Capistrano de
Abreu - (1853 a 1927) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
João Capistrano
Honório de Abreu foi um filósofo historicista cearense
que atuou nos estudos da historiologia crítica e da literatura nacional.
Afirmou-se como sendo adepto do chamado “Realismo Histórico”. Pretendia com
seus estudos descobrir o que ele chamava de "as leis fatais que
regem a sociedade brasileira”. Transcorreu seus pensamentos também
pela linha cunhada de “Determinismo Sociológico”. Colaborou com os campos da
etnografia e da linguística, sendo considerado um “etnolinguístico”. Realizou
seus primeiros estudos em algumas escolas de Fortaleza, tendo concluído o curso
de humanidades na cidade do Recife. Laborou como funcionário da Biblioteca
Nacional, tendo também lecionado Geografia e História do Brasil no Colégio
Pedro II. Foi consagrado como um dos primeiros historiadores do Brasil com
grande relevância entre os pensadores da historiografia moderna. Recebeu o
título de “o príncipe dos historiadores brasileiros”. Chegou a
realizar encontros com o escritor José de Alencar, onde foram produzidas
pesquisas sobre o folclore cearense. É tido como patrono da cadeira de número
15 da Academia Cearense de Letras e também da cadeira 23 da Academia Brasileira
de Literatura e Cordel. Participou como membro do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. Era filho do Militar Jerônimo Honório de Abreu com a
Dona Antônia Vieira de Abreu. Nasceu no município de Maranguape, no ano de 1853
e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1927, vítima de uma pneumonia.
Filosofia da
História
Desenvolveu
grandes trabalhos a respeito do universo historiográfico brasileiro. Teve como principais
traços que marcaram sua obra: um estudo sistemático das fontes e um olhar
analítico sobre os fatos históricos. Suas pesquisas compreenderam uma visão
moderna em relação ao prisma da interpretação e investigação dos fatos. Seus
ensaios se direcionaram em contraposição aos pensamentos do historiador
brasileiro “Adolfo de Varnhagen”. A pesquisa de Capistrano construía um estudo
historiográfico que visava ensinar e discutir a “História” para além dos fatos,
nomes e datas. Aprofundou-se nos estudos da história colonial brasileira, com
isso, desenvolveu uma teoria a respeito da literatura nacional. Ancorou sua
tese nos princípios conceituais sobre os climas, a geografia e as raças,
criticando os mitos romantizados que foram construídos sobre o índio brasileiro,
pois estes eram vistos como “bons selvagens”. Combateu o simbolismo
eurocêntrico que intencionava justificar o colonialismo nos trópicos
brasileiros. Essa inovação, de conceber um novo olhar historiográfico,
impulsionou uma aproximação da vida cosmopolita do litoral com a sociedade
agreste do sertão.
A linha conceitual
desenvolvida por Capistrano delimitou os primeiros modelos de construção de um
pensamento social no Brasil, contribuindo com a história da inteligência
brasileira. Recorreu às ciências sociais como ferramenta de auxílio na
construção de sua obra. Segundo relata Morais (2010, p.9), Capistrano explicava
que existia uma comunidade política brasileira, em ascendência, que estava se
formando, em meio a um confuso processo de mudanças e complexos conflitos.
Existia de um lado o “povo” que representava o espírito de “nação” contra um
“Estado” que simbolizava um “governo”.
Dessa tensão é que se formaria o Brasil. Ambos estavam pensando um
projeto de país sem muita clareza e consciência de qual lado pertenciam de fato
ou porque se digladiavam. Dito isto, surgiu a seguinte reflexão de Capistrano: "punge-me
sempre e sempre a dúvida: o brasileiro é um povo em formação ou em
dissolução?".
Filosofia Política
Foi um dos
fundadores da Academia Francesa do Ceará, local onde eram debatidas as questões
sobre política, cultura, literatura e filosofia. Defendia os ideais
progressistas e algumas questões contra a igreja. Vivenciou a influência da
máxima chamada “surto de novas ideias” que tinha sido idealizada pela Escola de
Recife. Sua obra representava um novo olhar expressivo do contexto
sócio-político brasileiro, delineando uma roupagem que destacava os elementos
nacionais. A vanguarda do seu pensamento
se entrelaçava entre os campos das ciências humanas, econômicas, sociológicas,
antropológicas, políticas e filosóficas, com isso, refutava o conservadorismo
que era enaltecido de maneira centralizada. Sua visão abriu uma nova fase de
construção historiográfica, delimitando novos horizontes filosóficos da
história do Brasil.
Advertia a
respeito da importância que o historiador teria no contexto geral, atuando com
responsabilidade social e realizando ações de utilidade pública em prol da
sociedade. Denunciou através de cartas o burocratismo atravancado que obstruía
a pesquisa no Brasil. Esse burocratismo de prática autoritária visava legitimar
os interesses e privilégios que alguns intelectuais possuíam de ter acessos
exclusivos a livros e documentos com mais facilidade, exercendo, dessa forma,
seu objeto de poder, através do uso e do monopólio dos instrumentos de
pesquisa. Teria sido convidado para fazer parte da Academia Brasileira de
Letras, mas esquivou-se de tomar posse nessa casa por questões políticas e
pessoais. Segundo algumas fontes, Capistrano era avesso a títulos altivos,
vaidades imperiosas e condecorações acadêmicas, justificando seu
posicionamento, por conta de sua forte atuação profissional como historiador
que deveria ser isonômica e o mais imparcial possível. Nesse sentido, ele dizia
que: “minhas aspirações se reduzem a morrer sem escândalos”.
Anedota
Na transição do
Brasil império para o Brasil república aconteceu uma reforma na educação
brasileira que culminou com a extinção da disciplina de História do Brasil dos
currículos escolares, nesse ínterim, Capistrano foi colocado em disponibilidade
e convidado a lecionar a cadeira de História Universal, conta-se que ele teria
se recusado, e a partir daí, passou a se dedicar nas pesquisas sobre a História
do Brasil, resultando em sua obra prima intitulada de “Capítulos da
História Colonial”.
Obras
Estudo sobre
Raimundo da Rocha Lima; José de Alencar; O Descobrimento do Brasil; A língua
dos Bacaeris; Capítulos de História Colonial; Dois documentos sobre Caxinauás;
Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil; Ensaios e Estudos; Correspondência;
Cartas de Capistrano de Abreu a Lino de Assunção; A geografia física do Brasil;
Kosmos; O Livro do Centenário.
Filosofia
Sapiencial
- "Não há em
História maior logro que a alusão."
- “É bom que os
críticos estreiem por obras próprias”.
- “Levantados os
andaimes, saberei melhorar o tujupar”.
- “As obras do
amor são as únicas que pagam o sacrifício”.
- "Só entrei
para a sociedade humana porque não fui previamente consultado."
- “Todo artista
tem um gérmen original que é a base e o 'substrato' de seu talento”.
- “O brasileiro é
povo em formação ou em dissolução? Vale a pena ocupar-se de um povo dissoluto?”
- “José de Alencar
é o primeiro e principal homem de letras brasileiro, é o fundador de nossa
literatura”.
- “Minha
aspirações se reduzem a morrer sem escândalo, sair do mundo silenciosamente
como nele entrei”.
- “É sempre assim:
não curamos do tempo, o tempo tudo escritura e surpreende-nos com suas contas
monstruosas”.
- “Eu proporia que
se substituíssem todos os capítulos da Constituição por um Artigo Único: Todo
brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”.
- “Crítica
sintética, impessoal e positiva só me parece possível fundada em dois
princípios: o primeiro é que a literatura é a expressão da sociedade, o segundo
é que o estilo é o homem.”
- “Se o estilo é o
homem, todo livro é um problema psicológico digno de estudo, e se a curiosidade
estética não se satisfaz, a teoria científica do espírito sempre aproveita com
seu exame”.
- “Para a questão
do suicídio, nunca existirá uma explicação bastante razoável, porque às vezes o
desespero surge em uma situação menos provável ou terrível do que outra, para a
qual, antes sobrava coragem: Desse modo, para mim todo suicida é sagrado”.
- “Há anos, quando eu desembarcava aqui, em um dia de cerração. Quão pouco sabia da vida. Não distava muito de um cego, solto nessa cidade de automóveis. Ainda hoje, quando penso no passado, não compreendo como não soçobrei desde as primeiras passadas”.
Fontes:
ABREU, Capistrano
de. Capítulos da História Colonial. Rio de Janeiro: Briguiet e Cia,
1954.
_________________ O
Descobrimento do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ARAÚJO, Sadoc. Ascendência
sobralense de Capistrano de Abreu. Fortaleza: Instituto do Ceará,
acesso 2022.
BLOCH, Marc. História
e Historiadores. Lisboa: Teorema, 1998.
CHRISTINO,
Beatriz. Capistrano de Abreu e o rã-txa hu-ni-ku-ĩ. Internet:
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - línguas e culturas indígenas
sul-americanas, 2010.
FLORES,
Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: PUCRS, 2008.
GONTIJO,
Rebeca. História e historiografia nas cartas de Capistrano de
Abreu. Revista Perspectivas. São Paulo: UNESP/Scielo,
2005.
IGLÉSIAS,
Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia
brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
LIMA, Francisco
Augusto de Araújo. Historiador: Capistrano de Abreu. Site: Famílias
Cearenses. Internet: Acesso, 2022.
MORAIS, Alexandre
Magno. A historiografia na rede: Capistrano de Abreu e a construção da
moderna historiografia brasileira. Tese de Mestrado. Belo Horizonte: UFMG,
2010.
RIBEIRO,
João. Historiadores: Obras Críticas. Rio de Janeiro: Academia
Brasileira de Letras, 1961.
RODRIGUES, José
Honório. Capistrano de Abreu e a historiografia brasileira: História
e historiadores do Brasil. São Paulo: Fulgor, 1975.
VIANNA, Hélio. Capistrano de Abreu: O descobrimento do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário