quinta-feira, 23 de junho de 2022

Diogo Feijó

Diogo Feijó - (1784 a 1843) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Diogo Antônio Feijó foi um filósofo teopolítico brasileiro que viveu entre o fim do período colonial e o início do período imperial. Escreveu sua obra em formato de cartas, artigos e discursos. Defendeu os preceitos “regalistas liberais” na sua atuação como estadista. Era filho de pais incógnitos, isto é, desconhecidos, pois quando nasceu teria sido abandonado na porta de uma igreja, devido a esse fato, foi acolhido e criado pelo padre Fernando Lopes. Estudou Gramática Latina e Retórica com a finalidade de seguir a carreira eclesiástica. Lecionou as disciplinas de Latim, Retórica, Teologia, História e Filosofia. Ingressou na carreira eclesiástica em 1804 e formou-se padre, em 1808. Atuou politicamente como Vereador, Deputado, Senador, Ministro da Justiça e Regente do Império. Considerado o primeiro regente do Brasil, ou seja, o primeiro chefe do executivo nacional, ele ficou conhecido como “O Regente Feijó”. Paralelamente a essas atividades, ele administrava uma fazenda e cultivava a cana de açúcar. Foi um dos precursores da Guarda Nacional.  Nasceu na cidade de Itu, no Estado de São Paulo, em 1784 e faleceu no mesmo Estado, em 1843. Foi sepultado na Catedral Metropolitana de São Paulo.

Filosofia Moral

Abordou em seus estudos uma forte relação do Estado com a igreja, apontando elementos filosóficos com questões teológicas que se encaminhavam para reformas nos currículos educacionais. Sua filosofia seguiu uma vinculação entre as funções “morais do indivíduo” e a materialização dessa ética nas “ações públicas”. Segundo alguns pensadores, sua veia iluminista teria sofrido influência das filosofias neoplatônica, agostiniana e kantiana. Feijó direcionava seus pensamentos a respeito da moral do homem para os horizontes da razão e da volição. Nesse sentido, ele acreditava que a razão poderia juntar a noção de liberdade com a ideia de vontade. Em relação à volição, ele pontuava que ela se inclinava para a noção de natureza das decisões conscientes e inconscientes do indivíduo.

A sua moral volitiva poderia ser dividida em dois pontos básicos: “o amor de si” e “a estima de si”. O primeiro era definido como uma espécie de amor próprio onde se originaria os males, pois o homem usaria seus instintos biológicos para sobreviver e gerar seus prazeres animais. Desse modo, para se preservar, o homem acabaria invadindo o direito do outro em nome do seu amor próprio, pois ele buscaria de maneira imprópria: os prazeres egoísticos, a satisfação pessoal e a preservação do seu “eu”. O segundo, apontado como sendo “a estima de si”, seria uma contraposição ao primeiro, pois teria como características: o instinto inato de responsabilidade, o respeito e a abnegação para com o outro. No que diz respeito à liberdade, ela seria um ponto regulador dessas funções descritas, pois, poderia tanto suspender a ideia de vontade, como também, agir de forma a limitar as paixões. Dessa maneira, ele esclarecia que a liberdade seria o elo de harmonia entre a razão e a volição. De forma otimista, Feijó acreditava que o homem poderia através da experiência e da reflexão, utilizar a razão e a volição, como instrumentos constitutivos da liberdade e da autonomia de si. Ele definia a consciência como sendo o fundamento da moralidade.

Filosofia Política

Munido de uma forte moralidade patriótica, ele lutou a favor de grandes reformas no Estado brasileiro, como o fim do celibato clerical e a descentralização do poder monárquico absolutista. Escrevia pontualmente para um periódico intitulado “O Justiceiro”, onde debatia sobre a questão religiosa. Atuante na política brasileira, ele buscou mudanças radicais em defesa da justiça social. Feijó despertou a desafeição da aristocracia agrária ao manifestar-se publicamente em apoio ao fim da escravidão. Chegou a dizer que era uma contradição vergonhosa manter os homens como escravos, pois os princípios liberais condenavam essa prática. Decretou uma lei que proibia o tráfico de escravos no solo brasileiro, essa lei chamada de “Lei Feijó” acabou ficando conhecida como “Lei para Inglês ver”, pois não era completamente respeitada, mas dava uma resposta à pressão que a Inglaterra exercia contra a escravidão. Investiu solidamente na construção de estradas, estimulando o transporte e a economia. Isso teria proporcionado uma maior urbanização de algumas cidades e incentivado setores bancários.

Fez parte do movimento emancipatório do Brasil, por isso é visto como um dos idealizadores da pátria brasileira. Nessa época, sofreu perseguição de Portugal e se exilou na Inglaterra, retornando ao Brasil após a independência. Considerado um dos fundadores do Partido Liberal, ele combinou ideias liberais com práticas das políticas conservadoras. Adotou os ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade”. Participou da Revolução Liberal em São Paulo, onde acabou preso. Foi responsabilizado pelas revoltas sociais e separatistas que se espalhavam por todo o país, esse fato teria gerado sua renuncia ao cargo de regente em 1837.

Alguns críticos acusaram o Padre Feijó de ter colocado a soberania do Brasil sobre ameaça de invasões estrangeiras. Ele chegou a afirmar que abominava a “democracia pura” que era formada a partir da aristocracia luso-brasileira, pois nessa época, a democracia era restrita a determinados grupos, participando dos pleitos apenas um grupo minoritário ligado à elite. Grande parte da população pobre e rural não tinha ideia dos acontecimentos políticos que se tramitavam. Nesse tempo, os movimentos políticos se inclinaram para dois grandes grupos políticos: os liberais chamados também de progressistas e os conservadores denominados de regressistas. Os progressistas eram grupos formados por: membros ligados à classe média urbana, alguns clérigos e os proprietários rurais que eram afetos as medidas descentralizadoras. Os regressistas eram grupos formados por: grandes fazendeiros da elite, comerciantes, magistrados e funcionários públicos que defendiam a centralização do poder político.  

Filosofia Sapiencial

+ “Sê virtuoso e serás feliz!”

+ “O vulcão da desordem ameaça devorar o Império”.

+ “Cada um é livre para decidir como e quando pode fazer o bem”.

+ “O coração nunca envelhece. Basta um serviço, um nada, um abraço e tudo nele se ilumina e aquece”.

+ "É vergonhosa contradição com os princípios liberais que professamos, conservar homens escravos".

+ "Ou nada digo, ou somente digo o que sinto. Não tenho duas caras. Venço pela força moral e, sendo preciso, pelo emprego das armas".

+ “Analisando a insuficiência do Dogmatismo e a prudência ou imprudência do ceticismo, descobre-se que a verdadeira origem dos conhecimentos, é a crítica.”

+ “A razão, pois, observando a marcha das propensões, conhece que o desejo da felicidade estimula o homem a providenciar sua conservação e bem ser, e que a sensibilidade física é seu guia natural nessa indagação”.

Obras:

- Gramática Latina

- Cadernos de Filosofia

- Periódicos - O Justiceiro

- Discursos Políticos

- Manifesto aos brasileiros

- O retrato do homem de honra e verdadeiro sábio

Fontes:

AZEVEDO, Vitor. Feijó: Vida, Paixão e Morte de um Chimango. São Paulo: Editora Anchieta, 1942.

ALONSO, Rafael. Diogo Antônio FeijóDicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff casa editorial, 2012.

BRASIL. A Regência Una de Feijó. Site: Secretaria Municipal de Educação. Rio de Janeiro: MultiRio, Acesso em 2022.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

CALDEIRA, Jorge. Diogo Antônio Feijó. Col. Formadores do Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999.

CANECA, Frei. Cartas de Pítia a Damão. São Paulo: Editora 34, 2001.

CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: A elite política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007

COELHO, Humberto Schubert. A filosofia moral de Diogo Feijó. Revista Estudos Filosóficos n. 7. Juiz de Fora: UFSJ, 2017.

COSTA, Emília Viotti. Da monarquia a república: momentos decisivos. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

ENGEL, Magali Gouveia. Diogo Antônio Feijó: Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2002.

FEIJÓ, Diogo. Cadernos de Filosofia. São Paulo: Editora Grijalbo, 1967.

JUNIO, Caio Prado. Evolução Política do Brasil e outros estudos São Paulo: Editora Brasiliense 1977.

JÚNIOR, Ellis. Feijó e sua época. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1940.

OLIVEIRA, Gabriel Abílio de Lima. Diogo Antônio Feijó e Romualdo Antônio de Seixas: regalistas e romanizados na formação do Estado nacional brasileiro (1820-1840). Tese de Doutorado. Belo Horizonte: UFMG, 2018.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. Diogo Antonio Feijó, História dos Fundadores do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1988.


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