domingo, 20 de novembro de 2022

Enheduanna da Acádia

Enheduanna da Acádia – (2354 a 2300) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa acadiana da antiguidade ligada a corrente de pensamento moralista. Acredita-se que ela tenha sido a primeira pessoa do mundo a assinar suas próprias obras escritas, em vista disso, ela foi considerada por muitos pesquisadores como sendo a primeira pensadora da história humana. Ficou conhecida também como a “deusa do amor”, pois sua compilação enaltecia uma deidade lunar que celebrava o amor entre os sumerianos. Utilizou-se da literatura poética, orações e de hinos para descrever sua exaltação a uma entidade conhecida como “deusa Inanna ou Nanna-Suen, rainha dos céus e da Terra, deusa do amor, do sexo e da guerra”. Seu pai era o famoso “rei Sargão” da Acádia e sua mãe era conhecida como a rainha “Tashlultum”.

Praticava os ofícios de sacerdotisa, poetisa, escritora, professora, sábia e filósofa do chamado templo da deusa Lua. Esse templo era um local onde se exerciam atividades comerciais e praticava-se o ensino das ciências e das artes. Seu nome era a junção derivada do prefixo “En” que significava um título alto da nobreza política, com o termo “Heduanna” que denotava o conceito de adorno do céu, desse modo, seu nome era transliterado como “alta sacerdotisa que adorna o Céu”. Especula-se que ela tenha florescido aproximadamente entre os anos de (2354 a 2300) a.C, na antiga Mesopotâmia, próximo a região de Ur, localizado entre a Acádia e a Suméria. Uma cratera no planeta Mercúrio teria sido registrada com seu nome, em sua homenagem.

Filosofia Mítica

Deixou um grande legado literário antigo para a História, em que estava escrita sua obra mítica. Seus textos foram escritos na linguagem cuneiforme, em formato de cunha, e teriam sido gravadas em tábuas de barro. Aproximadamente mais de 100 poemas em tabloides cuneiformes foram encontrados e atribuídos a Enheduanna. O resultado dessa obra é uma descrição poética repleta de lutas, agonia, êxtase e louvor, em que Inanna era mostrada de maneira profundamente humana, como sendo uma mulher feroz e cruel, mas também amorosa e doce. Essa obra é descrita como uma das principais fontes sobre a mitologia sumeriana que revelava como era exercido o poder no império acadiano. Escreveu em torno de 42 duas obras literárias nesse formato. Tinha o título de “Hinos Sumérios do Templo”.

Filosofia da Educação

Seu cargo a envolvia na educação e nas artes dos escribas, dessa forma, ela dirigia escolas de escribas para mulheres ligadas a elite. Suas composições faziam parte do currículo nas escolas dos escribas. Ensinava técnicas sobre a arte da escrita poética, considerando a palavra como um importante instrumento de poder. Nesse sentido, alguns pesquisadores afirmam que ela foi uma das primeiras teóricas da retórica. Descrevia algumas instruções morais sobre a educação feminina e sobre o papel da mulher na sociedade mesopotâmica. Algumas mulheres ligadas à realeza tinham uma educação voltada para a cultura, desse modo, elas produziam obras poéticas. Seu trabalho mostrava doutrinamentos disciplinares de como se comportar em terrenos de batalha. Trabalhava ideias relacionadas aos sentimentos de esperança e medo. Apontava importantes ensinamentos sobre Matemática e Astronomia, por isso é tida como uma das primeiras observadoras dos céus. O trabalho de Enheduanna parece ter compreendido a observação dos movimentos celestes, fazendo medições e criando calendários.

Filosofia Política

No campo político ela exerceu um considerável poder político e religioso. Foi uma figura poderosa e influente em seu tempo, tendo um alto status social durante sua vida. Enheduanna utilizava o sistema religioso como meio de administrar o complexo templo da cidade. Nesse sentido, sua obra descrevia elementos bem elaborados sobre algumas tensões político-religiosas que aconteceram em seu reino. Durante um período de sua vida, ela teria sofrido uma investida de golpe político que foi tentado por um rebelde, esse fato provocou seu exílio, mas após algumas orações, ela se reestabeleceu no poder novamente. Enheduanna usou sua posição para promover a unidade e a harmonia religiosa. Sua visão de mundo estabelecia um equilíbrio entre a noção de masculino e feminino, tanto individualmente como coletivamente. Desempenhou um papel influente na preservação das tradições culturais, religiosas e literárias da Mesopotâmia. Ela denunciava, em alguns de seus textos, certas práticas condenáveis e crimes sexuais que eram cometidos por homens inescrupulosos. 

