Inácio de
Antioquia - (30 a 107) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi considerado um
dos primeiros filósofos teológicos do período de transição entre a filosofia
helenística e a filosofia medieval. Figura na lista entre os chamados padres
apostólicos. Foi discípulo do apóstolo São João e acredita-se que ele teria
sido consagrado pelo apóstolo Paulo de Tarso. Pertenceu a segunda geração de
apóstolos, tendo sucedido o apóstolo Pedro no bispado. Nesse sentido, Inácio
foi provavelmente o segundo ou terceiro bispo de Antioquia. Escreveu sete
cartas que foram direcionadas as igrejas da época, essas cartas ficaram conhecidas
como “As Epístolas de Inácio”. A palavra Inácio vem do grego antigo “Ignátios” e
significa “homem nascido do fogo”. Era conhecido em suas cartas como sendo
Teóforo “O Portador de Deus”. Segundo historiadores, ele teria sido perseguido
por um imperador conhecido pelo nome de Trajano que desejava fazê-lo negar sua
fé.
O amor por
cristo e o brilho de sua santidade teria provocado a ira e a inveja dos incrédulos
pagãos. Nesse ínterim, foi condenado a morte por ter se
recusado a adorar os deuses do império romano. No ano de 106 d.C foi preso, mas
preferiu morrer a negar suas crenças, então foi condenado a ser devorado por
leões tendo sido executado no coliseu de Roma no ano 107 d.C. Ao falar sobre
sua execução, Inácio disse a famosa expressão: "Trigo de Cristo,
moído nos dentes das feras". Sua história de vida se
encontra descrita nas “Atas dos Mártires”. Essas atas são arquivos da igreja
que descrevem os sofrimentos enfrentados pelos cristãos, são compilados de
verdades as quais se diz que foram escritas simbolicamente em letras de sangue.
Na entrada de sua cidade natal está localizado seu sepulcro. O seu crânio foi
preservado e estar localizado em um museu na Grécia.
Filosofia
Teológica
Acredita-se que
ele teria sido o primeiro a escrever a frase “igreja católica”. Segundo relatos
da história da igreja, durante o percurso do caminho para o seu martírio em
Roma, Santo Inácio ia estimulando as igrejas das diversas cidades por onde
passava. Orientando os membros sempre para a união com Cristo, ele se
autodefinia como “um homem a quem foi encomendada a tarefa da unidade”. Nesse
contexto, ele advertia da importância da igreja em se manter numa verdadeira
unidade de consagração. O pensamento de todos deveria estar sempre na mesma
conformidade, dessa forma, ele dizia: “uma só oração, uma só suplica, um só
espirito, uma só esperança no amor, na alegria imaculada, que é Jesus Cristo”. Quando
já estava bem próximo do seu martírio ele teria prometido aos seus discípulos
cristãos que mesmo depois de sua morte continuaria intercedendo por eles ao
lado de Deus. Dessa maneira, ele transcorria o seguinte dizer: “Meu
espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a
Deus”. Pontuava a Eucaristia como elo de união da corrente de Cristo,
em vista disso, ele dizia que a Eucaristia era “o remédio da imortalidade” e o
“antídoto da morte”.
Suas cartas
descrevem elementos fundamentais que caracterizavam a fé cristã, por isso é
considerado um dos precursores da eclesiologia. As ideias presentes em sua obra
são bússolas orientadoras para a formação e consolidação da igreja católica
primitiva. Dessa maneira, ele pontuou conceitos estruturais da comunidade
eclesial, relacionando-as com a ordenação da identidade da igreja. Ele tinha
como objetivo de vida, ser um imitador de Cristo, em razão disso, manteve-se
determinado a enfrentar o martírio para ser um modelo a ser seguido da fé em
Jesus. Descreveu durante sua jornada em uma das cartas que:
Da Síria a Roma eu
pareço estar lutando com bestas selvagens, noite e dia, na terra e no mar,
parecem 10 leopardos. Um monte de soldados cujo tratamento que me dão é cada
vez pior, quanto mais bondoso sou com eles. (Inácio de Antioquia).
Filosofia Humanista
Santo Inácio era muito admirado pelo
respeito humano que tinha por todos. Recebeu a missão de levar Cristo aos
perseguidos. Dizia que tinha dificuldade não em amar a todos, mas sim em amar a
cada um de maneira individual, nesse sentido, ele se referia ao pequeno, ao
fraco, ao escravo, e aqueles que causavam ofensas. Os membros das igrejas
situadas na Ásia ou em localidades próximas aonde ele não iria passar enviavam
delegações para prestigiá-lo. Sua teologia se ancorava na ideia de que todo
cristão era propriedade de Deus, por isso deveriam estar sempre na busca
incessante de seguir os passos de Cristo. Todo cristão teria o dever de
praticar a humildade e a pureza, procurando sempre exercitar sua santidade,
pois essas seriam marcas que caracterizavam o bom cristão. Desse modo, ele
exprimia que:
Mantém-te firme como
bigorna sob os golpes. É próprio de um grande atleta receber pancadas e vencer.
Não tenhas nenhuma dúvida, temos que suportar tudo pela causa de Deus, para que
também Ele nos suporte. Torna-te ainda mais zeloso do que és; aprende a
conhecer os tempos. Aguarda o que está acima do oportunismo, o atemporal, o
invisível que por nossa causa se fez visível, o impalpável, o impassível que
por nós se fez passível, o que de todos os modos por nós sofreu. (Inácio de
Antioquia).
Segundo sua doutrina, o bispo da igreja
seria um representante da comunidade, uma espécie de líder a ser seguido. Ele
deveria ter um espírito de doação total por todos aqueles que ainda não
foram convertidos. A sua visão de cristão se traduzia na ideia de estar a
serviço de Deus em benefício dos irmãos. Inácio acreditava que o fervor do
martírio seria um símbolo de amor e representação da doação total em prol do
próximo. Santo Inácio praticava por onde passava a árdua tarefa de Evangelizar,
com isso, ele é tido como um mártir que transformou seu sofrimento em missão.
Praticava seu mister de maneira incansável. Ele percorria a pé as várias
cidades da região com o objetivo de combater as heresias que surgiam e manter
acesa a chama doutrinária da igreja católica. Seguiu preso e acorrentado por
todo o trajeto que circulou de Antioquia até Roma, mas permaneceu sempre
confiante no amor de cristo. Durante a viagem beijava as correntes pesadas,
chamando-as de: “minhas preciosas pérolas espirituais”.
Obras:
- Epístola a Policarpo de Esmirna
- Epístola aos Efésios
- Epístola aos Esmirnas
- Epístola aos Filadélfos
- Epístola aos Magnésios
- Epístola aos Romanos
- Epístola aos Trálios
Curiosidade
Os evangelhos descrevem um momento em
que os apóstolos teriam pensado em fazer uma pergunta a Cristo sobre qual deles
seriam o maior no Reino dos Céus. O Senhor teria lido seus pensamentos, e logo
em seguida, teria erguido uma criança nos braços, tendo respondido aos
apóstolos sobre a importância da inocência, da humildade, do respeito e da
proteção das crianças. Segundo algumas tradições católicas relatam. Aquela criança
descrita nos evangelhos da bíblia naquele momento seria o Santo Inácio.
Filosofia
Sapiencial
- “Nem toda a
ferida se cura com o mesmo emplastro”.
- “Põe-me como um
selo em teu coração”.
- “Estar perto da
espada é estar perto de Deus”.
- “Amai-vos uns
aos outros com um coração indiviso”.
- “Quero
prevenir-vos contra os animais ferozes em forma humana”.
- “Jesus na cruz
fisgou o demônio como um peixe, com a isca do seu próprio corpo".
- “Amai a união,
fugi das divisões, sede imitadores de Jesus Cristo, como ele também o é de seu
Pai”.
- “Um cristão não
tem poder sobre si mesmo, mas está livre para servir a Deus”.
- “Onde está o
bispo, aí está à comunidade, assim como onde está Cristo Jesus aí está a Igreja
católica”.
- “Para sofrer com
ele, eu suporto tudo, e é ele quem me dá forças, ele que se fez homem
perfeito”.
- “De que me vale
um homem, ainda que me louve, se blasfema contra meu Senhor, não confessando
que Ele assumiu carne?”.
- “Fé e amor é
tudo, fé e amor totais, são o começo e o fim da vida: o começo é a fé, e o fim
é o amor. Os dois juntos são de Deus”.
- “Há um médico
que possui carne e espírito; ambos feitos e não feitos; Deus existindo em
carne; verdadeira vida na morte”.
- “Deixem-me ser a
comida das feras, pelas quais me será dado saborear Deus. Eu sou o trigo de
Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me pão puro de
Cristo”.
- “Amai-vos uns
aos outros com um coração indiviso. O meu espírito oferece-se em sacrifício por
vós, não só agora, mas também quando tiver alcançado Deus. Que possais ser
encontrados em Cristo sem mancha”.
- “Não encontro
mais prazer no alimento corruptível nem nos gozos desta vida, o que desejo é o
pão de Deus, este pão que é a carne de Cristo e, por bebida, quero seu sangue,
que é o amor incorruptível”.
- “Desde a Síria
até Roma, luto contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia,
acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz
bem, tornam-se piores ainda. Todavia, por seus maus tratos, eu me torno melhor
discípulo, mas nem por isso sou justificado”.
- “Para nada me
serviriam os encantos do mundo, nem os reinos deste século. Para mim, é melhor
morrer para Cristo Jesus do que ser rei até os confins da terra. Procuro aquele
que morreu por nós; quero aquele que por nós ressuscitou. Deixai que seja
imitador da paixão de meu Deus. Se alguém tem Deus em si mesmo, compreenda o
que quero e tenha compaixão de mim, conhecendo aquilo que me oprime”.
- “Para vós a graça, a misericórdia, a paz, e a paciência para todo sempre”.
Fontes:
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EUSÉBIO DE CESARÉIA. História
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EVANGELISTA, Ricardo José. As
cartas de Santo Inácio de Antioquia e os elementos essenciais da fé cristã. Anápolis:
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GIOVANNINI, Luigi; SGARBOSSA,
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GONZÁLEZ, Justo. História
Ilustrada do Cristianismo: A era dos Mártires até a era dos sonhos
frustrados. São Paulo: Vida Nova, 2011.
HAMMAN. Adalbert-Gautier. Os
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INÁCIO DE ANTIOQUIA. Padres
Apostólicos. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.
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SGARBOSSA, Mário. Os santos e
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2012.
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