais fontes sobre a mitologia sumeriana que revelava como era exercido o poder no império acadiano. Escreveu em torno de 42 duas obras literárias nesse formato. Tinha o título de “Hinos Sumérios do Templo”.

Filosofia da Educação

Seu cargo a envolvia na educação e nas artes dos escribas, dessa forma, ela dirigia escolas de escribas para mulheres ligadas a elite. Suas composições faziam parte do currículo nas escolas dos escribas. Ensinava técnicas sobre a arte da escrita poética, considerando a palavra como um importante instrumento de poder. Nesse sentido, alguns pesquisadores afirmam que ela foi uma das primeiras teóricas da retórica. Descrevia algumas instruções morais sobre a educação feminina e sobre o papel da mulher na sociedade mesopotâmica. Algumas mulheres ligadas à realeza tinham uma educação voltada para a cultura, desse modo, elas produziam obras poéticas. Seu trabalho mostrava doutrinamentos disciplinares de como se comportar em terrenos de batalha. Trabalhava ideias relacionadas aos sentimentos de esperança e medo. Apontava importantes ensinamentos sobre Matemática e Astronomia, por isso é tida como uma das primeiras observadoras dos céus. O trabalho de Enheduanna parece ter compreendido a observação dos movimentos celestes, fazendo medições e criando calendários.

Filosofia Política

No campo político ela exerceu um considerável poder político e religioso. Foi uma figura poderosa e influente em seu tempo, tendo um alto status social durante sua vida. Enheduanna utilizava o sistema religioso como meio de administrar o complexo templo da cidade. Nesse sentido, sua obra descrevia elementos bem elaborados sobre algumas tensões político-religiosas que aconteceram em seu reino. Durante um período de sua vida, ela teria sofrido uma investida de golpe político que foi tentado por um rebelde, esse fato provocou seu exílio, mas após algumas orações, ela se reestabeleceu no poder novamente. Enheduanna usou sua posição para promover a unidade e a harmonia religiosa. Sua visão de mundo estabelecia um equilíbrio entre a noção de masculino e feminino, tanto individualmente como coletivamente. Desempenhou um papel influente na preservação das tradições culturais, religiosas e literárias da Mesopotâmia. Ela denunciava, em alguns de seus textos, certas práticas condenáveis e crimes sexuais que eram cometidos por homens inescrupulosos. 

Filosofia da História

Uma estátua de Enheduanna foi encontrada em Giparu no ano aproximado de (2000 a 1800) a.C. Dois selos e um disco de alabastro contendo seu nome também foram descobertos após escavações no cemitério de Ur. Nesse local, foram enterradas, provavelmente grande parte das sacerdotisas antigas. Por isso, acredita-se que ela tenha vivido boa parte de sua vida na cidade-estado de Ur. O Disco de Enheduanna foi localizado pelo arqueólogo britânico Sir Charles Leonard Woolley e sua equipe de escavadores, em 1927. Nessas escavações também foram identificadas 37 placas de argila, em que estavam registrados seis escritos, entre eles, um que continha uma dedicatória. Suas obras foram produzidas com várias cópias, simbolizando que ela teria destaque e grande valor entre a realeza. Sua imagem, esculpida em um disco de alabastro, está em uma caixa de vidro no museu da Universidade da Pensilvânia.

Obras:

- Hinos sumérios do Templo

- A exaltação de Inanna

- A Maldição de Acádia

- O Mito de Inanna e Ebih

Irmãos:

Rimush; Manishtushu; Ibarum e Abaish-takal.

Filosofia Sapiencial

- “A Verdadeira Mulher, é a que possui Sabedoria Excedente”.

- “Meu rei, algo foi criado, algo que nunca ninguém criou antes”.

- “Aquilo que vos cantei à meia-noite, que se repita ao meio-dia”.

- “Eu assumi meu lugar na morada do santuário, eu era a alta sacerdotisa, eu, Enheduanna.”

- “Minha boca antes doce agora se tornou espuma, meu poder de agradar os corações virou pó”.

- “Ninguém pode se opor a sua batalha assassina - quem a rivaliza? Ninguém pode olhar para sua luta feroz, a carnificina".

- “Ho! templo Kesh, em todo o céu e terra você é o lugar que dá forma, espalhando medo como uma grande cobra venenosa”.

- “Inanna! Sua mão segura os sete poderes: Você eleva os poderes do ser, você os pendurou no dedo, você reuniu os muitos poderes, você os apertou agora, como colares em seu peito”.

- “Ho! templo de Inanna, Ó casa envolta em feixes de luz, onde nos poderes divinos, o verdadeiro “eu” se espalhou amplamente, santuário da montanha brilhante, que no crepúsculo torna o firmamento lindo, construiu esta casa em seu local radiante”.

- “Ela é que arrefece as sobrancelhas das pessoas de cabeça obscura, consulta uma tábua de lápis lazúli, dispensa assessoria a todas as terras. Verdadeira mulher, pura como a erva sabão, brota da cana sagrada. Ela mede os céus acima e estica o cabo de medição sobre a terra. No gipar, os quartos das sacerdotisas, aquele santuário principesco de ordem cósmica, eles rastreiam a passagem da lua, ela consulta uma placa para todas as terras, ela mede os céus e coloca os cordões de medir na terra”. 

Fontes:

BINKLEY, Roberta. Ornament of Heaven: The Book of Enheduanna. Site: Public ASU. Arizona: Internet, acesso em 2022.

BLACK, Jeremy; CUNNINGHAM, Graham; EBELING, Jarle; et al. O corpus de texto eletrônico da literatura suméria. Oxford: Universidade de Oxford, 2006.

ERYILMAZ, Ali. Enheduanna: A princesa do Templo sumério. Porto: Grupo Porto Editora, 2022.

FOSTER, Benjamin. The Age of Agade: Inventing Empire in Ancient Mesopotamia. Abingdon: Routledge, 2015.

GLAZ, Sara. Enheduanna: Princesa, Sacerdotisa, Poeta e Matemática. The Mathematical Intelligencer

HALLO, Willian; DIJK, Van. A exaltação de Inanna. Londres: Yale University Press New Haven, 1968.

KRIWACZEK, Paul. Babilônia: A Mesopotâmia e o Nascimento. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

MEADOR, Betty de Shong. Inanna, Lady of Largest Heart. Austin: University of Texas Press, 2001.

PRYKE, Louise. Enheduanna. Site: The New História. Internet: Acesso em 2022.

SALISBURY, Joyce. Enciclopédia das mulheres no mundo antigo. Oxford:  ABC CLIO, 2001.

WINTER, Irene. Mulheres em público: o disco de Enheduanna, o início do ofício de sacerdotisa e o peso da evidência visual. Paris: Editions Recherche sur les civilisations, 1987.

WOLKSTEIN, Diane. Inana a Rainha dos Céus e da Terra: suas histórias e hinos da Suméria. New York: Harper Perennial, 1983.