René Descartes -
(1596 a1650) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi um filósofo
racionalista francês pertencente ao período da filosofia moderna. Além de ser
considerado o idealizador do pensamento cartesiano, ele também ficou conhecido
como o precursor da filosofia moderna. Buscou desenvolver conceitos de
separação entre a filosofia e a teologia, por isso é descrito como sendo o pai
do racionalismo. Seus estudos são considerados um marco no processo de
revolução científica da renascença. Na infância teve seus primeiros estudos com
os jesuítas no colégio “La Fléche”, depois se graduou em Direito na
universidade de Poitiers. Estudou as áreas da Filosofia, Direito, Astronomia,
Matemática, Medicina e Física. Exerceu os ofícios de professor, militar e
pesquisador.
Residiu por um
tempo na Holanda onde obteve autonomia para escrever, longe das ameaças
inquisitórias da igreja, pois assim como Galileu-Galilei, ele temia ser
condenado por suas descobertas científicas. Recebeu a alcunha de “o novo
filósofo”. Ganhou destaque na filosofia pela célebre frase: “Cogito,
ergo sum” (Penso, logo existo). Nasceu em 1596 na província de La Haye
na França e veio a falecer em 1650 na localidade de Estocolmo na Suécia,
supostamente de pneumonia causada pelo clima frio. Em sua lápide foi escrito o
seguinte epitáfio: “Expiou os ataques dos seus rivais com a inocência
da sua vida”. Posteriormente novas investigações demonstraram que na
verdade ele teria sido envenenado por arsénico. Acredita-se que esse crime
teria sido premeditado por fundamentalistas religiosos.
Filosofia das
ciências
Em sua obra “o
tratado sobre o mundo”, ele descreveu sua tese heliocêntrica do
universo. Conceituava que o cosmos era constituído por um vórtice de matéria
que estaria em constante movimento. Afirmava que não existia vácuo no universo,
pois o cosmos seria plenamente denso. Aprofundou-se nos estudos
sobre a reflexão e refração da luz, juntamente com a inércia dos corpos. Desenvolveu um método científico que tinha quatro
regras básicas de raciocinar corretamente: verificar, analisar,
sintetizar e enumerar. Dessa forma, ele preconizou um modelo de
ciência unitária e universal, lançando com isso, os fundamentos do método
científico moderno. Utilizou-se do argumento da dúvida como princípio para a
busca lógica do conhecimento. Nesse contexto, ele se ancorava no chamado “ceticismo
metodológico”.
Acreditava que as
ciências não deveriam ser estudadas separadamente, pois Matemática, Filosofia,
Física, Medicina e Direito faziam parte de um saber totalizante. Para
Descartes, a filosofia seria como uma árvore, na qual a metafísica formaria a
raiz, a física o tronco e as diversas outras ciências os galhos, sendo que o
mais alto grau de sabedoria estaria na moral, que pressupunha conhecimento das
diversas ciências, sendo as principais a ética, a mecânica e a medicina. Com
Descarte a Filosofia passou a analisar os problemas sobre outros prismas, dessa
forma, ele compreendeu a Filosofia como sendo uma ciência lógica. Por isso,
suas ideias são consideradas uma tentativa de unir saberes filosóficos com
conhecimentos matemáticos. Na área da Biologia, ele teria contribuído
significativamente com os estudos do sistema nervoso, sistema circulatório e
com a anatomia do corpo humano. Dissertou sobre conceitos importantes para a
Neurociência como a consciência, o pensamento, a emoção, o reflexo involuntário
e a ação voluntária do corpo.
Filosofia do
Conhecimento
No
campo da Teoria do Conhecimento, ele fundamentou sua base de estudos
epistemológicos. Segundo Descartes, o conhecimento verdadeiro só poderia ser
obtido por meio da racionalidade humana, que seria acessada através do
pensamento. Assim sendo, defendia a ideia de que o
conhecimento racional seria inato ao ser humano. Sustentava
o argumento de que o homem não poderia alcançar a verdade pura por meio dos
sentidos, pois eles seriam passíveis de engano. Nesse contexto, ele acreditava
no ideal de verdade absoluta que poderia ser atingido através da razão.
Diante disso, ele
propôs um método dedutivo para evidenciar a noção de conhecimento claro,
verdadeiro e distinto. Dessa forma, ele pontuava que: “o conhecimento
filosófico, para atingir um bom resultado, deve ser claro e distinto, afastando
tudo o que pode gerar qualquer dúvida”. O filósofo francês estabeleceu
que o ser humano fosse formado por uma dualidade psicofísica, quer dizer, por
uma “mente-alma” (psique) e por um corpo. Esses elementos eram descritos por
Descartes como sendo “res cogitans”, isto é, coisa pensante e “res
extensa”, ou seja, coisa extensa. Nesse sentido, a alma seria o atributo
maior que o ser humano possuía e o seu corpo era a extensão dessa alma. O corpo
dependeria da alma para viver do mesmo modo que a alma se sujeitaria ao corpo
para habitar o mundo.
Filosofia
Racionalista
Desenvolveu um
método conhecido como "dúvida hiperbólica" que consistia em rejeitar
qualquer ideia da qual se pudesse duvidar, para então, após análise,
restabelecer ou reconstruir essas ideias de modo a criar uma base sólida para o
conhecimento. Uma das mais famosas frases de sua obra o “Discurso sobre o
Método” era “Penso, logo existo” onde ele descrevia que a dúvida seria o
primeiro passo para se chegar ao conhecimento. Defendeu a ideia da criação de
uma filosofia que se sustentasse apenas na verdade, excluindo qualquer juízo de
valor falso, pois se baseava nos critérios de clareza e ordem para delimitar
sua busca. Descartes deduziu que o único conhecimento do qual não se poderia
duvidar seria: "eu sou um ser pensante". Nesse
sentido, ele dizia que a única certeza que ele tinha era de sua própria
capacidade de duvidar.
A dúvida
cartesiana se valia de três fundamentos: o primeiro seria a ilusão dos
sentidos, pois não era seguro confiar nos sentidos, visto que eles seriam
limitados. O segundo consistia no argumento dos sonhos em que não seria
possível distinguir o saber externo do conhecimento interno, isto é, o que está
fora do homem e o que era originado dentro de sua mente. Em terceiro estaria o
conceito de gênio maligno que descrevia a teoria da possibilidade de existir um
ente superior do mal com grandes poderes e com o objetivo de enganar os homens.
Acreditava na existência de três tipos de ideias: as ideias inatas que seriam
aquelas naturais que já nascem com o ser humano. As ideias adventícias, ou seja,
aquelas empíricas que são adquiridas ao longo da vida através das experiências.
E as ideias factícias que são formadas na mente pela imaginação, a partir de
outras ideias. Dessa maneira, Descartes concluía que ele seria um ser que
pensa, reflete e duvida. Isso, então, demonstraria evidências que refutariam hipóteses
falsas.
Filosofia
Teológica
Descartes utilizou
seu conceito de ideia inata para provar a existência de Deus através da razão.
Segundo sua teoria, a noção de entidade perfeita pressupõe a existência inata
desse conceito dentro do homem, pois sozinho o homem não seria capaz de chegar
de forma clara e objetiva ao conceito de perfeição, visto que, ele não teria
nenhum referencial desse ideal no mundo real, logo, a ideia de perfeição seria
inata, colocada por Deus dentro do homem no momento da criação. A vista disso,
ele evidenciava que: “somente um ser perfeito pode dar a um individuo
imperfeito a ideia dele mesmo”. Desse modo, ele pontuava que toda
causa real deveria ter um efeito. Assim sendo, o fato do homem de poder ter
clareza se algo é verdadeiro ou ilusório, e com isso, assimilar a realidade
distinta das coisas, seria um sinal da existência de Deus. Para ele, Deus seria
um ser perfeito, dotado de supremacia, com atributos de um ser eterno, infinito
e imutável. Essa profundidade complexa não poderia ter sido criação humana, mas
sim divina. Nesse sentido, a ideia de Deus, já provaria por si mesmo, sua
existência. Estando inserida também nesse contexto, a possibilidade de
conhecimento pleno da verdade.
Filosofia Moral
Para Descartes, o
papel da moral do homem seria apenas transitório, pois ele pensava que enquanto
o ser humano não se descobrisse eticamente, ele deveria buscar, para esse
problema, alternativas provisórias. A busca pelo sentido correto das coisas não
poderia permanecer estagnada durante o processo de reflexão ou busca de si,
dessa forma, o filósofo necessitaria estar em um constante aprimoramento de
suas faculdades sociais e relacionais. Para manter a sociabilidade, o individuo
deveria seguir algumas etapas de relacionamento como manter a obediência às
leis e aos costumes; seguir os preceitos tradicionais da religião; consultar as
lideranças mais instruídas sobre determinados saberes; seguir o foco em um
objetivo específico na vida; procurar manter o bom-senso sabendo se adaptar as
circunstâncias do mundo e investigar uma boa profissão para seguir em frente na
vida. Dessa maneira, ao relacionar a moral individual com a ética coletiva, ele
discorria que: “um estado é mais bem governado quando tem poucas leis,
e essas leis são estritamente observadas.” Transcorreu a respeito das
paixões da alma, descrevendo que elas são sentidas primeiramente pelo corpo e
posteriormente são transmitidas para a alma. As paixões não seriam estímulos
ruins, mas apenas meios necessários para compreensão; das causas e efeitos;
estímulos e respostas; e dos sentimentos na natureza humana. Elas seriam fontes
essenciais para manter o equilíbrio da aprendizagem no homem. Desse modo, ele
dizia que: “as paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos
de evitar o seu mau uso e os seus excessos”. Pontuava as paixões
primitivas como sendo: o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza.
Filosofia da
Matemática
Visto como sendo
um dos filósofos que mais contribuíram para os estudos das ciências exatas,
explicava que só a matemática demonstrava aquilo que realmente se afirmava.
Sistematizou o famoso “sistema cartesiano” em que juntou teorias da álgebra,
geometria e aritmética. O descrito sistema teria levado esse nome, em sua
homenagem. Colaborou com o aprofundamento das áreas da geometria analítica e da
geometria espacial. Contribuiu em estudos relacionados às somas infinitesimais
e ajudou no desenvolvimento do cálculo moderno. Escreveu um tratado sobre as
relações da matemática com a música, chamado de “tratado sobre a musicologia”.
Anedotas
Ele contava que em
uma de suas viagens para a Alemanha, estava sentado em um quarto aquecido,
quando de repente teve uma visão ao estilo do “para-psiquismo”. Nessa visão,
fruiu-lhe um universo que poderia ser decifrado através do uso da matemática.
Certa vez, estando
na Suécia a convite da Rainha Cristina para ensiná-la filosofia, ele teria dito
a seguinte afirmação: “Estou no país dos ursos, onde os pensamentos dos homens
parecem, tal como água, uma metamorfose em gelo, pois a Suécia é um lugar tão
frio que até os pensamentos dos homens congelam”.
Obras:
- Discurso sobre o
método
- Regras para a
Direção do Espírito
- Tratado do Mundo
- Meditações Sobre
a Filosofia Primeira
- Os Princípios da
Filosofia
- As Paixões da
Alma
- Geometria
- Tratado sobre o
homem
- Tratado sobre
Musicologia
Filosofia
Sapiencial
- “Nada vem do
nada”.
- “A dúvida é a
origem da sabedoria”.
- “Conquiste a
você mesmo, não ao mundo”.
- “O tempo diz o
que a razão não pode dizer”.
- "Não ser
útil a ninguém equivale a não valer nada."
- “O bom senso é a
coisa do mundo melhor partilhada.”
- “A multidão de
leis costuma dar desculpas pelos vícios”
- “Tudo que é complexo
pode ser dividido em partes simples”
- “Não existem
métodos fáceis para resolver problemas difíceis.”
- “Não é
suficiente ter uma boa mente: o principal é usá-la bem.”
- "Daria tudo
que sei em troca da metade de tudo aquilo que ignoro".
- “É melhor
modificar nossos desejos do que a ordenação do mundo”
- “Ler um bom
livro é como conversar com as melhores mentes do passado”.
- “Além do nosso
pensamento, nada está realmente sobre nosso controle”.
- “As melhores
mentes podem ter as maiores virtudes ou os maiores vícios”.
- “Elevai a tal
ponto a vossa alma, que as ofensas não a possam alcançar”.
- “Ás vezes penso
que seja cobre e vidro, o que eu julgo ser ouro e diamante”.
- “A única certeza
que tenho, é que duvido, e se duvido eu penso, e se penso logo existo”.
- “A causa
principal dos erros humanos encontra-se nos preconceitos adquiridos na
infância.”
- “Para saber o
que as pessoas realmente pensam, preste atenção no que elas fazem, em vez do
que elas dizem”.
- “Não existem
coisas tão distantes que não sejam alcançadas, nem tão escondidas que não sejam
descobertas”.
- "A razão e
o juízo são as únicas coisas que diferenciam os homens dos animais".
- "Com
frequência uma falsa alegria vale mais que uma tristeza cuja causa é
verdadeira".
- “Viver sem
filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado
abrir.”
- “Em se tratando
de uma questão difícil, é mais provável que a verdade seja descoberta por poucos
do que por muitos.”
- “Se quiser
buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos uma vez em sua vida você
duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas."
- “Não há nada no
mundo que esteja mais bem distribuído do que a razão: todo mundo está
convencido de que a tem de sobra.”
- “Para examinar a
verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o
máximo possível.”
- “A filosofia é o
que nos distingue dos selvagens e bárbaros; as nações são tanto mais
civilizadas e cultas quanto melhor filosofam seus homens”
- “A razão e todo
o conhecimento racional são inatos ao ser humano. A diferença entre o nível de
inteligência de uns e de outros é o modo como utilizamos a racionalidade”.
- “Tomei a decisão
de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não
eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos”.
- “O espaço e o
corpo que nele está compreendido não são diferentes, a não ser pelo nosso
pensamento. De facto, a mesma extensão em comprimento, largura e profundidade
que constituem o espaço, constituem o corpo”.
- “Tudo o que até
agora aceitei como mais verdadeiro e seguro, obtive pelos sentidos ou através
dos sentidos. Mas, de tempos em tempos, descobri que os sentidos enganam, e é
prudente nunca confiar completamente naqueles que nos enganaram uma única vez.”
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