sexta-feira, 13 de maio de 2022

Inácio de Antioquia

Inácio de Antioquia - (30 a 107) d.C  

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi considerado um dos primeiros filósofos teológicos do período de transição entre a filosofia helenística e a filosofia medieval. Figura na lista entre os chamados padres apostólicos. Foi discípulo do apóstolo São João e acredita-se que ele teria sido consagrado pelo apóstolo Paulo de Tarso. Pertenceu a segunda geração de apóstolos, tendo sucedido o apóstolo Pedro no bispado. Nesse sentido, Inácio foi provavelmente o segundo ou terceiro bispo de Antioquia. Escreveu sete cartas que foram direcionadas as igrejas da época, essas cartas ficaram conhecidas como “As Epístolas de Inácio”. A palavra Inácio vem do grego antigo “Ignátios” e significa “homem nascido do fogo”. Era conhecido em suas cartas como sendo Teóforo “O Portador de Deus”. Segundo historiadores, ele teria sido perseguido por um imperador conhecido pelo nome de Trajano que desejava fazê-lo negar sua fé.

O amor por cristo e o brilho de sua santidade teria provocado a ira e a inveja dos incrédulos pagãos. Nesse ínterim, foi condenado a morte por ter se recusado a adorar os deuses do império romano. No ano de 106 d.C foi preso, mas preferiu morrer a negar suas crenças, então foi condenado a ser devorado por leões tendo sido executado no coliseu de Roma no ano 107 d.C. Ao falar sobre sua execução, Inácio disse a famosa expressão: "Trigo de Cristo, moído nos dentes das feras".  Sua história de vida se encontra descrita nas “Atas dos Mártires”. Essas atas são arquivos da igreja que descrevem os sofrimentos enfrentados pelos cristãos, são compilados de verdades as quais se diz que foram escritas simbolicamente em letras de sangue. Na entrada de sua cidade natal está localizado seu sepulcro. O seu crânio foi preservado e estar localizado em um museu na Grécia.

Filosofia Teológica

Acredita-se que ele teria sido o primeiro a escrever a frase “igreja católica”. Segundo relatos da história da igreja, durante o percurso do caminho para o seu martírio em Roma, Santo Inácio ia estimulando as igrejas das diversas cidades por onde passava. Orientando os membros sempre para a união com Cristo, ele se autodefinia como “um homem a quem foi encomendada a tarefa da unidade”. Nesse contexto, ele advertia da importância da igreja em se manter numa verdadeira unidade de consagração. O pensamento de todos deveria estar sempre na mesma conformidade, dessa forma, ele dizia: “uma só oração, uma só suplica, um só espirito, uma só esperança no amor, na alegria imaculada, que é Jesus Cristo”. Quando já estava bem próximo do seu martírio ele teria prometido aos seus discípulos cristãos que mesmo depois de sua morte continuaria intercedendo por eles ao lado de Deus. Dessa maneira, ele transcorria o seguinte dizer: “Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus”. Pontuava a Eucaristia como elo de união da corrente de Cristo, em vista disso, ele dizia que a Eucaristia era “o remédio da imortalidade” e o “antídoto da morte”.

Suas cartas descrevem elementos fundamentais que caracterizavam a fé cristã, por isso é considerado um dos precursores da eclesiologia. As ideias presentes em sua obra são bússolas orientadoras para a formação e consolidação da igreja católica primitiva. Dessa maneira, ele pontuou conceitos estruturais da comunidade eclesial, relacionando-as com a ordenação da identidade da igreja. Ele tinha como objetivo de vida, ser um imitador de Cristo, em razão disso, manteve-se determinado a enfrentar o martírio para ser um modelo a ser seguido da fé em Jesus. Descreveu durante sua jornada em uma das cartas que:

Da Síria a Roma eu pareço estar lutando com bestas selvagens, noite e dia, na terra e no mar, parecem 10 leopardos. Um monte de soldados cujo tratamento que me dão é cada vez pior, quanto mais bondoso sou com eles. (Inácio de Antioquia).

Filosofia Humanista

Santo Inácio era muito admirado pelo respeito humano que tinha por todos. Recebeu a missão de levar Cristo aos perseguidos. Dizia que tinha dificuldade não em amar a todos, mas sim em amar a cada um de maneira individual, nesse sentido, ele se referia ao pequeno, ao fraco, ao escravo, e aqueles que causavam ofensas. Os membros das igrejas situadas na Ásia ou em localidades próximas aonde ele não iria passar enviavam delegações para prestigiá-lo. Sua teologia se ancorava na ideia de que todo cristão era propriedade de Deus, por isso deveriam estar sempre na busca incessante de seguir os passos de Cristo. Todo cristão teria o dever de praticar a humildade e a pureza, procurando sempre exercitar sua santidade, pois essas seriam marcas que caracterizavam o bom cristão. Desse modo, ele exprimia que:

Mantém-te firme como bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer. Não tenhas nenhuma dúvida, temos que suportar tudo pela causa de Deus, para que também Ele nos suporte. Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o invisível que por nossa causa se fez visível, o impalpável, o impassível que por nós se fez passível, o que de todos os modos por nós sofreu. (Inácio de Antioquia).

