quarta-feira, 25 de maio de 2022

Bezerra de Menezes

Bezerra de Menezes – (1831 a 1900) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti foi um filósofo cearense pertencente a corrente de pensamento da Filosofia Espírita. Trabalhou como médico, filósofo, militar, escritor e político. Devido a sua forte veia humanitária, ele ficou conhecido pela alcunha de “o médico dos pobres”. Escreveu várias obras em formato de teses, romances, biografias, artigos, ensaios e relatórios. Era filho do Militar  da Guarda Nacional Antônio Bezerra de Menezes, e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra. Teria sido educado segundo os padrões rígidos da disciplina militar e dos princípios da religião católica. Estudou em sua adolescência por um curto período no Estado do Rio Grande do Norte, e logo depois concluiu o ginasial no tradicional Liceu do Ceará. Professorou por um tempo as matérias de Filosofia e Matemática com a finalidade de bancar seus estudos. Doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no ano de 1856, logo depois, serviu como médico no Exército Brasileiro. Desenvolveu importantes estudos e diagnósticos sobre o câncer. Foi eleito presidente da Federação Espírita Brasileira, nesse ínterim, fundou a primeira livraria espírita do Brasil. Ao longo de sua vida foi condecorado com vários títulos de cidadania. Nasceu em Jaguaretama na antiga localidade de Riacho do Sangue em 1831 e faleceu em 1900, na cidade do Rio de Janeiro de arteriosclerose, quadro clínico que teria evoluído posteriormente para um acidente vascular cerebral.

Filosofia Política

Militou em prol do Partido Liberal do Brasil, participando ativamente da vida pública e ocupando vários cargos políticos. Como político teria produzido um grande trabalho em defesa dos humildes e necessitados. Dizia que a atividade política era: “a ciência de criar o bem de todos”. Defendia os ideais de paz e liberdade, dessa forma, era um abolicionista convicto, tendo inclusive ajudado na libertação dos escravos. Apoiou a inserção e adaptação dos mesmos na sociedade por meio da educação. Disseminou medidas importantes em favor da regulação das atividades domésticas. Abraçou algumas causas ecologistas contra a crescente poluição urbana e a seca que assolava as regiões do norte-nordeste do país. Exerceu importantes atuações no planejamento e construção de algumas estradas de ferro. Tinha como principal bandeira servir a pátria e ao próximo. Era muitas vezes chamado de “o apóstolo da caridade” por conta da sua devoção aos menos favorecidos. Advogou em defesa da questão do “Município Neutro” na cidade do Rio de Janeiro. Recebeu muitas injúrias e foi caluniado por conta do seu caráter probo, decide então, no ano de 1885, encerrar sua carreira política. 

Filosofia Espírita

Considerado o "Kardec Brasileiro", ele foi um grande defensor da doutrina espírita no Brasil. Lutava em defesa da união dos espíritas brasileiros. Após ter contato com algumas obras espíritas, Bezerra teria dito que: “eu já era um espírita inconsciente”. Ensinava em sua doutrina que o melhor remédio contra o ódio era o amor. Advertia da importância de se agir com discrição, sempre cultivando a harmonia e a paciência. Praticava o exercício diário da filantropia e realizava curas através de sua doutrina. Muitas vezes dividia seus bens materiais com o próximo, usando seu modo de vida como exemplo a ser seguido, esse ensinamento se traduzia em ações de caridade. Vivia de forma simples e modesta, cultuando o humanismo que lhe era característico. Utilizou-se do pseudônimo de “Max” nas obras de “Estudos Filosóficos”, esses ensaios eram periódicos publicados semanalmente. 

Altruísta abnegado, ele acreditava que o verdadeiro médico era aquele que praticava a doação total, tendo como missão salvar vidas ou amenizar as dores do mundo. Falava que: “o serviço é o nosso campo de iluminação”. Desse modo, ele saía à noite caminhando pelas ruas escuras das comunidades em socorro dos doentes. Perambulava em vielas nas periferias da cidade do Rio de Janeiro, batia a porta das casas sempre em busca de auxiliar os pobres, os famintos e os enfermos. Levava aos aflitos o conforto de suas sábias palavras, aos famintos alimentos e aos doentes seus saberes médicos. Nesse contexto ele dizia que:

O médico que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no morro; o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro; esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o Anjo da Caridade, que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vais e vens da vida. (Bezerra de Menezes).

 

Anedotas

Há relatos de que certo dia chega uma mãe em apuros, com a filha doente, com febre altíssima e que foi até a casa dele. Ele ajudou, fez todo o procedimento e disse: "Olha, a senhora precisa comprar um remédio para essa criança urgentemente”. A mãe não tinha dinheiro e ele já havia doado tudo que tinha naquele dia, porque era totalmente desapegado aos bens materiais, ajudava as entidades, e ajudava a todos. Ele, então, tira o anel de formatura, que era a única coisa que ele ainda tinha naquele momento, e dá para a mãe comprar o remédio da filha.

Numa certa ocasião em que se achavam esgotados os seus recursos financeiro, e ele necessitava pagar com urgência o aluguel da casa no Rio e prover suas necessidades básicas, reclinado em sua rede, sem grandes alardes, mas preocupado com a solução do caso e procurando meios de sair dessa dificuldade financeira, de repente, do nada, ouve bater à porta do seu quarto. Era um desconhecido, que vinha nominalmente procurá-lo, desejava aulas particulares, depois, o jovem desconhecido, ajustando certo número de lições de determinadas matérias, tira do bolso um maço de cédulas e paga antecipadamente o preço combinado, ficando acertado para o dia seguinte o início das aulas. Radiante com a inesperada e providencial visita, Bezerra de Menezes pagou suas dívidas e ficou a esperar o novo aluno no tal prazo estipulado. Relata-se que esse espírito nunca mais voltou.

Obras:

Estudos Psíquicos Filosóficos; A Casa Assombrada; A Loucura sob Novo Prisma; A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica; Casamento e Mortalha; Lázaro o Leproso; Os Carneiros de Panúrgio; História de um Sonho; A Pérola NegraHistória de um Sonho;  A escravidão no Brasil e as medidas a que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação; Breves considerações sobre as secas do Norte; Biografia de Paulino José Soares de Sousa o visconde do Uruguai; Biografia de Manuel Alves Branco o visconde de Caravelas; Os Mortos que Vivem; Segredos da Natura. Evangelho do Futuro; Diagnóstico do Cancro; O Bandido; Viagem Através dos Séculos.

 

Filosofia Sapiencial

- “O melhor remédio contra o ódio é o amor”.

- “O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus”.

- “Quando a caridade é muito discutida o socorro chega tarde”.

- “Não basta rogar ajuda para si. É indispensável o auxílio aos outros”.

- “Toda lágrima encerra uma lição e se constitui num estímulo ao progresso”

- “De nada vale o brilho da inteligência se o coração permanece às escuras”.

- “Quanto mais auxiliardes aos outros, mais amplo auxílio receberá da vida mais alta”.

- "Sem Jesus uma flor tem mil espinhos! Com Jesus um espinho tem mil flores."

- “Unidos seremos resistência, fragmentados seremos vencidos em nossos objetivos essenciais.”

- “Espírito algum construirá a escada de ascensão sem atender às determinações do auxílio mútuo.”

- "O Amor vencerá sempre e, por isso, a dor será motivada a desaparecer de nosso ainda atribulado caminho."

- “Não vale a revelação de humildade na indefinida repetição dos pedidos de socorro. É preciso não reincidirmos nas faltas”.

- “Não basta restaurar simplesmente o corpo físico. É inadiável o dever de buscarmos a cura espiritual para a vida eterna”.

- “Não há grande mérito em solicitarmos perdão diariamente. É necessário desculparmos com sinceridade as ofensas alheias”.

- “Soletrai, antes de tudo, o alfabeto da Bondade. Sem as primeiras letras do Amor, nunca entenderemos o sagrado poema da vida”.

- “Solidários, seremos união. Separados uns dos outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.”

- “O médico verdadeiro é isto: não tem direito de acabar uma refeição, nem de escolher a hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta”.

- “É melhor, ás vezes, lidar com quem diz não ter religião e ama o próximo, servindo-o, do que com aqueles que se dizem religiosos, não amando o próximo e explorando-o”.

- "Há aqueles que se bastam com o grão de mostarda e aqueles que necessitam do Cosmos. Há aqueles que creem sem saber e aqueles que sentem a necessidade de saber para poder crer."

- “A resposta de Deus pode tardar um pouco, mas jamais deixará de ser dada. Esse tempo de espera serve para provar a fé, a perseverança e a confiança. É um teste de paciência e a oportunidade de desenvolver a força interior, a alegria e a coragem”.

- “Momento de crise é momento de um passo adiante. Retroceder, rebelar ou estacionar, nunca. A crise pede avanço. E se a crise chegou para cada um de nós, é hora de levantar, mudar e seguir em frente na construção de um novo tempo de amor e paz”.

 

Fontes:

ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes: Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil desde o ano 1895. São Paulo: Luz Espírita, 2017.

ANM. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti. Site: Academia Nacional de Medicina. Rio de Janeiro: Internet, Acesso em 2022.

BRASIL. Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Biografia de Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti. Fortaleza: ALCE, 2022. 

FEB. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti. Site: Federação Espírita Brasileira. Brasília: Internet, Acesso em 2022.

FEESP. Curso o que é o Espiritismo. Área de Ensino. São Paulo: Federação Espirita do Estado de São Paulo, 2011.

_________________ Estudo e Prática de assistência espiritual. São Paulo: Federação Espirita do Estado de São Paulo, 2015.

GAMA, Ramiro. Lindos casos de Bezerra de Menezes. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Editora Espiritualista, 1964.

GARCIA, Lisie. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti. Site: Associação Espírita Luz e Paz, Curitiba: FEP, 2022.

GIRÃO, Raimundo. O Ceará. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1966.

GODOY, Paulo Alves. Os Grandes Vultos do Espiritismo. São Paulo: FEESP, 1981.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Genealogia da Ribeira do Jaguaribe. Site: Famílias Cearenses. Internet: Acesso, 2022.

MENEZES, Bezerra de. Uma carta de Bezerra de Menezes.  4ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1984.

POMPEU, Thomaz. Ensaio estatístico do Ceará. Fortaleza: FAC-Símile Fundação Waldemar Alcântara, 1997.

SOARES, Sylvio Brito. Vida e Obra de Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

SOUZA, Juvanir Borges. Bezerra de Menezes: Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: FEB, 2020.

XAVIER. Francisco. Bezerra, Chico e Você. São Bernardo do Campo: GEEM S/C Editora, 1973. 


2 comentários:

  1. Poderia fazer um texto sobre o filósofo cearense Manuel Soares da Silva Bezerra, que era irmão de Bezerra de Menezes?

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