segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Stuart Mill

Stuart Mill – (1806 a 1873) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

John Stuart Mill - Foi um filósofo inglês do período contemporâneo ligado as correntes da filosofia “político-econômica”. Seguiu suas linhas de pensamento pelas correntes do liberalismo político, socialismo liberal, empirismo, humanismo e utilitarismo. Atuou como filósofo, economista, historiador, escritor e político. Possuía um espírito inquieto e eclético, o que o levou a ser um forte defensor da liberdade. Chegou a laborar na Companhia das Índias Orientais, ocupando vários cargos, durante boa parte de sua vida. Sua obra é considerada uma das que mais influenciaram o sistema político do século XIX. O romantismo inglês exerceu grande peso na consolidação de seus pensamentos. Mill teve uma formação rigorosa, nesse contexto, já demonstrava, desde pequeno, um grande talento para o mundo intelectual. Na juventude viajou para a França, onde aprimorou partes de seu conhecimento, tendo retornado logo depois para a Inglaterra, com a finalidade de concluir seus estudos. Seu pai foi um importante filósofo e economista escocês conhecido como James Mill. Além de seu pai, seu padrinho chamado Jeremy Bentham, inspirou suas ideias éticas sobre as correntes utilitaristas. Stuart nasceu na localidade de Pentonville, em Londres, no dia 20 de maio de 1806. Faleceu na cidade de Avignon, na França, no dia 8 de maio de 1873. Seu corpo se encontra sepultado, no cemitério de Saint-Véran, em Avignon.

Filosofia do Utilitarismo

Reformulou conceitos do pensamento ideológico utilitarista, construindo uma concepção humanista do utilitarismo, a partir da relação entre individualidade e autoridade. Definia a ideia de utilitarismo como sendo “afirmações positivas que buscam a felicidade”. Pontuava que a individualidade seria um dos elementos essenciais do bem-estar. Segundo Stuart, o mundo seria regido por dois princípios básicos que seriam o “prazer e a dor”, representadas também como sendo o bem e o mal. Com isso, ele dividiu os prazeres, em duas principais categorias, sendo a primeira, considerada superior, pois estaria relacionada com as emoções, os sentimentos e a cognição. A segunda seriam os prazeres, que eram ditos inferiores, visto que estariam associados aos vícios carnais. Introduziu na noção da quantificação da felicidade a percepção de qualidade, desse modo, afirmava que a felicidade não seria simplesmente a quantidade de prazer atingido, ela deveria ser analisada também, sobre a perspectiva da qualidade do prazer alcançado. Nessa lógica, a noção de felicidade não estaria dissociada da ideia de moralidade.

Sua doutrina tinha como finalidade construir uma ideia de bem-estar individual nos homens, a partir da organização pragmática da sociedade. De acordo com Mill seria necessário a elaboração de regras éticas e morais, para orientar os indivíduos na vida em sociedade. Essa formação moral seria construída através da educação, visando proporcionar uma transformação na sociedade. Para ele, o indivíduo teria o dever moral de proporcionar o maior bem-estar possível para o máximo número possível de pessoas. Dizendo de outra forma, toda política deveria buscar a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas. Era contrário ao dirigismo absoluto do Estado, com relação a educação, pois segundo ele, o Estado poderia formar cidadãos que atendessem somente os interesses estatais. No campo do conhecimento, acreditava que o conhecimento só poderia ser adquirido através da experiência, por isso era visto como um empirista.

Filosofia Política

Escreveu algumas literaturas políticas em que dissertava sobre variadas questões sociais. Suas ideias tinha um cunho progressista, dado o caráter conservador de seu tempo e o ambiente em que ele vivia. Foi considerado um dos primeiros parlamentares britânicos a defender o direito ao voto das mulheres, apresentando propostas pelo voto feminino no Reino Unido, com a finalidade de propor um sistema político igualitário de democracia representativa. Apoiava as causas abolicionistas e advogava também em favor da liberdade de expressão para os indivíduos. Como parlamentar adotou medidas para a proteção de pessoas em estado de vulnerabilidade. Na esfera jurídica consolidou o chamado “princípio da prevenção de dano”, em que descreve que a liberdade do indivíduo não pode ser usada de forma negativa, ou seja, a liberdade de alguém não pode prejudicar a vida de outros. Dessa forma, ele dizia: “a liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas.”  

