domingo, 5 de junho de 2022

René Descartes

René Descartes - (1596 a1650) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo racionalista francês pertencente ao período da filosofia moderna. Além de ser considerado o idealizador do pensamento cartesiano, ele também ficou conhecido como o precursor da filosofia moderna. Buscou desenvolver conceitos de separação entre a filosofia e a teologia, por isso é descrito como sendo o pai do racionalismo. Seus estudos são considerados um marco no processo de revolução científica da renascença. Na infância teve seus primeiros estudos com os jesuítas no colégio “La Fléche”, depois se graduou em Direito na universidade de Poitiers. Estudou as áreas da Filosofia, Direito, Astronomia, Matemática, Medicina e Física. Exerceu os ofícios de professor, militar e pesquisador.

Residiu por um tempo na Holanda onde obteve autonomia para escrever, longe das ameaças inquisitórias da igreja, pois assim como Galileu-Galilei, ele temia ser condenado por suas descobertas científicas. Recebeu a alcunha de “o novo filósofo”. Ganhou destaque na filosofia pela célebre frase: “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo). Nasceu em 1596 na província de La Haye na França e veio a falecer em 1650 na localidade de Estocolmo na Suécia, supostamente de pneumonia causada pelo clima frio. Em sua lápide foi escrito o seguinte epitáfio: “Expiou os ataques dos seus rivais com a inocência da sua vida”. Posteriormente novas investigações demonstraram que na verdade ele teria sido envenenado por arsénico. Acredita-se que esse crime teria sido premeditado por fundamentalistas religiosos.

Filosofia das ciências

Em sua obra “o tratado sobre o mundo”, ele descreveu sua tese heliocêntrica do universo. Conceituava que o cosmos era constituído por um vórtice de matéria que estaria em constante movimento. Afirmava que não existia vácuo no universo, pois o cosmos seria plenamente denso.  Aprofundou-se nos estudos sobre a reflexão e refração da luz, juntamente com a inércia dos corpos. Desenvolveu um método científico que tinha quatro regras básicas de raciocinar corretamente: verificar, analisar, sintetizar e enumerar. Dessa forma, ele preconizou um modelo de ciência unitária e universal, lançando com isso, os fundamentos do método científico moderno. Utilizou-se do argumento da dúvida como princípio para a busca lógica do conhecimento. Nesse contexto, ele se ancorava no chamado “ceticismo metodológico”.

Acreditava que as ciências não deveriam ser estudadas separadamente, pois Matemática, Filosofia, Física, Medicina e Direito faziam parte de um saber totalizante. Para Descartes, a filosofia seria como uma árvore, na qual a metafísica formaria a raiz, a física o tronco e as diversas outras ciências os galhos, sendo que o mais alto grau de sabedoria estaria na moral, que pressupunha conhecimento das diversas ciências, sendo as principais a ética, a mecânica e a medicina. Com Descarte a Filosofia passou a analisar os problemas sobre outros prismas, dessa forma, ele compreendeu a Filosofia como sendo uma ciência lógica. Por isso, suas ideias são consideradas uma tentativa de unir saberes filosóficos com conhecimentos matemáticos. Na área da Biologia, ele teria contribuído significativamente com os estudos do sistema nervoso, sistema circulatório e com a anatomia do corpo humano. Dissertou sobre conceitos importantes para a Neurociência como a consciência, o pensamento, a emoção, o reflexo involuntário e a ação voluntária do corpo.

Filosofia do Conhecimento

No campo da Teoria do Conhecimento, ele fundamentou sua base de estudos epistemológicos. Segundo Descartes, o conhecimento verdadeiro só poderia ser obtido por meio da racionalidade humana, que seria acessada através do pensamento. Assim sendo, defendia a ideia de que o conhecimento racional seria inato ao ser humano. Sustentava o argumento de que o homem não poderia alcançar a verdade pura por meio dos sentidos, pois eles seriam passíveis de engano. Nesse contexto, ele acreditava no ideal de verdade absoluta que poderia ser atingido através da razão.

Diante disso, ele propôs um método dedutivo para evidenciar a noção de conhecimento claro, verdadeiro e distinto. Dessa forma, ele pontuava que: “o conhecimento filosófico, para atingir um bom resultado, deve ser claro e distinto, afastando tudo o que pode gerar qualquer dúvida”. O filósofo francês estabeleceu que o ser humano fosse formado por uma dualidade psicofísica, quer dizer, por uma “mente-alma” (psique) e por um corpo. Esses elementos eram descritos por Descartes como sendo “res cogitans”, isto é, coisa pensante e “res extensa”, ou seja, coisa extensa. Nesse sentido, a alma seria o atributo maior que o ser humano possuía e o seu corpo era a extensão dessa alma. O corpo dependeria da alma para viver do mesmo modo que a alma se sujeitaria ao corpo para habitar o mundo.

