segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Friedrich Hegel

Friedrich Hegel - (1770 a 1831) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um filósofo idealista alemão do período contemporâneo. Pode ser considerado um dos fundadores do sistema filosófico conhecido como “idealismo absoluto”. Floresceu no período de transição da chamada filosofia moderna para a filosofia contemporânea. Influenciou consideravelmente as correntes de pensamentos do existencialismo e do marxismo. Escreveu uma importante obra chamada de “fenomenologia do espírito”. Essa obra é considerada um clássico da filosofia mundial. Hegel teve uma boa formação humana e científica. Iniciou seus estudos em casa com sua família e com tutores. Posteriormente, matriculou-se no seminário da igreja protestante, e logo após, ingressou na universidade de Tübingen onde concluiu sua formação teológica e filosófica. Chegou a trabalhar como tutor particular e depois passou a viver da herança herdada de seu pai. Sofreu grande influência do filósofo Immanuel Kant e de pensadores iluministas. Foi nomeado como principal preceptor oficial do rei da Prússia. Nasceu na cidade de Stuttgart na Alemanha, em 1770 e faleceu vítima de cólera, em Berlim no ano de 1831.

Filosofia do Conhecimento

Segundo Hegel, durante a história do pensamento humano houve uma forte ligação entre a Filosofia e a História. Ele chegou a delimitar os campos da filosofia e da mitologia, fazendo claras distinções entre elas. Demarcou as principais fronteiras da história da filosofia, pontuando graus e diferenças. Explicava que a filosofia experimentou várias manifestações do espírito ao longo da história da humanidade. Em sua teoria, ele pontuava reflexões sobre a história da consciência humana e meditava a respeito da relação desses fatos com o desenvolvimento do conhecimento da humanidade. Dessa forma, ele elaborou um conceito de evolução gradual da razão humana. Para Hegel, a lógica do pensamento não seguiria um padrão fixado no tempo, mas sim, caminhava de acordo com o processo de mutação da sociedade. Dessa forma, ele conceituava que as “verdades universais” iriam se moldando e progredindo no tempo juntamente com os avanços sociais. A partir disso, ele definiu dois conceitos básicos para a compreensão do movimento da história: o conceito de “zeitgeist” (espírito do tempo) e o conceito de “volksgeist" (espírito do povo). Nesse sentido, ele dizia que: “essa história é o desenvolvimento da razão pensante; seu “vir-a-ser” deve ter se passado de acordo com a razão”. Buscou compreender o homem em sua totalidade, explicitava que as vivências humanas estavam interligadas por um sistema único. Dessa forma, o universo estaria em um constante movimento onde o tempo, o homem e a história seriam apenas uma parte da engrenagem desse sistema.

Em seus estudos, ele conceituava que a dialética poderia ser pensada como um sistema em que a ideia, isto é, a “teses” (ideia-de-si) poderia ser contrariada com a noção de “antítese”, ou seja, (ideia-fora-de-si). Nesse sentido, esse embate entre “teses e antíteses” formaria a concepção da dialética. Ainda nesse contexto, a contraposição das ideias que formavam a dialética daria origem à ideia de “síntese” (ideia-em-si e para-si), quer dizer, outra ideia melhor elaborada. Nessa lógica, ele enunciava que: “a verdade não é encontrada nem na tese nem na antítese, mas em uma síntese emergente que reconcilia as duas”. Nesse contexto, ele exemplificava que a realidade poderia ser compreendida a partir da dialética, pois através dela seria possível conhecer as verdades universais. Segundo seu entendimento, duas ideias opostas dependeriam uma da outra para existirem. Demonstrava que a consciência deveria passar por um estágio de desenvolvimento e amadurecimento, para que assim, ela pudesse conseguir superar as contradições observadas nos conceitos que se apresentam de formas opostas.

Filosofia Idealista

O sistema desenvolvido por Hegel cunhado de “idealismo absoluto” incluiu várias áreas do conhecimento que se desenvolveram em três fases principais: a filosofia lógica, a filosofia da natureza e a filosofia do espírito. Nela, o filósofo conceituava a ideia de que o Estado seria estritamente mecânico. O espírito absoluto seria a síntese do espírito subjetivo e do objetivo, dos quais representariam o fundamento comum, dessa forma, abrangeria a arte, a religião e a filosofia. Posto isso, ele definia que o “espírito absoluto” (filosofia, religião e arte) seria formado a partir da síntese do espirito objetivo (costumes, moralidade e o direito) com o espírito subjetivo (alma, consciência e razão). Hegel buscava uma interpretação racional da ideia de multiplicidade sensível, pois tentava compreender em relação à noção de finito o que existia de absoluto.

