Alba Valdez – (1874 a 1962)
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Maria Rodrigues Peixe – Foi uma filósofa cearense ligada a corrente de pensamento do
igualitarismo, direcionou suas ideias para o viés do feminismo. É considerada a
primeira mulher a entrar na Academia Cearense de Letras, ocupando a cadeira de
número 22. Atuou como professora,
escritora, ativista e filósofa, exercendo uma grande influência na cultura e na
literatura Cearense. Utilizava-se do pseudônimo de “Alba Valdez” para desvelar
sua obra. Tornou-se uma retirante, após ser vitimada pela seca que atingiu o
Ceará, nesse ínterim iniciou seus primeiros estudos na escola Isabel Teófilo Spinoza,
em Fortaleza, tendo posteriormente concluído seus estudos e se formado na
Escola Normal do Ceará, diplomando-se na área do ensino, em 1889. Professorou
por um tempo, na cidade de Baturité e na região de Aracatiaçu, em Sobral.
Depois migrou para a capital, onde passou a lecionar no Grupo Escolar de
Fortaleza, dedicando sua vida à docência e a literatura. Fez parte de importantes
associações e agremiações, entre eles, o Instituto Ceará, o Centro Literário, a
Boêmia Literária, a Iracema Literária, e a Ala Feminina da casa de Juvenal
Galeno. Era filha do senhor João Rodrigues Peixe com a senhora Isabel Alves
Rodrigues. Nasceu na localidade conhecida como Vila de São Francisco de
Uruburetama, situada nas proximidades da cidade de Itapajé, no dia 12 de
dezembro de 1874. Faleceu em Fortaleza, no dia 5 de fevereiro de 1962.
Filosofia Política
O cenário político da época não era favorável para o espírito feminino,
isso motivou Alba a combater as barreiras que dificultavam a participação das
mulheres no teatro social. Entre essas adversidades, ela pontuou situações que
atravancavam a criatividade feminina, como os problemas da seca, a miséria de
alguns locais e outras intempéries climáticas. Ela advogou em defesa dos
direitos da mulher em várias frentes sociais, tendo lutado pela emancipação
feminina nos diversos setores da sociedade. Defendeu questões como o direito do
voto para as mulheres, bem como também, o desenvolvimento cultural do Ceará. Foi
uma das fundadoras da primeira agremiação feminina do Ceará chamada de “Liga
Feminista Cearense”, onde atuou como presidente.
Pensadores esclarecem que, nessa época, a mulher que se lançava ao mundo
das letras transmitia para a sociedade uma visão subversiva, pois o olhar
conservador e tradicional, considerava a mulher, como sendo, apenas uma
cuidadora do lar e da família. Nesse contexto, Alba rompeu com os
estereótipos socioculturais e quebrou paradigmas, buscando atuar nos espaços
públicos de grande relevância cultural, literária e social, fomentando
palestras e debates que problematizavam questões de ordem feminista, com o
objetivo de refletir sobre os problemas enfrentados pelas mulheres. Dessa
forma, ela utilizava a oratória como ferramenta de valorização do discurso
feminino, fazendo de suas participações sociais, um instrumento de consolidação
e independência da mulher na sociedade.
Filosofia Literária
Contextualizou, em partes de sua obra, uma literatura que retratava
fatos cotidianos de sua infância e adolescência. Pontuando vários elementos que
caracterizavam as injustiças, as desigualdades sociais e de gênero. Sua obra
era composta por textos em formato de prosa, contos e crônicas, em que
expressava seus pensamentos, sentimentos e opiniões. Publicou seu primeiro
grande livro, em 1901, o qual foi intitulado de “Em Sonho”,
posteriormente escreveu “Dias de Luz”, obra publicada entre 1906 e 1907.
Suas obras ganharam grande destaque, após serem traduzidas para outras línguas
como o francês e o sueco.
Foi considerada uma das mulheres pioneiras a se aventurar no universo
das letras no Ceará, com isso, teria sido caracterizada como uma “Mulher de
Papel”, expressão utilizada por críticos para descrever as mulheres que se
destacaram e se constituíram, através do mundo literário. Sua filosofia
descrevia uma visão nostálgica da vida infantil, buscando traduzir uma
melancolia sofrida por uma infância perdida. Revelava o contraste que foi sendo
construído, entre o espaço de criação dela com o de seu irmão, observando o
tratamento desigual dado pelo pai, nas diferenças que existiam, principalmente
sobre a questão de gênero masculino e feminino.
Filosofia Sapiencial
+ “Pus-me a andar sob o lastro da imaginação que perdera o freio”.
+ “Um sino canta docemente ao longe, é a hora misteriosa da saudade”
+ “Um luar brilhante, essa claridade que inunda o solo sobre o qual tudo
passa, é a esperança”.
+ “A voz de minha mãe abençoa-me como uma orquestra angélica que me
embala o ouvido”.
+ “Senhora dona Cândida, coberta de ouro e prata, descubra o seu rosto,
que queremos ver-lhe a cara”.
+ “A mulher é um ser fraco, propalam, pois, então, da própria fraqueza,
construirei a força necessária para comunicar as minhas emoções”.
+ “Ela, com a mente alucinada dos indômitos desejos, ansiava ser o
pássaro veloz que recorta os planos luminosos para ir em busca desse ideal
sonhado”
+ “A festa que decorre luminosa, como sói acontecer com as festas da
inteligência, ocorre no ritmo feiticeiro das ideias, criados por artistas da
palavra, que já se fizeram ouvir”.
