terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Shuruppak da Suméria

Shuruppak da Suméria – (2600 a 2500) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo sumeriano da antiguidade que deixou uma obra com instruções sapienciais. Seu compilado textual ficou conhecido como “as instruções de Shuruppak”. Essa obra está inserida na lista dos livros mais antigos da humanidade. Utilizou-se da literatura da sabedoria para escrever seus ensinamentos sobre a filosofia moral. Sua obra foi escrita em formato de “sebayt” que eram manuais de instruções faraônicas tidas como um gênero tipicamente egípcio. Essas instruções sapienciais era uma prática tradicional muito difundida na antiga Mesopotâmia. Seu nome representava uma grande cidade da antiga Suméria que teria sido inundada. Esse nome era transcrito de várias formas como “Xurupaque, Churupaque ou Shuruppak”. Seu pai era conhecido pelo nome de “Ubara-Tutu”, e Shuruppak teria recebido as instruções como forma de tradição oral para ser ensinada também ao seu filho conhecido por “Ziusudra”. Floresceu aproximadamente em meados do século XXVI a.C, em uma região da antiga Mesopotâmia que atualmente fica localizado no Iraque.

Filosofia Moral

Sua filosofia era apoiada em uma lista de conselhos sobre sabedoria antiga. Muitas lições se assemelhavam com os chamados ensinamentos proverbiais. As dicas relatavam práticas sobre preceitos morais e terminavam com uma mensagem aforística. Seus textos aconselhavam sobre regras morais como a virtude, a piedade e a obediência às leis. Revelavam ensinamentos populares que se misturavam com temas da natureza. No contexto social, tratava sobre dualidades entre os conceitos de justiça e sabedoria. Mostrava algumas formas de como administrar e organizar bem um reino. As concepções morais se baseavam numa relação dialética e dialógica entre os costumes e as leis. Além desses temas, também eram discutidas ideias sobre família, servidão e civismo social.

Filosofia da Educação

Essa obra era vista como uma ferramenta de ensino que advertia a respeito da arte de viver bem e de como ter uma boa educação. Relacionava os ensinamentos das experiências de vida com reflexões e prolóquios. Tratava-se de transmitir a sabedoria tradicional para as novas gerações. A tradição oral e a escrita, nesse tempo, reproduzia os textos de maneira repetitiva com o objetivo de reiterar o que era ensinado. Havia em seus textos diversos conselhos sobre cuidados que os homens deveriam ter com as mulheres. Também continha ensinamentos a respeito da submissão que homem deveria ter com a ordem natural do universo. Alguns dos ensinamentos se iniciavam com palavras negativas que transmitiam através de um reforço ou conduta, uma sentença positiva, culminando didaticamente numa espécie de pedagogia primitiva, exemplos:

“Não se sente sozinho em um aposento com uma mulher casada e não sorria com uma jovem que é casada, pois um falso caluniador pode causar uma mentira séria; Não compre uma prostituta, ela é o lado afiado de uma foice; Não construas a tua casa próxima da praça pública - existe sempre muita gente por lá; Não deverás falar de forma imprópria, poderá ser perigoso para ti mais tarde”. (Shuruppak)


Filosofia do Direito

As máximas, além de abrangerem a dicotomia existente entre o ignorante e o sábio, também transmitiam uma contraposição entre o bem e o mal. Desse modo, os textos revelavam uma preocupação de construir um padrão de ordem social que teriam sido influenciados pela mitologia sumeriana, em que uma deidade conhecida como “Utu” simbolizava a justiça. Nessa época, os egípcios construíram um grande legado jurídico de regulação civil. Nesse sentido, foram encontrados alguns escritos cuneiformes que faziam alusão a espécies de contratos de compra e venda de imóveis, em que teria o nome de Shuruppak como sendo uma das partes, e servindo como modelos para serem utilizados. Seu legado jurídico também advertia sobre a prática dos crimes violentos e suas consequências, servindo como bússola orientadora das práticas primitivas do Direito consuetudinário.

Filosofia da História

Estudos arqueológicos descobriram fragmentos das instruções em tabloides que foram escavados na localidade de Abu Salabikh e Adab.  A escrita teria sido registrada em formato de cunhas que eram reportadas em placas de barro. Despois de achados, e após serem conservados, os registros foram enviados para grandes universidades para serem transliterados e traduzidos. Partes dos fragmentos possuem abreviações, por isso ainda não foi possível decifrar algumas informações que estão contidas nas tabuinhas. Segundos os arqueólogos, devido ao fato de algumas partes estarem ilegíveis, os registros também possuem lacunas imprecisas e difíceis de elucidar. As Instruções datavam como sendo originárias do início do terceiro milênio a.C, sendo consideradas um dos escritos mais antigos da civilização sumeriana.

Filosofia Sapiencial

+ “O negligente arruína sua família”.

+ "Não compre um burro que zurra e freia demais”.

+ “O dom de palavras é algo que acalma a mente”

+ “Um povo sem rei é como um rebanho sem pastor”.

+ “Meu filho, não amaldiçoe o dia antes de ver a noite”.

+ “Não se sente em um aposento com uma mulher casada”.

+ “Não sorria com uma jovem que é casada; a calúnia é errada”.

+ “Não compre uma prostituta; ela é o lado afiado de uma foice”.

+ “As instruções de um ancião são preciosas; você deve cumpri-las”

+ “O Destino é como a margem de um rio, pode fazer-nos escorregar”

+ “Se um rei ignorar a lei, seu povo cairá no caos e seu país ficará devastado”.

+ “Peguei areia e levantei sal, mas não é nada mais pesado do que uma dívida”!

+ “Um coração amoroso mantém uma família; um coração odioso destrói uma família”.

+ “O rato que colhe grãos nos campos ridiculariza a vespa picando o fruto do pomar”.

+ “Um fio triplo não se rompe rapidamente. A corda tripla dificilmente pode ser cortada”.

+ “O filho que é educado e que é colocado em um obstáculo terá sucesso na vida”.

+ “Não construas a tua casa próxima da praça pública - existe sempre muita gente por lá”

+ “Não tenha relações sexuais com sua escrava, ela o vai tratar com desrespeito”. 

+ “A língua do rei é doce, mas pode quebrar as costelas de um dragão. É como a morte que não pode ser vista”.

+ “Se um rei desrespeita a lei de seu país. Então, o rei dos destinos, mudará seu destino e não parará de persegui-lo com sua hostilidade”.

+ "Você não deve cultivar em uma estrada; Você não deve fazer uma casa no campo: as pessoas podem causar danos nele e prejudicar você”.

+ “Meu filho, não diga tudo o que vem à mente, porque há olhos e ouvidos por toda parte. Cuidado com a boca, para que não falhe. Acima de tudo, cuide da sua boca e do que você ouviu, seja discreto; pois uma palavra é ave, e quem a larga é insensato”.

 

Fontes:

ALSTER, Bendt. As instruções de Shurrupak: uma coleção de provérbios sumerianos. Copenhagen: Akademisk Forlag, 1974.

ANDRÉ. Fontes de Antiguidade Oriental. Site: Antiguidade Oriental: Livros das fontes na rede. Rio de Janeiro: UERJ, acesso em 2023.

ARAÚJO, Emanuel. Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

BUENO, André. Textos Sobre a História das Mulheres. Rio de Janeiro: Ebook, 2016.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Europa-América, 1994.

DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. São Leopoldo: Sinodal, 2004.

GIORDANI, Mário. História da Antiguidade Oriental. Petrópolis: Vozes, 1969.

GOETZ, Walter. História Universal: O despertar da humanidade. Madrid:  Espassa-Calpe, 1950.

SITCHIN, Zecharia. O 12 Planeta. Rio de Janeiro: Best Seller, 1976.  

ZABATIERO, Júlio. Uma história cultural de Israel. São Paulo: Paulinas, 2013.

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