quinta-feira, 6 de abril de 2023

Policarpo de Esmirna

Policarpo de Esmirna – (69 a 155) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo teológico da igreja Cristã que viveu no período de transição da filosofia helenística para a filosofia medieval. Teria sido discípulo do apóstolo João e um grande amigo de Inácio de Antioquia. Acredita-se que tenha sido mestre do santo Irineu, bispo de Lyon. Figura na lista dos chamados “Padres Apostólicos”, os quais foram considerados os primeiros padres da igreja e discípulos diretos dos apóstolos. Após ser martirizado, ficou conhecido como “São Policarpo”. Também ficou afamado como o santo protetor dos ouvidos e das queimaduras. Seu nome era uma derivação do prefixo “poli” (muitos) com o sufixo “carpo” (frutos), desse modo, seu nome significava “muitos frutos”. Além disso, ele também teria recebido o título de "campeão da ortodoxia". Era filho de uma senhora de nome Theodora e sua família tinha grandes posses. Nasceu na cidade de Esmirna, em 69 a.C e faleceu por volta de 155 a.C, tendo vivido aproximadamente 86 anos.

Filosofia Eclesiológica

Exerceu um trabalho muito importante na história do cristianismo primitivo, tendo fortalecido a fé do chamado rebanho cristão. Dedicava-se a uma labuta diária em prol da construção da fé em Cristo, sendo um exemplo íntegro de amor e fé católica em nome da vida eterna. Era visto como um respeitado líder da igreja que possuía um vasto saber. Combateu as heresias e divulgou o Evangelho entre os pagãos. Conservou zelosamente as doutrinas ensinadas pelos apóstolos, sendo considerado um doutrinador ortodoxo. Defendia a prática festiva da páscoa como forma de celebrar a ressureição de Cristo. Serviu como um elo forte entre a igreja primitiva e o mundo helenístico, ajudando na sistematização da doutrina católica e na organização do novo testamento. Ele teria sido persuadido por autoridades influentes a negar as suas crenças, porém ele se manteve firme, como um homem forte, tendo respondido o seguinte dizer, aos seus algozes: “tu me ameaças com o fogo que queima por um curto tempo e logo se extingue. Mas nada sabes sobre o fogo eterno e a punição sem fim que aguarda os maus”. Após as várias tentativas de seus adversários de lhe fazerem negar suas crenças, os próprios inimigos passaram a admirá-lo, por conta de sua grande coragem.

Filosofia Ascética

Defendeu algumas ideias litúrgicas que se traduziam na união da igreja em nome da fé, tendo, com isso, regado seu martírio literalmente com sangue, suor e lágrimas. Chegou a desempenhar a função de bispo, atuando de maneira confiante e aguerrida contra os infortúnios de sua árdua missão. Segundo Policarpo, a fé do homem deveria ser confirmada através de ações diárias como o trabalho e a devoção em servir a Deus. Instruía a igreja a respeitar as autoridades constituídas tanto na esfera eclesiástica, bem como também, no âmbito civil. Desse modo, ele advertia o povo dizendo:

“Sigam o exemplo do Senhor, permanecendo firmes e imutáveis na fé, amando o próximo, e permanecendo unidos uns aos outros, gozando juntos da verdade, mostrando a mansidão do Senhor nas suas relações com o próximo, sem desprezar ninguém. Que o Deus, edifique-os na fé e na verdade, e em toda mansidão, gentileza, paciência, magnanimidade, tolerância e pureza. Orem por todos os santos. Orem também pelos reis, e pelas autoridades, e príncipes, e por aqueles que vos perseguem e vos odeiam, e pelos inimigos da cruz, de modo que seu fruto seja manifestado a todos, e que vocês busquem ser perfeitos, assim como foi Cristo Jesus e a ele toda a glória”. (Policarpo de Esmirna).

Descreveu algumas condutas que deveriam ser seguidas pelos casais, viúvas, diáconos, presbíteros e os jovens, pontuando os deveres e mandamentos que se traduziam em preceitos morais. Disciplinou regras sobre o senso de justiça e verdade que deveria ser cuidadosamente semeado entre os cristãos. Exortou a comunidade da igreja a buscarem serem imitadores dos “santos mártires” e também serem perseverantes em Cristo. Disseminou certos princípios que estavam ligados ao amor fraternal entre os membros.

Filosofia Sapiencial

+ “Coitado é aquele por quem o nome do Senhor é blasfemado!”

+ “Ensinai a todos a sobriedade, na qual também vós deveis viver”.

+ “Os diáconos devem ser inocentes, sendo servos de Deus e de Cristo, e não dos homens.”

+ “Quando podeis fazer o bem, não o deixeis para depois, porque a esmola liberta da morte”.

+ “Sede bendito para sempre, ó Senhor. Que o Vosso Nome adorável seja glorificado por todos os séculos”.

+ “Continuemos perseverando em nossa esperança, nas primícias da justiça, que é Jesus Cristo. Sejamos imitadores de Sua paciência”.

+ “Os presbíteros devem ser compassivos e misericordiosos com todos, trazendo de volta aqueles que saíram do caminho reto, visitando os doentes, sem desprezar a viúva, o órfão, ou o pobre”

+ “Sejamos zelosos na busca do que é bom, mantendo-nos longe das causas de ofensa, de falsos irmãos, e daqueles que hipocritamente proclamam o nome do Senhor, fazendo os homens vãos caírem no erro”

+ “Fique firme, e na sua conduta siga o exemplo do Senhor, firme e imutável em sua fé, ame seu irmão, amando a cada um e a todos, unidos na verdade e ajudando a cada um com a bondade do Senhor Jesus, não desprezando a nenhum homem”.

+ “Sigam o exemplo do Senhor, permanecendo firmes e imutáveis na fé, amando o próximo, e permanecendo unidos uns aos outros, gozando juntos da verdade, mostrando a mansidão do Senhor nas suas relações com o próximo, sem desprezar ninguém.”

+ “O princípio de todos os males é o amor ao dinheiro. Sabendo, portanto, que nada trouxemos ao mundo e que nada podemos levar dele, armemo-nos com as armas da justiça e ensinemos primeiro a nós mesmos a caminhar conforme o mandamento do Senhor”.

+ “Se um homem não se mantém longe da avareza, ele se desonra pela idolatria, e deve ser julgado como um dos pagãos. Mas quem de nós está ignorando o julgamento do Senhor? Não sabemos nós que os santos devem julgar o mundo? como Paulo ensina.”

+ “Eu os exorto, portanto, a obedecerem atenciosamente à palavra da justiça, e a exercitarem a paciência, assim como vocês têm visto diante de seus olhos, não somente no caso dos abençoados Inácio, Zózimo e Rufo, mas também no caso dos outros que estão entre vocês, no próprio Paulo, e no restante dos apóstolos.”

Curiosidades:

Após ser intercalado pelos seus algozes de que escaparia com vida se por acaso negasse a Cristo, então, o bispo de Esmirna teria respondido a eles: “Tenho seguido a Cristo por oitenta e seis anos sem que ele tenha me feito mal algum; por que eu haveria de negá-lo agora?”.

Narra-se que certo dia, caminhando pelas ruas de Roma, ele se deparou inesperadamente com um influente político e perseguidor herege, que era muito conhecido no local, cuja heresia causava, em sua época, um grande mal-estar para a igreja. Policarpo fingiu não ter visto o herege, e seguiu adiante com indiferença; este, então, sentindo-se muito ferido em seu amor-próprio, adiantou-se na frente de Policarpo, e impedindo sua passagem, o interpelou: “ - o quê! Tu não me conheces?”. Então, de pronto São Policarpo retrucou: “- Sim, conheço! Tu és o primogênito de Satanás”.

Relata-se que três dias antes de ser preso, Policarpo teve uma premonição. Ele teria caído em um sono profundo, durante seu estado de transe, teve uma visão que mostrava um travesseiro em chamas ao redor de sua cabeça. Quando acordou, disse a seus discípulos: “serei queimado vivo”. Existem várias versões sobre o dia fatídico do seu martírio, sendo a mais aceita, a que se conta que no dia em que ele foi condenado a morte, o bispo teria sido amarrado a uma fogueira, e enquanto ele cantava sobre ela, demostrando que não sentia dor, milagrosamente as chamas não o tocavam, então, veio um dos soldados romanos e lhe furou com a ponta de uma lança, após ser apunhalado, seu sangue começou a jorrar com uma intensidade que apagou as chamas da fogueira. Os guardas ficaram assustados e não conseguiram mais acender a pira de fogo. Imediatamente foi ordenado pelo encarregado que o Policarpo fosse decapitado.

Comentários de Filósofos:

- Policarpo foi educado pelos apóstolos e conviveu com muitos daqueles que viram o Senhor. (Eusébio de Cesareia).

Obras:

Epístola de Policarpo aos Filipenses.

Fontes:

BABTISTA, João. Curso de Patrologia: História da Literatura antiga da Igreja. Braga: Escola tipográfica das oficinas de São José, 1943.

BRASIL. Policarpo de Esmirna: Epístola aos Filipenses. Site: E- Cristianismo. Internet: BibleGateway, Acesso em 2023.  

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002.

FANTINI, Fernando. São Policarpo, mártir do século II, protetor dos ouvidos e das queimaduras. Site canção nova. Internet: santo do dia, 2022.

FERREIRA, Franklin. Gigantes da Fé. São Paulo: Editora Vida, 2006.

IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Paulus, 2021.

LITFIN, Bryan. Conhecendo os mártires da igreja primitiva: Uma introdução evangélica. São Paulo: Vida Nova, 2019.

POLICARPO DE ESMIRNA. Padres Apostólicos. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.

SGARBOSSA, Mário; GIOVANNINI, Luigi. Um santo para cada dia. São Paulo: Paulus, 1997.

TERTULIANO. Apologéticos e o Pálio. Col. Patrística. São Paulo: Paulus, 1995.

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