segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Clemente de Roma

Clemente de Roma – (35 a 102) d.C 

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo teologista que viveu no período de transição da filosofia helenística para a filosofia medieval. Figura na lista dos chamados “Padres Apostólicos”. Conviveu com alguns apóstolos e recebeu deles certos ensinamentos doutrinários. Foi batizado e ordenado bispo pelo apóstolo Pedro. Teria sido provavelmente o quarto Papa da Igreja Católica. Considerado como sendo um dos primeiros pais da igreja, ele ficou conhecido nas esferas episcopais como “São Clemente Romano”. Escreveu sua obra em formato de cartas, tendo sido a principal intitulada de “Epístola aos Coríntios”. Foi discípulo do apóstolo Paulo, tendo inclusive sido citado por ele na carta aos Filipenses. Acredita-se que era filho de um senador romano conhecido por Faustino. Seu nome Clemente vem do latim “cleos”, que reflete “glória”, e “mens”, que significa “espírito”, isto é, espírito glorioso ou bondoso. Sofreu com a segunda onda de perseguição contra os cristãos, tendo sido exilado na cidade de Crimeia. Depois de um tempo no exílio, foi obrigado a prestar culto aos deuses romanos, após se recusar, foi condenado à morte por afogamento, sendo seu corpo jogado no mar negro com uma pesada âncora de ferro preso ao corpo. Nasceu em Roma no ano de 35 d.C e veio a falecer por volta de 102 d.C. Seu corpo foi sepultado na cidade de Collelungo.

Filosofia Teológica

Embasou-se na literatura bíblica para consolidar seus ensinamentos, pois o princípio de seus pensamentos estava fundamentado na cultura clássica e na sabedoria salomônica. Elaborou alguns dos primeiros documentos da igreja católica, tendo fomentado a utilização da palavra “amém” nas cerimônias religiosas da igreja. Também fundamentou o uso da “crisma” como ritual de sacramento. Cultuava a harmonia e a fraternidade entre os membros da igreja para evitar possíveis divisões internas entre os integrantes. Estabeleceu alguns conceitos a respeito da hierarquia eclesiástica para a manutenção do respeito e das tradições cristãs. Pregava o amor e a união entre os congregados, fazendo da sua vida um exemplo de fé, com isso, conquistava mentes e corações. Produziu os primeiros conceitos associados com a chamada “paideia cristã” em que relacionava elementos de educação grega com os princípios da educação católica. Desse modo, ele unificou a doutrina em seu aspecto teórico com as práticas que já eram ensinadas.

Filosofia Eclesiológica

Estabeleceu os objetivos e a missão da igreja, colaborando com a formação da identidade católica. Pontuava que a humildade seria uma virtude que caracterizava o verdadeiro cristão. Explicava que a igreja era um corpo único em que não poderia haver nenhuma separação entre os membros, dessa forma, dizia que: “todos os membros são membros uns dos outros". Nesse sentido, a hierarquia da igreja representava apenas uma ligação entre os membros, pois a igreja seria o corpo e os membros simbolizavam as partes que eram divididas em funções a serem realizadas. Clemente ensinava que existia uma teia de ligação entre o corpo da igreja e a ordenação divina. Desse modo, Deus teria enviado Cristo para realizar sua missão na Terra, e Cristo teria ordenado os apóstolos para continuarem suas partes dessa missão, consequentemente, os apóstolos ordenaram seus discípulos e estes escolheram líderes nas comunidades eclesiásticas que também escolhem outros homens dignos que continuaram sistematicamente a missão. Portanto, a igreja seria um organismo que faria parte de uma grande estrutura sacramental. Para São Clemente Romano, a ordem cósmica, seria a expressão da vontade divina, era o modelo de organização e de harmonia universal que deveria ser seguido na vida em sociedade. Dessa maneira, a igreja católica representava uma ideia de fraternidade universal. Por isso, era necessário criar uma firme organização disciplinar.