+ “Leva toda esta alegria fictícia que me inunda, que toda ela te
pertence; e a minha alma liberada nas asas da saudade, levantará o voo
atravessando os mares espumosos, os desertos inóspitos e irá abrigar-se no teu
seio luminoso”
+ “Raio despontava inundado de fulgores e aromas. O campo ria de verde e
nos quintais plantados o vermelho variegado das rosas, o branco latescente dos
cravos, o púrpuro das boninas atraía o olhar numa orgia deslumbrante de cores”.
+ “A mulher de letras do Ceará teve princípios ásperos, concorrendo para
isso, como já foi dito, o isolamento da terra, sem o contato direto da
civilização, a rigorosa educação familiar e os conceitos desairosos, que sobre
o cérebro feminino atiraram certos filósofos”
+ “Estreitamente ligada ao lar por efeito do rigorismo educacional, sem
maiores responsabilidades que as decorrentes dos afazeres domésticos, dos
estudos feitos com certa limitação, a mulher visionava a vida menos pelo que
possuía de real do que pelas aparências. O preparo intelectual ressentia-se do
senso das realidades, convindo-lhe bem a terminologia de abstrato que os
gramáticos conferem a determinados nomes”.
+ “Apesar dos esforços e tentativas que se têm feito, o nosso tráfego
intelectual não apresenta nestes últimos tempos, afora uma outra joia isolada,
nada que cative admiração. Não é por falta de engenhos, que os temos, do que há
mister é de uma longa solidariedade inquebrantável que congregue os elementos
dispersos, acabando com a apatia, o marasmo dissolvente, para a iniciação de
uma fase de atividade e esplendor cultural”.
+ “Dentro da pátria não há fronteiras e muito menos a frialdade dos
polos. O sol vibrante resplende por cima de rios gigantes de imponentes matas
virgens de serras alcantiladas, guardando todos nos seus misteriosos recessos
incalculáveis riquezas. Tudo é grande e por isso o sentimento deve ser uma
consequência lógica do ambiente em que se formou. Mulher pernambucana, irmã da
Cearense pelos vínculos de raça, de língua, de religião e de ideal! Mulher
pernambucana, síntese de todas as virtudes sociais e domésticas! A mulher
Cearense depõe na sua face pura o ósculo da amizade – flor do coração”.
Fatos e Curiosidades:
Segundo alguns biógrafos, Maria Rodrigues Peixe teria criado o
pseudônimo de “Alba Valdez” com a finalidade de burlar o sistema patriarcal que
imperava em seu tempo, pois não era comumente tolerado, o discurso letrado para
as mulheres. Conta-se que “Alba” teria sido em homenagem a uma amiga que era
filha de Tomas Pompeu, e “Valdez” seria o nome de um antigo dicionário da
língua portuguesa.
Alba Valdez colaborou com vários periódicos, revistas e almanaques, entre
eles estão: Revista da Academia Cearense de Letras; Revista do Ceará; Panóplia;
Diário do Ceará; Correio do Ceará; A Tribuna; A Razão; Unitário; O Nordeste;
Jornal do Commercio; Diário do Recife; Revista Iris de Porto Alegre; Revista O
Lyrio de Recife. Alguns pesquisadores reuniram, em um compilado, vários de seus
textos, que foram publicados nesses periódicos, constituindo uma obra chamada
“textos esparsos”.
Poema Mãe e Filha:
Quando contemplo minha mãe querida
Olhos sem brilho, lacrimosos, baços,
Alva a cabeça, pelas cãs, perdida,
Tez enrugada, descarnados braços
À pequenita, em maternais abraços
A rir, beijando-a carinhosa e fida,
Murmuro: --- A estrela que me guiou os passos
Se abraça ao sol que me ilumina a vida!
Uma é a tarde a desmaiar tristonha,
Outra a alvorada que surgiu risonha,
Lá no horizonte de dourada cor refletida.
Obras:
Em sonho; Dias de luz; Textos Esparsos; Uma grande figura da história
educacional do Ceará.
Fontes:
AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica.
Fortaleza: Revista da academia Cearense de Letras, 1894-1954.
ANDRADE, Alves. O centenário de Alba Valdez. Revista: Academia
Cearense de Letras. Fortaleza: ACL, 1976.
BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense. Fortaleza:
Instituto do Ceará, 1951.
CASTRO, Carla. Resquícios de memória: dicionário biobibliográfico de
escritoras e ilustres cearenses do século XIX. Fortaleza: Expressão Gráfica
e Editora, 2019.
GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.
MARTINS, José Murilo. Academia Cearense de Letras. História e
Acadêmicos. Fortaleza: Edições ACL, 2013.
SILVA, Odalice de Castro. Alba Valdez (1874-1962): Estudo, antologia
e bibliografia. Lisboa: BNP, 2019.
SOUZA, Keyle Sâmara Ferreira. Alba Valdez: Uma mulher de letras entre
a literatura e a imprensa cearense. Revista: Letras em Revista. Teresina:
SEDUC/CE, 2020.
STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense.
Fortaleza: Tipografia, 1910.
TELLES, Norma. História das mulheres no Brasil: Escritoras, escritas,
escrituras. São Paulo: Editora Contexto, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário