domingo, 15 de junho de 2025

Ecfanto de Siracusa

Ecfanto de Siracusa – (500 a 400) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo pré-socrático da Grécia antiga pertencente à escola pitagórica. Era considerado um filósofo enigmático e ficou conhecido como “o pitagórico”. Provavelmente seria natural de Siracusa, uma cidade localizada na região da Sicília, na Itália. Porém, outras correntes apontam que ele possa ter nascido ou vivido na localidade de Crotona. Escreveu uma obra intitulada “Sobre o Reino”, que dado o contexto da época, supõe-se que tratava de temas que associavam e comparavam, conhecimentos das áreas de Filosofia e Astronomia, com questões Políticas. Sofreu grande influência dos filósofos Pitágoras, Demócrito e Anaxágoras, relacionando os conhecimentos pitagóricos com as teorias atomistas. Acredita-se que ele possa ter florescido na mesma época dos filósofos Arquitas de Tarento e Hicetas de Siracusa, tendo possivelmente estudado com eles. Não é possível precisar a data exata de seu nascimento, sendo presumido que seu florescimento tenha se dado entre os séculos (V e IV) a.C. Especula-se, entre algumas correntes históricas, que Ecfanto tenha sido apenas um personagem das obras de Heráclides de Ponto, contudo, seu nome aparece transcrito em épocas diferentes, apontando para a tese da corrente majoritária, que acredita na sua existência real.

Filosofia da Natureza

Desenvolveu um sistema de pensamento segundo a qual os constituintes da matéria eram volumes de corpos invisíveis, separados pelo vazio. Nesse sentido, o mundo seria apenas uma representação da realidade, pois os sentidos captavam os objetos e reproduziam isso na mente humana. A alma teria uma força motriz que causava mudanças nas “mônadas”. Diógenes de Laércio cita, em sua obra, que Ecfanto dizia ser impossível alcançarmos um conhecimento verdadeiro da realidade e que a verdade não poderia ser definida da forma como julgamos.  Desse modo, não era possível se obter um saber concreto do universo ou da existência, mas apenas uma opinião. A impossibilidade do homem de poder chegar a uma verdade dogmática estava ancorada na tese de que cada indivíduo só seria capaz de idealizar os conceitos que lhe são oportunos. Na obra “sobre o reino” explicava que a organização harmoniosa do universo era ordenada por uma força divina, por isso a realeza seria naturalmente superior, servindo de mediadora entre os deuses e o homem.

Filosofia cosmológica

Defendia partes da teoria geocêntrica com conceitos da teoria heliocêntrica, buscando conciliar ideias da astrofísica de seu tempo. Ele foi um dos primeiros pensadores a afirmar que a Terra era dotada de um movimento de rotação em torno do seu próprio eixo. Para ele, esse movimento se dava do oeste para o leste. Achava que a Terra era o centro do universo e defendia o formato dela como sendo esférico. Acreditava que todos os corpos celestes estariam parados e estáticos no espaço, sendo apenas a Terra o único corpo celeste do universo que se movia pelo espaço. Segundo sua visão, a Terra, ao girar em torno do seu próprio eixo, gerava uma sensação ilusória de que os astros estariam se movendo. Para Ecfanto, essa ideia de rotação, gerava um movimento parecido com o giro de um pião. Partes de seu conhecimento anteciparam conceitos que foram abordados séculos depois.

Construiu uma teoria sobre o atomismo que se relacionava com algumas ideias pitagóricas. De acordo com ele, os átomos eram espécies de mônadas corporais que eram controladas por uma força divina chamada de “providência”, que seria uma força formada por uma espécie de “alma-mente”. Esses supostos corpos primários, eram definidos, por ele, como sendo indivisíveis. Eles possuíam três variações, sendo elas de tamanho, formato e capacidade. Acreditava que as teorias de Pitágoras, a respeito dos números, seriam muito abstratas. Nesse ponto, Ecfanto estabeleceu um conceito material para explicação da realidade. Por isso, ele é descrito como o primeiro pensador pitagórico a atribuir uma substância física aos fenômenos da natureza. Suas concepções buscavam associar a estrutura material do cosmos com um princípio de ordenação superior. