Escola de Mileto
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi uma escola de pensamento filosófico fundada na cidade de Mileto na
Grécia antiga. Também era chamada de Escola Jônica ou Escola Milesiana. A
descrita escola teria surgido em meados do Século VI a.C no período
compreendido como pré-socrático. Teve como principais representantes o filósofo
Tales de Mileto e seus sucessores: Anaximandro e Anaxímenes. Esses primeiros
filósofos eram naturais da cidade de Mileto ou residiam em regiões próximas. Todos
os três filósofos descritos buscavam na natureza o elo entre a matéria e o
surgimento da vida, por isso eles foram chamados de filósofos da “phisis”,
ou seja, filósofos da natureza. Embora existisse divergência entre eles, sobre
qual seria a verdadeira substância primordial, suas teorias tiveram algo em
comum, pois ainda persistia entre eles uma ideia divina ou mística, em relação à
substância inicial. Outro ponto em comum entre esses filósofos era o conceito
de unidade da substância. Também ficaram conhecidos como filósofos
cosmológicos, pois relacionavam seus conhecimentos sobre a natureza e a física
com os saberes de geografia e astronomia.
Filosofia da Natureza
Essa escola era considerada a primeira escola de Filosofia da Grécia
antiga, ela surgiu com a ideia de que existiria uma substância na natureza que
dava origem a tudo no universo. A citada escola fundamentou seus pensamentos
atribuindo a elementos da natureza um princípio ativo que era denominado de “arché”. Para esses primeiros filósofos, a “physis” (natureza) teria uma espécie de “arché” (princípio) unitário, daí, ser
esse, o porquê deles serem também batizados de filósofos unitaristas, pois
acreditavam que “um só” seria o princípio de tudo. Grande parte dos
conhecimentos desses filósofos foi perdida no tempo. A civilização grega dessa
época foi considerada por muito tempo como o berço dos primeiros pensadores
racionais, tendo desenvolvido uma maneira particular de construção do
conhecimento.
Principais Filósofos
Tales, o fundador dessa corrente de pensamento, ao observar a natureza,
afirmava ser a “água” o princípio original de tudo. A “água” ao qual
Tales se referia não seria propriamente a água como a conhecemos, mas
possivelmente uma mistura pura de um líquido semelhante à água. A mitologia e o
misticismo da época influenciavam muito o pensamento grego, por isso é provável
que Tales tivesse uma visão “teocosmogônica” do conceito de água. Segundo
Tales, a “água” poderia penetrar por qualquer lugar, e por não possuir
forma, ela também se moldaria a qualquer ambiente, pois ela teria certo aspecto
de versatilidade. A “água” seria uma substância vivificante que dava
origem as coisas, por isso, ela não poderia ser uma matéria inanimada.
Anaximandro afirmou que a “arché” seria uma substância que ele
denominou de “ápeiron”. Esse “ápeiron” seria uma espécie de
energia vital infinita e indeterminada. Era ilimitada e eterna, com um conceito
abstrato e aspecto divino, estando em um contínuo movimento. Essa substância formava as coisas no universo
através de um processo de separação e segregação constantes. Esse tipo de
pensamento em relação ao “ápeiron” inaugurou uma visão naturalista de
Deus. Dessa forma, ele compreendia que as relações da “natureza do cosmos” era imaterialmente
infinita. Anaximandro também teve uma forte participação política em seu tempo,
tendo inclusive liderado uma colônia grega. Além disso, chegou a desenvolver
algumas teorias astronômicas.
O filósofo Anaxímenes definiu a substância criadora de tudo como sendo o
“ar”. O “ar” de Anaxímenes se assemelhava a ideia de espírito. De acordo com
sua visão, o “ar” representava a própria ideia de vida, nesse sentido, tudo que
existia no universo seria apenas formas diferentes de “ar”. Anaxímenes
estabeleceu esse “ar” como uma substância invisível, porém natural. Alguns
pensadores denominam essa “arché” desenvolvida por ele de “pneuma”.
Essa substância não possuiria forma definida, podendo se estender por várias
direções até o infinito. Dessa forma, ele utilizaria o conceito de envolvimento
e adaptação elaborado por Tales com a “água” e o conceito de indefinição e
infinidade elaborado por Anaximandro com o “ápeiron”, para, com isso,
conceituar sua definição de “ar” como sendo a substância primordial de tudo. Nesse
sentido, ele acreditava que a água seria ar condensado e que o fogo seria ar
rarefeito. Por isso a substância “ar” formaria a origem da terra, da água e do
fogo.
Outros filósofos participaram de maneira secundária dessa escola de
pensamento, ou seja, seguiram algumas características dessa escola ou foram
influenciados de forma particular. Entre eles podem ser citados: Heráclito de
Éfesos, Diógenes de Apolônia e Hípon de Régio. Alguns historiadores diferem a
Escola de Mileto da Escola Jônica, apontando que a primeira seria formada apenas
pelos filósofos Tales e seus discípulos, Já a Escola Jônica teria mais representantes
como o Heráclito de Éfesos e o Diógenes de Apolônia.
Considerações Finais
Esses filósofos diziam não haver separação entre matéria e vida. Esse conceito
também é entendido como “hilozoísmo”. Eles discordavam do pensamento
tradicional de explicação mitológica dos fenômenos da natureza. Os gregos, dessa
época, utilizavam a crença politeísta em deuses gregos para dar explicação
sobre a criação do universo. Dessa forma, os pensadores da escola de Mileto
utilizaram as observações da natureza para fornecer explicações sobre a origem
da vida e do cosmos. Eles buscavam explicação da passagem dos fenômenos
naturais do caos para a ordem, nesse sentido, essa ordem poderia ser
compreendida pela razão. Essa explicação poderia ser entendida a partir da
própria natureza. A nova visão de mundo descrita por eles era pensada a partir
do “logos”, ou seja, da palavra racional representada por uma substância
imanente.
Fontes:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5º ed. São Paulo:
Martins, 2007.
ARISTÓTELES. Metafísica.
Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Editora Ática,
2017.
CRESON, André. A Filosolofia Antiga. São Paulo: Difel, 1960.
COTRIM, Gilberto e FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Editora Saraiva, 2017.
KIRK,
Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos.
Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1983.
LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e
doutrinas dos filósofos ilustres. 2 ed. Brasília. UnB. 2008.
MARCONDES, Danilo. Iniciação a
História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. 13ª ed. Rio de
Janeiro: Zahar. 2010.
MARÍAS, Julián. História da Filosofia. Trad. Claudia Berliner.
São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade.
1°ed. Belo Horizonte: Pax editora, 2010.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média.
São Paulo: Paulus, 1990.
Nenhum comentário:
Postar um comentário