quinta-feira, 23 de junho de 2022

Diogo Feijó

Diogo Feijó - (1784 a 1843) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Diogo Antônio Feijó foi um filósofo teopolítico brasileiro que viveu entre o fim do período colonial e o início do período imperial. Escreveu sua obra em formato de cartas, artigos e discursos. Defendeu os preceitos “regalistas liberais” na sua atuação como estadista. Era filho de pais incógnitos, isto é, desconhecidos, pois quando nasceu teria sido abandonado na porta de uma igreja, devido a esse fato, foi acolhido e criado pelo padre Fernando Lopes. Estudou Gramática Latina e Retórica com a finalidade de seguir a carreira eclesiástica. Lecionou as disciplinas de Latim, Retórica, Teologia, História e Filosofia. Ingressou na carreira eclesiástica em 1804 e formou-se padre, em 1808. Atuou politicamente como Vereador, Deputado, Senador, Ministro da Justiça e Regente do Império. Considerado o primeiro regente do Brasil, ou seja, o primeiro chefe do executivo nacional, ele ficou conhecido como “O Regente Feijó”. Paralelamente a essas atividades, ele administrava uma fazenda e cultivava a cana de açúcar. Foi um dos precursores da Guarda Nacional.  Nasceu na cidade de Itu, no Estado de São Paulo, em 1784 e faleceu no mesmo Estado, em 1843. Foi sepultado na Catedral Metropolitana de São Paulo.

Filosofia Moral

Abordou em seus estudos uma forte relação do Estado com a igreja, apontando elementos filosóficos com questões teológicas que se encaminhavam para reformas nos currículos educacionais. Sua filosofia seguiu uma vinculação entre as funções “morais do indivíduo” e a materialização dessa ética nas “ações públicas”. Segundo alguns pensadores, sua veia iluminista teria sofrido influência das filosofias neoplatônica, agostiniana e kantiana. Feijó direcionava seus pensamentos a respeito da moral do homem para os horizontes da razão e da volição. Nesse sentido, ele acreditava que a razão poderia juntar a noção de liberdade com a ideia de vontade. Em relação à volição, ele pontuava que ela se inclinava para a noção de natureza das decisões conscientes e inconscientes do indivíduo.

A sua moral volitiva poderia ser dividida em dois pontos básicos: “o amor de si” e “a estima de si”. O primeiro era definido como uma espécie de amor próprio onde se originaria os males, pois o homem usaria seus instintos biológicos para sobreviver e gerar seus prazeres animais. Desse modo, para se preservar, o homem acabaria invadindo o direito do outro em nome do seu amor próprio, pois ele buscaria de maneira imprópria: os prazeres egoísticos, a satisfação pessoal e a preservação do seu “eu”. O segundo, apontado como sendo “a estima de si”, seria uma contraposição ao primeiro, pois teria como características: o instinto inato de responsabilidade, o respeito e a abnegação para com o outro. No que diz respeito à liberdade, ela seria um ponto regulador dessas funções descritas, pois, poderia tanto suspender a ideia de vontade, como também, agir de forma a limitar as paixões. Dessa maneira, ele esclarecia que a liberdade seria o elo de harmonia entre a razão e a volição. De forma otimista, Feijó acreditava que o homem poderia através da experiência e da reflexão, utilizar a razão e a volição, como instrumentos constitutivos da liberdade e da autonomia de si. Ele definia a consciência como sendo o fundamento da moralidade.

Filosofia Política

Munido de uma forte moralidade patriótica, ele lutou a favor de grandes reformas no Estado brasileiro, como o fim do celibato clerical e a descentralização do poder monárquico absolutista. Escrevia pontualmente para um periódico intitulado “O Justiceiro”, onde debatia sobre a questão religiosa. Atuante na política brasileira, ele buscou mudanças radicais em defesa da justiça social. Feijó despertou a desafeição da aristocracia agrária ao manifestar-se publicamente em apoio ao fim da escravidão. Chegou a dizer que era uma contradição vergonhosa manter os homens como escravos, pois os princípios liberais condenavam essa prática. Decretou uma lei que proibia o tráfico de escravos no solo brasileiro, essa lei chamada de “Lei Feijó” acabou ficando conhecida como “Lei para Inglês ver”, pois não era completamente respeitada, mas dava uma resposta à pressão que a Inglaterra exercia contra a escravidão. Investiu solidamente na construção de estradas, estimulando o transporte e a economia. Isso teria proporcionado uma maior urbanização de algumas cidades e incentivado setores bancários.

Fez parte do movimento emancipatório do Brasil, por isso é visto como um dos idealizadores da pátria brasileira. Nessa época, sofreu perseguição de Portugal e se exilou na Inglaterra, retornando ao Brasil após a independência. Considerado um dos fundadores do Partido Liberal, ele combinou ideias liberais com práticas das políticas conservadoras. Adotou os ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade”. Participou da Revolução Liberal em São Paulo, onde acabou preso. Foi responsabilizado pelas revoltas sociais e separatistas que se espalhavam por todo o país, esse fato teria gerado sua renuncia ao cargo de regente em 1837.

Alguns críticos acusaram o Padre Feijó de ter colocado a soberania do Brasil sobre ameaça de invasões estrangeiras. Ele chegou a afirmar que abominava a “democracia pura” que era formada a partir da aristocracia luso-brasileira, pois nessa época, a democracia era restrita a determinados grupos, participando dos pleitos apenas um grupo minoritário ligado à elite. Grande parte da população pobre e rural não tinha ideia dos acontecimentos políticos que se tramitavam. Nesse tempo, os movimentos políticos se inclinaram para dois grandes grupos políticos: os liberais chamados também de progressistas e os conservadores denominados de regressistas. Os progressistas eram grupos formados por: membros ligados à classe média urbana, alguns clérigos e os proprietários rurais que eram afetos as medidas descentralizadoras. Os regressistas eram grupos formados por: grandes fazendeiros da elite, comerciantes, magistrados e funcionários públicos que defendiam a centralização do poder político.  

Filosofia Sapiencial

+ “Sê virtuoso e serás feliz!”

+ “O vulcão da desordem ameaça devorar o Império”.

+ “Cada um é livre para decidir como e quando pode fazer o bem”.

+ “O coração nunca envelhece. Basta um serviço, um nada, um abraço e tudo nele se ilumina e aquece”.

+ "É vergonhosa contradição com os princípios liberais que professamos, conservar homens escravos".

+ "Ou nada digo, ou somente digo o que sinto. Não tenho duas caras. Venço pela força moral e, sendo preciso, pelo emprego das armas".

+ “Analisando a insuficiência do Dogmatismo e a prudência ou imprudência do ceticismo, descobre-se que a verdadeira origem dos conhecimentos, é a crítica.”

+ “A razão, pois, observando a marcha das propensões, conhece que o desejo da felicidade estimula o homem a providenciar sua conservação e bem ser, e que a sensibilidade física é seu guia natural nessa indagação”.

Obras:

- Gramática Latina

- Cadernos de Filosofia

- Periódicos - O Justiceiro

- Discursos Políticos

- Manifesto aos brasileiros

- O retrato do homem de honra e verdadeiro sábio

Fontes:

AZEVEDO, Vitor. Feijó: Vida, Paixão e Morte de um Chimango. São Paulo: Editora Anchieta, 1942.

ALONSO, Rafael. Diogo Antônio FeijóDicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff casa editorial, 2012.

BRASIL. A Regência Una de Feijó. Site: Secretaria Municipal de Educação. Rio de Janeiro: MultiRio, Acesso em 2022.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

CALDEIRA, Jorge. Diogo Antônio Feijó. Col. Formadores do Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999.

CANECA, Frei. Cartas de Pítia a Damão. São Paulo: Editora 34, 2001.

CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: A elite política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007

COELHO, Humberto Schubert. A filosofia moral de Diogo Feijó. Revista Estudos Filosóficos n. 7. Juiz de Fora: UFSJ, 2017.

COSTA, Emília Viotti. Da monarquia a república: momentos decisivos. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

ENGEL, Magali Gouveia. Diogo Antônio Feijó: Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2002.

FEIJÓ, Diogo. Cadernos de Filosofia. São Paulo: Editora Grijalbo, 1967.

JUNIO, Caio Prado. Evolução Política do Brasil e outros estudos São Paulo: Editora Brasiliense 1977.

