Melissa Pitagórica
- (Séc. VI - V) a.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Foi uma filósofa
pitagórica da Grécia antiga. Ela se esforçou para dar continuidade à escola de
Pitágoras depois da morte dele. Especula-se que ela teria auxiliado as
filósofas Theano e suas filhas na divulgação das doutrinas pitagóricas.
Escreveu sua obra em formato de cartas em que descrevia ideias e pensamentos
dos pitagóricos. Segundo os pesquisadores, essas cartas não sobreviveram ao
tempo. Existem cartas antigas atribuídas a algumas filósofas pitagóricas e
assinadas com o nome de Melissa, mas ainda estar sendo investigado se são apenas
pseudônimos ou textos apócrifos. Ela foi também uma exímia matemática e era
considerada, em sua época, como sendo muito talentosa com os números. Não existem
muitas informações sobre essa filósofa, e o que se sabe sobre ela estaria
escrito apenas em citações de compilados e obras dos pensadores antigos. Além
dela, outras mulheres também tiveram participação de forma ativa na escola
pitagórica. A data de seu nascimento e de sua morte ainda é imprecisa,
entretanto, sabe-se que ela viveu em meados do século VI antes de cristo e que
foi discípula de Pitágoras quando este já estava velho. Nesse sentido, é
possível realizar uma previsão da época, mais ou menos, em que ela floresceu.
Há relatos que Estobeu teria preservado uma de suas cartas e que ela
possivelmente tenha nascido na ilha de Samos.
Filosofia
Pitagórica
Algumas fontes
deduzem que ela possivelmente tenha sido uma das primeiras mulheres a
frequentar a escola pitagórica. Os conceitos pitagóricos divulgados por ela
tinham um caráter místico, pois os pitagóricos influenciaram muito as
sociedades secretas e os pensadores platônicos, por isso, Melissa contribuiu significativamente com a divulgação dos conceitos esotéricos dos pitagóricos. Alguns
pensadores caracterizaram suas ideias como sendo uma vertente do
“neopitagorismo”, por conta do seu forte simbolismo. Algumas das descobertas e
pesquisas realizadas na escola eram consideradas como sendo trabalhos
coletivos, daí, acredita-se que ela tenha participado de algumas dessas
descobertas. Devido à aceitação de mulheres na escola pitagórica, Pitágoras é
considerado na atualidade como tendo sido um filósofo feminista e com certeza
à “Melli” participou de maneira atuante para difundir os
pensamentos que estão relacionados aos conceitos emancipatórios da mulher
moderna. Algumas discípulas pertenciam à família de Pitágoras, mas em relação à
Melissa, não existe nenhum documento que comprove a relação de parentesco com
ele.
Filosofia Moral
Melissa ensinava
que a mulher fiel ao matrimônio era uma mulher prudente e isso representava a
sua força, explicava que a mulher não deveria buscar prioritariamente ostentações
ou roupas caras, mas antes de tudo, procurar administrar de forma correta a sua
casa e empenhar-se em ser fiel ao seu marido, dedicando-se somente ao seu matrimônio. Em uma carta
atribuída a uma pessoa de nome Cleareta, Melissa advertia que a maior riqueza
que a mulher poderia dar ao homem no matrimônio seria a obediência, pois os
encantos da mente seriam superiores as belezas do corpo. Sua filosofia
juntamente com as de Theano e Mia era abordada sobre uma perspectiva de
“filosofia doméstica”, pois as possíveis cartas orientavam as mulheres a como
manterem e cuidarem dos afazeres de casa. O descrito método filosófico
atribuído a elas, também tinham um viés moral e compreendia um aprimoramento da
virtude da mulher. Desse modo, alguns pesquisadores chamam esse pensamento de
“pedagogia da moralidade feminina”.
Filosofia Mítica
Melissa leva esse nome em referência à palavra mel no grego antigo, já no latim antigo seria próximo ao conceito de abelha, porém a mitologia grega atribui esse nome a lenda de uma ninfa que cuidou de Zeus. O filósofo Xenofonte destaca em sua obra que o papel da mulher na cultura grega se comparava ao papel que alguns elementos da fauna feminina teriam na natureza, desse modo, ele cita a palavra “Melissa” como exemplo, pois, para ele, uma boa esposa deveria ser igual à Melissa (abelha rainha) e por isso deveria cuidar e organizar o seu lar. Sua referência objetivava construir um ideal de mulher organizada que soubesse liderar. Daí ele concluía que: “Em uma colmeia, não são de pequeno valor as tarefas que a abelha-rainha preside”. Ele acreditava que a mulher tinha uma função de comando no lar, pois precisava saber ordenar e delegar funções aos servos, criados e escravos que coabitavam a gleba. Porém, partindo da mesma analogia da natureza, o filósofo-poeta Simônides interpretava esse conceito de maneira diferente, ele abordava o tema como a abelha sendo apenas uma mera reprodutora de mel, ou seja, a mulher teria um papel apenas de subjugação pelo homem, por ser uma simples reprodutora. Elas deveriam ser apenas esposas obedientes e mães responsáveis no trato familiar. Nesse interim, os gregos estabeleceram um formato de mulher ligada à esposa perfeita e bem-nascida que deveriam ter atributos de: lealdade, silêncio, reclusão, beleza, honestidade, castidade, discrição, fidelidade e submissão. O conceito contemporâneo da mulher recatada e do lar chamada de Amélia, provavelmente sofreu influência desses paralelos da mitologia grega.
Filosofia
Sapiencial
“Uma mulher livre
deve parecer bonita para o marido, mas não para pessoas de fora”.
“Vista-se de maneira modesta e tente agradar somente ao marido e não aos outros”.
Fontes:
ANDRADE,
Marta. A Cidade das Mulheres: cidadania e alteridade feminina na Atenas
clássica. Rio de Janeiro: LHIA, 2001.
FARHE.
Jaime. As mulheres na filosofia, o feminismo e a ética. Vol.
2. Paraná. Secretaria de Educação, 2016.
FARIAS,
Keila. Medeia e Melissa: Representações do feminino do imaginário
ateniense do século V. Dissertação do curso de mestrado em História da
UFG. Goiânia: UFG, 2007.
HUFFMAN,
Carl. A History of Pythagoreanism, Cambridge: Cambridge University
Press, 2014.
MÉNAGE,
Gilles. História das mulheres filósofas. Herder Editorial. 2012.
OLSEN,
Kirstin. Cronologia da História da Mulher. Greenwood Press, 1994.
PACHECO,
Juliana. Filósofas: A presença das mulheres na filosofia. Brasília:
Editora FI. 2016.
PIOVEZANE,
Helenice Vieira. As mulheres na filosofia: A antiguidade. Vol.
1. São Paulo: Nova Acrópole. 2016.
PORFÍRIO. A
vida de Pitágoras. Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.
POMEROY,
Sarah. Mulheres pitagóricas: Sua história e escritos. Baltimore:
Universidade Johns Hopkins, 2013.
SATTLER,
Janyne. Os textos e as cartas pedagógicas das pitagóricas. Revista
Ideação. N. 42, Santa Cruz: UFSC, 2020.
XENOFONTE. O
Econômico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário