Monte Alverne – (1784 a 1858) d.C
Autor: Alysomax
Soares
Introdução
Francisco José de
Carvalho foi um filósofo brasileiro ligado a corrente
de pensamento chamada de ecletismo. Teria sido influenciado pela filosofia
sensualista do pensador iluminista Condillac e também pelo ecletismo
espiritualista de Victor Cousin. Escreveu algumas obras em formato de sermões,
alegorias, discursos, compêndios e literatura. Ficou conhecido como o “Frei
Francisco de Mont’Alverne”. Esse codinome lhe foi dado pela ordem dos
franciscanos, em homenagem ao “Padre Francisco de Assis”, simbolizando um
momento de reflexão vivido pelos frades no conhecido “Monte Alverne” localizado
na Itália. Alverne era filho do ourives João Antônio Silveira e de Ana
Francisca da Conceição. Cogita-se a hipótese de Mont’Alverne ter sido filho de
criação desse casal. Estudou Teologia e Filosofia no Convento São Francisco de
Assis, em São Paulo.
Foi considerado um
dos grandes oradores sacros da igreja católica no Brasil. Inicialmente, ele teria
sido nomeado por D. João VI para o cargo de Pregador, havendo posteriormente
exercido diversas outras funções na área política e na educação. Lecionou
disciplinas da área de Filosofia, Oratória e Teologia. Tendo exercido partes do
seu professorado no Convento de Santo Antônio da Ordem Franciscana. Foi membro
da Academia de Belas Artes e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Floresceu no período de transição do Brasil colônia para o período
emancipatório de independência brasileira. Sofreu algumas limitações visuais
que comprometeram seu desempenho nas suas atividades laborais. Acredita-se que
tenha sido acometido por uma doença conhecida como “amaurose”. Passou então a
viver afastado, por um longo tempo, de suas funções, tendo retornado ao fim de
sua vida, através de convites, para realizar novos discursos públicos. Nasceu
na cidade do Rio de Janeiro, em 1784 e faleceu no município de Niterói, por
volta de 1858, de morte cerebral, em um retiro na casa de amigos.
Filosofia do
Ecletismo
Sua admirável
oratória teria exercido grande poder de influência na formação de opiniões
públicas. Essa influência teve papel importante na caracterização do pensamento
nacional. Contribuindo para a formação da identidade nacional e a invenção da
intelectualidade brasileira. Como professor, rejeitou nos últimos anos, a
“escolástica tomista” para defender o ecletismo de Victor Cousin. A
originalidade do seu ecletismo se encontrava ancorado em uma espécie denominada
de “romantismo sermonístico”. Visto como um dos idealizadores do romantismo no
Brasil, ele exerceu grande influência nos escritores do romantismo brasileiro.
Transcorreu através de sua sermonística pelos horizontes da poética, da
política, da teologia e da filosofia. Inclinando-se mais propriamente nos
caminhos da estética e da moral. Alguns pesquisadores apontam como principais
características de sua filosofia, os elementos ligados ao arcadismo, ocultismo,
exotismo, individualismo, subjetivismo, reformismo, exageração, sensualismo e
informalismo. Nesse sentido, sua “sermonística universalista” transitava entre
ideias espiritualistas e percepções do ecletismo.
Filosofia
Teopolítica
Visto por alguns
pensadores como um dos grandes nomes da cultura no Brasil, ele direcionava
alguns de seus discursos para reflexões do cotidiano brasileiro. Sua veia do
romantismo dialogava entre conceitos teológicos e acepções patrióticas.
Dissertou sobre preceitos políticos e religiosos que se mesclavam, dando,
com isso, origem a reflexões enigmáticas. Seu criticismo erudito era muitas
vezes confundido com pedantismo. Sua ótima eloquência encenava admiráveis
análises políticas, por isso, era descrito como sendo um grande sedutor
público. Caminhava dialeticamente entre noções de transformações reformistas e
o conservadorismo dos aspectos tradicionalistas. Dessa forma, foi apontado como
um crítico moderado e conciliador. Essa denominação criticista era vista como
sendo gerada por pensadores que lutavam por reformas, mas não desejavam
revoluções. Defendia alguns pontos positivos que ele identificava na monarquia
vigente, mas argumentava em prol de reformas na área da educação. Nesse
contexto, sua obra é tida como um marco civilizatório e emancipatório para o
país, pois era dotada de dinamismo, em meio ao conturbado cenário de construção
do pensamento político brasileiro. Seu trabalho teria influenciado as primeiras
correntes políticas do pensamento liberal do país. A veia liberal de Monte
Alverne se articulava ecleticamente com os ideais iluministas e com alguns
princípios luso-monárquicos. Ele não chegou a se envolver diretamente nas
questões políticas de seu tempo, tendo apenas ensaiado conceitos e pensamentos.
Dessa maneira, ele afirmava que: “Sou frade e frade morrerei”.
Filosofia Moral
Absorveu os princípios religiosos da simplicidade e do desprendimento material, negando os prazeres mundanos e adotando a solidariedade como bússola orientadora de sua vida. Ele se via como um instrumento de revelação da verdade de Deus na Terra, por isso dizia interceder pela humanidade junto a Deus. Realizou o voto de pobreza como incentivo a regulação de sua conduta moral. Assumiu uma nova postura social que se compatibilizasse com sua religiosidade. Misturou elementos da moral jesuítica com a nova proposta da filosofia ética e modernizadora do ecletismo. Realizou várias preleções onde praticava seu doutrinamento moral e ensinava a seus discípulos. Segundo Gonçalves de Magalhães, Monte’Alverne sentia o que dizia, pois comunicava sua sensibilidade moral de forma bastante sublime e de maneira bem estruturada. Pensou um sistema de explicação denominado de “sensual-espiritualista” que clareava a noção de consciência da alma e sua relação com a vontade individual do homem. Alverne acreditava que a percepção do conhecimento poderia ser entendida pelo espírito humano por meio da comunicação de uma verdade científica. Nesse sentido, o entendimento humano teria as faculdades de perceber, julgar e raciocinar. O homem tateava a clareza do seu juízo através de um “discurso lógico” que delimitava os horizontes dos saberes morais e éticos. Ele conceituava a diferença existente entre descrição e definição, pontuando que a primeira seria uma sentença que se refere a um conjunto enumerado de circunstâncias, com a finalidade de determinar o conhecimento de algo. Já a segunda, seria a maneira de evidenciar a essência fundamental das coisas. O juízo humano deveria, então, utilizar a “descrição” e a “definição” para construir uma “distinção” que estaria baseada em três aspectos principais a serem investigados, os planos: físico, metafísico e lógico. Segundo Alverne, o juízo seria o ato positivo e o ato real da alma humana, que poderia ser percebido de forma intuitiva através da percepção mais conveniente entre duas ideias, pois a natureza do juízo consistiria, em ser um ato da alma, e alma atua melhor, quando ela julga.
Filosofia
Sapiencial
+ “O púlpito foi à
pira em que arderam meus olhos”
+ “Minha duração é
um momento, meu lugar é um ponto”.
+ "O entendimento é a potência de perceber, julgar e raciocinar"
+ “Deus esmaga nas
barreiras do túmulo todos esses gigantes da Terra”.
+ “A moralidade
dos reis é o mais seguro penhor da felicidade dos povos”.
+ “A perfeita
certeza jaz aqui no conhecimento da totalidade destas coisas”.
+ “Repeli com
horror todas as insinuações que tendem a destruir o edifício social”.
+ “Quando falo da
liberdade me refiro a esta liberdade que não aqueceu os ossos de nossos pais”.
+ “É uma injustiça
reconhecer nas revoluções políticas dos povos a influência exclusiva das
paixões e dos crimes individuais”.
+ “Homem! Em outro
tempo eu vos convidaria a vir nesta comunidade tomar um lugar que fica vago.
Hoje, porém lhe digo que melhor destino espera o talento”.
+ “Os verdadeiros
filhos de uma pátria degenerada não podem encontrar algum pretexto para violar
uma convenção regulada pelos princípios da justiça”.
+ “Salve, ó pátria
minha, ó terra de minha mãe, ó país em que descansam as cinzas veneráveis de
meu pai! Tu serás grande, tu serás venturosa, assim está escrito, assim está
decretado."
+ “É nessas
barreiras formidáveis dos revoltosos nas revoluções que se despedaçam todos
esses opressores que fundam a sua grandeza e a sua glória nas lágrimas, nos
gemidos e na miséria dos povos”.
