quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Soares Bezerra

Soares Bezerra – (1810 a 1887) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Manuel Soares da Silva Bezerra foi um filósofo cearense pertencente a corrente de pensamento chamada de “catolicismo ultramontano”. Considerado um profundo estudioso das línguas latinas, ele se especializou no estudo da filologia, escrevendo importantes tratados sobre questões filosóficas e suas relações com a linguagem. Filho do Militar Antônio Bezerra de Meneses (1780 a 1851) e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra de Meneses. Era irmão do conhecido filósofo espírita “Bezerra de Menezes”. Teve dezoito filhos, entre eles está, outro grande filósofo cearense, o ilustre “Antônio Bezerra” (1841 a 1921). Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1836. Atuou como filósofo, professor, ensaísta, político e magistrado, tendo exercido parte de seu magistério no Liceu do Ceará. Foi também juiz municipal de Quixeramobim e prefeito de Fortaleza. Chegou a assumir o cargo de presidente provincial do Ceará por alguns dias pelo partido conservador. Assumiu várias outras funções importantes na administração pública do Ceará. É o patrono da cadeira de número 26 da Academia Cearense de Letras. Recebeu vários títulos de ordenação católica. Nasceu na cidade de Jaguaretama, em 1810 na localidade conhecida como Riacho do Sangue e faleceu no município de Fortaleza, por volta de 1887.

Filosofia Teológica

Era visto como um conceituado intelectual e líder católico que tinha um espírito desapegado aos vícios humanos, por isso não se envaidecia em seus trabalhos pela busca desmedida do fausto social. Como um grande defensor das causas religiosas, procurava sempre transparecer de maneira respeitosa suas crenças. Defendia os valores cristãos da igreja e os conceitos de civilidade. Era visto por muitos como um homem justo, humilde e modesto, praticava o bem sempre ancorado nos sacrossantos princípios morais da igreja. Pregava que grande parte das máculas políticas estava ligada a falta de religiosidade das pessoas. Advogava de maneira contrária aos polemistas e cientificistas que atacavam os dogmas da fé católica. Ensinava que toda lei que não se fundamentava nos valores morais seriam leis injustas, dessa forma, advertia que quem praticasse essas leis imorais estariam exercendo a tirania ao invés da justiça.

Discorria que Deus teria se revelado ao homem por meio de um mundo físico que se relacionava com um plano moral. Dessa maneira, Deus teria dotado o homem de sensibilidade, imaginação e entendimento. Nesse contexto, ele relatava que primeiramente o homem recebia a impressão dos objetos através dos sentidos corpóreos, logo depois, essa sensibilidade apreendida era transmitida para a imaginação que chegava ao cérebro em forma de imagem, visão ou espectro. Posteriormente, a reflexão sobre as imagens ou fantasmas, que se traduziam como sendo uma “luz intelectual”, construía uma faculdade de “universalizar o singular”, essa virtude iria aos poucos se espiritualizando em ideias que originavam o entendimento. Nesse sentido, o entendimento se gera de “si mesmo para si mesmo”, logo, ele tende a se manifestar por sinais e realizar-se por ações, o resultado disso é o “conhecimento” que também se chama de “verbo”.

Filosofia da Linguagem

Utilizava-se de rigor filosófico na confecção de suas obras sempre procurando se polir com aspectos inovadores. Explicava que a linguagem precisava ser estudada, a partir de uma análise lógica das proposições. Desse modo, ele ia delimitando os conceitos e discriminando as definições linguísticas. Dissertava que a gramática era a arte que ensinava as leis da expressão do pensamento por meio das palavras. Distinguia os estudos da gramática universal e da gramática particular, pontuando que a primeira teria uma essência mais geral fundamentada em todas as línguas, enquanto que a segunda estaria ancorada em adaptações particulares de cada região. Diferenciava o conceito de palavra e de vocábulo, argumentando que palavra seria: “a expressão geral do pensamento por sons articulados”. Enquanto que o vocábulo era: “a expressão particular da ideia por sons articulados”.

Filosofia do Ultramontanismo

Segundo algumas fontes históricas, ele foi um grande defensor do chamado “catolicismo ultramontano”. Protegeu de maneira sistemática as teorias do tradicionalismo católico, sendo um forte idealista cearense dessa doutrina. Nessa feita, ele abraçou as causas dessas vicissitudes do tradicionalismo no Ceará, relacionando as ideias do moralismo francês com o transcendentalismo teológico. Essa corrente de pensamento ganhou destaque inicialmente na idade média, com a ideia de que as doutrinas católicas não poderiam se ancorar apenas em pensadores ligados a Roma ou a Itália tradicional, ou seja, deveriam ir “além das montanhas”, daí vem o termo "ultramontanismo". Entretanto, a doutrina passou a ganhar maior destaque, após a revolução francesa, tendo na França seu maior polo de firmação. Ela fazia oposição ao chamado “galicanismo”. Nesse contexto, a ala mais radical dos ultramontanos defendia o poder Papal como única bússola orientadora para as questões ligadas a fé e a disciplina da igreja. Dessa forma, eles queriam que a Igreja tivesse mais autonomia em relação ao Estado, isto é, uma maior independência da Igreja em relação ao governo.

