sexta-feira, 17 de junho de 2022

Ptáhhotep do Egito

Ptáhhotep do Egito - (2500 a 2350) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Ptáh-Hotep ou Ptaotepe foi um filósofo moralista da antiguidade egípcia. Figura entre os mais antigos sábios egípcios da humanidade, também está inserido entre os primeiros filósofos do mundo aos quais eram denominados de filósofos primitivos. Seu nome teria o significado próximo ao conceito de “o amado de Deus”. Escreveu sua obra em formato de literatura, poesia e “sebayt”. Os “sebayts” eram manuais de instruções faraônicas. Ptáh tinha um título de vizir, que era uma espécie de primeiro ministro. Esse cargo estava vinculado a função de dirigente da corte, nesse sentido, o faraó nomeava membros da família ou pessoas de confiança para exercer o papel de administrador. Dessa forma, ele foi o administrador do Egito durante a quinta dinastia do império egípcio, no governo do Faraó “Djedkaré Isesi” que também era conhecido pelo codinome de “Tanquerés”. Ptáh também teria ocupado vários outros cargos de supervisão no governo faraônico. Seu florescimento se deu no período da história compreendido como bronze antigo, ou seja, entre o final do século (XXV e início do século XXIV) a.C. Especula-se que tenha vivido aproximadamente entre os anos de (2500 a 2350) a.C e que tenha falecido muito velho com mais de 100 anos de idade. Seu túmulo está localizado em um sítio arqueológico do Egito conhecido como “Saqqara”.

Filosofia Literária

Escreveu uma obra em formato aforístico conhecida como “As Máximas de Ptah-Hotep”, enquadrada como literatura da sabedoria. Nessa obra, ele descrevia a respeito de regras do comportamento ético e moral. A obra teria sido escrita com o objetivo de aconselhar o povo egípcio e orientá-los sobre instruções sociais. Ela foi considerada por muito tempo como sendo “o primeiro livro da história humana”. As máximas eram conselhos repetidos pela cultura popular egípcia que foram reunidos em um manual cuja autoria foi atribuída a Hotep. Suas ideias também advertiam sobre os conceitos relacionados ao autocontrole e o autoconhecimento. Explicava sobre a importância de aprender sabendo ouvir a todos. Nesse contexto, ele transcorre seus ensinamentos propondo aos indivíduos que saiam de um estágio de irreflexão para o estado de domínio das paixões, isto é, mantenham o controle de si. Desse modo, ele dizia que: “deve-se instruir os ignorantes no conhecimento da exatidão da linguagem justa; para a glória daquele que a obedece, e a vergonha daquele que a transgrida”. A obra teria sido escrita em papiros no formato hierático. Existem cópias preservadas dessa obra que foram retiradas do famoso “Papiro Prisse”.

Filosofia Moral

Os egípcios da era pré-dinástica desenvolveram um conceito de pensamento chamado de “maat” que significava a ideia de “verdade” e “justiça” ou o que também moralmente se compreendia como “certo”. Por isso, alguns textos da antiguidade egípcia se iniciavam com a seguinte frase: “grande é a lei” (maat). Ele conceituava importantes dicas de como viver bem de acordo com o “maat”. Esse conceito também se direcionava para a ideia de divindade, nesse sentido, “maat” representaria um ideal de harmonia cósmica e ordem social. Hotep foi um dos sábios que ajudaram a compreender e ensinar essa doutrina. Seus ensinamentos sistematizaram ideias e pensamentos da sabedoria egípcia. Sua filosofia moral compreendia conselhos que se direcionavam para diversos segmentos sobre: estética, questões jurídicas, e instruções morais. As bases da sua filosofia se ancoravam na ideia moral do “dever-ser”.

Pontuava princípios básicos de convivência e comportamento como o silêncio, a bondade, a humildade, a generosidade, a justiça e a verdade. Advertia que ao se evitar as contendas fúteis, isso não deveria ser considerada covardia ou fraqueza, mas sim a busca pela paz de espírito. Esclarecia a respeito da questão do livre arbítrio, dizendo que Deus era o senhor dos acontecimentos, por isso, a providência divina delimitava a liberdade do homem. Ptah-Hotep dizia que teria dedicado sua longa vida em busca da sabedoria plena, mas que sabia que ela nunca poderia ser completamente alcançada, pois o conhecimento humano jamais chegaria por completo ao conceito de perfeição.

Anedota

Relata-se que certo dia quando o vizir “Ptah-Hotep” teria pedido permissão ao rei “Didkara Arsa” para instruir seu filho, a fim de que este pudesse ocupar seu lugar, o soberano teria lhe respondido a seguinte frase: “Que isto seja feito, para que o pecado seja banido do meio das pessoas de entendimento, para que ilumine as terras. Primeiramente, ensine-o a falar, e ensina-lhe a palavra da tradição, para que assim ele sirva de modelo para os filhos dos adultos”.

Filosofia Sapiencial

- “É sua alma que guia sua mão”.

- “Não te exaltes para não seres humilhados”.

- "Só fale quando tiver algo que vale a pena dizer."

- “Não dê ordens além do que for necessário.”

- "Não repita um boato calunioso, não o ouça."

- “O que destrói uma visão é o véu sobre ela”.

- “Seja teu coração transbordante; mas refreia tua boca”.

- “Se queres ser um homem perfeito, aperfeiçoa o teu coração”.