Segundo Hegel: “tudo aquilo que pode ser pensado é real e tudo que é real pode ser pensado”. Nessa perspectiva, para ele, não existiria algo que fosse impossível de ser pensado. Dessa maneira, ele afirmava que: “o real é racional e o racional é real”, ou seja, não seria possível separar o mundo e o sujeito, o objeto e o conhecimento, o universal e o particular. Dessa forma, o “ideal absoluto” seria em sua essência um princípio ativo, mas só poderia se manifestar na esfera do pensamento, isto é, do autoconhecimento. Ele partia do conceito de que o “ideal absoluto” seria um processo contraditório em si mesmo, pois a noção de “ideia” se transformava, depois passava a negar-se, e posteriormente se convertia no seu contrário. Sua teoria se ancorava na suposição de que a realidade poderia ser expressa em um sistema particular de categorias. Conforme Hegel, o objetivo da filosofia era o mesmo da religião, ou seja, encontrar uma verdade universal, nesse sentido, a religião absoluta seria o cristianismo, que se diferenciava das outras religiões devido sua ideia de encarnação, pois esse conceito representaria a união do divino com o humano. Desse modo, Hegel dizia que: "o verdadeiro é o todo".

Filosofia Política

O Estado, para Hegel, era formado a partir da síntese das vontades individuais e imediatas dos indivíduos. Ele seria o resultado do desenvolvimento das exigências da sociedade. Esse estado era formado a partir do conceito de homens livres que usavam a ideia de liberdade como um instrumento de ação individual-coletiva para concepção da constituição moral do Estado. Hegel utilizava o termo “herói” para definir como alguns homens agiram de maneira grandiosa no curso da história humana. A história para ele se daria mediante um processo de relação com as ações efetuadas pelos indivíduos no contexto social e cultural. Por isso, os homens que se fizeram presentes como construtos dessa relação entre processo histórico e ação humana, são denominados por ele de “heróis”. Hegel aborda o conceito de liberdade como um ponto chave para esclarecer que os grandes homens, chamados de “heróis”, possuem um “espirito livre”, por isso promovem ações responsáveis de modificação da realidade do seu tempo. O espirito consciente seria um espirito livre, capaz de criar soluções para problemas sociais, políticos e culturais. Logo, o “herói” seria um grande homem capaz de utilizar sua liberdade com responsabilidade para provocar ações mobilizadoras e transformadoras na sociedade. Sua ideia de Estado se baseava em um conceito de regime automatizado que agiria em conjunto com os homens de uma sociedade. Dessa maneira, ele afirmava que:

“A sociedade civil-burguesa supera dialeticamente a família, negando seus princípios, esvaziando-a, diminuindo seu papel, sem, no entanto, fazê-la desaparecer. O Estado supera dialeticamente a sociedade civil-burguesa, negando sua pulverização estrutural, mas precisa conservar, em sua síntese superior, as exigências ligadas à conquista da autonomia por parte dos indivíduos. O Estado é o nível superior da realização desse movimento; é a ‘efetividade da ideia ética’, a unidade da consciência subjetiva e da ordem objetiva.” (Hegel, 1821).

 

Dialética do senhor e escravo

Nessa metáfora, Hegel explanava a respeito de sua dialética. Primeiramente, o “senhor”, que seria uma consciência, submeteria o “escravo” a ser um objeto. Entretanto, para que o Senhor continuasse sendo um senhor, o escravo precisaria reconhecê-lo como tal. Assim sendo, o escravo seria ao mesmo tempo objeto e também sujeito. Desse modo, o senhor precisaria do escravo para ser senhor. Logo, quando o senhor precisa do reconhecimento do escravo, ele acaba se fazendo também de objeto. Nesse sentido, as posições de senhor e do escravo, isto é, sujeito e objeto, são trocados a todo o momento, em uma constante luta entre os contrários. Em vista disso, o desenvolvimento da história estaria na superação dessas contradições.

Obras

Introdução à história da filosofia; Fenomenologia do Espírito; Ciência e Lógica; Enciclopédia das Ciências Filosóficas; Elementos da Filosofia do Direito; Lições Sobre a Filosofia da Religião; Lições Sobre a Estética; O espírito do cristianismo e seu destino; A arte romântica; A História Universal.

 

Filosofia Sapiencial

- “Nada é. Tudo vem a ser”.

- "Amar é esquecer-se no outro".

- “A história do mundo é um tribunal”.

- “Tenha a coragem para estar errado.”

- “O negativo é do mesmo modo positivo”

- “O que o sujeito é, é a série de suas ações”.

- “A educação é a arte de tornar o homem ético”.

- “A tarefa da filosofia é entender o que é a razão”.

- “Quem exagera o argumento, prejudica a causa”.

- "O verdadeiro é o todo e o racional por si só é real".

- “Aquele que vence a raiva vence os seus inimigos.”

- “Nada de grande se realizou no mundo sem paixão.”

- “O homem não é mais do que a série dos seus atos”.

- “A realidade racional é que toda a racionalidade é real.”

- “A razão é a certeza consciente de ser toda a realidade”.

- “A Filosofia é a ave de Minerva que alça o seu voo ao cair da tarde”.

- “Tudo quanto provem do espírito é superior ao que existe na natureza”.

- “A impaciência exige o impossível, ou seja, a obtenção do fim sem os meios”.

- “Algo é “em-si” na medida em que, a partir do “ser-para-outro”, ele regressou a si.”

- “A filosofia desponta num determinado momento de desenvolvimento da cultura”.

- “A história ensina é que os governos e as pessoas nunca aprendem com a história.”

- “As espécies não se diversificam do universal, mas somente umas perante as outras”.

- “A necessidade, a natureza e a história não são mais do que instrumentos da revelação do Espírito”.

- “A história do mundo não é nada mais do que a história do progresso da consciência de liberdade”.

- “A luz, afirmam, é ausência de trevas, mas na pura luz se vê tão pouco quanto na pura escuridão”.

- “Todo princípio do entendimento é unilateral e esse caráter se revela em que o outro princípio lhe é oposto”.

- “A filosofia última no tempo é o resultado de todas as filosofias precedentes, e deve por isso conter os princípios de todas”.

- “Quem quer algo de grande, deve saber limitar-se. Quem, pelo contrário, tudo quer, nada, em verdade, quer e nada consegue.”

- “A existência do homem tem o seu centro na cabeça, ou seja, na razão, sob cuja inspiração ele constrói o mundo da realidade”.

- “A necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem a tomar consciência do mundo interior e exterior e a fazer um objeto no qual se reconheça a si próprio.”

- “A filosofia nos dá o conhecimento do universo como uma totalidade orgânica, totalidade que se desenvolve a partir do conceito e que, nada perdendo do que faz dela um conjunto, um todo cujas partes estão unidas pela necessidade, a si mesma regressa e no “regresso a si mesma” forma um mundo de verdade”.

- “Não devemos cair nas ladainhas das lamúrias, dizendo que, no mundo, muitas vezes ou quase sempre, os bons e piedosos são infelizes, ao contrário dos maus e perversos. Por felicidade entendem-se coisas bem diversas, como fortuna, honra mundana e coisas semelhantes. Mas quando se trata de um fim em si e por si, o que se chama ventura ou infortúnio deste ou daquele indivíduo particular não pode ser tomado como momento da ordem racional do universo. Aqui não é o interesse nem a paixão individual que exigem satisfação, mas a razão, o direito, a liberdade”.

Fontes:

AZEVEDO. Ana Catarina Moreira. A Filosofia de Hegel: Fenomenologia. Lisboa: FLUP, 2014.

COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirta. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva: 2010.

DUDLEY, Will. O Idealismo alemão. Trad. Jacques Wainberg. Petrópolis: Vozes, 2018.

HABERMAS, Jurgen. Discurso Filosófico da Modernidade.  São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HEGEL, Friedrich. Fenomenologia do Espírito. Petropólis: Vozes, 1992.

JUNGES, Márcia; MACHADO Ricardo. O olhar de Hegel sobre a história e seus heróis. Revista: instituto humanitas Unisinos. São Leopoldo: IHU, 2013.

KONDER, Leandro. Hegel: A razão quase enlouquecida. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

LOSURDO, Domenico. Hegel e a liberdade dos modernos. São Paulo: Bom Tempo, 2019.

NOVELLI, Pedro Geraldo Aparecido. O ensino da filosofia segundo Hegel: contribuições para a atualidade. Revista: Transformação. São Paulo: Scielo/Unesp, 2005.  

SANTOS, Vitor Lucas Cordovil. O processo de produção do conhecimento dialético em Hegel. Revista: Saberes. Natal: UEPA, 2017.

VAZ, Lima. Senhor e Escravo: uma parábola da filosofia ocidental. Revista: Síntese. Belo Horizonte: Faculdade Jesuíta, 1981.

VELEZ, Ricardo. Tópicos Especiais de Filosofia: Hegel e a dimensão histórica da perspectiva transcendental. Site: Ricardo Velez. Publicado em 2021. Internet: Acesso em 2022. 

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