Curiosidades:

Era seu avô materno o revolucionário “Antônio Bezerra de Sousa e Meneses”, que participou da Confederação do Equador. Atuou como chefe comandante das armas. Seu avô teria sido condenado a pena de degredo perpétuo para o interior do Maranhão, em 1825, por ter participado dessa revolta. Contudo, outras fontes afirmam que ele teria sido na verdade condenado a morte, mas que faleceu antes da pena ser executada.

Foi seu irmão também o “Dr. Teófilo Rufino Bezerra de Menezes” que era um renomado jurista e professor do Liceu do Ceará, esse seu irmão teria fundado uma pequena capela católica no antigo “Bairro Vermelho” que é conhecido atualmente como “Antônio Bezerra”, posteriormente essa capela cresceu e se tornou uma igreja conhecida como “paróquia Jesus, Maria e José”.

Obras:

- Compêndio de Gramática Filosófica;

- Os dogmas políticos do Cristão;

- O Inferno;

- Compêndio de Gramática da Língua Nacional;

- Questões de Gramática Filosófica;

- O que é Protestantismo;

- Os deveres do Cristão

- Compêndio de gramática portuguesa para uso do Ateneu Cearense, no Liceu e nas escolas primárias;

Filosofia Sapiencial

- “Não desejo ao vincular ideias e lições, introduzir na circulação, moeda falsa por verdadeira".

- “Não me limito aos “tratadinhos” de palavras que estão em moda, com as novidades de algumas subtilezas e argúcias”.

- "Sim: quem reflete sobre nossa moralidade, comparando-a com a dos séculos passados, não deixará de perceber que dela só conservamos o verniz e a aparência”.

- "Suprimindo-se a repressão moral suprime-se igualmente a repressão legal pela consequência de que a autoridade, que a exerce, é tal qual aquele a quem reprime e que por isso seus atos são tirania e não justiça".

- “Como os sentidos lhe transmitiram e imprimiram-lhe, a imaginação ou fantasia, faculdade sensitiva, que não excede o particular, não representa senão as imagens ou fantasmas nas condições individuais de tempo e lugar”.

- “O som simples ou articulado que não é veículo de alguma ideia, não é palavra nem vocábulo; porque o pensamento, querendo fazer-se conhecer, procura um veículo no som da voz, une-se á voz, encarna de alguma sorte na voz, faz-se voz, são inseparáveis”.

- “Não me perdoaram os críticos, estou certo; mas a quem perdoaram eles? Não espero ser a exceção: nem é possível; porque Deus deu ao homem a variedade no pensar para convencer a cada um da falibilidade da razão individual, e com isso, sujeitá-lo a razão social ou universal”.

- “Saído das mãos de Deus, não podia o homem sem nenhuma ideia, sem nenhum conhecimento dele, percebe-lo, Concebê-lo, e conhecê-lo, nem conhecer-se a si, a lei, o dever, o bem e o mal moral, senão pelo ensino de seu Criador, pela palavra divina, que devia receber e transmitir a sua descendência, sob pena, de perpétua ignorância do que mais lhe importava saber”.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. A Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica (1894 – 1954). Revista da academia cearense de letras. Fortaleza: ACL, 1954.

BEZERRA, Antônio. O Ceará e os Cearenses. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001.

BEZERRA, Antônio Herbert Paz. Genealogia dos Bezerra de Menezes - História e Diáspora. Fortaleza: Premius, 2004.

BEZERRA, Soares. Compendio de gramática filosófica. Internet: Biblioteca Digital Luso Brasileira, 1861.

CASTELO, Plácido. A História do ensino no Ceará. Fortaleza: IOCE, 1970.

DIAS, Milton; ALCÂNTARA, Lúcio. Dois Discursos Acadêmicos. Fortaleza: ACL, 1978.

GALVÃO, Miguel Archanjo. Relação dos cidadãos que tomam parte no governo do Brasil: Período de Mar. 1808 a Nov. de 1889. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1984.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

JÚNIOR, João Geraldo dos Santos. Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP): um movimento ultramontano na Igreja Católica do Brasil? Teses e Dissertações. São Paulo: PUC, 2008.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Genealogia da Ribeira do Jaguaribe. Site: Famílias Cearenses. Internet: Acesso, 2022.

LUSTOSA, Oscar Figueiredo. A Igreja Católica no Brasil e o regime republicano. São Paulo: Loyola, 1990.

MONTENEGRO, João Alfredo. O contexto Histórico da Criação da Diocese no Ceará. Revista Acadêmica da Prainha. Fortaleza: Kairós, 2004.

POMPEU, Gina Vidal Marcílio; TASSIGNY, Mônica Mota. História de nossa gente. Fortaleza: ALC, 2004.

SÁ, Murilo Bezerra. Famílias Cearenses: Estudo genealógico dos Bezerra de Menezes. Revista Instituto do Ceará. Fortaleza: RIC, 1946.

STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense. Fortaleza: Typografia, 1910. 

Um comentário:

  1. Parabéns! Eu não conhecia esse grande filósofo cearense. Eu gostaria muito de ter acesso as obras de Manuel Soares da Silva Bezerra pra mim ficar estudando. Acho que ele foi um dos primeiros cearenses a se dedicar a filosofia no Ceará. Acho que o irmão dele que se chamava Teófilo Rufino Bezerra de Menezes também foi um filósofo.

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