quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Filosofia Medieval

Filosofia Medieval

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A filosofia medieval é considerada um período da História da Filosofia que se iniciou no momento de transição da idade antiga para o período helenístico, tendo se consolidado durante toda a Idade Média. Pode ser caracterizada, entre os cem primeiros anos da era cristã, até aproximadamente 1500 d.C. Contudo, as correntes tradicionais, mais didáticas, costumam delimitar esse período, a partir do século V. d.C, quando surge, mais propriamente, a patrística. A principal característica desse ciclo foi o considerável sincretismo, entre a filosofia e a teologia, em que eram misturados elementos da filosofia grega e romana, com pensamentos de outras correntes teológicas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Nessa época, também emerge, paralelamente, as correntes da filosofia árabe, africana e oriental. Nesse período surgem as grandes universidades que aprimoram o pensamento ocidental, estabelecendo os pilares do conhecimento crítico e reflexivo. Preocupando-se em debater e problematizar complexas “Questões Universais”.

Desenvolvimento da Filosofia Medieval

Ficou marcada pela busca de conciliação entre a fé e a razão, investigando a relação entre o mundo divino com a lógica. Grandes estudiosos, dessa época, como Agostinho e Tomás de Aquino, examinaram ideias de pensadores antigos como Platão e Aristóteles, e relacionaram essas ideias com o pensamento da igreja, produzindo um profundo debate entre a filosofia e a religião. Produziu-se uma forte consolidação da fé católica, que foi utilizada como instrumento político, por vários governos. Esse período ficou dividido em quatro grandes fases, chamadas de fase: apostólica, apologética, patrística e escolástica.

Na fase apostólica os chamados “pais da igreja” buscavam sistematizar os primeiros ensinamentos deixados pelos apóstolos de cristo e seus primeiros discípulos, sendo desenvolvida, entre os séculos (I e II) d.C. Procurava exortar os primeiros conceitos da igreja. Na etapa apologética aconteceu um esforço em defesa dos dogmas da igreja católica, sendo desenvolvida entre os séculos (III e IV) d.C. Os pensadores utilizavam linguagens figurativas, mantendo acentuadas relações com a filosofia clássica.  A filosofia patrística ficou mais conhecida com a figura de Santo Agostinho. Iniciando-se a partir do século IV d.C e perdurando até o século VIII. Os Padres, nessa etapa, consolidaram os pensamentos cristãos sobre influência da filosofia de Platão, destacando conceitos de base ética e política. A escolástica teve como principal exponencial o filósofo São Tomás de Aquino. Tendo se desenvolvido durante o século IX d.C e se estendido até o século XVI. Esse momento sofreu intensa influência das obras de Aristóteles, baseando-se em explicar a existência de Deus, por meio da razão. Desenvolvendo argumentos empíricos, que eram pautados na lógica, incluindo concepções de ordem moral e social.

Embora exista um número considerável de pensamento religioso nesse período, a filosofia medieval não se resume apenas a ideias religiosas, tendo destaque, em outras regiões, a sistematização de outras correntes filosóficas, que se diferenciam do pensamento da igreja católica, bem como também, de outras doutrinas ligadas as outras religiões. Na História da Filosofia, quase sempre, existiram pensadores que ganharam destaque, em relação a outros, construindo uma forma de pensar hegemônica, ou exercendo influência sobre outros sistemas de pensamento. Por algum motivo específico ou, quem sabe, uma soma de fatores, alguns desses pensadores são mais enaltecidos e supervalorizados que outros, gerando um domínio de determinada corrente filosófica.

Considerações Finais

Entre os variados temas estudados, nesse período, teve grande destaque as questões éticas, metafísicas, ontológicas e epistemológicas das doutrinas religiosas. Analisando dilemas sobre a verdade divina, a imortalidade da alma, a salvação, o pecado, a santíssima Trindade, os dogmas e doutrinas ligadas a fé. Promove-se a defesa das religiões, a refutação aos conceitos do paganismo e a disseminação do cristianismo. Todo esse conjunto de correlações do medievo foi denominado, por alguns pensadores, como sendo, uma civilização sacral, ou melhor dizendo, um “sacralismo civilizacional”. No contexto educacional, houve um enfoque na formação moral e espiritual do indivíduo, que buscava unir o saber revelado com o conhecimento racional, integrando a teologia e a razão. O homem desse tempo respirava através de uma atmosfera religiosa, vivendo uma “razão que se movia, em direção aos horizonte da fé”. Aos poucos o ideal do sábio humanista foi dando espaço para o arquétipo do filósofo santo, ou seja, criando uma relação entre o humano e o divino.

Fontes:

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

COUTINHO, Jorge. Elementos de História da Filosofia Medieval. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2008.

CRESCENZO, Luciano. História da Filosofia Medieval. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2012.

JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a paideia grega. México: FCE, 1998.

LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. São Paulo: Editora Loyola, 1998.

PADOVESE, Luigi. Introdução à teologia patrística. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 1993.

SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos: A Filosofia na época da expansão do Cristianismo. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

STORCK, Alfredo Carlos. A filosofia medieval. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2003.

VASCONCELLOS, Manoel. Filosofia Medieval: Uma breve introdução. Pelotas: Editora Dissertation Incipiens, 2014.  

sábado, 30 de novembro de 2024

Padre Mororó

Padre Mororó – (1774 a 1825) d.C


Autor: Alysomax Soares


Introdução


Gonçalo Inácio de Loiola e Albuquerque Melo – Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento teopolíticas, inclinando-se por uma tendência mais radical. Era considerado um grande orador sacro, tendo se utilizado dos sermões para comunicar sua obra. Atuou como sacerdote, escritor, filósofo, botânico e político, sendo visto como um notável intelectual que também estudou as áreas das ciências jurídicas, físicas, naturais, linguísticas e biológicas. Cursou teologia no seminário de Olinda, em Pernambuco. Participou do movimento literário conhecido como “os oiteiros”, tendo seguido por uma linha voltada para o arcadismo. Ficou conhecido como o “Padre Mororó”, acredita-se que esse nome teria sido escolhido, por conta de uma árvore que possui uma madeira muito dura, simbolizando um antigo ditado que dizia: “enverga, mas não quebra”, esse cognome é de origem tupi, e significa também um conjunto de várias plantas da caatinga que possuem um fim nutritivo e medicinal. Foi prestigiado como sendo o primeiro cearense a ter uma obra publicada na “Tipografia Real do Brasil”. Fundou o primeiro periódico cearense chamado de “Diário do Governo do Ceará”. Foi consagrado como patrono da cadeira de número 10 da Academia Cearense de Letras. Chegou a ascender ao Grau de Mestre na Maçonaria.

 

Era filho de Félix José de Sousa e Oliveira, com a senhora Theodósia Maria de Jesus Madeira. Nasceu no município de Groaíras, na localidade conhecida como Riacho dos Guimarães, em 24 de julho de 1774. Faleceu em 30 de abril de 1825, na cidade de Fortaleza. Padre Mororó foi executado no antigo campo da pólvora, que atualmente é conhecido como Praça dos Mártires ou Passeio Público, situada por trás da décima região militar, no centro de Fortaleza. Seu corpo foi exumado de um antigo cemitério e levado para o cemitério São João Batista. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas e escolas, por várias regiões do país.

 

Filosofia Política

 

Adepto de um forte ideário republicano, ele teria, aos poucos, semeado um sentimento nativista, que serviu de base para o amadurecimento do futuro processo de independência do Brasil. Era afeiçoado com as concepções liberais, defendendo um posicionamento antiabsolutista. Seus pensamentos tiveram grande influência das ideias iluministas. Detentor de uma escrita combativa, ele empregava o discurso escrito como principal meio político de propagação de seus ideais. Exercendo, com isso, uma forte influência na construção do cotidiano social e político dos indivíduos. Lutou em prol da emancipação de alguns Estados do Nordeste, movimento que ficou conhecido, na História do Brasil, como confederação do Equador, chegando, até mesmo, a proclamar a República do Quixeramobim. Segundo os pesquisadores, o topônimo “Mororó” foi escolhido, simbolicamente, para representar um ideal nacionalista, que visava enaltecer os elementos, da cultura indígena, da fauna, da flora e das regiões geográficas. Essa representação visava romper com a influência dominadora do colonizador, destacando as raízes brasileiras.

 

Filosofia Teológica

 

Estudou, em seu tempo, com outros grandes intelectuais como Frei Caneca, Padre Miguelinho e Padre João Ribeiro. Laborou como vigário nas cidades de Boa Viagem, Tamboril e Quixeramobim. Porquanto teve destaque reconhecido dos trabalhos praticados, recebeu convite para lecionar. Utilizou-se da teologia para desenvolver alguns trabalhos voltados para a educação. Exerceu a função de professor de Latim na cidade de Aracati. Incentivou a fomentação das artes cênicas com a finalidade de influenciar, positivamente, na educação dos jovens. Desenvolvendo, com isso, um sincretismo educacional que misturava atividades religiosas, culturais e sociais. Realizou grandes sermões em que censurava os vícios da jogatina, os quais eram praticados, em algumas regiões. Era considerado, por muitos, como um homem bom, que possuía um coração generoso. Devido sua bravura ter sido evidenciada, entre atitudes espirituosas e ações valorosas, ele pode ser descrito como “o homem que riu da morte”, deixando registrado, na canonização da história, sua figura emblemática.   

 

Filosofia Sapiencial

 

+ “Sou um padre baldo de conhecimentos, que faço a minha subsistência, pelas capelanias do sertão”

+ “Assim a ingênua virtude, assim te assomas, com fronte majestosa, assim desprezas a tormenta, que assanha, e que levanta a calúnia invejosa”

+ “Assim estável Carvalho, assim triunfão, dos rijos louros, dos furacões furiosos, que teus ramos embatem, mas não estalão, ao impacto violento”.

+ “Entro numa estrada perigosíssima; e estou na certeza de desafiar inimigos sem conto; mas não esmoreço; e à custa da vida prometo perante Deus e os homens ser imparcial nas minhas narrações. Quer o imperador ostente as suas forças, quer o governo seja despótico, quer as riquezas predominem; nada, nada me abala; e a minha pobreza jamais ofuscará os sentimentos de um coração todo cheio de amor de sua Pátria adorada; e muito menos calará os ecos da verdade”

 

Fatos e Curiosidades:

 

Relata-se que, na fase final de conclusão do seu curso seminarista, em Olinda, um clérigo conhecido como Dom Azeredo Coutinho, teria preconizado a respeito de Mororó, a seguinte intuição: “Este jovem há de se perder na primeira Revolução que houver no Brasil”.

 

Conta-se que no dia do seu martírio, o Pe. Gonçalo transmitia um ar de tranquilidade e coragem, que assombravam a todos que assistiam ao sinistro. A cena trágica dos últimos instantes que antecedeu o seu suplício foi aturdida por vários episódios cômicos e irônicos, que se desvelaram no decorrer do evento. Os carrascos que eram escolhidos, entre prisioneiros e militares, recusavam-se a cumprir a sentença inicial de enforcamento. Logo depois, a pena foi trocada para a de fuzilamento, sendo finalmente executada por algozes, a tiros de arcabuz.

 

Obras:

 

Segundo informam algumas fontes, os textos de Mororó foram queimados, tendo desaparecido grandes fragmentos, poesias e sermões, entre essas obras perdidas, narra-se que existia uma importante pesquisa sobre a carnaúba, que provavelmente foi extraviada.   

 

Fontes:

 

ACL. Pesquisa Histórica. Padre Mororó. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2024.

 

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

 

BRÍGIDO, João. Ceará, homens e fatos. Rio de Janeiro: inelivros, 2001.

 

BRITO, Jorge. Diário do Governo do Ceará: origens da imprensa e da tipografia cearenses. Fortaleza: Museu do Ceará, 2006.

 

CORRÊA, Viriato. História da Liberdade no Brasil. Brasília: Civilização Brasileira, 1976.

 

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

 

LEAL, Barros. Temas Diversos. Fortaleza: Casa José de Alencar, 1996.

 

NOBRE, Geraldo. O primeiro redator cearense: O Correio Brasiliense e O Português verberados no Ceará pelo padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo. Revista de Comunicação Social, Fortaleza, 1973.

SOUSA, João Alfredo. Padre Mororó: A Revolução da Imprensa. Fortaleza: Museu do Ceará/SECULT, 2004.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

 


domingo, 27 de outubro de 2024

Escola de Éfesos

Escola de Éfesos

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A escola de Éfesos ficou conhecida também como “Escola Heraclitiana” ou Escola Efésica, por conta de seu principal representante que era o filósofo Heráclito de Éfesos, tendo como seu principal discípulo o filósofo Crátilo de Atenas. Os filósofos dessa escola de pensamento compartilhavam a ideia de que o movimento era a causa primeira de todas as coisas, nesse contexto eles também eram denominados de filósofos “mobilistas”. Inicialmente a escola não possuiu muitos discípulos, sendo citada devido sua grande influência na filosofia e em outras correntes de pensamento. Embora não existam muitas informações sobre os discípulos de Heráclito, alguns filósofos e pensadores, de sua época, trocaram conhecimentos mútuos. Mesmo assim, alguns outros filósofos são considerados simpatizantes dessa corrente, por seguirem uma tendência similar de ideias. Um certo número de historiadores classifica a escola de Éfesos, juntamente com a de Mileto, como se elas fossem partes da escola jônica, reunindo pontos diferentes e comuns, entre elas.

Filosofia da Natureza

O principal foco dessa escola buscava compreender a origem e a natureza fundamental da realidade através da observação e da reflexão. Para Heráclito, o fundador dessa corrente, o fogo seria a “arché” primordial, isto é, o principal combustível responsável por essa mudança contínua no universo, pois era a substância mais ativa na natureza e que estaria em constante transformação. Essa mudança era definida como o eterno devir, ou seja, o “ir-e-vir” constantes, caracterizado pela fluidez das coisas. Também era definida como "panta rei", quer dizer, "a vida é fluxo", que era a ideia de que a realidade estaria em constante mudança, pois nada permaneceria o mesmo. Ele utilizava a metáfora do rio para explicar partes de sua teoria, dizendo que: “ninguém pode se banhar duas vezes em um mesmo rio”, querendo dizer, que o homem, ao entrar uma segunda vez no rio, não seria mais o mesmo, nem o rio também seria igualmente o mesmo. Sua ideia de movimento influenciou e ainda influência, até hoje, muitos pensadores e sistemas de pensamentos.

Filosofia da Linguagem

Heráclito também foi considerado um dos percussores da dialética, tendo utilizado a linguagem para compreender os fenômenos da natureza. Criou uma teoria chamada de doutrina dos contrários, ao qual ele pronunciava que existiria uma luta constante e eterna entre os contrários, explicando que um oposto não poderia existir sozinho sem o outro oposto, pois um dependeria do outro para existir. A contradição seria responsável pelo surgimento de uma unidade dialética. Argumentava que se um observador percebe uma subida em uma grande escada, outro observador, que esteja na parte de cima, poderia entender, essa mesma escada, como sendo uma descida. Seguindo esse mesmo raciocínio para a ideia de temperatura, pois não existiria permanentemente o frio ou o quente, mas sim o calor, descrito mais propriamente como temperatura. Em outras palavras, é como se o princípio fosse o mesmo que o fim, como em um círculo. O que estaria em baixo seria igual ao que estaria em cima, pois o caminho para ir para cima e depois para baixo seria o mesmo. Desse modo, ele estabeleceu uma síntese contraditória e permanente da realidade. Formulando um conceito de unidade permanente do ser, diante da pluralidade e mutabilidade das coisas.

Considerações Finais

Segundo essa escola de pensamento, o logos seria a lei fundamental da própria natureza. Esse logos, que seria uma força ordenadora da natureza, se revelava exatamente no universo através de contradições, que estariam em constantes transformações. A realidade seria dinâmica, tendo sua origem nas oposições, isto é, na força dos contrários, ela aconteceria na mudança, na eterna luta entre os opostos. A realidade possuiria uma unidade básica, ou seja, uma unidade na pluralidade, que poderia ser traduzida, como sendo, o logos. Dessa forma, as contradições são complementares e necessárias. O logos age como um regulador ou harmonizador natural do constante movimento que é gerado. O logos era representado pela ideia de razão, o mesmo que, um princípio universal, sendo vista como uma força cósmica que permeia tudo, trazendo ordem ao caos.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Editora Edipro, 2012.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

CORNFORD, Francis. Princípio da Filosofia Grega e o Mistério Eleusino. São Paulo: Editora Cultrix, 1991.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: História e grandes temas. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte: Pax editora, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3. ed. Vol.1. São Paulo. Paulus.1990.

ROCHA, Zeferino. Heráclito de Éfeso: Filósofo do Logos. Vol. 7. N. 4. São Paulo: Revista Latino Americana de Psicopatologia Fundamental, Scielo. 2004.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro. PUC, 1965.

sábado, 26 de outubro de 2024

Alba Valdez

Alba Valdez – (1874 a 1962)

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Maria Rodrigues Peixe – Foi uma filósofa cearense ligada a corrente de pensamento do igualitarismo, direcionou suas ideias para o viés do feminismo. É considerada a primeira mulher a entrar na Academia Cearense de Letras, ocupando a cadeira de número 22.  Atuou como professora, escritora, ativista e filósofa, exercendo uma grande influência na cultura e na literatura Cearense. Utilizava-se do pseudônimo de “Alba Valdez” para desvelar sua obra. Tornou-se uma retirante, após ser vitimada pela seca que atingiu o Ceará, nesse ínterim iniciou seus primeiros estudos na escola Isabel Teófilo Spinoza, em Fortaleza, tendo posteriormente concluído seus estudos e se formado na Escola Normal do Ceará, diplomando-se na área do ensino, em 1889. Professorou por um tempo, na cidade de Baturité e na região de Aracatiaçu, em Sobral. Depois migrou para a capital, onde passou a lecionar no Grupo Escolar de Fortaleza, dedicando sua vida à docência e a literatura. Fez parte de importantes associações e agremiações, entre eles, o Instituto Ceará, o Centro Literário, a Boêmia Literária, a Iracema Literária, e a Ala Feminina da casa de Juvenal Galeno. Era filha do senhor João Rodrigues Peixe com a senhora Isabel Alves Rodrigues. Nasceu na localidade conhecida como Vila de São Francisco de Uruburetama, situada nas proximidades da cidade de Itapajé, no dia 12 de dezembro de 1874. Faleceu em Fortaleza, no dia 5 de fevereiro de 1962.

Filosofia Política

O cenário político da época não era favorável para o espírito feminino, isso motivou Alba a combater as barreiras que dificultavam a participação das mulheres no teatro social. Entre essas adversidades, ela pontuou situações que atravancavam a criatividade feminina, como os problemas da seca, a miséria de alguns locais e outras intempéries climáticas. Ela advogou em defesa dos direitos da mulher em várias frentes sociais, tendo lutado pela emancipação feminina nos diversos setores da sociedade. Defendeu questões como o direito do voto para as mulheres, bem como também, o desenvolvimento cultural do Ceará. Foi uma das fundadoras da primeira agremiação feminina do Ceará chamada de “Liga Feminista Cearense”, onde atuou como presidente.  

Pensadores esclarecem que, nessa época, a mulher que se lançava ao mundo das letras transmitia para a sociedade uma visão subversiva, pois o olhar conservador e tradicional, considerava a mulher, como sendo, apenas uma cuidadora do lar e da família. Nesse contexto, Alba rompeu com os estereótipos socioculturais e quebrou paradigmas, buscando atuar nos espaços públicos de grande relevância cultural, literária e social, fomentando palestras e debates que problematizavam questões de ordem feminista, com o objetivo de refletir sobre os problemas enfrentados pelas mulheres. Dessa forma, ela utilizava a oratória como ferramenta de valorização do discurso feminino, fazendo de suas participações sociais, um instrumento de consolidação e independência da mulher na sociedade.

Filosofia Literária

Contextualizou, em partes de sua obra, uma literatura que retratava fatos cotidianos de sua infância e adolescência. Pontuando vários elementos que caracterizavam as injustiças, as desigualdades sociais e de gênero. Sua obra era composta por textos em formato de prosa, contos e crônicas, em que expressava seus pensamentos, sentimentos e opiniões. Publicou seu primeiro grande livro, em 1901, o qual foi intitulado de “Em Sonho”, posteriormente escreveu “Dias de Luz”, obra publicada entre 1906 e 1907. Suas obras ganharam grande destaque, após serem traduzidas para outras línguas como o francês e o sueco.

Foi considerada uma das mulheres pioneiras a se aventurar no universo das letras no Ceará, com isso, teria sido caracterizada como uma “Mulher de Papel”, expressão utilizada por críticos para descrever as mulheres que se destacaram e se constituíram, através do mundo literário. Sua filosofia descrevia uma visão nostálgica da vida infantil, buscando traduzir uma melancolia sofrida por uma infância perdida. Revelava o contraste que foi sendo construído, entre o espaço de criação dela com o de seu irmão, observando o tratamento desigual dado pelo pai, nas diferenças que existiam, principalmente sobre a questão de gênero masculino e feminino.

Filosofia Sapiencial

+ “Pus-me a andar sob o lastro da imaginação que perdera o freio”.

+ “Um sino canta docemente ao longe, é a hora misteriosa da saudade”

+ “Um luar brilhante, essa claridade que inunda o solo sobre o qual tudo passa, é a esperança”.

+ “A voz de minha mãe abençoa-me como uma orquestra angélica que me embala o ouvido”.

+ “Senhora dona Cândida, coberta de ouro e prata, descubra o seu rosto, que queremos ver-lhe a cara”.

+ “A mulher é um ser fraco, propalam, pois, então, da própria fraqueza, construirei a força necessária para comunicar as minhas emoções”.

+ “Ela, com a mente alucinada dos indômitos desejos, ansiava ser o pássaro veloz que recorta os planos luminosos para ir em busca desse ideal sonhado”

+ “A festa que decorre luminosa, como sói acontecer com as festas da inteligência, ocorre no ritmo feiticeiro das ideias, criados por artistas da palavra, que já se fizeram ouvir”.

+ “Leva toda esta alegria fictícia que me inunda, que toda ela te pertence; e a minha alma liberada nas asas da saudade, levantará o voo atravessando os mares espumosos, os desertos inóspitos e irá abrigar-se no teu seio luminoso”

+ “Raio despontava inundado de fulgores e aromas. O campo ria de verde e nos quintais plantados o vermelho variegado das rosas, o branco latescente dos cravos, o púrpuro das boninas atraía o olhar numa orgia deslumbrante de cores”.

+ “A mulher de letras do Ceará teve princípios ásperos, concorrendo para isso, como já foi dito, o isolamento da terra, sem o contato direto da civilização, a rigorosa educação familiar e os conceitos desairosos, que sobre o cérebro feminino atiraram certos filósofos”

+ “Estreitamente ligada ao lar por efeito do rigorismo educacional, sem maiores responsabilidades que as decorrentes dos afazeres domésticos, dos estudos feitos com certa limitação, a mulher visionava a vida menos pelo que possuía de real do que pelas aparências. O preparo intelectual ressentia-se do senso das realidades, convindo-lhe bem a terminologia de abstrato que os gramáticos conferem a determinados nomes”.

+ “Apesar dos esforços e tentativas que se têm feito, o nosso tráfego intelectual não apresenta nestes últimos tempos, afora uma outra joia isolada, nada que cative admiração. Não é por falta de engenhos, que os temos, do que há mister é de uma longa solidariedade inquebrantável que congregue os elementos dispersos, acabando com a apatia, o marasmo dissolvente, para a iniciação de uma fase de atividade e esplendor cultural”.

+ “Dentro da pátria não há fronteiras e muito menos a frialdade dos polos. O sol vibrante resplende por cima de rios gigantes de imponentes matas virgens de serras alcantiladas, guardando todos nos seus misteriosos recessos incalculáveis riquezas. Tudo é grande e por isso o sentimento deve ser uma consequência lógica do ambiente em que se formou. Mulher pernambucana, irmã da Cearense pelos vínculos de raça, de língua, de religião e de ideal! Mulher pernambucana, síntese de todas as virtudes sociais e domésticas! A mulher Cearense depõe na sua face pura o ósculo da amizade – flor do coração”.

Fatos e Curiosidades:

Segundo alguns biógrafos, Maria Rodrigues Peixe teria criado o pseudônimo de “Alba Valdez” com a finalidade de burlar o sistema patriarcal que imperava em seu tempo, pois não era comumente tolerado, o discurso letrado para as mulheres. Conta-se que “Alba” teria sido em homenagem a uma amiga que era filha de Tomas Pompeu, e “Valdez” seria o nome de um antigo dicionário da língua portuguesa.

Alba Valdez colaborou com vários periódicos, revistas e almanaques, entre eles estão: Revista da Academia Cearense de Letras; Revista do Ceará; Panóplia; Diário do Ceará; Correio do Ceará; A Tribuna; A Razão; Unitário; O Nordeste; Jornal do Commercio; Diário do Recife; Revista Iris de Porto Alegre; Revista O Lyrio de Recife. Alguns pesquisadores reuniram, em um compilado, vários de seus textos, que foram publicados nesses periódicos, constituindo uma obra chamada “textos esparsos”.