+ “A vida do
claustro se não é o consórcio instintivo com a humildade, é um martírio sem
mérito; porque não ha entusiasmo que lento sustente por uma vida inteira o
sacrifício forçado das mais imperiosas paixões humanas”.
+ “Tantos
esforços, fadigas tão aturadas eram precisas para deixar um vestígio de minha
passagem nesta terra, onde recebi aplausos, coroas e ovações, de que nenhum
orador, nenhum filósofo antes de mim ousou ainda gloriar-se”.
+ “Teus bravos
filhos proclamaram no meio dos mais ardentes aplausos à intervenção do homem
extraordinário, que reanimando o valor de nossos batalhões afugentou de nossas
praias esses ferozes opressores que pretendiam lançar sobre nossos pulsos o cadeado
infame da escravidão e do opróbrio”.
+ "Quando
todas as nações da Terra se deixassem envilecer pelo cativeiro, quando todo o
mundo se desonrasse abraçando uma direção que degrada e embrutece o homem; cada
um de nós cerrando o coração às suas mais caras afeições deve defender a todo o
transe esta árvore misteriosa que encerra a semente da prosperidade nacional”.
+ “Se eu soubesse
que era arrancado das bordas do meu sepulcro, do seio do meu retiro, para
receber das mãos da mocidade uma coroa de louros, honra cívica que premia meus
serviços pisados pela ignorância, esquecidos pela estupidez, e mal pagos pela
mais fria indiferença, ainda assim talvez não tivesse coragem de apresentar-me
para recebê-la”.
+ "Empreguei,
é verdade, os anos da minha mocidade em dirigir as inteligências que me tinham
sido confiadas, revelei verdades que meus antecessores não me tinham
comunicado, alarguei a esfera da inteligência; marchei intrépido; pisei o
egoísmo; fui sobranceiro à inteligência; não voltei o rosto à injúria, à calúnia;
fui conspurcado por a inveja...; mas longe de sucumbir levei de vencida meus
adversários”.
+ “Ao fragor do
incêndio que reduzia a cinzas nossas povoações, ao tinido lúgubre dos punhais
fratricidas que votavam a uma vingança estúpida centenas de vítimas, à
inauguração desses festins selvagens, em que o canibalismo dava os mais
frenéticos embora ao roubo, à devastação, à barbaridade e à ignorância, Deus
nos deparou no Príncipe com que nos mimoseara, o termo de tantos danos, e a
aurora de uma felicidade que não nos era dado lobrigar."
+ “Não, não
poderei terminar o quadro que acabei de bosquejar: compelido por ser uma força
irresistível a encetar de novo a carreira que percorri por anos, quando a
imaginação está extinta, quando a robustez da inteligência está enfraquecida
por tantos esforços. Não vejo as galas do santuário, e eu mesmo pareço estranho
àqueles que me escutam, como desenterrar este passado tão fértil em
reminiscências? Como reproduzir esses transportes, esse enlevo com que realcei
as festas da religião e da pátria?”
+ “Basta! com
efeito, entrar em mim mesmo para ser convencido, que minha alma tem o senso
íntimo, ou a consciência de tudo o que experimenta. Ele constitui esta -
Unidade, este Eu - , que se incorpora, se identifica com tudo, o que se passa
na alma; que reúne em si tudo isto, apropria-se o passado, como o presente; e
reúne desta sorte numa só individualidade, em uma só existência toda a série
das percepções, e das operações da alma. É este sentimento tão claro, tão
permanente, tão uniforme, que eu tenho da minha própria individualidade, do meu
Eu, quem me assegura que existo; e a minha existência é uma destas verdades de uma
evidencia propriamente dita, á quem nada pode enfraquecer: porque não podendo
ter uma percepção, sem ao mesmo tempo sentir, que sou eu, quem a tenho; não
posso sentir que eu tenho esta percepção, sem sentir ao mesmo tempo que existo”.
Obras:
- Obras Oratórias
(1833)
- Compêndio de
Filosofia (1859)
- Trabalhos
Literários (1863)
Fontes:
BDLB. Biblioteca
Digital Luso-Brasileira. Cartas autografas e uma por cópia de Frei
Francisco do Monte-Alverne 1784 a 1858, oferecidas à Biblioteca Nacional da
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roteiro para um novo estudo. Revista Intellectus. Rio de Janeiro:
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Monte-Alverne. Rio de Janeiro: IHGB, 1859.
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Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.
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