Matias Aires –
(1705 a 1763)
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Matias Aires Ramos
da Silva de Eça foi um filósofo luso-brasileiro do período
colonial. É considerado um dos primeiros filósofos do Brasil e conceituado
também como um dos maiores filósofos da língua portuguesa. Pertenceu a academia
brasileira de letras, tendo ocupado a cadeira de número seis como patrono. É
patrono também da cadeira de número 3 da Academia Paulista de Letras. Sua obra
é considerada um clássico da Literatura mundial. Ele foi apontado como um filósofo
melancólico, pois tinha um aspecto respeitoso e educado o que era muitas vezes
confundido, em sua época, como antissocial. Iniciou seus estudos no colégio
jesuíta de São Paulo, mas foi morar em Lisboa quando tinha apenas onze anos. Posteriormente
concluiu o curso de humanidades no colégio santo Antão, em Portugal. Recebeu o
grau de mestre em artes pela universidade de Coimbra. Chegou a cursar Direito,
em Paris na França. Atuou como engenheiro voluntário na batalha do cerco de
Gibraltar. Ocupou o cargo de provedor da Casa da Moeda, em Portugal. Sua
educação nobre lhe permitiu uma sólida e eclética formação. Tratou em sua
filosofia dos temas relacionados à vaidade, o amor, o tempo e o ceticismo.
Dessa forma, sua filosofia se entrelaça entre questões da Psicologia e da
Filosofia Moral. Também é visto como um pensador humanista. Matias não teve o
devido reconhecimento de sua obra em vida e isso teria lhe deixado
decepcionado. Por muitos anos sua obra permaneceu esquecida nos porões do
tempo, entretanto é bastante estudada na atualidade. Era natural da cidade de
São Paulo, filho de José Ramos da Silva e de Catarina Horta. Faleceu no ano de
1763, em Agualva, localidade próximo a Lisboa.
Filosofia Moral
Ele teria sido
conceituado como um filósofo moralista por transcorrer sobre as questões
relacionadas com a investigação da alma. A base da sua filosofia se encontrava
ancorada na sapiente frase bíblica do Eclesiastes: “vaidade das
vaidades tudo é vaidade”. Nesse sentido, ele construiu sólidas reflexões
sobre a noção de vaidade. Acreditava que os homens agiam movidos pelas paixões
e que estas eram causadas pela vaidade, ou seja, a vaidade seria um guia para
outras paixões ou até mesmo para o entendimento humano. Matias Aires explicava
que a vaidade não seria uma paixão do corpo, mas sim da alma, pois o defeito
não estaria na vontade, e sim na imperfeição da lucidez humana. Nesse contexto,
o homem deveria enfrentar esse vício não com as forças do corpo, mas sim com as
armas do espírito. Desse modo, as paixões que seriam geradas pelo coração do
homem e pela sua ideia de compreensão do mundo eram na verdade ilusórias, elas
dominavam o espírito humano, por isso o homem deveria buscar uma clarificação
do entendimento em Deus. Aires argumentava que se o homem conseguisse negar a
vaidade, ele estaria cumprindo o propósito de Deus, pois na sua visão, Deus
seria a autoridade maior que existe no campo espiritual e temporal.
Argumentava que
até mesmo na dor o homem também floresce sua vaidade, pois em alguns casos o
indivíduo se agarra ao sofrimento com a finalidade de comprovar uma injustiça
ou agigantar seu infortúnio. Em razão disso, a vaidade poderia amenizar ou
piorar o sofrimento humano. Na sua visão, nem mesmo as virtudes escapam da
vaidade. Dessa forma, ele pontuava que a vaidade estaria presente em questões
como a desgraça, a miséria, o suplício e até na própria morte como sacrifício
de vida. Portanto, a vaidade também seria uma espécie de amor à vida. Em
contrapartida, ele pensava que o amor teria como função equilibrar a dinâmica
do universo. Matias diferenciava a definição para dois tipos de amor: o amor
medíocre e o amor sublime. O primeiro era voltado aos prazeres ligados aos
sentidos, às paixões do corpo e aos impulsos da natureza humana, este buscava
aceitação no outro e a aprovação de outros indivíduos. O segundo emanava da
alma e encontrava satisfação dentro de si, era independente do outro, possuía
um aspecto divino e seria completamente desvinculado das paixões.
Filosofia do
Conhecimento
Matias acreditava
que o conhecimento das coisas se originava nos sentidos. Dessa maneira, ele
pensava que o conhecimento não poderia sem apreendido e nem ensinado. Explicava
que o homem poderia utilizar o critério da vaidade como guia de conhecimento de
“si e do outro”. Ainda segundo ele, o homem poderia se prevenir de certos
comportamentos e construir ações políticas que pudessem lhe auxiliar a agir de
forma justa e efetiva. Nesse sentido, ele denotava que a ideia de juízo não
seria propriamente o acúmulo de conhecimento, mas antes de tudo, saber agir com
prudência e sabedoria. Sendo assim, muita informação não significaria
necessariamente muita sabedoria, pois um homem sábio agiria com zelo e cautela
nos tratos sociais, premeditando comportamentos e regulando ações para realizar
manobras de prevenção de modo a agir discretamente.
Aires transcorria
em sua obra uma crítica aos valores culturais, sociais e históricos da
sociedade da qual ele fez parte. Por consequência, ele pontuava que a vaidade
do homem era compreendida como sendo um mal geral, que se mascarava
principalmente por meio dos valores da nobreza, ou seja, dos sábios, dos
magistrados, dos nobres e dos reis. Ele denunciava os vícios individuais e
sociais do homem. Alguns pensadores acreditam que Matias não estava muito
conectado aos problemas do seu tempo, por isso não teria sido bem compreendido.
Sua extemporaneidade teria lhe deixado um legado de exclusão nos campos do
chamado espírito filosófico. Contextualizava em suas reflexões que existem
vaidades universais que norteiam as civilizações e outras vaidades individuais
que as desagregam. Sua filosofia abordava aspectos do pensamento iluminista com
pintadas da arte barroca.
Outro ponto
importante, em sua obra, é a questão do tempo, para Matias, a consciência humana
se moldava em conformidade com a noção de tempo, por isso o produto do homem no
mundo era de ser um prisioneiro do tempo, acorrentado por contradições que se
traduziam na ação do tempo em conflito com os paradoxos do mundo, construindo
dessa feita uma relação dialética de ilusão da realidade, isto é, uma dependência
opositiva e sem fim entre Natureza e História.
Filosofia Sapiencial
+ “Tudo são
produções da vaidade”.
+ “Só a vaidade é
constante em nós”.
+ “Quantas vezes
buscar o precipício é o único meio de evitá-lo”.
+ “A natureza de
cada coisa também se compõe do seu defeito”
+ "Que coisa
é a ciência humana, senão uma humana vaidade?”.
+ “Sendo o termo
da vida limitado, não tem limite nossa vaidade”.
+ "Não
vivemos contentes, se a nossa vaidade não vive satisfeita".
+ “É mais fácil
sustentar uma opinião má do que escolher uma boa”.
+ “As regras não
governam aos homens, estes é que governam as regras”.
+ "Com os
anos não diminui em nós a vaidade, e se muda, é só de espécie”
+“Tudo no mundo é
vão, por isso a vaidade é a que move os nossos passos”
+ “Quem deseja
vingar-se ainda ama e quem se mostra ofendido ainda quer”.
+ “Viemos ao mundo
para fugirmos de nós, mas nunca podemos fugir de nós”.
+ “São raros os
que nas letras buscam a ciência; o que buscam é utilidade e aplauso”.
+ “O aplauso é o
ídolo da vaidade, por isso as ações heroicas não se fazem em segredo”.
+ “Quero deixar o
mundo antes que o mundo me deixe. Quero antecipar-me já, para não estranhar
depois”.
+ "A vaidade
nos ensina, que as ações heroicas se fazem imortais por meio das narrações da
história".
+ "De todas
as paixões, quem mais se esconde, é a vaidade: e se esconde de tal forma, que a
si mesma se oculta".
+ “As criaturas
são mais perfeitas, à proporção que são capazes de mais amor; e assim o amor
não só é o princípio da vida, mas também é um sinal de perfeição”.
+ “Quando nos
parece que a nossa vista rompeu a nuvem, e que o nosso discurso rompeu o
embaraço, então é que estamos cegos, e então é que erramos mais”
+ “Assim, bem
podemos assentar, que a vaidade da Nobreza é uma introdução supersticiosa, a
qual nasce da vaidade do luxo, da vaidade da arrogância, e da vaidade da
fortuna”.
+ “Nunca mostramos
o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê, e isto porque não
exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício”.
+ “Assim como nos
lugares, há também horizontes na idade, e continuamente imos deixando uns, e
entrando em outros, e em todos eles a mesma vaidade, que nos cega, nos guia”.
+ “O nosso engenho
todo se esforça em por as coisas em uma perspectiva tal, que vistas de um certo
modo, fiquem parecendo o que nós queremos, que elas sejam, e não o que elas
são.”
+ “Tudo no mundo é
vão, por isso a vaidade é a que move os nossos passos: para donde quer que se
vá à vaidade nos leva e vamos por vaidade. Mudamos de lugar, mas não mudamos de
mundo”.
+ "Assim se
vê que a vaidade nos livra de uma dor como por encanto; por isso nos é útil, pois
serve de acalmar os nossos males; e se os agrava alguma vez, é como a mão do
artista, que faz doer para curar".
+ “Quem nos dera
que assim como há arte para saber, a houvesse também para ignorar; e que assim
como há estudo, que nos ensina a lembrar, o houvesse também, que nos ensinasse
a esquecer".
+ “A cada passo,
que damos no discurso da vida, se nos oferece um teatro novo, composto de
representações diversas, as quais sucessivamente vão sendo objetos da nossa
atenção, e da nossa vaidade”.
+ “Nem sempre
fomos suscetíveis das mesmas impressões; nem sempre somos sensíveis ao mesmo
sentimento; sempre fomos vaidosos, mas nem sempre domina em nós o mesmo gênero
de vaidade".
+ “Se a melancolia
nos desterra para a solidão do ermo, não deixa de ir conosco a vaidade; e então
somos como uma ave desgraçada que, por mais que fuja do lugar em que recebeu o
golpe, sempre leva no peito atravessada a seta”.
+ “Tudo quanto
vejo é com olhos desenganados. Talvez por isso vejo as coisas como são e não
como se mostram. Porque o desengano tem virtude e força para arrancar da
formosura o véu cadente e mentiroso de que o teatro da vida se compõe”.
+ "Tudo nos é
dado como por conta: a vida, a fortuna, a desgraça, a alegria e a tristeza; em
tudo há um ponto certo e fixo; a vaidade que governa todas as paixões, em umas
aumenta a atividade, em outras diminui; e todas recebem o valor que a vaidade
lhes dá".
+ “A vaidade nos
inspira aquele modo de vingança e parece, com efeito, que o deixar o mundo é
desprezá-lo. Assim será,
mas quem deseja
vingar-se ainda ama
e quem se
mostra ofendido ainda quer [...]. Mudamos de lugar, mas não
mudamos de mundo”
+ “A inconstância
nos serve de alívio, e desoprime, porque a firmeza é como um peso, que não
podemos suportar sempre, por mais que seja leve; e, com efeito, como podem as
nossas ideias serem fixas, e sempre as mesmas, se nós sempre vamos sendo
outros?”.
+ “A inconstância
nos serve de alívio, e desoprime, porque a firmeza é como um peso, que não
podemos suportar sempre, por mais
que seja leve; e,
com efeito, como
podem as nossas
ideias serem fixas, e sempre as mesmas, se nós sempre vamos sendo
outros?”
+ “Quem são os
homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a
farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão.
Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que logo no rosto indica que é
sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem.
A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na
outra, a foice fatal. E, com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá
fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”.
Obras:
- Reflexões Sobre
a Vaidade dos Homens
- Carta sobre a
Fortuna
- Problema de
arquitetura civil
Fontes:
AIRES,
Matias. Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. trad. Alceu
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PAIM, Antônio. As
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