- “O teu silêncio é mais útil do que a abundância de palavras”.

- “O vício deve ser tirado, para que a virtude possa permanecer”.

- “A sabedoria de saber ouvir é o caminho para aprender a conhecer”.

- “Serve a moral de teu coração, mas segues a ética de tua consciência”.

- “Não há limite para o exercício da arte e nenhuma técnica é perfeita”.

- “Não diminua o tempo de seguir o coração; é abominado pela alma.''

- "Toda conduta deve ser tão reta que poderá medi-la com um prumo."

- “O silêncio é mais proveitoso para ti do que a abundância da fala”.

- “Se você for um líder, seja gracioso ao ouvir o discurso de um suplicante”.

- “O arqueiro acerta a marca, enquanto o boi reage a terra, pela diversidade de objetivos”.

- “Não repita o discurso extravagante, nem o escute, pois é a expressão de um corpo aquecido pela ira”.

- “Não desperdices tempo em cuidados do dia a dia para além do necessário para a tua casa”.

- "Se aquele que ouve escuta plenamente, então aquele que ouve se torna aquele que entende."

- “Não te envaideças do teu conhecimento. Fala com o ignorante como se este fosse sábio”.

- “Cuidado para não fazer inimizade com tuas palavras, colocando um nobre contra o outro, pervertendo a verdade”.

- “Se você for um líder, como alguém que dirige a conduta da multidão, procure sempre ser gracioso, que a sua própria conduta seja sem defeitos”.

- “Uma palavra perfeita está mais escondida do que uma pedra verde; no entanto, encontramos perto dos servos que trabalham na mó”.

- “O homem sábio levanta-se pela manhã, com o espírito preparado e pronto para aprender; mas o néscio se levanta pronto para se distrair”.

- “Deixa o teu coração sofrer, mas domina a tua palavra. O segredo mais íntimo revela-se no silêncio”.

- “Fala sobre como ser um líder gracioso e certificando-se de que sua própria conduta seja sem defeito”.

- "Portanto, não coloques toda a confiança em teu coração na acumulação de riquezas, pois tudo que tens é um dom de Deus."

- "Ame a sua esposa que está em seus braços, Não seja duro, pois a gentileza a domina mais do que a força."

- “Se você for poderoso, atue de modo a ser respeitado em função do seu conhecimento, sua experiência e a serenidade da sua linguagem”.

- “Se encontrares um orador que te seja inferior, deixa-o só e ele se negará a si mesmo. Não lhe faças perguntas para te divertires, ridicularizando-o, pois é censurável humilhar um pobre de espírito”.

- "Não seja vaidoso o seu coração por causa do que você sabe; aconselhe-se tanto com os ignorantes quanto com os eruditos; pois não cumpre os limites da arte, e não há artesão que tenha adquirido a perfeição”.

- “Se você encontrar um argumentador falando, um que seja bem disposto e mais sábio que você, deixe cair seus braços, curve suas costas, não se zangue com ele se ele não concordar com você. Abstenha-se de falar mal; não se oponha a ele em momento algum quando ele falar. Se ele se dirigir a ti como um ignorante, tua humildade levará consigo suas contendas”.

- “Como são difíceis e dolorosos os últimos dias de um velho! Fica mais fraco a cada dia, os olhos quase não veem, os ouvidos ficam surdos; a força desfalece; o coração não conhece mais a paz; a boca silencia e não diz palavra. O poder da mente diminui e hoje não pode lembrar como foi ontem. Todos os ossos doem. Coisas que até pouco tempo eram feitas com prazer são dolorosas agora; e o paladar desaparece. A velhice é a pior desgraça que pode afligir o homem.”

- “Quanto ao ignorante que não ouve, Nenhuma coisa será feita para ele. Ele vê o conhecimento na ignorância, O que é útil no que é pernicioso, Ele faz tudo o que é detestável, Pelo que se tem razão para se estar irritado com ele diariamente. Ele vive do que se morre, Um discurso distorcido é o seu alimento. É essa a característica que os funcionários reconheceram Que é: um morto vivo todos os dias. As pessoas manterão a distância das suas ações nefastas, por causa dos muitos azares que se abateram sobre ele todos os dias”.

 

Fontes:

BAINES, John. Sociedade, Moralidade e Prática Religiosa Londres: Cornell University Press, 1991.

BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque: Brentano's, 1923.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Europa-América, 1994.

DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History, 1935.

JACQ, Christian. As Máximas de Ptah-Hotep: o ensinamento de um sábio na época das pirâmides. Londres: Constable & Robinson, 2006.

GIKOVATE, Flávio. Vício dos Vícios: Um estudo sobre a vaidade humana. 3ª. ed. São Paulo: MG Editores, 1987.

GRIMAL, Nicolas. A History of Ancient Egypt. Hoboken: Wiley-Blackwell, 1994.

GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a Instrução de Kagemni: Os livros mais antigos do mundo. Londres: A Sabedoria do Oriente, 2009.

PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para kagemni. Textos de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.

SILVA, André de Campos. O problema do livre arbítrio e da intervenção divina na instrução de Ptah-Hotep. Revista de História Antiga. Lisboa: Impactum, 2022.

VILELA, Jarbas. Literatura: o que pensavam, o que diziam e o que faziam os egípcios. Site: blog Egiptologia. Internet: Publicado em 2015. Acesso em 2022.

VIORST, Judith. Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 1988.

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