JÚNIOR, Ellis. Feijó e sua época. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1940.

OLIVEIRA, Gabriel Abílio de Lima. Diogo Antônio Feijó e Romualdo Antônio de Seixas: regalistas e romanizados na formação do Estado nacional brasileiro (1820-1840). Tese de Doutorado. Belo Horizonte: UFMG, 2018.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. Diogo Antonio Feijó, História dos Fundadores do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1988.


sexta-feira, 17 de junho de 2022

Ptáhhotep do Egito

Ptáhhotep do Egito - (2500 a 2350) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Ptáh-Hotep ou Ptaotepe foi um filósofo moralista da antiguidade egípcia. Figura entre os mais antigos sábios egípcios da humanidade, também está inserido entre os primeiros filósofos do mundo aos quais eram denominados de filósofos primitivos. Seu nome teria o significado próximo ao conceito de “o amado de Deus”. Escreveu sua obra em formato de literatura, poesia e “sebayt”. Os “sebayts” eram manuais de instruções faraônicas. Ptáh tinha um título de vizir, que era uma espécie de primeiro ministro. Esse cargo estava vinculado a função de dirigente da corte, nesse sentido, o faraó nomeava membros da família ou pessoas de confiança para exercer o papel de administrador. Dessa forma, ele foi o administrador do Egito durante a quinta dinastia do império egípcio, no governo do Faraó “Djedkaré Isesi” que também era conhecido pelo codinome de “Tanquerés”. Ptáh também teria ocupado vários outros cargos de supervisão no governo faraônico. Seu florescimento se deu no período da história compreendido como bronze antigo, ou seja, entre o final do século (XXV e início do século XXIV) a.C. Especula-se que tenha vivido aproximadamente entre os anos de (2500 a 2350) a.C e que tenha falecido muito velho com mais de 100 anos de idade. Seu túmulo está localizado em um sítio arqueológico do Egito conhecido como “Saqqara”.

Filosofia Literária

Escreveu uma obra em formato aforístico conhecida como “As Máximas de Ptah-Hotep”, enquadrada como literatura da sabedoria. Nessa obra, ele descrevia a respeito de regras do comportamento ético e moral. A obra teria sido escrita com o objetivo de aconselhar o povo egípcio e orientá-los sobre instruções sociais. Ela foi considerada por muito tempo como sendo “o primeiro livro da história humana”. As máximas eram conselhos repetidos pela cultura popular egípcia que foram reunidos em um manual cuja autoria foi atribuída a Hotep. Suas ideias também advertiam sobre os conceitos relacionados ao autocontrole e o autoconhecimento. Explicava sobre a importância de aprender sabendo ouvir a todos. Nesse contexto, ele transcorre seus ensinamentos propondo aos indivíduos que saiam de um estágio de irreflexão para o estado de domínio das paixões, isto é, mantenham o controle de si. Desse modo, ele dizia que: “deve-se instruir os ignorantes no conhecimento da exatidão da linguagem justa; para a glória daquele que a obedece, e a vergonha daquele que a transgrida”. A obra teria sido escrita em papiros no formato hierático. Existem cópias preservadas dessa obra que foram retiradas do famoso “Papiro Prisse”.

Filosofia Moral

Os egípcios da era pré-dinástica desenvolveram um conceito de pensamento chamado de “maat” que significava a ideia de “verdade” e “justiça” ou o que também moralmente se compreendia como “certo”. Por isso, alguns textos da antiguidade egípcia se iniciavam com a seguinte frase: “grande é a lei” (maat). Ele conceituava importantes dicas de como viver bem de acordo com o “maat”. Esse conceito também se direcionava para a ideia de divindade, nesse sentido, “maat” representaria um ideal de harmonia cósmica e ordem social. Hotep foi um dos sábios que ajudaram a compreender e ensinar essa doutrina. Seus ensinamentos sistematizaram ideias e pensamentos da sabedoria egípcia. Sua filosofia moral compreendia conselhos que se direcionavam para diversos segmentos sobre: estética, questões jurídicas, e instruções morais. As bases da sua filosofia se ancoravam na ideia moral do “dever-ser”.

Pontuava princípios básicos de convivência e comportamento como o silêncio, a bondade, a humildade, a generosidade, a justiça e a verdade. Advertia que ao se evitar as contendas fúteis, isso não deveria ser considerada covardia ou fraqueza, mas sim a busca pela paz de espírito. Esclarecia a respeito da questão do livre arbítrio, dizendo que Deus era o senhor dos acontecimentos, por isso, a providência divina delimitava a liberdade do homem. Ptah-Hotep dizia que teria dedicado sua longa vida em busca da sabedoria plena, mas que sabia que ela nunca poderia ser completamente alcançada, pois o conhecimento humano jamais chegaria por completo ao conceito de perfeição.

Anedota

Relata-se que certo dia quando o vizir “Ptah-Hotep” teria pedido permissão ao rei “Didkara Arsa” para instruir seu filho, a fim de que este pudesse ocupar seu lugar, o soberano teria lhe respondido a seguinte frase: “Que isto seja feito, para que o pecado seja banido do meio das pessoas de entendimento, para que ilumine as terras. Primeiramente, ensine-o a falar, e ensina-lhe a palavra da tradição, para que assim ele sirva de modelo para os filhos dos adultos”.

Filosofia Sapiencial

- “É sua alma que guia sua mão”.

- “Não te exaltes para não seres humilhados”.

- "Só fale quando tiver algo que vale a pena dizer."

- “Não dê ordens além do que for necessário.”

- "Não repita um boato calunioso, não o ouça."

- “O que destrói uma visão é o véu sobre ela”.

- “Seja teu coração transbordante; mas refreia tua boca”.

- “Se queres ser um homem perfeito, aperfeiçoa o teu coração”.

- “O teu silêncio é mais útil do que a abundância de palavras”.

- “O vício deve ser tirado, para que a virtude possa permanecer”.

- “A sabedoria de saber ouvir é o caminho para aprender a conhecer”.

- “Serve a moral de teu coração, mas segues a ética de tua consciência”.

- “Não há limite para o exercício da arte e nenhuma técnica é perfeita”.

- “Não diminua o tempo de seguir o coração; é abominado pela alma.''

- "Toda conduta deve ser tão reta que poderá medi-la com um prumo."

- “O silêncio é mais proveitoso para ti do que a abundância da fala”.

- “Se você for um líder, seja gracioso ao ouvir o discurso de um suplicante”.

- “O arqueiro acerta a marca, enquanto o boi reage a terra, pela diversidade de objetivos”.

- “Não repita o discurso extravagante, nem o escute, pois é a expressão de um corpo aquecido pela ira”.

- “Não desperdices tempo em cuidados do dia a dia para além do necessário para a tua casa”.

- "Se aquele que ouve escuta plenamente, então aquele que ouve se torna aquele que entende."

- “Não te envaideças do teu conhecimento. Fala com o ignorante como se este fosse sábio”.

- “Cuidado para não fazer inimizade com tuas palavras, colocando um nobre contra o outro, pervertendo a verdade”.

- “Se você for um líder, como alguém que dirige a conduta da multidão, procure sempre ser gracioso, que a sua própria conduta seja sem defeitos”.

- “Uma palavra perfeita está mais escondida do que uma pedra verde; no entanto, encontramos perto dos servos que trabalham na mó”.

- “O homem sábio levanta-se pela manhã, com o espírito preparado e pronto para aprender; mas o néscio se levanta pronto para se distrair”.

- “Deixa o teu coração sofrer, mas domina a tua palavra. O segredo mais íntimo revela-se no silêncio”.

- “Fala sobre como ser um líder gracioso e certificando-se de que sua própria conduta seja sem defeito”.

- "Portanto, não coloques toda a confiança em teu coração na acumulação de riquezas, pois tudo que tens é um dom de Deus."

- "Ame a sua esposa que está em seus braços, Não seja duro, pois a gentileza a domina mais do que a força."

- “Se você for poderoso, atue de modo a ser respeitado em função do seu conhecimento, sua experiência e a serenidade da sua linguagem”.

- “Se encontrares um orador que te seja inferior, deixa-o só e ele se negará a si mesmo. Não lhe faças perguntas para te divertires, ridicularizando-o, pois é censurável humilhar um pobre de espírito”.

- "Não seja vaidoso o seu coração por causa do que você sabe; aconselhe-se tanto com os ignorantes quanto com os eruditos; pois não cumpre os limites da arte, e não há artesão que tenha adquirido a perfeição”.

- “Se você encontrar um argumentador falando, um que seja bem disposto e mais sábio que você, deixe cair seus braços, curve suas costas, não se zangue com ele se ele não concordar com você. Abstenha-se de falar mal; não se oponha a ele em momento algum quando ele falar. Se ele se dirigir a ti como um ignorante, tua humildade levará consigo suas contendas”.

- “Como são difíceis e dolorosos os últimos dias de um velho! Fica mais fraco a cada dia, os olhos quase não veem, os ouvidos ficam surdos; a força desfalece; o coração não conhece mais a paz; a boca silencia e não diz palavra. O poder da mente diminui e hoje não pode lembrar como foi ontem. Todos os ossos doem. Coisas que até pouco tempo eram feitas com prazer são dolorosas agora; e o paladar desaparece. A velhice é a pior desgraça que pode afligir o homem.”

- “Quanto ao ignorante que não ouve, Nenhuma coisa será feita para ele. Ele vê o conhecimento na ignorância, O que é útil no que é pernicioso, Ele faz tudo o que é detestável, Pelo que se tem razão para se estar irritado com ele diariamente. Ele vive do que se morre, Um discurso distorcido é o seu alimento. É essa a característica que os funcionários reconheceram Que é: um morto vivo todos os dias. As pessoas manterão a distância das suas ações nefastas, por causa dos muitos azares que se abateram sobre ele todos os dias”.

 

Fontes:

BAINES, John. Sociedade, Moralidade e Prática Religiosa Londres: Cornell University Press, 1991.

BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque: Brentano's, 1923.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Europa-América, 1994.

DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History, 1935.

JACQ, Christian. As Máximas de Ptah-Hotep: o ensinamento de um sábio na época das pirâmides. Londres: Constable & Robinson, 2006.

GIKOVATE, Flávio. Vício dos Vícios: Um estudo sobre a vaidade humana. 3ª. ed. São Paulo: MG Editores, 1987.

GRIMAL, Nicolas. A History of Ancient Egypt. Hoboken: Wiley-Blackwell, 1994.

GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a Instrução de Kagemni: Os livros mais antigos do mundo. Londres: A Sabedoria do Oriente, 2009.

PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para kagemni. Textos de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.

SILVA, André de Campos. O problema do livre arbítrio e da intervenção divina na instrução de Ptah-Hotep. Revista de História Antiga. Lisboa: Impactum, 2022.

VILELA, Jarbas. Literatura: o que pensavam, o que diziam e o que faziam os egípcios. Site: blog Egiptologia. Internet: Publicado em 2015. Acesso em 2022.

VIORST, Judith. Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 1988.

domingo, 5 de junho de 2022

René Descartes

René Descartes - (1596 a1650) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo racionalista francês pertencente ao período da filosofia moderna. Além de ser considerado o idealizador do pensamento cartesiano, ele também ficou conhecido como o precursor da filosofia moderna. Buscou desenvolver conceitos de separação entre a filosofia e a teologia, por isso é descrito como sendo o pai do racionalismo. Seus estudos são considerados um marco no processo de revolução científica da renascença. Na infância teve seus primeiros estudos com os jesuítas no colégio “La Fléche”, depois se graduou em Direito na universidade de Poitiers. Estudou as áreas da Filosofia, Direito, Astronomia, Matemática, Medicina e Física. Exerceu os ofícios de professor, militar e pesquisador.

Residiu por um tempo na Holanda onde obteve autonomia para escrever, longe das ameaças inquisitórias da igreja, pois assim como Galileu-Galilei, ele temia ser condenado por suas descobertas científicas. Recebeu a alcunha de “o novo filósofo”. Ganhou destaque na filosofia pela célebre frase: “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo). Nasceu em 1596 na província de La Haye na França e veio a falecer em 1650 na localidade de Estocolmo na Suécia, supostamente de pneumonia causada pelo clima frio. Em sua lápide foi escrito o seguinte epitáfio: “Expiou os ataques dos seus rivais com a inocência da sua vida”. Posteriormente novas investigações demonstraram que na verdade ele teria sido envenenado por arsénico. Acredita-se que esse crime teria sido premeditado por fundamentalistas religiosos.

Filosofia das ciências

Em sua obra “o tratado sobre o mundo”, ele descreveu sua tese heliocêntrica do universo. Conceituava que o cosmos era constituído por um vórtice de matéria que estaria em constante movimento. Afirmava que não existia vácuo no universo, pois o cosmos seria plenamente denso.  Aprofundou-se nos estudos sobre a reflexão e refração da luz, juntamente com a inércia dos corpos. Desenvolveu um método científico que tinha quatro regras básicas de raciocinar corretamente: verificar, analisar, sintetizar e enumerar. Dessa forma, ele preconizou um modelo de ciência unitária e universal, lançando com isso, os fundamentos do método científico moderno. Utilizou-se do argumento da dúvida como princípio para a busca lógica do conhecimento. Nesse contexto, ele se ancorava no chamado “ceticismo metodológico”.

Acreditava que as ciências não deveriam ser estudadas separadamente, pois Matemática, Filosofia, Física, Medicina e Direito faziam parte de um saber totalizante. Para Descartes, a filosofia seria como uma árvore, na qual a metafísica formaria a raiz, a física o tronco e as diversas outras ciências os galhos, sendo que o mais alto grau de sabedoria estaria na moral, que pressupunha conhecimento das diversas ciências, sendo as principais a ética, a mecânica e a medicina. Com Descarte a Filosofia passou a analisar os problemas sobre outros prismas, dessa forma, ele compreendeu a Filosofia como sendo uma ciência lógica. Por isso, suas ideias são consideradas uma tentativa de unir saberes filosóficos com conhecimentos matemáticos. Na área da Biologia, ele teria contribuído significativamente com os estudos do sistema nervoso, sistema circulatório e com a anatomia do corpo humano. Dissertou sobre conceitos importantes para a Neurociência como a consciência, o pensamento, a emoção, o reflexo involuntário e a ação voluntária do corpo.

Filosofia do Conhecimento

No campo da Teoria do Conhecimento, ele fundamentou sua base de estudos epistemológicos. Segundo Descartes, o conhecimento verdadeiro só poderia ser obtido por meio da racionalidade humana, que seria acessada através do pensamento. Assim sendo, defendia a ideia de que o conhecimento racional seria inato ao ser humano. Sustentava o argumento de que o homem não poderia alcançar a verdade pura por meio dos sentidos, pois eles seriam passíveis de engano. Nesse contexto, ele acreditava no ideal de verdade absoluta que poderia ser atingido através da razão.

Diante disso, ele propôs um método dedutivo para evidenciar a noção de conhecimento claro, verdadeiro e distinto. Dessa forma, ele pontuava que: “o conhecimento filosófico, para atingir um bom resultado, deve ser claro e distinto, afastando tudo o que pode gerar qualquer dúvida”. O filósofo francês estabeleceu que o ser humano fosse formado por uma dualidade psicofísica, quer dizer, por uma “mente-alma” (psique) e por um corpo. Esses elementos eram descritos por Descartes como sendo “res cogitans”, isto é, coisa pensante e “res extensa”, ou seja, coisa extensa. Nesse sentido, a alma seria o atributo maior que o ser humano possuía e o seu corpo era a extensão dessa alma. O corpo dependeria da alma para viver do mesmo modo que a alma se sujeitaria ao corpo para habitar o mundo.

Filosofia Racionalista

Desenvolveu um método conhecido como "dúvida hiperbólica" que consistia em rejeitar qualquer ideia da qual se pudesse duvidar, para então, após análise, restabelecer ou reconstruir essas ideias de modo a criar uma base sólida para o conhecimento. Uma das mais famosas frases de sua obra o “Discurso sobre o Método” era “Penso, logo existo” onde ele descrevia que a dúvida seria o primeiro passo para se chegar ao conhecimento. Defendeu a ideia da criação de uma filosofia que se sustentasse apenas na verdade, excluindo qualquer juízo de valor falso, pois se baseava nos critérios de clareza e ordem para delimitar sua busca. Descartes deduziu que o único conhecimento do qual não se poderia duvidar seria: "eu sou um ser pensante". Nesse sentido, ele dizia que a única certeza que ele tinha era de sua própria capacidade de duvidar.

A dúvida cartesiana se valia de três fundamentos: o primeiro seria a ilusão dos sentidos, pois não era seguro confiar nos sentidos, visto que eles seriam limitados. O segundo consistia no argumento dos sonhos em que não seria possível distinguir o saber externo do conhecimento interno, isto é, o que está fora do homem e o que era originado dentro de sua mente. Em terceiro estaria o conceito de gênio maligno que descrevia a teoria da possibilidade de existir um ente superior do mal com grandes poderes e com o objetivo de enganar os homens. Acreditava na existência de três tipos de ideias: as ideias inatas que seriam aquelas naturais que já nascem com o ser humano. As ideias adventícias, ou seja, aquelas empíricas que são adquiridas ao longo da vida através das experiências. E as ideias factícias que são formadas na mente pela imaginação, a partir de outras ideias. Dessa maneira, Descartes concluía que ele seria um ser que pensa, reflete e duvida. Isso, então, demonstraria evidências que refutariam hipóteses falsas.

Filosofia Teológica

Descartes utilizou seu conceito de ideia inata para provar a existência de Deus através da razão. Segundo sua teoria, a noção de entidade perfeita pressupõe a existência inata desse conceito dentro do homem, pois sozinho o homem não seria capaz de chegar de forma clara e objetiva ao conceito de perfeição, visto que, ele não teria nenhum referencial desse ideal no mundo real, logo, a ideia de perfeição seria inata, colocada por Deus dentro do homem no momento da criação. A vista disso, ele evidenciava que: “somente um ser perfeito pode dar a um individuo imperfeito a ideia dele mesmo”. Desse modo, ele pontuava que toda causa real deveria ter um efeito. Assim sendo, o fato do homem de poder ter clareza se algo é verdadeiro ou ilusório, e com isso, assimilar a realidade distinta das coisas, seria um sinal da existência de Deus. Para ele, Deus seria um ser perfeito, dotado de supremacia, com atributos de um ser eterno, infinito e imutável. Essa profundidade complexa não poderia ter sido criação humana, mas sim divina. Nesse sentido, a ideia de Deus, já provaria por si mesmo, sua existência. Estando inserida também nesse contexto, a possibilidade de conhecimento pleno da verdade.

Filosofia Moral

Para Descartes, o papel da moral do homem seria apenas transitório, pois ele pensava que enquanto o ser humano não se descobrisse eticamente, ele deveria buscar, para esse problema, alternativas provisórias. A busca pelo sentido correto das coisas não poderia permanecer estagnada durante o processo de reflexão ou busca de si, dessa forma, o filósofo necessitaria estar em um constante aprimoramento de suas faculdades sociais e relacionais. Para manter a sociabilidade, o individuo deveria seguir algumas etapas de relacionamento como manter a obediência às leis e aos costumes; seguir os preceitos tradicionais da religião; consultar as lideranças mais instruídas sobre determinados saberes; seguir o foco em um objetivo específico na vida; procurar manter o bom-senso sabendo se adaptar as circunstâncias do mundo e investigar uma boa profissão para seguir em frente na vida. Dessa maneira, ao relacionar a moral individual com a ética coletiva, ele discorria que: “um estado é mais bem governado quando tem poucas leis, e essas leis são estritamente observadas.” Transcorreu a respeito das paixões da alma, descrevendo que elas são sentidas primeiramente pelo corpo e posteriormente são transmitidas para a alma. As paixões não seriam estímulos ruins, mas apenas meios necessários para compreensão; das causas e efeitos; estímulos e respostas; e dos sentimentos na natureza humana. Elas seriam fontes essenciais para manter o equilíbrio da aprendizagem no homem. Desse modo, ele dizia que: “as paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos”. Pontuava as paixões primitivas como sendo: o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza.

Filosofia da Matemática

Visto como sendo um dos filósofos que mais contribuíram para os estudos das ciências exatas, explicava que só a matemática demonstrava aquilo que realmente se afirmava. Sistematizou o famoso “sistema cartesiano” em que juntou teorias da álgebra, geometria e aritmética. O descrito sistema teria levado esse nome, em sua homenagem. Colaborou com o aprofundamento das áreas da geometria analítica e da geometria espacial. Contribuiu em estudos relacionados às somas infinitesimais e ajudou no desenvolvimento do cálculo moderno. Escreveu um tratado sobre as relações da matemática com a música, chamado de “tratado sobre a musicologia”.

Anedotas

Ele contava que em uma de suas viagens para a Alemanha, estava sentado em um quarto aquecido, quando de repente teve uma visão ao estilo do “para-psiquismo”. Nessa visão, fruiu-lhe um universo que poderia ser decifrado através do uso da matemática.

Certa vez, estando na Suécia a convite da Rainha Cristina para ensiná-la filosofia, ele teria dito a seguinte afirmação: “Estou no país dos ursos, onde os pensamentos dos homens parecem, tal como água, uma metamorfose em gelo, pois a Suécia é um lugar tão frio que até os pensamentos dos homens congelam”.

 

Obras:

- Discurso sobre o método

- Regras para a Direção do Espírito

- Tratado do Mundo

- Meditações Sobre a Filosofia Primeira

- Os Princípios da Filosofia

- As Paixões da Alma

- Geometria

- Tratado sobre o homem

- Tratado sobre Musicologia

 

Filosofia Sapiencial

- “Nada vem do nada”.

- “A dúvida é a origem da sabedoria”.

- “Conquiste a você mesmo, não ao mundo”.

- “O tempo diz o que a razão não pode dizer”.

- "Não ser útil a ninguém equivale a não valer nada."

- “O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada.”

- “A multidão de leis costuma dar desculpas pelos vícios”

- “Tudo que é complexo pode ser dividido em partes simples”

- “Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.”

- “Não é suficiente ter uma boa mente: o principal é usá-la bem.”

- "Daria tudo que sei em troca da metade de tudo aquilo que ignoro".

- “É melhor modificar nossos desejos do que a ordenação do mundo”

- “Ler um bom livro é como conversar com as melhores mentes do passado”.

- “Além do nosso pensamento, nada está realmente sobre nosso controle”.

- “As melhores mentes podem ter as maiores virtudes ou os maiores vícios”.

- “Elevai a tal ponto a vossa alma, que as ofensas não a possam alcançar”.

- “Ás vezes penso que seja cobre e vidro, o que eu julgo ser ouro e diamante”.

- “A única certeza que tenho, é que duvido, e se duvido eu penso, e se penso logo existo”.

- “A causa principal dos erros humanos encontra-se nos preconceitos adquiridos na infância.”

- “Para saber o que as pessoas realmente pensam, preste atenção no que elas fazem, em vez do que elas dizem”.

- “Não existem coisas tão distantes que não sejam alcançadas, nem tão escondidas que não sejam descobertas”.

- "A razão e o juízo são as únicas coisas que diferenciam os homens dos animais".

- "Com frequência uma falsa alegria vale mais que uma tristeza cuja causa é verdadeira".

- “Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.”

- “Em se tratando de uma questão difícil, é mais provável que a verdade seja descoberta por poucos do que por muitos.”

- “Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos uma vez em sua vida você duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas."

- “Não há nada no mundo que esteja mais bem distribuído do que a razão: todo mundo está convencido de que a tem de sobra.”

- “Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível.”

- “A filosofia é o que nos distingue dos selvagens e bárbaros; as nações são tanto mais civilizadas e cultas quanto melhor filosofam seus homens”

- “A razão e todo o conhecimento racional são inatos ao ser humano. A diferença entre o nível de inteligência de uns e de outros é o modo como utilizamos a racionalidade”.

- “Tomei a decisão de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos”.

- “O espaço e o corpo que nele está compreendido não são diferentes, a não ser pelo nosso pensamento. De facto, a mesma extensão em comprimento, largura e profundidade que constituem o espaço, constituem o corpo”.

- “Tudo o que até agora aceitei como mais verdadeiro e seguro, obtive pelos sentidos ou através dos sentidos. Mas, de tempos em tempos, descobri que os sentidos enganam, e é prudente nunca confiar completamente naqueles que nos enganaram uma única vez.”

 

 

Fontes:

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