segunda-feira, 29 de maio de 2023

Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer – (1788 a 1860) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo alemão do período contemporâneo pertencente às correntes de pensamento da filosofia idealista. Teria seguido sua teoria por uma linha voltada para o pessimismo. Também transitou sua filosofia na direção de ideias baseadas no “irracionalismo”. Relacionou conceitos da filosofia oriental com pensamentos idealistas do filósofo Emanuel Kant. Criticou fortemente as teorias do filósofo Friedrich Hegel. Segundo alguns biógrafos, ele teria crescido em um ambiente voltado para o mundo mercantilista, e antes de cursar Filosofia, estudou as áreas de Contabilidade e Medicina. Chegou a viajar por vários lugares da Europa. Teve como amigo o escritor Goethe e exerceu grande influência nos filósofos Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. O filósofo Nietzsche teria lhe dado o codinome de "o cavaleiro solitário", pois ele vivia de maneira solitária e preferia ter como companhia apenas os animais, ao invés de outros seres humanos. Era visto como um indivíduo antissocial e demasiadamente desconfiado. Conseguiu grande reconhecimento de suas obras apenas no final de sua vida. Era Filho de um comerciante chamado Henrich Floris Schopenhauer com uma escritora chamada Johanna Henriette Trosenier. Nasceu na localidade de Danzig, região da antiga Prússia, em 1788 e faleceu em Frankfurt, por volta de 1860, morreu aos 72 anos, vitimado por uma pneumonia, seguido de um ataque cardíaco, tendo ao seu lado apenas seu cachorro.  

Filosofia do Pessimismo

Sua ideia de pessimismo vinha da compreensão que ele tinha de atribuir um valor negativo à vida e à existência. Ele pensava o mundo dos fenômenos como sendo permeada por uma espécie de “vontade maligna” que estaria relacionada com o plano metafísico. Seus principais temas discutiam questões ligadas ao amor, ao sofrimento e a felicidade. Embasado na sua obra principal denominada de “O Mundo como Vontade e Representação”, ele dissertava que não era possível ao homem conhecer verdadeiramente a realidade e seus fenômenos, pois o homem possuía certos limites, desse modo, poderia apenas criar representações das coisas ao seu redor, caracterizando o mundo e seus fenômenos de maneira ilusória. Nesse sentido, ele afirmava que: “o mundo é uma representação individual”. Pontuava que existiria uma forte relação entre os sonhos e a realidade. Os sentidos do corpo serviam apenas como instrumentos sensoriais que permitiam ao homem conhecer o mundo dentro de suas capacidades tangíveis. Dissertava que a solidão seria um elemento fundamental para se chegar à felicidade, e com isso, alcançar a verdadeira liberdade.

Filosofia Moral

A tese de Schopenhauer estava estruturada na ideia de “filosofia da vontade”, pois, segundo ele, a vontade seria a origem de todos os males e dores que afligiam a alma humana. Boa parte de suas teorias foram influenciadas pelas filosofias ligadas ao budismo e as filosofias indianas. Afirmava que “a vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga”, essa metáfora esclarecia que a consciência humana seria o aleijado e que a vontade humana seria o que justificava no homem o sentimento dele querer viver. Ele acreditava que a consciência humana tinha a capacidade de descobrir a vontade como sendo a causa do mal, porém seria através dessa descoberta que o homem conseguia produzir meios para se libertar da escravidão de suas “paixões”. A ideia de liberdade poderia ser representada de várias maneiras, sendo o “pessimismo” uma das formas do homem encarar sua condição humana e limitada, assumindo conscientemente seu papel de negação perante a vida.

Nesse contexto, Schopenhauer desenvolveu seu pensamento afirmando que: “A vontade é a coisa em si”, ou seja, para ele, a vontade seria uma força essencial da natureza que teria como características metafísicas a ideia de infinitude e singularidade, isto é, seria uno e incompreensível ao homem. Também seria insaciável, por isso a vontade gerava no homem dor e sofrimento. A realidade era permeada por uma espécie de irracionalidade, e aquilo que era finito, não passava de simples ilusão aparente da realidade. Desse modo, a moral estaria conectada com os elementos do que seria real e concreto, ou seja, a realidade era guiada não pela razão, mas sim pela vontade. Dentro de sua abordagem moral, ele pontuava que o Direito positivado serviria como um regulador da sociedade, e que este, estaria ancorado no próprio Direito Natural. O chamado filósofo da vontade era visto como um grande defensor do direito dos animais.

Filosofia do Conhecimento

O conhecimento se daria pela relação existente entre o sujeito e o objeto, dessa relação surgiria à representação das coisas. Desse modo, não seria permitido ao homem sair de “si mesmo” para compreender verdadeiramente como o mundo realmente seria fora dele. O homem dependeria do “tempo e do espaço” para entender o fenômeno das coisas, além disso, seu entendimento também teria relação com os efeitos gerados pela “causalidade”. Nesse contexto, ele explicava que o sujeito estaria fora da ideia de “tempo e espaço”, por isso a objetividade de um conhecimento existia apenas na consciência dos sujeitos, sendo externalizada simplesmente, em forma de uma representação, ou seja, o mundo seria percebido pelo sujeito como um sistema de representações intuitivas que se originava do tempo, do espaço e da consciência. A representação era compreendida como sendo a realidade dentro da consciência. Dessa forma, o conhecimento gerado pela arte seria oposto aos saberes elencados pela ciência. Nesse sentido, ele dizia que: “Todo objeto, seja qual for a sua origem, é, enquanto objeto, sempre condicionado pelo sujeito e, assim, essencialmente, apenas uma representação do sujeito.”

Filosofia Teológica

Embora tivesse uma visão ateísta, ele teria sofrido influência da literatura indiana que era conhecida como “os Upanishads”. Desse modo, ele introduziu pensamentos indianos e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã, agregando ensinamentos do Budismo e do Hinduísmo, em seus estudos. Buscava unir elementos de uma filosofia baseada na força interior do homem com conceitos ligados a suspenção do juízo, chegando até mesmo, a propor o silêncio como um meio de obter a paz interior. Não acreditava na imortalidade da alma, mas defendia a ideia de que a filosofia podia ajudar o homem a entender o fenômeno da morte. A sua ideia de amor era entendida apenas com a finalidade material de reprodução das espécies, porém ele enaltecia uma espécie de amor relacionada à piedade, explicando que esse amor seria o menos egoístico. Para ele, o curso da história da filosofia não teria dado a devida importância para o conceito de compaixão. Nessa perspectiva, Arthur abraçou essa visão e construiu uma teoria embasada na “ética da compaixão”.

Filosofia Sapiencial

+ “A vida é necessidade e dor”

+ “A estupidez não tem limites”

+ “O mundo é minha representação”

+ “A vida oscila entre a dor e o tédio”.

+ “O amor é a compreensão da morte”.

+ “A vida é um processo constante de morte.”

+ “A vida é um velejar em direção ao naufrágio”

+ “A história é acaso cego e o progresso é ilusão”.

+ “Quanto mais elevado é o espírito mais se sofre”.

+ “É a perda que nos ensina sobre o valor das coisas.”

+ “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”.

+ "Nove décimos da nossa felicidade dependem da saúde".

+ “A música é a vitória do sentimento sobre o conhecimento”.

+ “Quem escreve para tolos sempre encontra um grande público”.

+ "A humanidade aprendeu comigo coisas que nunca irá esquecer".

+ “A vida é esmola que prolonga a vida para seguirmos no tormento”.

+ "As religiões são como vaga-lumes: para brilhar precisam das trevas."

+ “A vida é luta contínua pela existência, com a certeza da derrota final”.

+ "Se eu mantiver silêncio sobre meu segredo, ele será meu prisioneiro”.

+ “Esperança é a confusão do desejo de uma coisa com sua probabilidade.”

+ “A vida oscila como um pêndulo para a frente e para trás entre a dor e o tédio.”

+ “Uma pré-condição para ler bons livros é não ler os livros ruins: pois a vida é curta.”

+ “Quem quer que dê muito valor às opiniões dos outros presta-lhes muita honra.”

+ "A riqueza influencia-nos como a água do mar. Quanto mais bebemos, mais sede temos".

+ “Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece à existência”.

+ “Cada homem leva os limites de seu próprio campo de visão para os limites do mundo.”

+ "O que torna as pessoas sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nela, a si mesmos."

+ “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo”.

+ "O médico vê o homem em toda a sua fraqueza; o jurista o vê em toda a sua maldade; o teólogo, em toda a sua imbecilidade."

+ “A consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta”.

+ "Vá bater nos túmulos e perguntar aos mortos se querem ressuscitar: eles sacudirão a cabeça em um movimento de recusa."

+ “A consciência é a mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta”

+ “Então, o problema não é tanto ver o que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre o que todos veem.”