Obras:

- Epístola de Clemente aos Coríntios

- Reconhecimentos

- Epístolas a Virgínia

Filosofia Sapiencial

- “Tudo se realiza ordenadamente pela vontade de Deus"

- “A igreja é o único Espírito de graça derramado sobre nós"

- "Somos uma porção santa, realizemos, portanto tudo o que a santidade exige".

- “Pelo amor, todos os eleitos de Deus foram aperfeiçoados; sem amor, nada é agradável a Deus”.

- “Em amor o Senhor deu a si mesmo por nós. Por conta do amor que ele nos deu à luz, Jesus Cristo nosso Senhor deu seu sangue por nós pela vontade de Deus; Sua carne por nossa carne; Sua alma por nossas almas”.

- “Vamos olhar fixamente para o sangue de Cristo, e ver como que o sangue é precioso para Deus, sangue que foi derramado para nossa salvação, e estabeleceu a graça do arrependimento diante do mundo inteiro”.

- “Por causa da hospitalidade e piedade, Ló salvou-se de Sodoma, quando a terra em redor foi castigada com fogo e enxofre. Desta forma, Deus deixou claro que não abandona aqueles que esperam nele, mas que entrega os ímpios ao castigo e ao suplício.”

- “Senhor! faz resplandecer sobre nós a tua face no bem da paz; protege-nos com a tua mão poderosa... Nós te damos graças, através do sumo Sacerdote e guia das nossas almas, Jesus Cristo, por meio do qual te glorificamos e louvamos, agora, e de geração em geração, e por todos os séculos. Amém".

- “Todos estes o grande Criador e Senhor de todas nomeou a existir em paz e harmonia, enquanto ele faz bem a todos, mas o mais abundante para nós, que fugiram para o refúgio para as suas misericórdias, através de Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem seja glória e majestade para sempre e sempre. Amém”.

Fontes:

BENTO, Papa XVI. Audiência Geral: São Clemente Romano. Vaticano: Copyright. Libreria Editrice Vaticana, 2007.

CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000.

CONTI, Servilio. O santo do Dia. Petrópolis: Vozes, 1984.

DROBNER, Hubertus. Manual de Patrologia. Petrópolis: Vozes, 2003.

GEISLER, Norman. Eu não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida Livros, 2006.

IBS. Clemente de Roma. Site: Instituto Bíblico Sapiranguense. Sapiranga: IBS, Acesso 2022.

IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Paulus, 2021.

JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a paideia grega. México: FCE, 1998.

MELO, José Joaquim Pereira. São Clemente Romano e sua carta aos coríntios: Aspectos da Educação Cristã. Revista Brasileira de História das Religiões. Porto Alegre: ANPUH, 2012.

ORÍGENES. Contra Celso. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 2011.

ROMANO, Clemente. Cartas aos Coríntios. San Juan: Biblioteca Patrística., acesso 2022.

Hermes Trismegisto

Hermes Trismegisto – (2500 a 1500) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo alquimista da antiguidade egípcia que era tido como o fundador do sistema de pensamento denominado de hermetismo. Teve grande destaque na chamada filosofia ocultista. Considerado por muitos pensadores como o sábio mais antigo do Egito, ele teria desenvolvido um conjunto de teorias metafísicas. Possuidor de um vasto saber em diversas áreas, suas obras tratavam de temas relacionados ao Direito, Teologia, Medicina, Filosofia, Cosmologia, Psicologia, Magia, Engenharia e Arquitetura. Nesse contexto, ele desenvolveu atividades como legislador, médico, filósofo e místico. Escreveu duas obras famosas conhecidas como “A Tábua de Esmeralda” e o “Corpus Hermeticum” que são consideradas as bases da alquimia antiga. Por isso, ficou afamado como “O Alquimista”, bem como também, o pai da Alquimia. Acredita-se que ele tenha escrito sua obra com uma ponta de diamante em lâminas de esmeralda. Suas ideias influenciaram muito os antigos filósofos gregos. Fontes relatam que ele desenvolveu alguns sistemas de escrita antiga, calendários e relógios solares. Além disso, também elaborou sistemas de pesos e medidas. Segundo os historiadores, Hermes teria vivido provavelmente em uma localidade conhecida pelo nome de Hermópolis, porém outros pensadores apontam para a região de Ninus. Não é possível determinar com exatidão a data de seu florescimento, dessa forma, a maioria dos pesquisadores especulam que tenha sido entre os anos de (2500 a 1500) a.C.

