segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Sócrates de Atenas

Sócrates de Atenas - (470 a 399) a.C 

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega pertencente ao período clássico. Seu sistema de pensamento era chamado de filosofia socrática. A tradição filosófica o coloca, em seu tempo, como sendo um divisor do marco histórico da filosofia. Figurou na chamada fase antropológica da filosofia antiga, dessa forma, era tido juntamente com Platão e Aristóteles como sendo os principais representantes dessa fase. A filosofia socrática passou a ocupar-se por questões humanas ligadas a ética na vida pública. Desse modo, Sócrates formulou questionamentos morais sobre: O que é a verdade? O que é o bem? O que é a justiça? Nesse sentido, seu sistema de pensamento se direcionava para um olhar filosófico em relação ao interior do ser humano. Sócrates não deixou nada escrito, tendo seus conhecimentos sido divulgados por seus discípulos, principalmente por Platão e Xenofonte. Laborou como artesão, político, militar e filósofo. Chegou a lutar na guerra do Peloponeso. O nome Sócrates no grego antigo significava: “poder intacto”. Ele teria recebido pelos seus concidadãos o codinome de: “a mosca de Atenas”, por conta de suas fortes críticas políticas e argumentações aos sofistas. Nasceu na cidade de Atenas por volta de 470 a.C e faleceu na mesma cidade em 399 a.C aos 71 anos de idade, vitimado por envenenamento.

Filosofia Socrática

Seu pai era um escultor e sua mãe era uma parteira. Nesse contexto, inspirado no trabalho de sua mãe e de seu pai, Sócrates desenvolveu um método chamado de “maiêutica” em que descreve a ideia de que o homem deveria parir o conhecimento dentro de si, ou seja, dar a luz ao saber. O método se inicia com a “refutação”, posto que, ele inicia um diálogo conduzindo o interlocutor a perceber sua própria ignorância. A partir daí, Sócrates dá início a fase da “dialética socrática”, uma vez que, ele encaminha o interlocutor a citar exemplos a respeito do debate. Após a segunda fase, Sócrates tenta mostrar os pontos comuns que existem nos exemplos citados, a fim de levar o ouvinte a se libertar da ignorância e encontrar a verdade dentro de si mesmo. Ele dividia o problema discutido em questões menores, levando o interlocutor a observar o problema por outros prismas, diversificando as várias possibilidades e propondo indiretamente as soluções. Nessa perspectiva, o homem deveria se libertar de falsas crenças e preconceitos, encaminhando-se para a virtude do saber. Ele teria que lapidar os mármores da sua ignorância, para com isso, esculpir novos outros saberes. Sendo assim, o aprendiz, passaria, então, a construir argumentos mais sólidos, isto é, conhecimentos com mais substância e propriedade, tornando-se um indivíduo mais autêntico, ou seja, aquilo que o poeta Píndaro ensinava dizendo: “homem, torna-te quem tu és”.

Filosofia do Conhecimento

Ficou afamado na filosofia pela célebre frase: “só sei que nada sei” em que dissertava que o reconhecimento da ignorância seria o princípio da sabedoria. Dessa maneira, Sócrates pontuava que o homem ao ter consciência de que nada sabe, passava, então, a desejar a busca pelo saber, porém quando ele acreditava que já sabia de algo, acomodava-se e ficava estagnado na busca por conhecimento. Utilizava-se da ironia como forma de mostrar aos seus opositores que seus argumentos estavam equivocados. Assim sendo, ele demonstrava primeiramente ao seu interlocutor que suas certezas possuíam fragilidades e espaços infundados. Respondia as perguntas com outras perguntas que faziam seus discípulos encontrarem as respostas que buscavam. Ele passava muitas horas refletindo e meditando sobre as grandes questões da vida. De acordo com Aristóteles, Sócrates procurou encontrar soluções universais para os problemas morais, com isso, ele teria contribuído com o desenvolvimento da teoria do conhecimento.

Filosofia da Educação

Influenciado pela conhecida frase: “conhece-te a ti mesmo”, a qual era ensinada pelos oráculos, Sócrates instruía os jovens sobre a importância do autoconhecimento. Explicava que essa busca era necessária para se chegar a uma vida plena e autêntica. Segundo Sócrates, qualquer conhecimento sobre o mundo requer primeiro, a busca por conhecer a si mesmo. Sócrates acreditava na imortalidade da alma, daí ele exemplificava que o homem seria a sua própria alma, isto é, sua consciência que era traduzida também em uma razão lógica. Essa razão era responsável por moldar a personalidade intelectual e moral do homem. Por isso, ao homem caberia cuidar menos do corpo e mais da alma. Nesse sentido, os educadores deveriam ensinar aos homens a melhor forma de cuidar da própria alma, ensinando sobre a virtude e os valores morais. Com isso, o homem passaria a se desprender dos bens materiais que era comum na época, como a busca por riquezas e por corpos estéticos, pois segundo Sócrates, o corpo seria um instrumento da alma para buscar a verdadeira sabedoria. Dizia que: "a palavra é o fio de ouro do pensamento". Desse modo, o educador deveria utilizar a palavra como principal meio de compreensão dos fenômenos da natureza e do ser humano, fazendo uma relação desses saberes, buscando ensinar a essência da natureza da alma humana.

Filosofia Política

Cícero relata que Sócrates costumava responder a quem lhe perguntava qual era a sua pátria, dizendo: “minha pátria é a terra inteira”, querendo, com isso, dar a entender que se considerava cidadão do mundo. Sócrates foi um forte crítico da democracia grega, pois achava que a “polis” grega deveria ser governada por aqueles que detinham o conhecimento, isto é, uma espécie de “aristocracia dos sábios”. O filósofo não era a favor da democracia grega da forma como era praticada em Atenas. Defendia que a república deveria ser governada por filósofos, pois acreditava que os filósofos eram os cidadãos mais capazes de compreender os problemas complexos da cidade, ele também pregava a ideia de justiça social. Segundo os historiadores, Sócrates teria despertado a ira e a inveja da classe política de seu tempo. Por consequência disso, seus questionamentos filosóficos resultaram em perseguição, culminando em sua condenação a morte, sua pena teria sido a ingestão de um veneno chamado de cicuta. Ele teria sido acusado de “não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude”. De acordo com alguns pensadores, Sócrates foi condenado à morte por se manter fiel aos próprios pensamentos. No seu discurso de defesa, ele teria rebatido as acusações e demostrado aos caluniadores as contradições que havia nas suas imputações. Mesmo assim, devido a questões pessoais e políticas, ele teria sido injustamente sentenciado à morte. Suas palavras finais foram:

“Vós também, senhores juízes, deveis bem esperar da morte e considerar particularmente esta verdade: não há, para o homem bom, mal algum, quer na vida, quer na morte, e os deuses não descuidam do seu destino. O meu não é consequência do acaso; vejo claramente que era melhor para mim, morrer agora e ficar livre de fadigas. Por isso é que a advertência nada me impediu. Não me insurjo absolutamente contra os que votaram contra mim ou me acusaram. Verdade é que não me acusaram e condenaram com esse modo de pensar, mas na suposição de que me causavam dano: nisso merecem censura. No entanto, só tenho um pedido a lhes fazer: quando meus filhos crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos tormentos que eu vos infligi, se achardes que eles estejam cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que não tenham, repreendei-os, como vos fiz eu, por não cuidarem do que devem e por suporem méritos, sem ter nenhum. Se vós assim agirdes, eu terei recebido de vós justiça; eu, e meus filhos também. Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor destino, se eu, ou se vós, é segredo para todos, exceto para a divindade”. (Sócrates).

 

Anedota

Conta-se que um grego teria ido ao templo de Apolo, na cidade de Delfos, ansioso para obter uma resposta sobre quem seria o homem mais sábio que existia em Atenas. Quando chegou ao templo, perguntou ao oráculo quem era o homem mais sábio de Atenas. O oráculo teria respondido que Sócrates seria o homem mais sábio de toda a Grécia, pois era o único grego que: “sabia que nada sabia”.  

Filosofia Sapiencial

- “Só sei que nada sei”.

- “A sabedoria começa na reflexão”.

- “Ninguém faz o mal voluntariamente”.

- "A palavra é o fio de ouro do pensamento".

- "A ociosidade é que envelhece, não o trabalho".

- “Agimos errado por ignorância, não por maldade”.

- "É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal".

- “Só é útil o conhecimento que nos torna melhores”

- "Uma vida não refletida não vale a pena ser vivida".

- “Não vivemos para comer, mas comemos para viver”.

- “O homem faz o mal, porque não sabe o que é o bem”.

- "O amor é filho de dois deuses, a carência e a astúcia".

- "O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância".

- "A verdade não está com os homens, mas entre os homens".

- “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá o universo e os deuses”.

- "Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância".

- “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”.

- “Creio que tenho prova suficiente de que falo a verdade: a pobreza”.

- “Não penses mal dos que procedem mal, pense que estão equivocados”.

- “Deve-se temer mais o amor de uma mulher do que o ódio de um homem”.

- “A admiração é o sentimento de um filósofo, e a filosofia começa pela admiração”.

- "Alcançar o sucesso pelos próprios méritos. Vitoriosos são os que assim procedem".

- “O amigo deve ser como o dinheiro, cujo valor já conhecemos antes de termos necessidade dele”.

- “Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente”.

- “A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser”.

- “Parece-me não ser justo rogar ao juiz e fazer-se absolver por meio de súplicas; é preciso esclarecê-lo e convencê-lo”.

- “Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”.

- “A verdade já está no próprio homem, mas ele não pode atingi-la, porque não só está envolto em falsas ideias, em preconceitos, como está desprovido de métodos adequados”.

- “E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos. Vós, meus amigos, ides para vossas vidas, eu para a minha morte. Qual seja o melhor desses caminhos, só Deus sabe”.

- “O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu caráter”.

- “Em cada um de nós há dois princípios que nos dirigem e governam, cuja orientação que seguimos onde quer que eles possam levar, sendo um o desejo inato pelo prazer, o outro, um julgamento adquirido que aspira a excelência”.

- “Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada.”

- “Gosto de aprender, sabes? O campo e as árvores não se prestam a ensinar-me nada, mas os homens da cidade sim. Em vez de campos e terras há ruas e casas, e em vez de flores e animais, há homens e mais homens. Já não são os mistérios da matéria ou da vida que surpreendem, mas sim os homens, esses homens que se agitam e atuam; são eles que devem ser objeto de interrogação, e eles pelo menos respondem-vos. Andam de um lado para o outro - para onde vão? -, amam-se e matam-se uns aos outros - o que os leva a isso? -, cruzam-se, encontram-se e trocam na praça pública os seus bens ou as suas ideias: que dizem eles e como é que essa agitação funciona? Não param de falar, sobretudo em Atenas, e não só do tempo, mas também dos seus projetos e dos seus desejos, da administração da sua casa ou da Cidade. De “física”, a vossa filosofia passa a “moral”, a vossa meditação solitária transforma-se em diálogo”.

- “Cidadãos! Tanto aqueles que dentre vós induzistes as testemunhas a perjurarem, levantando falso testemunho contra mim, quanto os que vos deixastes subornar, deveis, de força, sentir-vos culpados de grande impiedade e injustiça. Mas eu, por que haveria de crer-me empequenecido se nada se comprovou do que me acoimam? Jamais ofereci sacrifícios a outras divindades. Quanto aos jovens, seria corrompê-los, habituá-los à paciência e à frugalidade? Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o roubo com efração, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios acusadores não ousam dizer que os haja cometido. Surpreso, pois, pergunto a mim mesmo qual o crime por que me condenais à morte. Estou certo que tanto quanto o passado me renderá o porvir o testemunho de que nunca fiz mal a ninguém, jamais tornei ninguém mais vicioso, mas servia os que comigo privavam ensinando-lhes sem retribuição tudo o que podia de bem”.

Fontes:

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XENOFONTE. Memoráveis. Trad. Ana Elias Pinheiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, Annablume, 2009.

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