Ptáhhotep do Egito - (2500 a 2350) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Ptáh-Hotep ou Ptaotepe - Foi um filósofo moralista da antiguidade egípcia. Figura entre
os mais antigos sábios egípcios da humanidade, também está inserido entre os
primeiros filósofos do mundo, aos quais eram denominados de filósofos
primitivos. Seu nome teria o significado próximo ao conceito de “o amado de
Deus”. Escreveu sua obra em formato de literatura, poesia e “sebayt”.
Os “sebayts” eram manuais de instruções faraônicas. Ptáh tinha
um título de vizir, que era uma espécie de primeiro-ministro. Esse cargo estava
vinculado a função de dirigente da corte, nesse sentido, o faraó nomeava
membros da família ou pessoas de confiança, para exercer o papel de
administrador. Dessa forma, ele foi o administrador do Egito durante a quinta
dinastia do império egípcio, no governo do Faraó “Djedkaré Isesi”, que também
era conhecido pelo codinome de “Tanquerés”. Ptáh também teria ocupado vários
outros cargos de supervisão no governo faraônico. Seu florescimento se deu no
período da história compreendido como bronze antigo, ou seja, entre o final do
século (XXV e início do século XXIV) a.C. Especula-se que ele tenha vivido,
aproximadamente, entre os anos de (2500 a 2350) a.C e que tenha falecido muito
velho, com mais de 100 anos de idade. Seu túmulo está localizado em um famoso
sítio arqueológico do Egito, conhecido como “Saqqara”.
Filosofia Literária
Escreveu uma obra em formato aforístico conhecida como “As Máximas de
Ptah-Hotep”, enquadrada como literatura da sabedoria. Ela foi considerada por
muito tempo como sendo “o primeiro livro da história humana”. Nessa obra, ele
descrevia a respeito de regras do comportamento ético e moral. A obra teria
sido escrita com o objetivo de aconselhar o povo egípcio e orientá-los sobre
instruções sociais, regras de etiqueta e bons modos. As máximas eram conselhos
repetidos pela cultura popular egípcia que foram reunidos em um manual cuja
autoria foi atribuída a Hotep. Suas ideias também advertiam sobre os conceitos
relacionados ao autocontrole e o autoconhecimento. Explicava sobre a importância
de aprender sabendo ouvir a todos. Nesse contexto, ele transcorria seus
ensinamentos propondo aos indivíduos que saíssem de um estágio de irreflexão
para o estado de domínio das paixões, isto é, mantivessem o controle de si.
Desse modo, ele dizia que: “deve-se instruir os ignorantes no
conhecimento da exatidão da linguagem justa; para a glória daquele que a
obedece, e a vergonha daquele que a transgrida”. A obra teria sido
escrita em papiros no formato hierático. Existem cópias preservadas dessa obra
que foram retiradas do famoso “Papiro Prisse”.
Filosofia Moral
Os egípcios da era pré-dinástica desenvolveram um conceito de pensamento
chamado de “maat” que significava a ideia de “verdade” e “justiça” ou o
que também moralmente se compreendia como “certo”. Por isso, alguns textos da
antiguidade egípcia se iniciavam com a seguinte frase: “grande é a lei”
(maat). Ele conceituava importantes dicas de como viver bem de acordo com
o “maat”. Esse conceito também se direcionava para a ideia de
divindade, nesse sentido, o “maat” representaria um ideal de harmonia
cósmica e ordem social. Hotep foi um dos sábios que ajudaram a compreender e
ensinar essa doutrina. Seus ensinamentos sistematizaram ideias e pensamentos da
sabedoria egípcia. Sua filosofia moral compreendia conselhos que se
direcionavam para diversos segmentos sobre: estética, questões jurídicas, e
instruções morais. As bases da sua filosofia se ancoravam na ideia moral
do “dever-ser”.