Pretendia com seu sistema de pensamento determinar as leis que regem o sistema de produção. Chegou a definir que os fatores necessários para a produção seriam três principais: o capital, o trabalho e a terra. Segundo Mill, a ideia de capital definida por ele, não seria propriamente o dinheiro, porém o dinheiro poderia se transformar em capital. Associou pontos do sistema político liberal com ideias socialistas, propondo que, em relação ao sistema financeiro, seria interessante adotar o conceito de livre mercado, isto é, o chamado sistema liberal. No entanto, era a favor do Estado mínimo, no que diz respeito as questões sociais básicas para o indivíduo, ou seja, concepções socialistas ligadas as ideias assistencialistas. Sua filosofia social partia do ponto de vista, de uma dependência mútua entre as relações políticas internas e externas, que coexistiam nas instituições.  

Filosofia Sapiencial

+ “As ideias têm consequências”

+ “O gênio apenas pode respirar numa atmosfera de liberdade”

+ “Perguntai a vós mesmos se sois felizes e deixareis de sê-lo.”

+ “É o que os homens pensam que determina sua maneira de agir”.

+ “Todas as coisas boas que existem são os frutos da originalidade.”

+ “Para os males da liberdade só existe um remédio, é mais liberdade.”

+ “O amor ao poder e o amor à liberdade estão em eterno antagonismo”.

+ “Quem só conhece seu próprio lado do problema sabe pouco sobre ele.”

+ “O maior perigo de nossos tempos é que tão poucos ousam ser excêntricos.”

+ “No final de contas, o valor de um Estado é o valor dos indivíduos que o compõem”.

+ “Aprendi a procurar a felicidade limitando os desejos, em vez de tentar satisfazê-los”.

+ “A liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas.”

+ “Cada qual é o guardião conveniente de sua própria saúde, quer corporal, quer mental e espiritual”.

+ “Os homens agem mal não porque seus desejos são fortes, e sim porque suas consciências são fracas”.

+ “A disciplina é mais forte do que o número; a disciplina, isto é, a perfeita cooperação, é um atributo da civilização.”

+ “Ainda que as circunstâncias influam muito sobre o nosso caráter, a vontade pode modificar as circunstâncias em nosso favor”.

+ “Nunca podemos ter certeza de que a opinião que tentamos sufocar é falsa; e se tivéssemos, sufocá-la continuaria sendo um mal.”

+ “Em nossos tempos, da classe mais alta à mais baixa da sociedade, todos vivem como que sob os olhos de uma censura hostil e temida”.

+ “As ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade.”

+ “É na proporção do desenvolvimento de sua individualidade que cada pessoa se torna mais valiosa para si mesma e, portanto, capaz de ser mais valiosa para os outros.”

+ “É impossível que ocorram grandes transformações positivas no destino da humanidade se não houver uma mudança de peso na estrutura básica de seu modo de pensar”.

+ “Quem pode calcular o que se perde com a multidão de inteligências, a coexistirem com caracteres tímidos, que não se aventuram a incorporar-se em nenhuma corrente arrojada, vigorosa e independente de opinião, com o temor de que ela os leve a alguma coisa que possa ser taxada de imoral?”

+ “Pessoas felizes são aquelas cujas mentes estão fixadas em algum outro objeto que não seja a própria felicidade; na felicidade dos outros, no aperfeiçoamento da humanidade, até mesmo em alguma arte ou busca empreendida não como meio, mas como fim ideal. Ao visar assim o outro elas encontram a felicidade casualmente”.

Obras:

Sistema de Lógica; Princípios de Economia Política; Sobre a liberdade; Utilitarismos; Sujeição das Mulheres; O Governo Representativo; A Lógica das Ciências Morais; Sobre a natureza; Análise dos Fenômenos da Mente Humana; Ensaios sobre Religião.

