sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Capistrano de Abreu

Capistrano de Abreu - (1853 a 1927) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

João Capistrano Honório de Abreu foi um filósofo historicista cearense que atuou nos estudos da historiologia crítica e da literatura nacional. Afirmou-se como sendo adepto do chamado “Realismo Histórico”. Pretendia com seus estudos descobrir o que ele chamava de "as leis fatais que regem a sociedade brasileira”. Transcorreu seus pensamentos também pela linha cunhada de “Determinismo Sociológico”. Colaborou com os campos da etnografia e da linguística, sendo considerado um “etnolinguístico”. Realizou seus primeiros estudos em algumas escolas de Fortaleza, tendo concluído o curso de humanidades na cidade do Recife. Laborou como funcionário da Biblioteca Nacional, tendo também lecionado Geografia e História do Brasil no Colégio Pedro II. Foi consagrado como um dos primeiros historiadores do Brasil com grande relevância entre os pensadores da historiografia moderna. Recebeu o título de “o príncipe dos historiadores brasileiros”. Chegou a realizar encontros com o escritor José de Alencar, onde foram produzidas pesquisas sobre o folclore cearense. É tido como patrono da cadeira de número 15 da Academia Cearense de Letras e também da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura e Cordel. Participou como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Era filho do Militar Jerônimo Honório de Abreu com a Dona Antônia Vieira de Abreu. Nasceu no município de Maranguape, no ano de 1853 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1927, vítima de uma pneumonia. 

Filosofia da História

Desenvolveu grandes trabalhos a respeito do universo historiográfico brasileiro. Teve como principais traços que marcaram sua obra: um estudo sistemático das fontes e um olhar analítico sobre os fatos históricos. Suas pesquisas compreenderam uma visão moderna em relação ao prisma da interpretação e investigação dos fatos. Seus ensaios se direcionaram em contraposição aos pensamentos do historiador brasileiro “Adolfo de Varnhagen”. A pesquisa de Capistrano construía um estudo historiográfico que visava ensinar e discutir a “História” para além dos fatos, nomes e datas. Aprofundou-se nos estudos da história colonial brasileira, com isso, desenvolveu uma teoria a respeito da literatura nacional. Ancorou sua tese nos princípios conceituais sobre os climas, a geografia e as raças, criticando os mitos romantizados que foram construídos sobre o índio brasileiro, pois estes eram vistos como “bons selvagens”. Combateu o simbolismo eurocêntrico que intencionava justificar o colonialismo nos trópicos brasileiros. Essa inovação, de conceber um novo olhar historiográfico, impulsionou uma aproximação da vida cosmopolita do litoral com a sociedade agreste do sertão.

A linha conceitual desenvolvida por Capistrano delimitou os primeiros modelos de construção de um pensamento social no Brasil, contribuindo com a história da inteligência brasileira. Recorreu às ciências sociais como ferramenta de auxílio na construção de sua obra. Segundo relata Morais (2010, p.9), Capistrano explicava que existia uma comunidade política brasileira, em ascendência, que estava se formando, em meio a um confuso processo de mudanças e complexos conflitos. Existia de um lado o “povo” que representava o espírito de “nação” contra um “Estado” que simbolizava um “governo”.  Dessa tensão é que se formaria o Brasil. Ambos estavam pensando um projeto de país sem muita clareza e consciência de qual lado pertenciam de fato ou porque se digladiavam. Dito isto, surgiu a seguinte reflexão de Capistrano: "punge-me sempre e sempre a dúvida: o brasileiro é um povo em formação ou em dissolução?".

Filosofia Política

Foi um dos fundadores da Academia Francesa do Ceará, local onde eram debatidas as questões sobre política, cultura, literatura e filosofia. Defendia os ideais progressistas e algumas questões contra a igreja. Vivenciou a influência da máxima chamada “surto de novas ideias” que tinha sido idealizada pela Escola de Recife. Sua obra representava um novo olhar expressivo do contexto sócio-político brasileiro, delineando uma roupagem que destacava os elementos nacionais.  A vanguarda do seu pensamento se entrelaçava entre os campos das ciências humanas, econômicas, sociológicas, antropológicas, políticas e filosóficas, com isso, refutava o conservadorismo que era enaltecido de maneira centralizada. Sua visão abriu uma nova fase de construção historiográfica, delimitando novos horizontes filosóficos da história do Brasil.

Advertia a respeito da importância que o historiador teria no contexto geral, atuando com responsabilidade social e realizando ações de utilidade pública em prol da sociedade. Denunciou através de cartas o burocratismo atravancado que obstruía a pesquisa no Brasil. Esse burocratismo de prática autoritária visava legitimar os interesses e privilégios que alguns intelectuais possuíam de ter acessos exclusivos a livros e documentos com mais facilidade, exercendo, dessa forma, seu objeto de poder, através do uso e do monopólio dos instrumentos de pesquisa. Teria sido convidado para fazer parte da Academia Brasileira de Letras, mas esquivou-se de tomar posse nessa casa por questões políticas e pessoais. Segundo algumas fontes, Capistrano era avesso a títulos altivos, vaidades imperiosas e condecorações acadêmicas, justificando seu posicionamento, por conta de sua forte atuação profissional como historiador que deveria ser isonômica e o mais imparcial possível. Nesse sentido, ele dizia que: “minhas aspirações se reduzem a morrer sem escândalos”.

Anedota

Na transição do Brasil império para o Brasil república aconteceu uma reforma na educação brasileira que culminou com a extinção da disciplina de História do Brasil dos currículos escolares, nesse ínterim, Capistrano foi colocado em disponibilidade e convidado a lecionar a cadeira de História Universal, conta-se que ele teria se recusado, e a partir daí, passou a se dedicar nas pesquisas sobre a História do Brasil, resultando em sua obra prima intitulada de “Capítulos da História Colonial”.

Obras

Estudo sobre Raimundo da Rocha Lima; José de Alencar; O Descobrimento do Brasil; A língua dos Bacaeris; Capítulos de História Colonial; Dois documentos sobre Caxinauás; Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil; Ensaios e Estudos; Correspondência; Cartas de Capistrano de Abreu a Lino de Assunção; A geografia física do Brasil; Kosmos; O Livro do Centenário. 

Filosofia Sapiencial

- "Não há em História maior logro que a alusão."

- “É bom que os críticos estreiem por obras próprias”.

- “Levantados os andaimes, saberei melhorar o tujupar”. 

- “As obras do amor são as únicas que pagam o sacrifício”.

- "Só entrei para a sociedade humana porque não fui previamente consultado."

- “Todo artista tem um gérmen original que é a base e o 'substrato' de seu talento”.

- “O brasileiro é povo em formação ou em dissolução? Vale a pena ocupar-se de um povo dissoluto?”

- “José de Alencar é o primeiro e principal homem de letras brasileiro, é o fundador de nossa literatura”.

- “Minha aspirações se reduzem a morrer sem escândalo, sair do mundo silenciosamente como nele entrei”. 

- “É sempre assim: não curamos do tempo, o tempo tudo escritura e surpreende-nos com suas contas monstruosas”.

- “Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por um Artigo Único: Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara”.

- “Crítica sintética, impessoal e positiva só me parece possível fundada em dois princípios: o primeiro é que a literatura é a expressão da sociedade, o segundo é que o estilo é o homem.”

- “Se o estilo é o homem, todo livro é um problema psicológico digno de estudo, e se a curiosidade estética não se satisfaz, a teoria científica do espírito sempre aproveita com seu exame”.

- “Para a questão do suicídio, nunca existirá uma explicação bastante razoável, porque às vezes o desespero surge em uma situação menos provável ou terrível do que outra, para a qual, antes sobrava coragem: Desse modo, para mim todo suicida é sagrado”.

- “Há anos, quando eu desembarcava aqui, em um dia de cerração. Quão pouco sabia da vida. Não distava muito de um cego, solto nessa cidade de automóveis. Ainda hoje, quando penso no passado, não compreendo como não soçobrei desde as primeiras passadas”.

Fontes:

ABREU, Capistrano de. Capítulos da História Colonial. Rio de Janeiro: Briguiet e Cia, 1954.

_________________ O Descobrimento do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ARAÚJO, Sadoc. Ascendência sobralense de Capistrano de Abreu. Fortaleza: Instituto do Ceará, acesso 2022.

BLOCH, Marc. História e Historiadores. Lisboa: Teorema, 1998.

CHRISTINO, Beatriz. Capistrano de Abreu e o rã-txa hu-ni-ku-ĩ. Internet: Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - línguas e culturas indígenas sul-americanas, 2010.

FLORES, Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: PUCRS, 2008.

GONTIJO, Rebeca. História e historiografia nas cartas de Capistrano de Abreu. Revista Perspectivas. São Paulo: UNESP/Scielo, 2005.

IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Historiador: Capistrano de Abreu. Site: Famílias Cearenses. Internet: Acesso, 2022.

MORAIS, Alexandre Magno. A historiografia na rede: Capistrano de Abreu e a construção da moderna historiografia brasileira. Tese de Mestrado. Belo Horizonte: UFMG, 2010.  

RIBEIRO, João. Historiadores: Obras Críticas. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1961.

RODRIGUES, José Honório. Capistrano de Abreu e a historiografia brasileiraHistória e historiadores do Brasil. São Paulo: Fulgor, 1975.

VIANNA, Hélio. Capistrano de Abreu: O descobrimento do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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