segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Soren Kierkegaard

Soren Kierkegaard – (1813 a 1855) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Soren Aabye Kierkegaard foi um filósofo dinamarquês do período contemporâneo pertencente a corrente de pensamento do existencialismo. Ficou conhecido na filosofia como sendo o “pai do existencialismo”. Realizou uma contraposição de ideias para com as chamadas filosofias idealistas, racionalistas e especulativas. Trabalhou como crítico, professor, teólogo, poeta e filósofo. Escreveu alguns diários em que assinava seus textos se utilizando de vários pseudônimos. Iniciou seus estudos em uma conhecida Escola de “Virtude Cívica” e posteriormente foi estudar Teologia na Universidade de Copenhague. A vida desse jovem filósofo foi marcada por tragédias pessoais, além disso, ele tinha um corpo físico disforme. Esses fatos são vistos por críticos como fatores que influenciaram seu sistema de pensamento. Ao nascer, seu pai já tinha 56 anos e sua mãe 45, razão pela qual ele dizia que era “um filho da velhice”. Nasceu em Copenhague, no ano de 1813, e faleceu na mesma cidade, em 1855. Foi sepultado no cemitério Parque Assistens.

Filosofia Existencialista

O foco de seu pensamento filosófico estava embasado nas questões relativas ao existencialismo humano. Dessa forma, ele refletia sobre questões existenciais como a morte, a vida, a liberdade, a verdade, a angústia, o desespero e a subjetividade do homem. Esses conceitos possuíam uma interligação que constituíam a natureza humana, por isso, caberia ao filósofo, compreender através de uma análise crítico-reflexiva, os aspectos subjetivos desse fenômeno. Para Kierkegaard, a vida humana seria composta por muitos sofrimentos e falsas expectativas, e isto diminuía a existência do homem lhe causando dor, sofrimento e angústia. Acreditava que a vida do homem era despropositada e permeada por subjetivismos, por esse motivo, o homem deveria encontrar uma verdade própria, pela qual ele pudesse viver e morrer. Nesse sentido, ele refletia sobre a finalidade, a motivação e os efeitos das ações humanas na realidade do homem. Pontuando aspectos da realidade humana concreta em relação ao pensamento abstrato. A sua obra dialogava entre as vertentes do asceticismo moral e da ética teológica.

Segundo ele, em relação à angústia, ela seria necessária e inerente à condição humana, desse modo, ele afirmava que: “a angústia é a vertigem da liberdade”. Nesse sentido, compreender a angústia, era o mesmo que perceber a liberdade como possibilidade, pois a angustia servia como um motor de propulsão humana, guiando os indivíduos moralmente para um processo de compreensão e amadurecimento da vida. Através dela, o homem atingiria um estágio de fé que poderia salvá-lo do desespero. Retirando o homem de sua condição de espécie animal e o tornando um protagonista da sua própria existência. Ele definia três tipos de existência: a estética, a ética e a religiosa. Na primeira, o indivíduo centrava sua existência na busca desmedida pelo prazer. Já na segunda, homem teria certa responsabilidade, sabendo diferenciar o bem e o mal. Em relação à última, o ser humano alcançaria uma moral religiosa que o aproximaria de Deus. Essa posição teológica elevaria o homem a um status maior de nobreza.

Filosofia do Conhecimento

Para ele, a realidade humana era formada pela relação das emoções dos indivíduos com as experiências da vida. Nesse contexto, ele advertia que: “os filósofos constroem castelos conceituais, mas vivem em celeiros existenciais”. Dessa maneira, ele criticou a supremacia da razão humana, em detrimento das experiências subjetivas, caracterizando os sentimentos como um norte para se chegar ao conhecimento. Utilizava-se da ironia como principal elemento oratório de expressão das suas ideias. Criticou as correntes idealistas utilizando o método socrático da ironia. Empregava um método de escrita literária que denominava de “comunicação indireta” em que usava vários pseudônimos para descrever ideias diferentes. Segundo Kierkegaard, todo conhecimento científico produzido pelo homem não seria nada perante o saber divino, por isso o homem deveria colocar a ciência em segundo plano e dar preferência ao conhecimento de Deus. A ciência não possuía efetividade legítima, em razão disso, o homem deveria apostar sua existência no amor e na fé. Sua obra transcorria de maneira transdisciplinar por várias áreas do saber como a filosofia, a teologia, a psicologia, a arte e a literatura. Nessa perspectiva, sua filosofia objetivava a tomada de consciência do ser humano frente às indagações realizadas pelo homem para alcançar uma existência autêntica.   