Fontes:

BUCHHOLZ, Todd. Novas ideias de economistas mortos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.

CARREIRO, Carlos Haroldo Porto. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975.

CRISP, Roger. Mill e o utilitarismo. Londres: Routledge, 1997.

DAHL, Robert. Um prefácio à teoria democrática. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1989.

HOLLANDER, Samuel. A economia de John Stuart Mill. Toronto: Universidade de Toronto, 1985.

HUGON, Philippe. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Editora Atlas, 1984.

LIMA, Rafael Lucas de. John Stuart Mill e o cultivo da individualidade. Natal: EDUFRN, 2017.

MILL, John Stuart. Autobiografia. São Paulo: Editora Iluminuras, 2007.

ROSEN, Frederick. Utilitarismo Clássico de Hume a Mill: Estudos em Ética e Teoria Moral. Milton Park: Routledge, 2003.

RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Moderna. São Paulo: Editora Companhia Nacional, 1967.

TRINDADE, Sérgio Luiz Bezerra. A Ética Utilitarista de John Stuart Mill. Natal: Revista UNI-RN, 2008. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Antônio Bezerra

Antônio Bezerra – (1841 a 1921) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Antônio Bezerra de Meneses foi um filósofo cearense pertencente a linha da filosofia historiográfica. Utilizou-se da literatura para disseminar partes de seus conhecimentos, tendendo suas ideias para um viés naturalista. Ficou conhecido como “o poeta da abolição”. Chegou a iniciar seus estudos acadêmicos no Seminário de Fortaleza, tendo migrado para São Paulo, a fim de cursar a faculdade de Direito, porém abandonou o curso e retornou ao Ceará, onde assumiu o cargo de funcionário do Tesouro Provincial. Alistou-se como voluntário da pátria na Guerra do Paraguai. Participou da fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, bem como também, da Academia Cearense de Letras, onde é patrono da cadeira de número 4. Foi maçom pertencente à Loja Fraternidade Cearense. Fez parte inicialmente do movimento ligado à Padaria Espiritual, tendo posteriormente migrado para a agremiação do Centro Literário, na qual recorria ao pseudônimo de “André Carnaúba”. Contribuiu como criador, colunista e redator de vários periódicos, no período em que viveu. Após se aposentar, viajou para o Amazonas, onde se tornou Diretor do Museu de História Natural de Manaus. Era filho do filósofo Manuel Soares da Silva Bezerra e de Maria Teresa de Albuquerque Bezerra. Nasceu na cidade de Quixeramobim, interior do Ceará, no dia 21 de fevereiro de 1841 e faleceu em Fortaleza, no dia 28 de agosto de 1921, aos 80 anos.  

Filosofia da História

Desenvolveu vários trabalhos relacionados a historiografia cearense. Ajudou na formação da inteligência alencarina, contribuindo com a ciência, história, filosofia e literatura do Ceará. Relacionava seu saber historiográfico com a área jurídica e com a literatura. Construiu um conhecimento crítico da história, valendo-se de provas documentais e testemunhais. Sua obra inaugurou uma nova forma de pensar a história cearense. O rigor de sua reflexão serviu para aclarar algumas lacunas que existiam no pensamento historiográfico cearense, ajudando a corrigir determinadas imperfeições. Suas pesquisas firmaram um novo discurso histórico, contribuindo com novos argumentos para a compreensão da memória alencarina e para o entendimento das primeiras correntes de povoamento do Ceará. Ele sistematizou estudos sobre as doações das sesmarias na antiga província do Ceará, com isso, seu trabalho foi importante na organização, catalogação e transcrição dos arquivos documentais, sobre as doações das sesmarias. Devido a esse progressismo, ele foi apontado por pensadores como “o cearense que elucidou a História do Ceará”. Foi considerado também um dos mais atuantes abolicionistas cearenses, tendo contribuído com a formação de várias agremiações culturais e associações cearenses.

