segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Theano de Crotona

Theano de Crotona – (546 a 495) a.C 

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi uma filósofa da Grécia antiga pertencente à escola pitagórica. Desenvolveu os princípios teóricos e filosóficos da “doutrina do meio-termo”. Destacou-se nas áreas da Matemática, Astronomia, Física, Filosofia e Medicina. Ela era considerada por alguns pensadores como sendo a primeira matemática (mulher) da região itálica na Grécia antiga e também uma das precursoras da investigação científica. Entre suas ideias, ela afirmava que na natureza “tudo é número”, pois esse era um pensamento comum na escola pitagórica de Crotona. Além de aluna, algumas fontes dizem que ela também seria esposa de Pitágoras.  Existem relatos que ela teria tido filhos com seu mestre e que após o assassinato dele por perseguidores políticos, ela teria conseguido fugir e passou a divulgar junto com as filhas os pensamentos dos pitagóricos, com isso, os fragmentos de suas cartas foram conservados pelos historiadores da época. As mulheres, nessa época, eram proibidas de participar dos estudos ligados a ciência e a filosofia, então, a escola pitagórica inovou os conceitos da época ao permitir que as mulheres pudessem estudar nessa escola. Por ter se destacado na escola de Pitágoras, ela se tornou mestra e repassou muitos dos seus conhecimentos aos discípulos pitagóricos. Devido à existência de muitas mulheres na escola pitagórica, as discípulas assinavam os aprendizados e as descobertas com o nome de Pitágoras, por isso, é muito difícil precisar com exatidão o que cada discípula descobriu ao certo.

Dizem que seu pai era um homem muito rico, e por isso, enviou-a para a escola de Pitágoras para que ele pudesse ensiná-la. Ainda há muitas discordâncias históricas a respeito de quem teria sido de fato o seu verdadeiro pai e se realmente ela teria sido esposa de Pitágoras. A corrente majoritária aponta na direção mais provável de que ela seria filha de outro filósofo e físico chamado Pitonax de Creta. Porém, alguns historiadores afirmam que ela pode ter sido protegida por um rico patrocinador da ciência e da arte chamado de Milón, e que por isso, existiria a possibilidade dele ter sido seu verdadeiro pai ou uma espécie de padrinho da época. Milón era bem conhecido por pertencer a uma religião da época chamada de orfismo, que trabalhava a literatura do poeta mítico Orfeu. Essa religião do orfismo pode, então, ter influenciado boa parte do pensamento de Theano. Outros relatos históricos apontam que ela poderia ter sido filha de um médico chamado Brotino que sucedeu Pitágoras na escola, porém essa seria a hipótese menos provável, outra hipótese improvável é a de que ela teria sido filha do próprio Pitágoras, fato curioso, pois a maioria dos historiadores afirma que ela teve filhos com o seu mestre. Theano nasceu aproximadamente em 546 a.C na cidade de Crotona que ficava localizada na Grécia antiga. A data precisa de sua morte ainda é um fato desconhecido, porém se presume que tenha falecido possivelmente entre o final do século VI a.C e  início do século V a.C, por volta de 495 a.C.

Filosofia Pitagórica

A esposa de Pitágoras recebeu grande reconhecimento por parte dele, tendo inclusive dirigido a escola pitagórica por um bom tempo. Abordou ideias relacionadas aos estudos metafísicos entre a vida real e a espiritual. Comparando esses conceitos, entre a representação que uma vida exerceria sobre a outra e a atuação que as pessoas teriam nas duas vidas. Divulgava as doutrinas pitagóricas que discutiam a relação da vida carnal com o mundo místico, trabalhando temas como a transmigração e a imortalidade da alma. Acreditava na existência de uma justiça divina, explicava que haveria um juízo sobre os atos praticados em vida e que seriam transmutados para outras encarnações. Explicava que os números são o princípio da realidade e da individualidade.  Ela acreditava que todos os objetos materiais eram compostos por números naturais, assim, dizia que a medida de qualquer objeto poderia ser expressa por uma medida exata. Escreveu alguns tratados matemáticos e realizou descobertas a respeito da teoria do retângulo dourado. Também escreveu tratados sobre figuras geométricas conhecidas como poliedros.