Filosofia Teológica

Abordou alguns temas relacionados com a ética e a filosofia cristã, pontuando um contínuo embate entre o “temor e tremor” do homem perante Deus, pois esse “temor e tremor” constantes sinalizavam ao homem que um dia ele teria que prestar contas da vida que ele levou. Segundo Kierkegaard, as experiências do homem com Deus seriam experiências únicas, diretas e individualizadas, que não poderiam ser traduzidas na linguagem própria de outro ser humano, ou seja, não poderia ser comunicada pela perspectiva do outro, por isso cada indivíduo teria que resolver seu dilema e suas angústias, por si mesmo, a partir de suas próprias escolhas e possiblidades. O desespero seria um estágio de morte da alma em que o homem passaria a negar a existência de Deus. O indivíduo que chega nesse estágio estaria em um nível de doença da mente, negando suas esperanças e se reduzindo ao nada. 

Criticou as hipocrisias e contradições que eram realizadas por algumas religiões e instituições. Esclarecia que o cristianismo não poderia ser confundindo com um sistema cultural, diferenciando cristianismo de cristandade. Para ele, a cristandade é que estaria ligada a ideia de cultura, pois se vinculava ilusoriamente ao mundo de aparências, ela teria se dissimulado ao longo da História e se transformado em uma cultura superficial. Enquanto que o cristianismo representava verdadeiramente a angustia do espírito, e por ser autêntico, serviria como instrumento para que o homem pudesse alcançar a eternidade.

Filosofia Moral

Na visão de Kierkegaard, a fé seria superior à ética. Nessa linha de pensamento, ele citava o exemplo de Abraão, que através da fé decidiu tomar uma escolha conflitante com seus anseios e valores. Dessa maneira, a fé ultrapassaria os limites da ética, colocando o homem diante dos dilemas existenciais que caracterizam a vida de um verdadeiro cristão. A sua obra explorava as emoções e sentimentos dos indivíduos que eram confrontadas com os desfortúnios e impasses que surgem na vida. A fé serviria como um antídoto para aliviar a dor. Essa relação entre moral e fé, caracterizava sua busca pela verdade. Segundo Kierkegaard, a ideia de fé seria um “salto no escuro”, pois seu objetivo era respeitar os mistérios de Deus, para aceitar aquilo que o homem não era capaz de compreender racionalmente. A ideia que o indivíduo tem de finitude da vida, ou seja, que o homem vai morrer um dia, o leva a fazer escolhas entre a fé e a ética, desse modo, nesse processo de busca pela fé, o homem tende a se aproximar de Deus.

Obras:

Diário de um Sedutor; O Conceito de Ironia constantemente Referido a Sócrates; Discursos Edificantes; Migalhas Filosóficas; Temor e Tremor; O conceito de angústia; A Repetição; O Desespero Humano; Etapas do caminho da vida; As Obras do Amor; Discursos Cristãos; Ponto de Vista Explicativo da minha Obra como Escritor; Três Discursos para a Comunhão de Sexta-feira; Enten – Eller, Ou isso, ou aquilo: um fragmento de vida;

Pseudônimos:

Victor Eremita, Johannes de Silentio, Anti-Climacus, Hilarante Bookbinder e Vigilius Haufniensis. 

Filosofia Sapiencial

- “Sinto, logo sou”.

- “Não ousar é perder-se”.

- "A verdade é a subjetividade."

- “A angústia é a vertigem da liberdade”.

- “A inveja é uma admiração que se dissimula”

- "Quando você me rotula, você me nega."

- “A ironia é uma determinação da subjetividade”

- “O que é a verdade senão viver por uma ideia?”

- “Só quem já se modificou pode mudar os outros”.

- “O cristão é o único que conhece a doença mortal”

- “A fé é a mais elevada paixão de todos os homens”.

- “Não se esqueça da obrigação de amar a si mesmo”.

- “Acima de tudo, não perca seu desejo de prosseguir”

- "A verdade não deve ser buscada senão na paixão".

- "O que já existia, agora começa a existir novamente."

- “Apenas a verdade que é construída é verdade para ti”

- “Nada é superior em sedução e maldição do que um segredo”.

- “O infinito temor dum único perigo torna inexistentes todos os outros”.

- “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se”.

- “Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo”

- "Minha vida não será, apesar de tudo, mais do que uma existência poética."

- “É o desespero que define o grau de autenticidade ou inautenticidade do ser”.

- “Quem se perde em sua paixão perde menos do que aquele que perde a paixão”.

- “Os homens persegue o prazer com tanta impetuosidade que passam por ele sem vê-lo”

- "Aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si próprio."

- “Os filósofos constroem castelos conceituais, mas vivem em celeiros existenciais”.

- “Ficar em pé e provar a existência de Deus é diferente de ficar de joelhos e agradecê-Lo”

- “A angústia é a realidade da liberdade como possibilidade para a possibilidade”.

- "A vida não é um problema para ser resolvido, mas uma realidade a ser experimentada."

- "A personalidade de um homem só está madura quando ele encontra sua própria verdade."

- “O indivíduo, na sua angústia de não ser culpado, mas de passar por sê-lo, torna-se culpado”.

- "A tarefa deve ser tornada difícil, visto que apenas a dificuldade inspira os nobres de espírito".

- “A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”.

- “O povo pede o poder da palavra para compensar o poder de livre pensamento a que ele foge”.

- “O homem é uma síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade."