Pontuava princípios básicos de convivência e comportamento como o
silêncio, a bondade, a humildade, a generosidade, a lealdade, a justiça e a
verdade. Advertia que, ao se evitar as contendas fúteis, isso não deveria ser
considerada covardia ou fraqueza, mas sim, a busca pela paz de
espírito. Esclarecia a respeito da questão do livre arbítrio, dizendo que
Deus era o senhor dos acontecimentos, por isso, a providência divina delimitava
a liberdade do homem. Sua filosofia tinha um viés humanista, relacionado
ao senso de solidariedade humana, que era idealizada pela ideia de justiça, não
transcendendo para uma visão propriamente teológica ou religiosa, pois o homem
deveria fazer o bem com a finalidade de alcançar a virtude. Ptah-Hotep dizia que teria
dedicado sua longa vida em busca da sabedoria plena, mas que sabia que ela
nunca poderia ser completamente alcançada, pois o conhecimento humano jamais
chegaria por completo ao conceito de perfeição.
Filosofia Sapiencial
+ “É sua alma que guia sua mão”.
+ “Não dê ordens além do que for necessário”
+ “O que destrói uma visão é o véu sobre ela”.
+ "Não repita um boato calunioso, não o
ouça."
+ “Não te exaltes para não seres humilhados”.
+ "Só fale quando tiver algo que vale a
pena dizer."
+ “Seja teu coração transbordante; mas refreia tua boca”.
+ “O teu silêncio é mais útil do que a abundância de palavras”.
+ “Se queres ser um homem perfeito, aperfeiçoa o teu coração”.
+ “O vício deve ser tirado, para que a virtude possa permanecer”.
+ “O silêncio é mais proveitoso para ti do que a abundância da fala”.
+ “Não diminua o tempo de seguir o coração; é
abominado pela alma”
+ “A sabedoria de saber ouvir é o caminho
para aprender a conhecer”.
+ “Não há limite para o exercício da arte e nenhuma técnica é perfeita”.
+ "Toda conduta deve ser tão reta que
poderá medi-la com um prumo."
+ “Serve a moral de teu coração, mas segues a ética de tua consciência”.
+ “Se você for um líder, seja gracioso ao ouvir o discurso de um
suplicante”.
+ “O arqueiro acerta a marca, enquanto o boi reage a terra, pela
diversidade de objetivos”.
+ “Não te envaideças do teu conhecimento. Fala com o ignorante como se
este fosse sábio”.
+ “Não desperdices tempo em cuidados do dia a dia para além do
necessário para a tua casa”.
+ "Se aquele que ouve escuta plenamente, então aquele que ouve se
torna aquele que entende."
+ “Não repita o discurso extravagante, nem o escute, pois é a expressão
de um corpo aquecido pela ira”.
+ “Fala sobre como ser um líder gracioso e certificando-se de que sua
própria conduta seja sem defeito”.
+ “Deixa o teu coração sofrer, mas domina a tua palavra. O segredo mais
íntimo revela-se no silêncio”.
+ "Ame a sua esposa que está em seus braços, não seja duro, pois a
gentileza a domina mais do que a força."
+ “Cuidado para não fazer inimizade com tuas palavras, colocando um
nobre contra o outro, pervertendo a verdade”.
+ "Portanto, não coloques toda a confiança em teu coração na
acumulação de riquezas, pois tudo que tens é um dom de Deus."
+ "Se queres ser forte, sê um artesão na
fala, pois a força do homem está na língua e a fala do homem é mais forte que a
luta."
+ “Uma palavra perfeita está mais escondida do que uma pedra verde; no
entanto, encontramos perto dos servos que trabalham na mó”.
+ “O homem sábio levanta-se pela manhã, com o espírito preparado e
pronto para aprender; mas o néscio se levanta pronto para se distrair”.
+ “Se você for um líder, como alguém que dirige a conduta da multidão,
procure sempre ser gracioso, que a sua própria conduta seja sem defeitos”.
+ “Se você for poderoso, atue de modo a ser respeitado em função do seu
conhecimento, sua experiência e a serenidade da sua linguagem”.