Poema Mãe e Filha:

Quando contemplo minha mãe querida

Olhos sem brilho, lacrimosos, baços,

Alva a cabeça, pelas cãs, perdida,

Tez enrugada, descarnados braços

À pequenita, em maternais abraços

A rir, beijando-a carinhosa e fida,

Murmuro: --- A estrela que me guiou os passos

Se abraça ao sol que me ilumina a vida!

Uma é a tarde a desmaiar tristonha,

Outra a alvorada que surgiu risonha,

Lá no horizonte de dourada cor refletida.

Obras:

Em sonho; Dias de luz; Textos Esparsos; Uma grande figura da história educacional do Ceará.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Fortaleza: Revista da academia Cearense de Letras, 1894-1954.

ANDRADE, Alves. O centenário de Alba Valdez. Revista: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: ACL, 1976.

BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1951.

CASTRO, Carla. Resquícios de memória: dicionário biobibliográfico de escritoras e ilustres cearenses do século XIX. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2019.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

MARTINS, José Murilo. Academia Cearense de Letras. História e Acadêmicos. Fortaleza: Edições ACL, 2013.

SILVA, Odalice de Castro. Alba Valdez (1874-1962): Estudo, antologia e bibliografia. Lisboa: BNP, 2019.

SOUZA, Keyle Sâmara Ferreira. Alba Valdez: Uma mulher de letras entre a literatura e a imprensa cearense. Revista: Letras em Revista. Teresina: SEDUC/CE, 2020.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TELLES, Norma. História das mulheres no Brasil: Escritoras, escritas, escrituras. São Paulo: Editora Contexto, 2018.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Stuart Mill

Stuart Mill – (1806 a 1873) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

John Stuart Mill - Foi um filósofo inglês do período contemporâneo ligado as correntes da filosofia “político-econômica”. Seguiu suas linhas de pensamento pelas correntes do liberalismo político, socialismo liberal, empirismo, humanismo e utilitarismo. Atuou como filósofo, economista, historiador, escritor e político. Possuía um espírito inquieto e eclético, o que o levou a ser um forte defensor da liberdade. Chegou a laborar na Companhia das Índias Orientais, ocupando vários cargos, durante boa parte de sua vida. Sua obra é considerada uma das que mais influenciaram o sistema político do século XIX. O romantismo inglês exerceu grande peso na consolidação de seus pensamentos. Mill teve uma formação rigorosa, nesse contexto, já demonstrava, desde pequeno, um grande talento para o mundo intelectual. Na juventude viajou para a França, onde aprimorou partes de seu conhecimento, tendo retornado logo depois para a Inglaterra, com a finalidade de concluir seus estudos. Seu pai foi um importante filósofo e economista escocês conhecido como James Mill. Além de seu pai, seu padrinho chamado Jeremy Bentham, inspirou suas ideias éticas sobre as correntes utilitaristas. Stuart nasceu na localidade de Pentonville, em Londres, no dia 20 de maio de 1806. Faleceu na cidade de Avignon, na França, no dia 8 de maio de 1873. Seu corpo se encontra sepultado, no cemitério de Saint-Véran, em Avignon.

Filosofia do Utilitarismo

Reformulou conceitos do pensamento ideológico utilitarista, construindo uma concepção humanista do utilitarismo, a partir da relação entre individualidade e autoridade. Definia a ideia de utilitarismo como sendo “afirmações positivas que buscam a felicidade”. Pontuava que a individualidade seria um dos elementos essenciais do bem-estar. Segundo Stuart, o mundo seria regido por dois princípios básicos que seriam o “prazer e a dor”, representadas também como sendo o bem e o mal. Com isso, ele dividiu os prazeres, em duas principais categorias, sendo a primeira, considerada superior, pois estaria relacionada com as emoções, os sentimentos e a cognição. A segunda seriam os prazeres, que eram ditos inferiores, visto que estariam associados aos vícios carnais. Introduziu na noção da quantificação da felicidade a percepção de qualidade, desse modo, afirmava que a felicidade não seria simplesmente a quantidade de prazer atingido, ela deveria ser analisada também, sobre a perspectiva da qualidade do prazer alcançado. Nessa lógica, a noção de felicidade não estaria dissociada da ideia de moralidade.

Sua doutrina tinha como finalidade construir uma ideia de bem-estar individual nos homens, a partir da organização pragmática da sociedade. De acordo com Mill seria necessário a elaboração de regras éticas e morais, para orientar os indivíduos na vida em sociedade. Essa formação moral seria construída através da educação, visando proporcionar uma transformação na sociedade. Para ele, o indivíduo teria o dever moral de proporcionar o maior bem-estar possível para o máximo número possível de pessoas. Dizendo de outra forma, toda política deveria buscar a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas. Era contrário ao dirigismo absoluto do Estado, com relação a educação, pois segundo ele, o Estado poderia formar cidadãos que atendessem somente os interesses estatais. No campo do conhecimento, acreditava que o conhecimento só poderia ser adquirido através da experiência, por isso era visto como um empirista.

Filosofia Política

Escreveu algumas literaturas políticas em que dissertava sobre variadas questões sociais. Suas ideias tinha um cunho progressista, dado o caráter conservador de seu tempo e o ambiente em que ele vivia. Foi considerado um dos primeiros parlamentares britânicos a defender o direito ao voto das mulheres, apresentando propostas pelo voto feminino no Reino Unido, com a finalidade de propor um sistema político igualitário de democracia representativa. Apoiava as causas abolicionistas e advogava também em favor da liberdade de expressão para os indivíduos. Como parlamentar adotou medidas para a proteção de pessoas em estado de vulnerabilidade. Na esfera jurídica consolidou o chamado “princípio da prevenção de dano”, em que descreve que a liberdade do indivíduo não pode ser usada de forma negativa, ou seja, a liberdade de alguém não pode prejudicar a vida de outros. Dessa forma, ele dizia: “a liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas.”  

Pretendia com seu sistema de pensamento determinar as leis que regem o sistema de produção. Chegou a definir que os fatores necessários para a produção seriam três principais: o capital, o trabalho e a terra. Segundo Mill, a ideia de capital definida por ele, não seria propriamente o dinheiro, porém o dinheiro poderia se transformar em capital. Associou pontos do sistema político liberal com ideias socialistas, propondo que, em relação ao sistema financeiro, seria interessante adotar o conceito de livre mercado, isto é, o chamado sistema liberal. No entanto, era a favor do Estado mínimo, no que diz respeito as questões sociais básicas para o indivíduo, ou seja, concepções socialistas ligadas as ideias assistencialistas. Sua filosofia social partia do ponto de vista, de uma dependência mútua entre as relações políticas internas e externas, que coexistiam nas instituições.  