Segundo pensadores antigos, ela teria desenvolvido um trabalho matemático relevante no campo da proporção áurea. Esses estudos influenciaram vários arquitetos e autores de obras de artes no desenvolvimento harmônico de seus projetos ao longo da história. Ademais, ajudou a divulgar os conhecimentos sobre o número de ouro. Esse número, era visto pelos pitagóricos como um número místico que seria representado através de um símbolo em formato de pentagrama. O pentágono estrelado teria representações simbólicas na vida dos pitagóricos como o silêncio para não revelarem os segredos da escola, a amizade como forma de solidariedade entre eles e a comunhão tanto entre eles, bem como também, entre a carne e o espírito. Urge dizer que ela também preservou os escritos da escola pitagórica, contribuindo para que os ensinamentos da escola fossem divulgados e não se perdessem no tempo. Existem relatos que afirmam que Theano teria sido torturada, após a morte de Pitágoras, para que revelasse segredos ligados à escola pitagórica e que ela teria resistido sem revelar seus conhecimentos, pois os segredos aprendidos só deveriam ser revelados para pessoas iniciadas.

Filosofia Moral

Ao divulgar seus ensinamentos, ela dizia que os saberes deveriam ir além da teoria matemática e se direcionar também para a práxis humana. Durante sua contribuição aos estudos da escola pitagórica, ela escreveu um tratado chamado de “sobre a piedade”, em que relatava a responsabilidade da mulher na manutenção da ordem, da justiça e da harmonia. Sobre a questão da vida, ela ensinava sobre a importância de manter as tradições e os valores morais, e que no casamento era relevante que a mulher se destacasse mais nas coisas de casa do que na atividade pública. Ela explicava que o homem exercia um papel familiar externo a casa e a mulher desempenhava um papel interno, nesse sentido, a mulher deveria se esforçar para educar bem os filhos, pois seu papel interno teria mais importância na educação familiar, e como consequência, isso afetaria toda a sociedade, desse modo, se a mulher falhasse em seu papel, a criança poderia se tornar um estorvo social. Nos principais ensinamentos dos valores familiares, ela explicava sobre questões filosóficas femininas, sobre casamento, sobre ética e sexualidade. Teorizava ideias a respeito da educação infantil, relacionando-as com os valores morais da escola pitagórica. Chegou a ensinar para alguns médicos da época que alguns fetos poderiam nascer de maneira prematura com apenas sete meses de gestação.   

Filosofia Cosmológica

Escreveu uma obra sobre a construção do universo onde ela terce um paralelo entre a criação dos cosmos e a visão ontológica dos pitagóricos. Theano acreditava que o universo era uma esfera fechada e finita e que os planetas giravam ao redor da Terra em um movimento circular perfeito. Ela afirmava também que a distancia entre as esferas celestes e o fogo central estaria na mesma proporção que os intervalos das escalas musicais. Em um tratado a respeito da origem do cosmos, ela teria dito que ele seria formado por várias esferas concêntricas como o Sol, a Lua, as Estrelas, a Terra, e a Contra-Terra. Além também dos  planetas conhecidos na época como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Em relação às estrelas ela acreditava que elas seriam imóveis e estáticas. Durante alguns estudos com seu mestre Pitágoras, ela teria lhe ajudado a identificar a densidade do “éter” e a resolver vários problemas científicos.

Obras:

Sobre a piedade; Sobre a Sabedoria; Cosmologia; Teoria dos números; Teorema da proporção áurea; A vida de Pitágoras; Sobre a virtude; Construção do universo; Carta a Eubula; Conselhos Femininos; Carta a Timeonide; Comentários Filosóficos.

Anedotas:

Conta-se que certo dia um discípulo de Pitágoras que estava admirado com a beleza de Theano questiona ao seu mestre a respeito da idade dela. Pitágoras então teria respondido com um enigma matemático: “Theano é perfeita e a sua idade é um número perfeito. A idade de Theano, para além de ser um número perfeito, é o número das suas extremidades multiplicado pelo número de admiradores, que é um número primo”.

Relata-se que ao ensinar sobre a moralidade sexual na escola pitagórica, Theano advertia para as discípulas que as mulheres deveriam esquecer a vergonha na hora do sexo com o marido, despir-se da modéstia juntamente com a roupa, mas logo ao amanhecer, quando se levantassem da cama vestissem junto com a roupa, seu pudor novamente. Pois a mulher teria virtudes inerentes a sua condição de mulher. Quando questionada pelos discípulos o que seriam essas qualidades femininas então, ela respondeu: "Aquelas pelas quais me chamo de mulher.”.

Certa vez ao ser questionada por uma aluna sobre em quantos dias à mulher se tornaria pura novamente após ter tido relações com um homem, ela teria respondido: “Se for o seu marido, imediatamente. Mas se for um amante estrangeiro, nunca mais!”.

Curiosidades.

As filhas de Theano com Pitágoras seriam:

Mulheres - (Esara, Damo, Myia e Arignote).

Homens - (Mnesarchus, Telauges e Arimnesto). 


Filosofia Sapiencial

- "O amor é a paixão da alma no tempo livre". 

- "A beleza vem da moderação e isso é atributo das mulheres nobres".

- "O número é o princípio da realidade e o princípio da individualidade".

- “É melhor confiar em um cavalo desenfreado do que em uma mulher tola”.

- “Não eram os números, mas a ordem dos números, o que governa o universo”. 

- "A mulher que vai para a cama com um homem deve adiar a modéstia com a saia e colocá-la novamente com a mesma roupa".

- "Daquilo que for ser dito, pense antes de falar, o que não é bonito dizer é porque é constrangedor, então não fale, fique quieto. E o que não é bom falar é porque é vergonhoso, então, cale-se!”.

- "Bem, a vida seria realmente uma festa para os ímpios que cometeram iniquidades. Depois de morrer, se a alma não fosse imortal, a morte seria um achado feliz".

- “Ouvi dizer que os gregos pensavam que Pitágoras havia dito que tudo havia sido gerado pelo número. Mas essa afirmação nos perturba: como podemos imaginar coisas que não existem e que podem gerar? Ele disse que não todas as coisas nasceram do número, mas que tudo foi formado de acordo com o número, já que a ordem essencial reside no número, e as mesmas coisas podem ser nomeadas primeiras, segundo e assim por diante, somente quando elas participam desta ordem".


Fontes:

GALVÃO, Mateus. História das mulheres na matemática: Uma Proposta para a sala de aula. Juazeiro: UNIVASF – Profmat, 2019.

GLEICHAUF Ingeborg. Mulheres filósofas na história: da antiguidade ao século XXI. Vilassar de Dalt: Icaria editorial, 2010.

GORMAN, Peter. Pitágoras: uma vida. Londres: Routledge & Kegan, 1979.

HUFFMAN, Carl. A História do Pitagorismo. Cambridge: University Press, 2017.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres.  2ª ed. Brasília. UnB. 2008.

MARIO, Miller. Fragmentos e cartas de Mulheres Pitagóricas. Bordeus: De la Masnie. 1980.

MÉNAGE, Gilles. História das mulheres filósofas. Herder Editorial. 2012.

OLSEN, Kirstin. Cronologia da História da Mulher. Greenwood: Press,  1994.

PIOVEZANE, Helenice Vieira. As mulheres na filosofia: A antiguidade. Vol. 1. São Paulo. Nova Acrópole. 2016.

PORFÍRIO. A Vida de Pitágoras. 4 ed; Barcelona: Planeta de Agostini, 1996.

WAITHE, Mary Ellen. The history of women philosophers. Vol. 1. Boston: Martinus Nijhoff, 1987.


Nenhum comentário:

Postar um comentário