- “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.

- "Deve-se ferir mortalmente a esperança terrena - só então é que nos salvamos pela esperança verdadeira."

- “A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”.

- “Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber.”

- "Se houver coragem de ir mais além, se constatará que a então realidade será muito mais leve do que era a possibilidade."

- “A decepção mais comum é não podermos ser nós próprios, mas a forma mais profunda de decepção é escolhermos ser outro antes de nós próprios.”

- “A inocência é ignorância. Na inocência, o ser humano não está determinado como espírito, mas determinado psiquicamente em unidade imediata com sua naturalidade”

- “A raça humana deixou de temer a Deus. Depois disso, veio o castigo: passou a temer a si mesma, a ansiar pelo fantasmagórico, e agora treme diante dessa criatura de sua própria imaginação”.

- "É verdade quando a filosofia diz que a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. No entanto, esqueceu-se de outra frase: que ela só pode ser vivida olhando-se para frente."

- "O desespero é uma doença do espírito, do eu, e por isso pode assumir três formas: o desespero por não se ter consciência de ser um eu; o desespero pelo desejo de não ser um eu próprio; o desespero pelo desejo de ser um eu próprio."

- “A possibilidade da liberdade não consiste em poder escolher entre o bem e o mal. Um tal disparate não prossegue nem das escrituras nem do pensamento. A possibilidade consiste em ser-capaz-de. Em um sistema lógico, é bem fácil dizer que a possibilidade passa para a realidade”

- “Enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual não existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que não é possível recuperar nem nesta vida... nem na futura!”

- "Existir significa 'escolher', mas isso não representa a riqueza, mas a miséria do homem. Sua liberdade de escolha não é sua grandeza, mas seu drama permanente. De fato, ele sempre se depara com a alternativa de uma 'possibilidade de sim' e uma 'possibilidade de não', sem possuir qualquer critério seguro. E tateando no escuro numa posição instável de indecisão permanente."

- “O que me falta, é o que devo ter clareza comigo mesmo sobre o que devo fazer e não sobre o que devo conhecer, a não ser na medida em que ideias claras devem preceder toda a ação. Trata-se para mim, de compreender qual é a minha vocação, ver o que a Providência quer propriamente que eu faça. Trata-se de encontrar uma verdade que seja para mim, encontrar a ideia pela qual eu possa viver e morrer”

- “Se te casas, arrependes-te; se não te casa, arrependes-te também; cases-te ou não te cases, arrependes-te sempre. Ri-te das loucuras do mundo e irás arrepender-te; chora sobre elas, e arrependes-te também; ri-te das loucuras do mundo ou chora sobre elas, e de ambas as coisas te arrependes; quer te rias das loucuras do mundo, quer chores sobre elas irás sempre arrepender-te. Acredita numa mulher, e irás arrepender-te, não acredites nela e arrependes-te também; acredites ou não numa mulher, arrependes-te de ambas as coisas. Enforca-te, e arrependes-te; não te enforques, e na mesma te arrependes. É esta, meus senhores, a soma e substância de toda a filosofia”.

-  “Rir é arriscar-se a parecer louco. Chorar é arriscar-se a parecer sentimental. Estender a mão para o outro é arriscar-se a se envolver. Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor seu eu verdadeiro. Amar é arriscar-se a não ser amado. Expor suas ideias e sonhos ao público é arriscar-se a perder. Viver é arriscar-se a morrer...Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção. Tentar é arriscar-se a falhar. Mas... é preciso correr riscos. Porque o maior azar da vida é não arriscar nada...Pessoas que não arriscam, que nada fazem, nada são. Podem estar evitando o sofrimento e a tristeza. Mas assim não podem aprender, sentir, crescer, mudar, amar, viver...Acorrentadas às suas atitudes, são escravas; Abrem mão de sua liberdade. Só a pessoa que se arrisca é livre...Arriscar-se é perder o pé por algum tempo. Não se arriscar é perder a vida..."

Fontes:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

FARAGO, France. Compreender Kierkegaard. Petrópolis, Vozes, 2011.

GARDNER, Patrick. Kierkegaard. São Paulo. Loyola, 2001.

GUTIÉRREZ, Jorge Luiz. Soren Aabye Kierkegaard. Revista Pandora Brasil. Internet: Existencialismo Deus, 1996.

KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia. Petrópolis: Vozes, 2010.

___________________ O Conceito de Ironia Constantemente Referido a Sócrates. Petrópolis: Vozes, 2013.

___________________ Migalhas filosóficas. Petrópolis: Vozes, 2008.

LE BLANC, Charles. Kierkegaard. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.

REDYSON, Deyve. A filosofia de Soren Kierkegaard. Recife: Elógica, 2004.

REICHMANN, Ernani. Soeren Kierkegaard. Curitiba: Edições Jr., 1972.

VALLS, Álvaro. Entre Sócrates e Cristo: ensaios sobre a ironia e o amor em Kierkegaard. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

VERGEZ, André. História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976.

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