Bárbara de Alencar – (1760 a 1832) d.C
Autor: Alysomax Soares
Bárbara Pereira de Alencar – Foi uma filósofa política ligada as correntes de pensamento do
progressismo. Recebeu o título de cidadã cearense em memória pela sua grande influência
na história do estado. Herdou o seu primeiro nome em homenagem a santa Bárbara.
Ficou conhecida como “Dona Bárbara do Crato” e figura na lista dos chamados
heróis da pátria. Destacou-se como uma mulher letrada em uma época que as
mulheres tinham poucos direitos a educação. Possuidora de uma personalidade
forte e uma cultura admirável, desde jovem já lia os grandes clássicos da
literatura universal. Estimada como uma das primeiras revolucionárias do
Brasil, ela desempenhou a função de fazendeira, comerciante e ativista. Estudou
botânica com o padre naturalista Manuel de Arruda Câmara, tendo sido
influenciada espiritualmente e politicamente pelos pensamentos do clérigo. Detentora
de um vasto saber político, também foi inspirada pelas doutrinas iluministas
dos filósofos Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Era filha do senhor Joaquim
Pereira de Alencar com a dona Teodósia Rodrigues da Conceição. Nasceu no sertão
de Pernambuco, na cidade de Exu, em 11 de fevereiro de 1760. Faleceu na
localidade de Fronteiras, município do Piauí, por volta de 18 de agosto de
1832. Seu corpo foi sepultado na cidade de Campos Sales, no Ceará. Teve, a seu
pedido, um enterro simples, enrolada numa rede. Seu túmulo encontra-se em
processo de tombamento. Recebeu, ao logo do tempo, várias homenagens e
reconhecimentos por todo o país.
Filosofia Política
Considerada uma protomártir da independência do Brasil, ela contribuiu, substancialmente, na construção dos ideais republicanos, participando das discussões e reuniões relacionadas com os movimentos políticos da época. Desafiou os poderes sociais e políticos vigentes em seu tempo. Ficou consagrada historicamente como uma heroína que defendia as concepções libertárias, tendo participado da revolução pernambucana e da confederação do Equador. Desempenhou forte papel de articulação entre políticos, clérigos e intelectuais, lutando por um nacionalismo liberal que tornasse o estado brasileiro livre e forte. Tinha um posicionamento contrário as idealizações absolutistas, advogando em prol do separatismo e da identidade brasileira. Mulheres como Bárbara, quando se tornavam viúvas, tinham que se virar para criar os filhos e administrar grandes fazendas. Nesse cenário, elas eram muitas vezes chamadas de “Mulher-Macho” ou “Matriarcas do Sertão”. Títulos herdados pela influência local que representavam, exercendo grande liderança e poder nos chamados feudos regionais do sertão. A revolucionária do Crato, rompeu com o papel tradicional de mulher do lar, atuando como guerreira, intelectual e articuladora. Vista por muitos como uma mulher de fibra e coragem, ela é, atualmente, referência da luta feminina pelos direitos da mulher. Parafraseando o poeta: “Bárbara...essa mulher foi Bárbara”!
Filosofia Progressista
Segundo descrevem os historiadores, em uma bela manhã de domingo, na
igreja local da vila do Crato, estavam reunidos a plebe e os poderosos, quando
um dos filhos de Bárbara, José Martiniano se dirigiu ao púlpito, e leu um dos
textos simbólicos da revolução, chamado de “o preciso”. Conclamando por
liberdade, ele declarou ali a república de Jasmim. Acredita-se que, boa parte
da inter-relação política, nas sedições, tenha sido arquitetado e planejado pela
mãe. Porém, por ser mulher, e dada a sua condição de senhora matriarca, ela
preferiu atuar mais discretamente, assumindo o papel de conselheira, não se
manifestando, em certas ocasiões, visivelmente, evitando ficar em evidência,
pois era o cérebro pensante do movimento. Mesmo assim, sofreu grande
perseguição política, sendo presa em calabouços por quase quatro anos. Foi
acorrentada e conduzida para os fortes de Fortaleza, Recife e Salvador. Teve
todos os seus bens confiscados pela coroa portuguesa. Foi vítima de várias
difamações e boatos contra sua honra, os quais teriam sido perpetuadas por inimigos
políticos. Segundo algumas correntes feministas, sua atuação pública, na
condição de mulher, contribuiu para que ela sofresse certas humilhações
caracterizadas como violência de gênero. Para elas, as falsas acusações tinham
como objetivo, difamar as mulheres, para macular sua imagem e apagar sua
memória, frente aos grandes acontecimentos históricos. Admirada como uma mulher
à frente de seu tempo, ela é tida como uma das pioneiras da liberdade, que lutaram
por justiça e igualdade.
Fatos e Curiosidades:
Relata-se que, na Fortaleza de Assunção, local em que Dona Bárbara ficou
aprisionada, ainda existe o calabouço, onde as pessoas visitam. Narra-se entre
a tradição popular, uma lenda de que, até esse tempo, é possível ouvir pelas
madrugadas, sons de gritos e gemidos ecoando pelo porão. Nesse espaço, foi anexada
uma placa com a seguinte frase: “aqui gemeu Bárbara Pereira de Alencar”. Bárbara
era avó do escritor cearense José de Alencar. Também foi mãe de José Martiniano
Pereira de Alencar e de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe.
Filosofia Sapiencial
+ “Os escravos foram meus amigos mais leais"
Fontes:
ARAÚJO, Ariadne. Bárbara de Alencar. Fortaleza: Edições Demócrito
Rocha, 2002.
ARAGÃO, Caetano Ximenes de. Romanceiro de Bárbara. Série
Luz do Ceará. Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará, 2010.
CARVALHO, José. Heroína Nacional: Bárbara de Alencar. Fortaleza:
Revista do Instituto do Ceará. 1920.
GASPAR, Roberto. Bárbara de Alencar: a guerreira do Brasil. Fortaleza:
Gráfica Tiprogresso, 2001.
MONTENEGRO, João Alfredo de Sousa. Bárbara de Alencar. Fortaleza:
Revista do Instituto do Ceará, 1995.
NOBRE, Luciana Barbosa. O romance de Bárbara. Rio de Janeiro:
Editora Revista da Academia de Letras, 1982.
PELLEGRINO, Antônia. Bárbara de Alencar e as Raízes Brasileiras da
Violência Política de Gênero. Revista do Centro de Pesquisa e Formação. N:
15. São Paulo: SESC/RCPF, 2022.
QUEIROZ, Rachel de; HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Matriarcas do
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SOUZA, Duda. Porto; CARARO, Aryane. Extraordinárias: mulheres que
revolucionaram o Brasil. São Paulo: Editora Seguinte, 2017.
SOUSA, Kelyane Silva de. Bárbara de Alencar: relações de gênero e
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