Ecfanto de Siracusa – (500 a 400) a.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à escola
pitagórica. Era considerado um filósofo enigmático e ficou conhecido como “o
pitagórico”. Provavelmente seria natural de Siracusa, uma cidade localizada
na região da Sicília, na Itália. Porém, outras correntes apontam que ele possa
ter nascido ou vivido na localidade de Crotona. Escreveu uma obra intitulada
“Sobre o Reino”, que dado o contexto da época, supõe-se que tratava de temas
que associavam e comparavam, conhecimentos das áreas de Filosofia e Astronomia,
com questões Políticas. Sofreu grande influência dos filósofos Pitágoras,
Demócrito e Anaxágoras, relacionando os conhecimentos pitagóricos com as
teorias atomistas. Acredita-se que ele possa ter florescido na mesma época dos
filósofos Arquitas de Tarento e Hicetas de Siracusa, tendo possivelmente
estudado com eles. Não é possível precisar a data exata de seu nascimento,
sendo presumido que seu florescimento tenha se dado entre os séculos (V e IV) a.C.
Especula-se, entre algumas correntes históricas, que Ecfanto tenha sido apenas
um personagem das obras de Heráclides de Ponto, contudo, seu nome aparece
transcrito em épocas diferentes, apontando para a tese da corrente majoritária,
que acredita na sua existência real.
Filosofia da Natureza
Desenvolveu um sistema de pensamento segundo a qual os constituintes da
matéria eram volumes de corpos invisíveis, separados pelo vazio. Nesse sentido,
o mundo seria apenas uma representação da realidade, pois os sentidos captavam
os objetos e reproduziam isso na mente humana. A alma teria uma força motriz
que causava mudanças nas “mônadas”. Diógenes de Laércio cita, em sua
obra, que Ecfanto dizia ser impossível alcançarmos um conhecimento verdadeiro
da realidade e que a verdade não poderia ser definida da forma como
julgamos. Desse modo, não era possível
se obter um saber concreto do universo ou da existência, mas apenas uma
opinião. A impossibilidade do homem de poder chegar a uma verdade dogmática
estava ancorada na tese de que cada indivíduo só seria capaz de idealizar os
conceitos que lhe são oportunos. Na obra “sobre o reino” explicava que a
organização harmoniosa do universo era ordenada por uma força divina, por isso a
realeza seria naturalmente superior, servindo de mediadora entre os deuses e o
homem.
Filosofia cosmológica
Defendia partes da teoria geocêntrica com conceitos da teoria heliocêntrica,
buscando conciliar ideias da astrofísica de seu tempo. Ele foi um dos primeiros
pensadores a afirmar que a Terra era dotada de um movimento de rotação em torno
do seu próprio eixo. Para ele, esse movimento se dava do oeste para o leste. Achava
que a Terra era o centro do universo e defendia o formato dela como sendo
esférico. Acreditava que todos os corpos celestes estariam parados e estáticos
no espaço, sendo apenas a Terra o único corpo celeste do universo que se movia
pelo espaço. Segundo sua visão, a Terra, ao girar em torno do seu próprio eixo,
gerava uma sensação ilusória de que os astros estariam se movendo. Para Ecfanto,
essa ideia de rotação, gerava um movimento parecido com o giro de um pião. Partes
de seu conhecimento anteciparam conceitos que foram abordados séculos depois.
Construiu uma teoria sobre o atomismo que se relacionava com algumas
ideias pitagóricas. De acordo com ele, os átomos eram espécies de mônadas
corporais que eram controladas por uma força divina chamada de “providência”,
que seria uma força formada por uma espécie de “alma-mente”. Esses supostos
corpos primários, eram definidos, por ele, como sendo indivisíveis. Eles
possuíam três variações, sendo elas de tamanho, formato e capacidade. Acreditava
que as teorias de Pitágoras, a respeito dos números, seriam muito abstratas.
Nesse ponto, Ecfanto estabeleceu um conceito material para explicação da
realidade. Por isso, ele é descrito como o primeiro pensador pitagórico a
atribuir uma substância física aos fenômenos da natureza. Suas concepções buscavam associar a
estrutura material do cosmos com um princípio de ordenação superior. Nesse
contexto, sua cosmovisão da realidade, considerava que corpos celestes possuiam
uma ideia de alma em movimento, essa concepção estaria alinhada com o que mais
tarde, pareceu ser algo próximo, ao conceito de inércia.
Filosofia Sapiencial
+ “O cosmos é único”
+ “Existe definidas existências infinitas”
+ “Tudo no Universo é imóvel, exceto a Terra"
+ “Há uma multidão de existências definitivamente infinitas”
+ “Todas as coisas são formadas de corpos
indivisíveis e o vazio.”
+ “O cosmos é composto de átomos e governado por uma inteligência."
+ “Assim, a cidade reunida de muitas coisas diferentes imita a ordem e a
harmonia do cosmos”.
Fontes:
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo:
Editora Edipro, 2012.
BURNET, John. A Aurora da Filosofia Grega. Trad. Vera Ribeiro.
Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2007.
CORNELLI, Gabriele. O Pitagorismo como Categoria Historiográfica.
São Paulo: Editora Annablume, 2011.
DIELS, Hermann. Ecfanto: O pitagórico. Fragmente der
Vorsohratiker, textos inéditos, 1954.
GUTHRIE, William. Ecfantus Em Uma História da Filosofia Grega: Os
Pré-Socráticos Antigos e os Pitagóricos. Cambridge: Cambridge University
Press, 1962.
HIPÓLITO DE ROMA. Tradição Apostólica: Liturgia e Catequese em Roma –
séc.III. São Paulo: Editora Vozes, 2019.
HUFMANN, Carl. A história do pitagorismo. Cambridge: Cambridge
University Press, 2014.
LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª
ed. Brasília: UnB, 2008.
MATTÉI, Jean François. Pitágoras e os pitagóricos. São Paulo:
Editora Paulus, 2000.
SQUILLONI, Antonella. O conceito de “reino” no
pensamento do filósofo Ecfanto. Fontes e tratados. Itália: Editora Olschki,
1991.
VERNANT, Jean. Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de
Janeiro: Editora Difel, 2002.