Filosofia Mítica

O nome “Hermes Trismegisto” era traduzido como sendo a junção de “Hermes” (semideus grego) que na mitologia egípcia era conhecido como sendo outro semideus chamado de Toth, com o codinome Trismegisto que seria aquele que era três vezes grande, pois dominava os chamados três graus do conhecimento, que era também conhecido como as três partes da filosofia universal. Essas partes eram divididas em planos denominados: plano físico, plano astral e o plano espiritual. Possuía os domínios místicos da magia, do verbo (escrita) e da sabedoria. Essa deidade simbolizava a lógica organizada do universo, tendo como principal missão levar mensagens divinas aos homens. Ele seria a personificação de princípios esotéricos nos períodos da história antiga. Ficou conhecido como “o grande sol central do ocultismo”. Segundo as lendas antigas, Hermes era capaz de extrair o espírito das plantas e produzir metais a partir da terra. Os iniciados em seus conhecimentos passavam por etapas de aprendizagem chamadas de “níveis” que eram divididas em: aprendiz, companheiro e mestre, ou também “montanhas” descritas como iniciação, ressurreição e ascensão.

Filosofia simbolista

Segundo alguns pesquisadores, em um dado momento da história, houve um sincretismo cultural e mítico que relacionou as culturas egípcias e gregas. Nesse sentido, na simbologia egípcia, Hermes aparece representado por uma cabeça de pássaro com um bico fino, um cajado na mão direita e uma cruz ansata na mão esquerda. De acordo com os pensadores ocultistas, o bico fino significava a inteligência e perspicácia de saber escolher e discernir sobre o que é certo. O cajado seria a revelação da luz em meio à escuridão. E a cruz ansata era a representação da vida eterna simbolizada como chave para a compreensão dos mistérios da vida. Já os gregos personificaram Hermes por um corpo de homem com asas no seu capacete e asas nos pés, segurando na mão direita um caduceu. O capacete voador representava a comunicação, os pés voadores simbolizavam a velocidade e o caduceu significava a união entre o corpo, à mente e o espírito. Hermes descrevia conceitos relacionados à filosofia simbolista em que pontuava símbolos para descrever e legitimar seus conhecimentos. Nesse sentido, ele explicava que a distribuição simbólica, masculino e feminino era definida do seguinte modo: Masculino; O Sol, o ouro, o fogo, o ar, o rei e o espírito de enxofre. Feminino; a luz, a prata, a água, a rainha e o espírito de Mercúrio. Esses símbolos serviam como chaves para a compreensão de partes dos seus ensinamentos.

Filosofia Hermética

A filosofia Hermética era tida a como um saber reservado que necessitava de um esforço contínuo para obtenção de sua compreensão. Seu sistema de pensamento procurava explicar o funcionamento do universo. Alguns pensadores descrevem Hermes como sendo uma espécie de profeta. Sua doutrina era fundamentada nos conhecimentos cosmogônicos aplicados às áreas da alquimia, astrologia e a teurgia. As temáticas de seus pensamentos ajudavam os homens na busca da autorrealização e do autoconhecimento. A ideia de alquimia seria uma metáfora que afirmava transformar “chumbo em ouro” como meio simbólico de ensinar ao aprendiz que ele deveria transformar o chumbo de sua ignorância no ouro da sabedoria. Esse processo se daria através da purificação do intelecto que levaria o homem a compreender sua alma, o universo e deus.