Segundo sua doutrina, o bispo da igreja seria um representante da comunidade, uma espécie de líder a ser seguido. Ele deveria ter um espírito  de doação total por todos aqueles que ainda não foram convertidos. A sua visão de cristão se traduzia na ideia de estar a serviço de Deus em benefício dos irmãos. Inácio acreditava que o fervor do martírio seria um símbolo de amor e representação da doação total em prol do próximo. Santo Inácio praticava por onde passava a árdua tarefa de Evangelizar, com isso, ele é tido como um mártir que transformou seu sofrimento em missão. Praticava seu mister de maneira incansável. Ele percorria a pé as várias cidades da região com o objetivo de combater as heresias que surgiam e manter acesa a chama doutrinária da igreja católica. Seguiu preso e acorrentado por todo o trajeto que circulou de Antioquia até Roma, mas permaneceu sempre confiante no amor de cristo. Durante a viagem beijava as correntes pesadas, chamando-as de: “minhas preciosas pérolas espirituais”.

Obras:

- Epístola a Policarpo de Esmirna

- Epístola aos Efésios

- Epístola aos Esmirnas

- Epístola aos Filadélfos

- Epístola aos Magnésios

- Epístola aos Romanos

- Epístola aos Trálios

Curiosidade

Os evangelhos descrevem um momento em que os apóstolos teriam pensado em fazer uma pergunta a Cristo sobre qual deles seriam o maior no Reino dos Céus. O Senhor teria lido seus pensamentos, e logo em seguida, teria erguido uma criança nos braços, tendo respondido aos apóstolos sobre a importância da inocência, da humildade, do respeito e da proteção das crianças. Segundo algumas tradições católicas relatam. Aquela criança descrita nos evangelhos da bíblia naquele momento seria o Santo Inácio.

 

Filosofia Sapiencial

- “Nem toda a ferida se cura com o mesmo emplastro”.

- “Põe-me como um selo em teu coração”.

- “Estar perto da espada é estar perto de Deus”.

- “Amai-vos uns aos outros com um coração indiviso”.

- “Quero prevenir-vos contra os animais ferozes em forma humana”.

- “Jesus na cruz fisgou o demônio como um peixe, com a isca do seu próprio corpo".

- “Amai a união, fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também o é de seu Pai”.

- “Um cristão não tem poder sobre si mesmo, mas está livre para servir a Deus”.

- “Onde está o bispo, aí está à comunidade, assim como onde está Cristo Jesus aí está a Igreja católica”.

- “Para sofrer com ele, eu suporto tudo, e é ele quem me dá forças, ele que se fez homem perfeito”.

- “De que me vale um homem, ainda que me louve, se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne?”.

- “Fé e amor é tudo, fé e amor totais, são o começo e o fim da vida: o começo é a fé, e o fim é o amor. Os dois juntos são de Deus”.

- “Há um médico que possui carne e espírito; ambos feitos e não feitos; Deus existindo em carne; verdadeira vida na morte”.

- “Deixem-me ser a comida das feras, pelas quais me será dado saborear Deus. Eu sou o trigo de Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me pão puro de Cristo”.

- “Amai-vos uns aos outros com um coração indiviso. O meu espírito oferece-se em sacrifício por vós, não só agora, mas também quando tiver alcançado Deus. Que possais ser encontrados em Cristo sem mancha”.

- “Não encontro mais prazer no alimento corruptível nem nos gozos desta vida, o que desejo é o pão de Deus, este pão que é a carne de Cristo e, por bebida, quero seu sangue, que é o amor incorruptível”.

- “Desde a Síria até Roma, luto contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda. Todavia, por seus maus tratos, eu me torno melhor discípulo, mas nem por isso sou justificado”.

- “Para nada me serviriam os encantos do mundo, nem os reinos deste século. Para mim, é melhor morrer para Cristo Jesus do que ser rei até os confins da terra. Procuro aquele que morreu por nós; quero aquele que por nós ressuscitou. Deixai que seja imitador da paixão de meu Deus. Se alguém tem Deus em si mesmo, compreenda o que quero e tenha compaixão de mim, conhecendo aquilo que me oprime”.

- “Para vós a graça, a misericórdia, a paz, e a paciência para todo sempre”.


Fontes:

AQUINO, Felipe. Riquezas da Igreja. São Paulo: Canção Nova, 2009.

BERARDINO, Angelo. Dicionário Patristico de antiguidades Cristãs. Petrópolis: Vozes, 2002.

DIDAQUÊ. A instrução dos Apóstolos. Curitiba: Editora Família, 2015.

EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002.

EVANGELISTA, Ricardo José. As cartas de Santo Inácio de Antioquia e os elementos essenciais da fé cristã. Anápolis: Faculdade Católica de Anápolis, 2017.

GIOVANNINI, Luigi; SGARBOSSA, Mario. Um Santo para cada dia. São Paulo: Paulus, 1997.

GONZÁLEZ, Justo. História Ilustrada do Cristianismo: A era dos Mártires até a era dos sonhos frustrados. São Paulo: Vida Nova, 2011.

HAMMAN. Adalbert-Gautier. Os Padres da Igreja. 2ª ed. São Paulo: Paulinas, 1985.

INÁCIO DE ANTIOQUIA. Padres Apostólicos. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.

ROBERTSON, James Craigie. Esboços da História da Igreja. Blackmore Dennett, 2018.

SAMOSATA, Luciano. A Morte do Peregrino. Oxford: The Clarendon Press. 1905.

SGARBOSSA, Mário. Os santos e os beatos: Da igreja do ocidente e do oriente. São Paulo: Paulinas, 2012.


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