Filosofia Sapiencial

+ “As ideias têm consequências”

+ “O gênio apenas pode respirar numa atmosfera de liberdade”

+ “Perguntai a vós mesmos se sois felizes e deixareis de sê-lo.”

+ “É o que os homens pensam que determina sua maneira de agir”.

+ “Todas as coisas boas que existem são os frutos da originalidade.”

+ “Para os males da liberdade só existe um remédio, é mais liberdade.”

+ “O amor ao poder e o amor à liberdade estão em eterno antagonismo”.

+ “Quem só conhece seu próprio lado do problema sabe pouco sobre ele.”

+ “O maior perigo de nossos tempos é que tão poucos ousam ser excêntricos.”

+ “No final de contas, o valor de um Estado é o valor dos indivíduos que o compõem”.

+ “Aprendi a procurar a felicidade limitando os desejos, em vez de tentar satisfazê-los”.

+ “A liberdade do indivíduo tem de ter essa limitação; não pode prejudicar as outras pessoas.”

+ “Cada qual é o guardião conveniente de sua própria saúde, quer corporal, quer mental e espiritual”.

+ “Os homens agem mal não porque seus desejos são fortes, e sim porque suas consciências são fracas”.

+ “A disciplina é mais forte do que o número; a disciplina, isto é, a perfeita cooperação, é um atributo da civilização.”

+ “Ainda que as circunstâncias influam muito sobre o nosso caráter, a vontade pode modificar as circunstâncias em nosso favor”.

+ “Nunca podemos ter certeza de que a opinião que tentamos sufocar é falsa; e se tivéssemos, sufocá-la continuaria sendo um mal.”

+ “Em nossos tempos, da classe mais alta à mais baixa da sociedade, todos vivem como que sob os olhos de uma censura hostil e temida”.

+ “As ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade.”

+ “É na proporção do desenvolvimento de sua individualidade que cada pessoa se torna mais valiosa para si mesma e, portanto, capaz de ser mais valiosa para os outros.”

+ “É impossível que ocorram grandes transformações positivas no destino da humanidade se não houver uma mudança de peso na estrutura básica de seu modo de pensar”.

+ “Quem pode calcular o que se perde com a multidão de inteligências, a coexistirem com caracteres tímidos, que não se aventuram a incorporar-se em nenhuma corrente arrojada, vigorosa e independente de opinião, com o temor de que ela os leve a alguma coisa que possa ser taxada de imoral?”

+ “Pessoas felizes são aquelas cujas mentes estão fixadas em algum outro objeto que não seja a própria felicidade; na felicidade dos outros, no aperfeiçoamento da humanidade, até mesmo em alguma arte ou busca empreendida não como meio, mas como fim ideal. Ao visar assim o outro elas encontram a felicidade casualmente”.

Obras:

Sistema de Lógica; Princípios de Economia Política; Sobre a liberdade; Utilitarismos; Sujeição das Mulheres; O Governo Representativo; A Lógica das Ciências Morais; Sobre a natureza; Análise dos Fenômenos da Mente Humana; Ensaios sobre Religião.

Fontes:

BUCHHOLZ, Todd. Novas ideias de economistas mortos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.

CARREIRO, Carlos Haroldo Porto. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975.

CRISP, Roger. Mill e o utilitarismo. Londres: Routledge, 1997.

DAHL, Robert. Um prefácio à teoria democrática. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1989.

HOLLANDER, Samuel. A economia de John Stuart Mill. Toronto: Universidade de Toronto, 1985.

HUGON, Philippe. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Editora Atlas, 1984.

LIMA, Rafael Lucas de. John Stuart Mill e o cultivo da individualidade. Natal: EDUFRN, 2017.

MILL, John Stuart. Autobiografia. São Paulo: Editora Iluminuras, 2007.

ROSEN, Frederick. Utilitarismo Clássico de Hume a Mill: Estudos em Ética e Teoria Moral. Milton Park: Routledge, 2003.

RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Moderna. São Paulo: Editora Companhia Nacional, 1967.

TRINDADE, Sérgio Luiz Bezerra. A Ética Utilitarista de John Stuart Mill. Natal: Revista UNI-RN, 2008. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Antônio Bezerra

Antônio Bezerra – (1841 a 1921) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Antônio Bezerra de Meneses foi um filósofo cearense pertencente a linha da filosofia historiográfica. Utilizou-se da literatura para disseminar partes de seus conhecimentos, tendendo suas ideias para um viés naturalista. Ficou conhecido como “o poeta da abolição”. Chegou a iniciar seus estudos acadêmicos no Seminário de Fortaleza, tendo migrado para São Paulo, a fim de cursar a faculdade de Direito, porém abandonou o curso e retornou ao Ceará, onde assumiu o cargo de funcionário do Tesouro Provincial. Alistou-se como voluntário da pátria na Guerra do Paraguai. Participou da fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, bem como também, da Academia Cearense de Letras, onde é patrono da cadeira de número 4. Foi maçom pertencente à Loja Fraternidade Cearense. Fez parte inicialmente do movimento ligado à Padaria Espiritual, tendo posteriormente migrado para a agremiação do Centro Literário, na qual recorria ao pseudônimo de “André Carnaúba”. Contribuiu como criador, colunista e redator de vários periódicos, no período em que viveu. Após se aposentar, viajou para o Amazonas, onde se tornou Diretor do Museu de História Natural de Manaus. Era filho do filósofo Manuel Soares da Silva Bezerra e de Maria Teresa de Albuquerque Bezerra. Nasceu na cidade de Quixeramobim, interior do Ceará, no dia 21 de fevereiro de 1841 e faleceu em Fortaleza, no dia 28 de agosto de 1921, aos 80 anos.  

