sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Melissa Pitagórica

Melissa Pitagórica - (Séc. VI - V) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa pitagórica da Grécia antiga. Ela se esforçou para dar continuidade à escola de Pitágoras depois da morte dele. Especula-se que ela teria auxiliado as filósofas Theano e suas filhas na divulgação das doutrinas pitagóricas. Escreveu sua obra em formato de cartas em que descrevia ideias e pensamentos dos pitagóricos. Segundo os pesquisadores, essas cartas não sobreviveram ao tempo. Existem cartas antigas atribuídas a algumas filósofas pitagóricas e assinadas com o nome de Melissa, mas ainda estar sendo investigado se são apenas pseudônimos ou textos apócrifos. Ela foi também uma exímia matemática e era considerada, em sua época, como sendo muito talentosa com os números. Não existem muitas informações sobre essa filósofa, e o que se sabe sobre ela estaria escrito apenas em citações de compilados e obras dos pensadores antigos. Além dela, outras mulheres também tiveram participação de forma ativa na escola pitagórica. A data de seu nascimento e de sua morte ainda é imprecisa, entretanto, sabe-se que ela viveu em meados do século VI antes de cristo e que foi discípula de Pitágoras quando este já estava velho. Nesse sentido, é possível realizar uma previsão da época, mais ou menos, em que ela floresceu. Há relatos que Estobeu teria preservado uma de suas cartas e que ela possivelmente tenha nascido na ilha de Samos.

Filosofia Pitagórica

Algumas fontes deduzem que ela possivelmente tenha sido uma das primeiras mulheres a frequentar a escola pitagórica. Os conceitos pitagóricos divulgados por ela tinham um caráter místico, pois os pitagóricos influenciaram muito as sociedades secretas e os pensadores platônicos, por isso, Melissa contribuiu significativamente com a divulgação dos conceitos esotéricos dos pitagóricos. Alguns pensadores caracterizaram suas ideias como sendo uma vertente do “neopitagorismo”, por conta do seu forte simbolismo. Algumas das descobertas e pesquisas realizadas na escola eram consideradas como sendo trabalhos coletivos, daí, acredita-se que ela tenha participado de algumas dessas descobertas. Devido à aceitação de mulheres na escola pitagórica, Pitágoras é considerado na atualidade como tendo sido um filósofo feminista e com certeza à “Melli” participou de maneira atuante para difundir os pensamentos que estão relacionados aos conceitos emancipatórios da mulher moderna. Algumas discípulas pertenciam à família de Pitágoras, mas em relação à Melissa, não existe nenhum documento que comprove a relação de parentesco com ele.

Filosofia Moral

Melissa ensinava que a mulher fiel ao matrimônio era uma mulher prudente e isso representava a sua força, explicava que a mulher não deveria buscar prioritariamente  ostentações ou roupas caras, mas antes de tudo, procurar administrar de forma correta a sua casa e empenhar-se em ser fiel ao seu marido, dedicando-se somente ao seu matrimônio. Em uma carta atribuída a uma pessoa de nome Cleareta, Melissa advertia que a maior riqueza que a mulher poderia dar ao homem no matrimônio seria a obediência, pois os encantos da mente seriam superiores as belezas do corpo. Sua filosofia juntamente com as de Theano e Mia era abordada sobre uma perspectiva de “filosofia doméstica”, pois as possíveis cartas orientavam as mulheres a como manterem e cuidarem dos afazeres de casa. O descrito método filosófico atribuído a elas, também tinham um viés moral e compreendia um aprimoramento da virtude da mulher. Desse modo, alguns pesquisadores chamam esse pensamento de “pedagogia da moralidade feminina”.

Filosofia Mítica

Melissa leva esse nome em referência à palavra mel no grego antigo, já no latim antigo seria próximo ao conceito de abelha, porém a mitologia grega atribui esse nome a lenda de uma ninfa que cuidou de Zeus. O filósofo Xenofonte destaca em sua obra que o papel da mulher na cultura grega se comparava ao papel que alguns elementos da fauna feminina teriam na natureza, desse modo, ele cita a palavra “Melissa” como exemplo, pois, para ele, uma boa esposa deveria ser igual à Melissa (abelha rainha) e por isso deveria cuidar e organizar o seu lar. Sua referência objetivava construir um ideal de mulher organizada que soubesse liderar. Daí ele concluía que: “Em uma colmeia, não são de pequeno valor as tarefas que a abelha-rainha preside”. Ele acreditava que a mulher tinha uma função de comando no lar, pois precisava saber ordenar e delegar funções aos servos, criados e escravos que coabitavam a gleba. Porém, partindo da mesma analogia da natureza, o filósofo-poeta Simônides interpretava esse conceito de maneira diferente, ele abordava o tema como a abelha sendo apenas uma mera reprodutora de mel, ou seja, a mulher teria um papel apenas de subjugação pelo homem, por ser uma simples reprodutora. Elas deveriam ser apenas esposas obedientes e mães responsáveis no trato familiar. Nesse interim, os gregos estabeleceram um formato de mulher ligada à esposa perfeita e bem-nascida que deveriam ter atributos de: lealdade, silêncio, reclusão, beleza, honestidade, castidade, discrição, fidelidade e submissão. O conceito contemporâneo da mulher recatada e do lar chamada de Amélia, provavelmente sofreu influência desses paralelos da mitologia grega.

Filosofia Sapiencial

“Uma mulher livre deve parecer bonita para o marido, mas não para pessoas de fora”.

“Vista-se de maneira modesta e tente agradar somente ao marido e não aos outros”.

Fontes:

ANDRADE, Marta. A Cidade das Mulheres: cidadania e alteridade feminina na Atenas clássica. Rio de Janeiro: LHIA, 2001.

FARHE. Jaime. As mulheres na filosofia, o feminismo e a ética. Vol. 2. Paraná. Secretaria de Educação, 2016.

FARIAS, Keila. Medeia e Melissa: Representações do feminino do imaginário ateniense do século V. Dissertação do curso de mestrado em História da UFGGoiâniaUFG, 2007.

HUFFMAN, Carl. A History of Pythagoreanism, Cambridge: Cambridge University Press, 2014. 

MÉNAGE, Gilles. História das mulheres filósofas. Herder Editorial. 2012.

OLSEN, Kirstin. Cronologia da História da Mulher. Greenwood Press, 1994.

PACHECO, Juliana. Filósofas: A presença das mulheres na filosofia. Brasília: Editora FI. 2016.

PIOVEZANE, Helenice Vieira. As mulheres na filosofia: A antiguidade. Vol. 1. São Paulo: Nova Acrópole. 2016. 

PORFÍRIO. A vida de Pitágoras. Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

POMEROY, Sarah. Mulheres pitagóricas: Sua história e escritos. Baltimore: Universidade Johns Hopkins, 2013. 

SATTLER, Janyne. Os textos e as cartas pedagógicas das pitagóricas. Revista Ideação. N. 42, Santa Cruz: UFSC, 2020.

XENOFONTE. O Econômico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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