+ “Para a maioria dos homens, a vida não é outra coisa senão um combate perpétuo pela própria existência, que ao final será derrotada.”

+ “Um homem só pode ser ele mesmo enquanto estiver sozinho; e se ele não ama a solidão, não amará a liberdade; pois é somente quando ele está sozinho que ele é realmente livre.”

+ "Uma filosofia, entre cujas páginas não se ouvem as lágrimas, o uivo e o ranger dos dentes, e o terrível barulho do crime universal de todos contra todos, não é uma filosofia".

+ “A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimentos, quando não foi elaborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada”.

+ “Imaginemos, por um instante, que a humanidade fosse transportada a um país utópico, onde os pombos voem já assados, onde todo o alimento cresça do solo espontaneamente, onde cada homem encontre sua amada ideal e a conquiste sem qualquer dificuldade. Ora, nesse país, muitos homens morreriam de tédio ou se enforcariam nos galhos das árvores, enquanto outros se dedicariam a lutar entre si e a se estrangular, a se assassinar uns aos outros.”

+ "As pessoas farão todo o tipo de tentativas frustradas e farão violência ao seu carácter em detalhes; mas no geral terão de ceder a isso, é que se quisermos agarrar e possuir algo na vida, temos de deixar inúmeras coisas para a direita e para a esquerda, renunciando a elas. Mas se somos incapazes de nos decidirmos desta forma, e se nos atiramos para tudo o que nos atrai temporariamente, como fazem as crianças na feira anual, corremos desta forma em ziguezague e não chegamos a lado nenhum. Aquele que quer ser tudo pode tornar-se nada”.

Curiosidades

Segundo alguns biógrafos, Schopenhauer era um sujeito excêntrico. Conta-se que algumas vezes ele ocupava duas cadeiras na mesa para que ninguém se sentasse ao seu lado ou próximo a ele. Certo dia uma senhora resolveu sentar ao seu lado na hora do almoço, em uma mesa com vários convidados. A senhora falava muito alto se queixando dos problemas que tinha com o marido, ela não parava de tagarelar sobre seu casamento e como sofria com isso tudo. Quando ela enfim parou de falar, todos ficaram em silêncio. Ela então se vira para Schopenhauer e pergunta se ele a entendia. Ele, então, respondeu: – Não, mas entendo seu marido.

Em certa ocasião, um jovem teria lhe feito uma pergunta sobre um fato, ele então teria respondido que não sabia a resposta. O jovem então teria falado que pensava que Schopenhauer era um sábio que conhecia sobre tudo. O filósofo então respondeu:  – O conhecimento é limitado, mas a estupidez não tem limites.

Relata-se que ele costumava andar com roupas fora do padrão comum da época e gostava de frequentar um clube. Quando ia ao clube sempre levava seu cachorro, porém sempre que o cão se comportava mal, ele repreendia o animal lhe maldizendo e o chamando de humano.

Obras:

Parerga e Paralipomena; O mundo como vontade e representação; Metafísica do Amor; As dores do Mundo; Sobre a visão e as cores; Os dois princípios fundamentais da ética; Dialética erística; Sobre a vontade da natureza; O livre arbítrio; Aforismos para a sabedoria de vida; A Arte de Ter Razão; A Arte de Lidar com as Mulheres; Sobre a quadrupla raiz do princípio da razão suficiente.

Fontes:

BARBOSA, Jair. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Paulus, 2015.

BOSSERT, Adolphe. Introdução a Schopenhauer. Rio de janeiro: Editora Contraponto, 2011.

BREDA, Juliana Fernandes. Amor e morte em Schopenhauer. Dissertação de Mestrado. Marília-SP: Universidade Estadual Paulista, 2012.

DEBONA, Vilmar. Schopenhauer e as formas da razão: o teórico, o prático e o ético-místico. São Paulo: Editora Annablume, 2010.

MAGEE, Bryan. A filosofia de Schopenhauer. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

MANN, Thomaz. O pensamento vivo de Schopenhauer. São Paulo: Editora Livraria Martins, 1960.

SAFRANSKI, Rudiger. Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia. São Paulo: Editora Geração, 2011.

SALVIANO, Jarlee Oliveira Silva. O niilismo de Schopenhauer. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2001.  

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

TANNER, Michael. Schopenhauer. Col. Grandes Filósofos. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

YALON, Irvin. A cura de Schopenhauer. Trad. Beatriz Horta. Brasília: Harper Collins, 2019. 

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