+ “Se encontrares um orador que te seja inferior, deixa-o só e ele se
negará a si mesmo. Não lhe faças perguntas para te divertires,
ridicularizando-o, pois é censurável humilhar um pobre de espírito”.
+ "Não seja vaidoso o seu coração por causa do que você sabe;
aconselhe-se tanto com os ignorantes quanto com os eruditos; pois não cumpre os
limites da arte, e não há artesão que tenha adquirido a perfeição”.
+ “Se você encontrar um argumentador falando, um que seja bem-disposto e
mais sábio que você, deixe cair seus braços, curve suas costas, não se zangue
com ele se ele não concordar com você. Abstenha-se de falar mal; não se oponha
a ele em momento algum quando ele falar. Se ele se dirigir a ti como um
ignorante, tua humildade levará consigo suas contendas”.
+ “Como são difíceis e dolorosos os últimos dias de um velho! Fica mais
fraco a cada dia, os olhos quase não veem, os ouvidos ficam surdos; a força
desfalece; o coração não conhece mais a paz; a boca silencia e não diz palavra.
O poder da mente diminui e hoje não pode lembrar como foi ontem. Todos os ossos
doem. Coisas que até pouco tempo eram feitas com prazer são dolorosas agora; e
o paladar desaparece. A velhice é a pior desgraça que pode afligir o homem.”
+ “Quanto ao ignorante que não ouve, nenhuma coisa será feita para ele.
Ele vê o conhecimento na ignorância, O que é útil no que é pernicioso, Ele faz
tudo o que é detestável, pelo que se tem razão para se estar irritado com ele
diariamente. Ele vive do que se morre, um discurso distorcido é o seu alimento.
É essa a característica que os funcionários reconheceram que é: um morto vivo
todos os dias. As pessoas manterão a distância das suas ações nefastas, por
causa dos muitos azares que se abateram sobre ele todos os dias”.
Fatos e Curiosidades
Relata-se que, certo dia, quando o vizir “Ptah-Hotep” teria pedido
permissão ao rei “Didkara Arsa” para instruir seu filho, a fim de que este
pudesse ocupar seu lugar, o soberano teria lhe respondido a seguinte frase:
“Que isto seja feito, para que o pecado seja banido do meio das pessoas de
entendimento, para que ilumine as terras. Primeiramente, ensine-o a falar, e
ensina-lhe a palavra da tradição, para que assim ele sirva de modelo para os
filhos dos adultos”.
Fontes:
ARAÚJO, Ernesto. Escritos para a Eternidade: A Literatura no Egito
Faraônico. Brasília: UNB, 2000.
BAINES, John. Sociedade, Moralidade e Prática Religiosa. Londres:
Cornell University Press, 1991.
BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque:
Brentano's, 1923.
CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa:
Europa-América, 1994.
DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History,
1935.
JACQ, Christian. As Máximas de Ptah-Hotep: o ensinamento de um
sábio na época das pirâmides. Londres: Constable &
Robinson, 2006.
GIKOVATE, Flávio. Vício dos Vícios: Um estudo sobre a vaidade
humana. 3ª. ed. São Paulo: MG Editores, 1987.
GRIMAL, Nicolas. A History of Ancient Egypt. Hoboken:
Wiley-Blackwell, 1994.
GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a Instrução de
Kagemni: Os livros mais antigos do mundo. Londres: A Sabedoria do
Oriente, 2009.
PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para kagemni. Textos
de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.
QUIRKE, Stephen. Literatura Egípcia. Londres: GHP, 2004.
SILVA, André de Campos. O problema do livre arbítrio e da
intervenção divina na instrução de Ptah-Hotep. Revista de História
Antiga. Lisboa: Impactum, 2022.
VILELA, Jarbas. Literatura: o que pensavam, o que diziam e o que
faziam os egípcios. Site: blog Egiptologia. Internet: Publicado em
2015. Acesso em 2022.
VIORST, Judith. Perdas Necessárias. São Paulo:
Melhoramentos, 1988.
Nenhum comentário:
Postar um comentário