Filosofia da História

Desenvolveu vários trabalhos relacionados a historiografia cearense. Ajudou na formação da inteligência alencarina, contribuindo com a ciência, história, filosofia e literatura do Ceará. Relacionava seu saber historiográfico com a área jurídica e com a literatura. Construiu um conhecimento crítico da história, valendo-se de provas documentais e testemunhais. Sua obra inaugurou uma nova forma de pensar a história cearense. O rigor de sua reflexão serviu para aclarar algumas lacunas que existiam no pensamento historiográfico cearense, ajudando a corrigir determinadas imperfeições. Suas pesquisas firmaram um novo discurso histórico, contribuindo com novos argumentos para a compreensão da memória alencarina e para o entendimento das primeiras correntes de povoamento do Ceará. Ele sistematizou estudos sobre as doações das sesmarias na antiga província do Ceará, com isso, seu trabalho foi importante na organização, catalogação e transcrição dos arquivos documentais, sobre as doações das sesmarias. Devido a esse progressismo, ele foi apontado por pensadores como “o cearense que elucidou a História do Ceará”. Foi considerado também um dos mais atuantes abolicionistas cearenses, tendo contribuído com a formação de várias agremiações culturais e associações cearenses.

Filosofia Naturalista

Nomeado como o primeiro presidente da Sociedade de Ciências Práticas, suas pesquisas foram de grande importância na sistematização dos estudos das ciências naturais no Ceará. Analisou aspectos naturalistas da filosofia alencarina, utilizando-se principalmente da literatura para abordar o tema. Dissecou, em sua obra, a vida trágica do sertanejo cearense, apontando elementos como a seca e a fome, que revelava um cenário alarmante das condições de vida do povo. Implementou estudos científicos, em que analisava procedimentos básicos, para reduzir os impactos negativos que o clima produzia na sociedade agreste. Realizou estudos geográficos e mapeamentos climáticos da natureza. Fez algumas viagens de cunho exploratório com a finalidade de examinar o espaço territorial. Organizou importantes exposições sobre os produtos naturais do Ceará. Militou em defesa do território de algumas tribos indígenas, da qual ele teve contato, utilizando sua influência social e seus conhecimentos, como arma para proteger as terras dos índios.

Filosofia Sapiencial

+ “Não sei se escrevo o que penso, ou se penso o que escrevo”.

+ “Lembrando o que passou, esperança é o que restou, nessa intensa vida vivida”.

+ “O tempo carrega tudo, e a justiça por escolta. De tudo quanto se dá, o tempo entrega de volta”.

+ “O que parece frase feita, enfeita o meu coração, quem ama não esquece, busco em Deus a razão”.

+ “Temos que transformar, sentimento em realidade, pois quando passa o tempo, sobra apenas a nossa verdade”.

+ “És minha esplendorosa fortaleza, linda por sua natureza, ungida com toda certeza, com a graça de uma princesa, importa-se com a família com realeza, amada pela sinceridade, amor e beleza”.

+ “Queiram ou não queiram os nossos cronistas, é preciso confessar que se não tem conhecimento dos nomes das personagens que figuraram naquela região no início de sua formação, muito menos se deve conhecer suas ações e atos públicos.”

+ “Parece que cheguei a alcançar o que até aqui ninguém alcançou, cheguei a resolver inúmeras origens sobre Aquiraz, Aracati, Russas, Jaguaribe-Mirim, Icó, Missão Velha, e com certeza sobre o Cariri, que, antes de mim, o que se escreveu, neste sentido, não passa seguramente de um montão de invenções ridículas e narrações disparatadas.”

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, na antiga chácara Salubre, onde viveu Antônio Bezerra, foram encontrados vários acessos subterrâneos, que eram utilizados como local de encontro pelos abolicionistas cearenses. Acredita-se que o próprio Antônio Bezerra vendia as joias da família para libertar os escravos.

Obras:

A caridade; Algumas Origens do Ceará; Horas de recreio; Província do Ceará; Dúvidas Históricas; Porangaba - As praias; Sonhos de Moço; Lampejos; O Ceará e os Cearenses; Três Liras; Notas de viagem; Descrição da cidade de Fortaleza.

Fontes:

BEZERRA, Antônio. Algumas Origens do Ceará. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1918.

BEZERRA, Antônio Herbert Paz. Genealogia dos Bezerra de Menezes - História e Diáspora. Fortaleza: Premius, 2004.

BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Academia Brasileira de Letras, 2001.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

LIMA, Francisco Augusto de Araújo. Genealogia da Ribeira do Jaguaribe. Site: Famílias Cearenses. Internet: Acesso, 2024.

MAGALHÃES, Zelito Nunes. História da Maçonaria no Ceará. Fortaleza: Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará, 2008.

MARTINS, Paulo Henrique de Sousa. O processo de Abolição no Ceará: História, Memórias e Ensino. Revista Historiar. Vol. 06, N. 11. Vale do Acaraú, UVA, 2014.

MOREIRA, Paulo Italo. As viagens naturalistas de Antônio Bezerra de Menezes e as Ciências Naturais no Ceará na segunda metade do século XIX. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UNIRIO/PPGH, 2016.

SÁ, Murilo Bezerra. Famílias Cearenses: Estudo genealógico dos Bezerra de Menezes. Revista Instituto do Ceará. Fortaleza: RIC, 1946.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

domingo, 18 de agosto de 2024

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes - (1588 a 1679) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo inglês pertencente a linha de pensamento da filosofia política. É considerado um dos formuladores da teoria contratualista do período moderno. Escreveu uma obra que é considerada um clássico da filosofia política, intitulada de “O Leviatã”. Dedicou-se principalmente as áreas da Filosofia, Política, Teologia e Física. Suas ideias tiveram grande influência dos conceitos ligados ao humanismo renascentista, ao jusnaturalismo e ao realismo político. Sua vida foi marcada por instabilidades, seu pai era um clérigo radical que abandonou a família por questões religiosas, por isso Hobbes teve parte de sua educação inicial orientada por um tio. Posteriormente estudou Filosofia na Universidade de Oxford. Passou um tempo exilado na França devido as conturbações políticas de seu tempo. Chegou a trabalhar como secretário do filósofo Francis Bacon, auxiliando-o na tradução de alguns ensaios. Viajou para Itália e lá conheceu o filósofo Galileu-Galilei que teria lhe orientado a respeito de algumas questões sociais. Por fim retorna a Inglaterra onde vive até o final de sua vida. Nasceu em Westport, Inglaterra, no dia 5 de abril de 1588, e faleceu em 4 de dezembro de 1679, em Derbyshire, com 91 anos, durante uma viagem.

Filosofia Política.

Sua obra influenciou bastante a ciência política. Ele partia da ideia de que, para se compreender a moral e a política, era necessário entender primeiramente o homem. Segundo Hobbes, o homem tem uma tendência natural a ser muito individualista, tendo construído a ideia de comunidade, apenas como um meio de sobrevivência, pois assim, estaria mais protegido. Para ele, o homem, em seu estado de natureza, poderia provocar a guerra de todos contra todos. Desse modo, o homem necessitava da ideia de segurança para poder produzir e sobreviver no mundo. De acordo com Hobbes, o indivíduo, em seu estado de natureza, tende a realizar o que ele chamava de “guerra de todos contra todos”, pois ele vive sobre o domínio de suas paixões, agindo sempre por impulso, ou seja, o ser humano teria uma pulsão natural pelo poder.

Segundo Hobbes, o conceito de sociedade só se torna vantajoso ao homem quando ele se ver ameaçado, nesse sentido, o indivíduo constrói a ideia de sociedade civil e firma um pacto social. Ele transfere para a noção de Estado seus direitos naturais com a finalidade de se preservar e se conservar de possíveis ameaças, transferindo elementos da filosofia natural para a filosofia civil, melhor dizendo, passando de um “estado de natureza” para o “estado de sociedade”. Nesse contexto, seriam o medo e a insegurança, os principais fatores que desenvolve a criação do Estado. Ele define o conceito “de guerra” de maneira figurada, pois essa ideia de guerra teria forte relação com a noção de medo e de autoproteção. A guerra seria uma preocupação permanente ou tensão constantes que seriam geradas pelo temor dos infortúnios. Conforme ele explica, o homem também não teria o instinto nato de sociabilidade, buscando a comunhão entre os compatriotas, apenas por interesse ou necessidade. No seu estado de natureza, o homem seria naturalmente um indivíduo interesseiro, competitivo, desconfiado e ambicioso, vivendo em um estado de guerra generalizada. O homem, deveria, então, utilizar-se da política e do Estado para constituir meios comunitários que garantam sua sobrevivência. 

Discorria de maneira contrária a ideia de que o rei governava por direito divino, não expressando seu apoio à Igreja na Inglaterra. Defendendo a tese do poder da realeza que deveria ser baseada no contrato social, fundamentada no apoio do povo. Defendeu os conceitos políticos ligados ao sistema de “monarquia absoluta”, em que estabelecia um poder centralizado e forte nas mãos de um soberano que fosse capaz de evitar as guerras civis. Nessa perspectiva, o Estado também deveria ser forte e com o poder centralizado. Para Hobbes, as questões sociais e políticas geram influência na natureza humana. Sendo o medo e a esperança os principais afetos mais atuantes nessa confluência entre paixão e racionalidade. O homem tem uma tendência a procurar a satisfação nos desejos e evitar o temor que é gerado pelas angústias.

Filosofia do Conhecimento

Hobbes acreditava que o conhecimento derivava dos sentidos, pois a ideia de desejo e de paixão exerceria grande poder de força, na vontade humana. A filosofia de Hobbes teve grande influência, em seus estudos, da Física, Matemática e Astronomia, pois ele pautou seu sistema de pensamento na visão mecanicista que ele tinha do universo, transpondo os movimentos físicos dos corpos celestes, com a ideia de sociedade civil, relacionando o mundo humano, com o meio social e com as questões das ciências e da física moderna. Para ele, a memória, as paixões e a imaginação seriam funções derivadas do arranjo mecânico humano, fez essa analogia, a partir do que observou com o mundo dos astros no universo, do qual seguia, na sua visão, um arranjo semelhante. Hobbes desenvolveu a sua filosofia social, baseando-se nos princípios da geometria e das ciências naturais. Na sua teoria, ele partia do princípio de uma base lógico-proposicional da matéria, para depois construir uma relação política e social, que se fundamentasse na lei positivada e na ordem do Estado. Alguns teóricos chegaram a caracterizar esse modo de pensar, proposto por Hobbes, de “fisicalismo”.

Filosofia Sapiencial

+ “Conhecimento é poder”

+ “O homem é o lobo do homem”

+ “A curiosidade é a luxúria da mente”.

+ “A experiência não leva a conclusões universais.”

+ “Os pactos sem espada não passam de palavras”

+ “Os costumes resultam do hábito convertido em caráter”.

+ “Nas próprias sombras da dúvida, começa um fio de razão”

+ “As palavras são a moeda dos sábios e o dinheiro dos tolos”.

+ “Em geral as paixões humanas são mais fortes do que a razão”

+ "A vida do homem é solitária, pobre, desagradável, brutal e curta"

+ “O verdadeiro e o falso são atributos da linguagem, não das coisas”.

+ “Toda vez que a razão se opõe ao humano, o humano se opõe à razão”.

+ “Impressões sensoriais não bastam para construir e preservar uma vida.”

+ “O universo é corpóreo; tudo o que é real é material, e aquilo que não é material não é real.”

+ “A razão é o passo, o aumento da ciência o caminho, e o benefício da humanidade é o fim.”

+ “Um homem não pode abandonar o direito de resistir àqueles que o atacam com força para lhe retirar a vida.”

+ “A singularidade do uso eclesiástico da palavra deu numerosas disputas relativas ao verdadeiro objeto da fé cristã.”

+ “Assim, na natureza do homem, encontramos três causas principais de discórdia: Primeiro, a competição; em segundo lugar, dissidência; em terceiro lugar, Glória.”

Obras:

Princípios Primeiros; Do Cidadão; O Leviatã; Dos Corpos; Os elementos da lei natural; Do Homem; Elementos da Filosofia.

 

Fontes:

BOBBIO, Noberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991.

CHÂTELET, François. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1986.

DIAS, Reinaldo. Ciência Política. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

HOBBES, Thomas. O Leviatã. São Paulo: Editora‎ Martin Claret, 2014.

MEDEIROS, Alexandro Melo. Thomas Hobbes. Site: Sabedoria Política. Manaus: UFAM, 2014.

POGREBINSCHI, Thamy. O problema da obediência em Thomas Hobbes. São Paulo: EDUSC, 2003.

REALE, Giovani. História da filosofia. São Paulo: Editora Paulinas, 2006.

RIBEIRO, Renato Janine. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999.

SILVA, Hélio Alexandre da. As paixões humanas em Thomas Hobbes: entre a ciência e a moral, o medo e a esperança. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

SOUZA, Maria Eliane Rosa. Thomas Hobbes: Do movimento físico à fundação do Estado. Tese de Doutorado. Porto Alegre: Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.

STRAUSS, Leo. Direito Natural e História. Trad. Bruno Costa Simões. São Paulo: Martins Fontes, 2014.