Filosofia Naturalista

Nomeado como o primeiro presidente da Sociedade de Ciências Práticas, suas pesquisas foram de grande importância na sistematização dos estudos das ciências naturais no Ceará. Analisou aspectos naturalistas da filosofia alencarina, utilizando-se principalmente da literatura para abordar o tema. Dissecou, em sua obra, a vida trágica do sertanejo cearense, apontando elementos como a seca e a fome, que revelava um cenário alarmante das condições de vida do povo. Implementou estudos científicos, em que analisava procedimentos básicos, para reduzir os impactos negativos que o clima produzia na sociedade agreste. Realizou estudos geográficos e mapeamentos climáticos da natureza. Fez algumas viagens de cunho exploratório com a finalidade de examinar o espaço territorial. Organizou importantes exposições sobre os produtos naturais do Ceará. Militou em defesa do território de algumas tribos indígenas, da qual ele teve contato, utilizando sua influência social e seus conhecimentos, como arma para proteger as terras dos índios.

Filosofia Sapiencial

+ “Não sei se escrevo o que penso, ou se penso o que escrevo”.

+ “Lembrando o que passou, esperança é o que restou, nessa intensa vida vivida”.

+ “O tempo carrega tudo, e a justiça por escolta. De tudo quanto se dá, o tempo entrega de volta”.

+ “O que parece frase feita, enfeita o meu coração, quem ama não esquece, busco em Deus a razão”.

+ “Temos que transformar, sentimento em realidade, pois quando passa o tempo, sobra apenas a nossa verdade”.

+ “És minha esplendorosa fortaleza, linda por sua natureza, ungida com toda certeza, com a graça de uma princesa, importa-se com a família com realeza, amada pela sinceridade, amor e beleza”.

+ “Queiram ou não queiram os nossos cronistas, é preciso confessar que se não tem conhecimento dos nomes das personagens que figuraram naquela região no início de sua formação, muito menos se deve conhecer suas ações e atos públicos.”

+ “Parece que cheguei a alcançar o que até aqui ninguém alcançou, cheguei a resolver inúmeras origens sobre Aquiraz, Aracati, Russas, Jaguaribe-Mirim, Icó, Missão Velha, e com certeza sobre o Cariri, que, antes de mim, o que se escreveu, neste sentido, não passa seguramente de um montão de invenções ridículas e narrações disparatadas.”

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, na antiga chácara Salubre, onde viveu Antônio Bezerra, foram encontrados vários acessos subterrâneos, que eram utilizados como local de encontro pelos abolicionistas cearenses. Acredita-se que o próprio Antônio Bezerra vendia as joias da família para libertar os escravos.

Obras:

A caridade; Algumas Origens do Ceará; Horas de recreio; Província do Ceará; Dúvidas Históricas; Porangaba - As praias; Sonhos de Moço; Lampejos; O Ceará e os Cearenses; Três Liras; Notas de viagem; Descrição da cidade de Fortaleza.

Fontes:

BEZERRA, Antônio. Algumas Origens do Ceará. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1918.

BEZERRA, Antônio Herbert Paz. Genealogia dos Bezerra de Menezes - História e Diáspora. Fortaleza: Premius, 2004.

BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Academia Brasileira de Letras, 2001.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Genealogia da Ribeira do Jaguaribe. Site: Famílias Cearenses. Internet: Acesso, 2024.

MAGALHÃES, Zelito Nunes. História da Maçonaria no Ceará. Fortaleza: Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará, 2008.

MARTINS, Paulo Henrique de Sousa. O processo de Abolição no Ceará: História, Memórias e Ensino. Revista Historiar. Vol. 06, N. 11. Vale do Acaraú, UVA, 2014.

MOREIRA, Paulo Italo. As viagens naturalistas de Antônio Bezerra de Menezes e as Ciências Naturais no Ceará na segunda metade do século XIX. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UNIRIO/PPGH, 2016.

SÁ, Murilo Bezerra. Famílias Cearenses: Estudo genealógico dos Bezerra de Menezes. Revista Instituto do Ceará. Fortaleza: RIC, 1946.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.