Filosofia Racionalista

Desenvolveu um método conhecido como "dúvida hiperbólica" que consistia em rejeitar qualquer ideia da qual se pudesse duvidar, para então, após análise, restabelecer ou reconstruir essas ideias de modo a criar uma base sólida para o conhecimento. Uma das mais famosas frases de sua obra o “Discurso sobre o Método” era “Penso, logo existo” onde ele descrevia que a dúvida seria o primeiro passo para se chegar ao conhecimento. Defendeu a ideia da criação de uma filosofia que se sustentasse apenas na verdade, excluindo qualquer juízo de valor falso, pois se baseava nos critérios de clareza e ordem para delimitar sua busca. Descartes deduziu que o único conhecimento do qual não se poderia duvidar seria: "eu sou um ser pensante". Nesse sentido, ele dizia que a única certeza que ele tinha era de sua própria capacidade de duvidar.

A dúvida cartesiana se valia de três fundamentos: o primeiro seria a ilusão dos sentidos, pois não era seguro confiar nos sentidos, visto que eles seriam limitados. O segundo consistia no argumento dos sonhos em que não seria possível distinguir o saber externo do conhecimento interno, isto é, o que está fora do homem e o que era originado dentro de sua mente. Em terceiro estaria o conceito de gênio maligno que descrevia a teoria da possibilidade de existir um ente superior do mal com grandes poderes e com o objetivo de enganar os homens. Acreditava na existência de três tipos de ideias: as ideias inatas que seriam aquelas naturais que já nascem com o ser humano. As ideias adventícias, ou seja, aquelas empíricas que são adquiridas ao longo da vida através das experiências. E as ideias factícias que são formadas na mente pela imaginação, a partir de outras ideias. Dessa maneira, Descartes concluía que ele seria um ser que pensa, reflete e duvida. Isso, então, demonstraria evidências que refutariam hipóteses falsas.

Filosofia Teológica

Descartes utilizou seu conceito de ideia inata para provar a existência de Deus através da razão. Segundo sua teoria, a noção de entidade perfeita pressupõe a existência inata desse conceito dentro do homem, pois sozinho o homem não seria capaz de chegar de forma clara e objetiva ao conceito de perfeição, visto que, ele não teria nenhum referencial desse ideal no mundo real, logo, a ideia de perfeição seria inata, colocada por Deus dentro do homem no momento da criação. A vista disso, ele evidenciava que: “somente um ser perfeito pode dar a um individuo imperfeito a ideia dele mesmo”. Desse modo, ele pontuava que toda causa real deveria ter um efeito. Assim sendo, o fato do homem de poder ter clareza se algo é verdadeiro ou ilusório, e com isso, assimilar a realidade distinta das coisas, seria um sinal da existência de Deus. Para ele, Deus seria um ser perfeito, dotado de supremacia, com atributos de um ser eterno, infinito e imutável. Essa profundidade complexa não poderia ter sido criação humana, mas sim divina. Nesse sentido, a ideia de Deus, já provaria por si mesmo, sua existência. Estando inserida também nesse contexto, a possibilidade de conhecimento pleno da verdade.

Filosofia Moral

Para Descartes, o papel da moral do homem seria apenas transitório, pois ele pensava que enquanto o ser humano não se descobrisse eticamente, ele deveria buscar, para esse problema, alternativas provisórias. A busca pelo sentido correto das coisas não poderia permanecer estagnada durante o processo de reflexão ou busca de si, dessa forma, o filósofo necessitaria estar em um constante aprimoramento de suas faculdades sociais e relacionais. Para manter a sociabilidade, o individuo deveria seguir algumas etapas de relacionamento como manter a obediência às leis e aos costumes; seguir os preceitos tradicionais da religião; consultar as lideranças mais instruídas sobre determinados saberes; seguir o foco em um objetivo específico na vida; procurar manter o bom-senso sabendo se adaptar as circunstâncias do mundo e investigar uma boa profissão para seguir em frente na vida. Dessa maneira, ao relacionar a moral individual com a ética coletiva, ele discorria que: “um estado é mais bem governado quando tem poucas leis, e essas leis são estritamente observadas.” Transcorreu a respeito das paixões da alma, descrevendo que elas são sentidas primeiramente pelo corpo e posteriormente são transmitidas para a alma. As paixões não seriam estímulos ruins, mas apenas meios necessários para compreensão; das causas e efeitos; estímulos e respostas; e dos sentimentos na natureza humana. Elas seriam fontes essenciais para manter o equilíbrio da aprendizagem no homem. Desse modo, ele dizia que: “as paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos”. Pontuava as paixões primitivas como sendo: o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza.

Filosofia da Matemática

Visto como sendo um dos filósofos que mais contribuíram para os estudos das ciências exatas, explicava que só a matemática demonstrava aquilo que realmente se afirmava. Sistematizou o famoso “sistema cartesiano” em que juntou teorias da álgebra, geometria e aritmética. O descrito sistema teria levado esse nome, em sua homenagem. Colaborou com o aprofundamento das áreas da geometria analítica e da geometria espacial. Contribuiu em estudos relacionados às somas infinitesimais e ajudou no desenvolvimento do cálculo moderno. Escreveu um tratado sobre as relações da matemática com a música, chamado de “tratado sobre a musicologia”.

Anedotas

Ele contava que em uma de suas viagens para a Alemanha, estava sentado em um quarto aquecido, quando de repente teve uma visão ao estilo do “para-psiquismo”. Nessa visão, fruiu-lhe um universo que poderia ser decifrado através do uso da matemática.

Certa vez, estando na Suécia a convite da Rainha Cristina para ensiná-la filosofia, ele teria dito a seguinte afirmação: “Estou no país dos ursos, onde os pensamentos dos homens parecem, tal como água, uma metamorfose em gelo, pois a Suécia é um lugar tão frio que até os pensamentos dos homens congelam”.

 

Obras:

- Discurso sobre o método

- Regras para a Direção do Espírito

- Tratado do Mundo

- Meditações Sobre a Filosofia Primeira

- Os Princípios da Filosofia

- As Paixões da Alma

- Geometria

- Tratado sobre o homem

- Tratado sobre Musicologia

 

Filosofia Sapiencial

- “Nada vem do nada”.

- “A dúvida é a origem da sabedoria”.

- “Conquiste a você mesmo, não ao mundo”.

- “O tempo diz o que a razão não pode dizer”.

- "Não ser útil a ninguém equivale a não valer nada."

- “O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada.”

- “A multidão de leis costuma dar desculpas pelos vícios”

- “Tudo que é complexo pode ser dividido em partes simples”

- “Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.”

- “Não é suficiente ter uma boa mente: o principal é usá-la bem.”

- "Daria tudo que sei em troca da metade de tudo aquilo que ignoro".

- “É melhor modificar nossos desejos do que a ordenação do mundo”

- “Ler um bom livro é como conversar com as melhores mentes do passado”.

- “Além do nosso pensamento, nada está realmente sobre nosso controle”.

- “As melhores mentes podem ter as maiores virtudes ou os maiores vícios”.

- “Elevai a tal ponto a vossa alma, que as ofensas não a possam alcançar”.

- “Ás vezes penso que seja cobre e vidro, o que eu julgo ser ouro e diamante”.

- “A única certeza que tenho, é que duvido, e se duvido eu penso, e se penso logo existo”.

- “A causa principal dos erros humanos encontra-se nos preconceitos adquiridos na infância.”

- “Para saber o que as pessoas realmente pensam, preste atenção no que elas fazem, em vez do que elas dizem”.

- “Não existem coisas tão distantes que não sejam alcançadas, nem tão escondidas que não sejam descobertas”.

- "A razão e o juízo são as únicas coisas que diferenciam os homens dos animais".

- "Com frequência uma falsa alegria vale mais que uma tristeza cuja causa é verdadeira".

- “Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.”

- “Em se tratando de uma questão difícil, é mais provável que a verdade seja descoberta por poucos do que por muitos.”

- “Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos uma vez em sua vida você duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas."

- “Não há nada no mundo que esteja mais bem distribuído do que a razão: todo mundo está convencido de que a tem de sobra.”

- “Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível.”

- “A filosofia é o que nos distingue dos selvagens e bárbaros; as nações são tanto mais civilizadas e cultas quanto melhor filosofam seus homens”

- “A razão e todo o conhecimento racional são inatos ao ser humano. A diferença entre o nível de inteligência de uns e de outros é o modo como utilizamos a racionalidade”.

- “Tomei a decisão de fingir que todas as coisas que até então haviam entrado na minha mente não eram mais verdadeiras do que as ilusões dos meus sonhos”.

- “O espaço e o corpo que nele está compreendido não são diferentes, a não ser pelo nosso pensamento. De facto, a mesma extensão em comprimento, largura e profundidade que constituem o espaço, constituem o corpo”.

- “Tudo o que até agora aceitei como mais verdadeiro e seguro, obtive pelos sentidos ou através dos sentidos. Mas, de tempos em tempos, descobri que os sentidos enganam, e é prudente nunca confiar completamente naqueles que nos enganaram uma única vez.”

 

 

Fontes:

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