Filosofia da História

Uma estátua de Enheduanna foi encontrada em Giparu no ano aproximado de (2000 a 1800) a.C. Dois selos e um disco de alabastro contendo seu nome também foram descobertos após escavações no cemitério de Ur. Nesse local, foram enterradas, provavelmente grande parte das sacerdotisas antigas. Por isso, acredita-se que ela tenha vivido boa parte de sua vida na cidade-estado de Ur. O Disco de Enheduanna foi localizado pelo arqueólogo britânico Sir Charles Leonard Woolley e sua equipe de escavadores, em 1927. Nessas escavações também foram identificadas 37 placas de argila, em que estavam registrados seis escritos, entre eles, um que continha uma dedicatória. Suas obras foram produzidas com várias cópias, simbolizando que ela teria destaque e grande valor entre a realeza. Sua imagem, esculpida em um disco de alabastro, está em uma caixa de vidro no museu da Universidade da Pensilvânia.

Obras:

- Hinos sumérios do Templo

- A exaltação de Inanna

- A Maldição de Acádia

- O Mito de Inanna e Ebih

Irmãos:

Rimush; Manishtushu; Ibarum e Abaish-takal.

Filosofia Sapiencial

- “A Verdadeira Mulher, é a que possui Sabedoria Excedente”.

- “Meu rei, algo foi criado, algo que nunca ninguém criou antes”.

- “Aquilo que vos cantei à meia-noite, que se repita ao meio-dia”.

- “Eu assumi meu lugar na morada do santuário, eu era a alta sacerdotisa, eu, Enheduanna.”

- “Minha boca antes doce agora se tornou espuma, meu poder de agradar os corações virou pó”.

- “Ninguém pode se opor a sua batalha assassina - quem a rivaliza? Ninguém pode olhar para sua luta feroz, a carnificina".

- “Ho! templo Kesh, em todo o céu e terra você é o lugar que dá forma, espalhando medo como uma grande cobra venenosa”.

- “Inanna! Sua mão segura os sete poderes: Você eleva os poderes do ser, você os pendurou no dedo, você reuniu os muitos poderes, você os apertou agora, como colares em seu peito”.

- “Ho! templo de Inanna, Ó casa envolta em feixes de luz, onde nos poderes divinos, o verdadeiro “eu” se espalhou amplamente, santuário da montanha brilhante, que no crepúsculo torna o firmamento lindo, construiu esta casa em seu local radiante”.

- “Ela é que arrefece as sobrancelhas das pessoas de cabeça obscura, consulta uma tábua de lápis lazúli, dispensa assessoria a todas as terras. Verdadeira mulher, pura como a erva sabão, brota da cana sagrada. Ela mede os céus acima e estica o cabo de medição sobre a terra. No gipar, os quartos das sacerdotisas, aquele santuário principesco de ordem cósmica, eles rastreiam a passagem da lua, ela consulta uma placa para todas as terras, ela mede os céus e coloca os cordões de medir na terra”. 

Fontes:

BINKLEY, Roberta. Ornament of Heaven: The Book of Enheduanna. Site: Public ASU. Arizona: Internet, acesso em 2022.

BLACK, Jeremy; CUNNINGHAM, Graham; EBELING, Jarle; et al. O corpus de texto eletrônico da literatura suméria. Oxford: Universidade de Oxford, 2006.

ERYILMAZ, Ali. Enheduanna: A princesa do Templo sumério. Porto: Grupo Porto Editora, 2022.

FOSTER, Benjamin. The Age of Agade: Inventing Empire in Ancient Mesopotamia. Abingdon: Routledge, 2015.

GLAZ, Sara. Enheduanna: Princesa, Sacerdotisa, Poeta e Matemática. The Mathematical Intelligencer

HALLO, Willian; DIJK, Van. A exaltação de Inanna. Londres: Yale University Press New Haven, 1968.

KRIWACZEK, Paul. Babilônia: A Mesopotâmia e o Nascimento. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

MEADOR, Betty de Shong. Inanna, Lady of Largest Heart. Austin: University of Texas Press, 2001.

PRYKE, Louise. Enheduanna. Site: The New História. Internet: Acesso em 2022.

SALISBURY, Joyce. Enciclopédia das mulheres no mundo antigo. Oxford:  ABC CLIO, 2001.

WINTER, Irene. Mulheres em público: o disco de Enheduanna, o início do ofício de sacerdotisa e o peso da evidência visual. Paris: Editions Recherche sur les civilisations, 1987.

WOLKSTEIN, Diane. Inana a Rainha dos Céus e da Terra: suas histórias e hinos da Suméria. New York: Harper Perennial, 1983.

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