Escreveu um tratado sapiencial chamado de “Corpus Hermeticum” que descreve ensinamentos sobre artes, ciências, religião e filosofia. Essa obra era um conjunto formado por 42 livros que relatavam diversos temas de estudos. A obra foi dividida em seis partes fundamentais descritas a seguir: Educação dos sacerdotes egípcios; Rituais do Templo; Geografia e Botânica; Astronomia e Astrologia relacionada com a Matemática; Hinos, Cânticos e estudos políticos; e Fundamentos da Medicina. Ao longo da história, seus compilados de estudos influenciaram diversas sociedades secretas, esotéricas e ocultistas. Além disso, também teria influenciado consideravelmente alguns pensadores árabes e indianos do período medieval. Descreveu sete leis fundamentais que governam a natureza, chamados de princípios, esses princípios seriam: mentalismo, correspondência, vibração, polaridade, ritmo, causa-efeito e gênero. O domínio dessas leis do conhecimento daria ao homem o poder de criação e transmutação dos elementos cósmicos.

Obras:

- A Tábua de Esmeralda

- Corpus Hermeticum

- O Livro de Toth

- “O Poimandres”

- O Livro dos Mortos

Filosofia Sapiencial

- “Pois o que é, sempre será”

- “O todo é mente, o universo é mental”.

- "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra."

- “Deus é o Pai, o Verbo é o Filho, e sua união é a Vida”

- “O homem nada sabe, mas é chamado a tudo Conhecer.”

- “Já não vejo com os olhos do corpo, senão com os do Espírito”

- “Os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento.”

- “O que está embaixo é como o que está no alto e o que está no alto é como o que está embaixo”.

- "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação."

- "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei."

- "O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero manifesta-se em todos os planos da criação."

- "Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliáveis."

- "Procura, oh alma, obter conhecimento a respeito de todas as coisas. E não acredites, que nenhuma delas esteja fora de ti. Não, todas as coisas que deve buscar estão dentro de ti, ao teu alcance. Acautela-te pois, em buscar fora o que se encontra dentro."

- “É verdade, sem mentira, certo e veríssimo: o que está abaixo é como o que está acima e o que está acima é como o que está abaixo; para fazer os milagres de uma só coisa, e do mesmo modo que todas as coisas têm sido e têm vindo de um pela mediação de um, assim todas as coisas são nascidas desta coisa única por adaptação. O Sol é o seu pai, a Lua é a sua mãe, o vento o terá levado em seu sonho, a terra é a sua nutriz; o pai de tudo, o Thelesma de todo o mundo, está aqui; sua força e potência serão completas se forem convertidas em terra. Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, suavemente e com grande habilidade; subirá da terra ao céu e de novo descerá à terra, deste modo recebe a força das coisas superiores e das inferiores. Por este meio terás a glória de todo o mundo e toda a obscuridade se afastará de ti. É a força forte de toda a força, pois vencerá toda a coisa sutil e penetrará toda a coisa sólida. Assim foi criado o mundo. Disto se fará e surgirão admiráveis adaptações cujo meio está aqui. Por isso sou chamado Hermes Trismegisto, porque possuo as três partes da sabedoria de todo o mundo. O que disse da Operação do Sol está cumprido e acabado”. 

Fontes:

ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

ATKINSON, Willian Walker. O Caibalion: Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da Grécia.  São Paulo: Pensamento, 1978.

BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da Mitologia: Histórias de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Pocketouro, 2009.

FACURI, Cintia Prates. De Thot a Hermes Trimegisto: O Egito Antigo e o Hermetismo Árabe. Site: Espaço Astrológico. Internet, acesso 2022.

GALVÃO, Lúcia Helena. Para entender o Caibalion: A vivência da filosofia hermética e sua prática nos dias de hoje. São Paulo: Pensamento, 2021.

GIOVANNI, Reale; DÁRIO, Antiseri. Filosofia: Idade Moderna. São Paulo, Paulus, 2018. 

HERMES TRISMEGISTO. Corpus Hermeticum. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2007.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. Petrópolis: Vozes, 1994.

LEUENBERGER, Hans Dieter. História do esoterismo mundial. São Paulo: Pensamento, 2015.

LÉVI, Éliphas. A Chave dos Grandes Mistérios: Segundo Enoque, Abraão, Hermes Trismegisto e Salomão. São Paulo: Pensamento, 2018.

RIJCKENBORGH, Jan Van. A gnose original egípcia. São Paulo: Rosacruz, 2006.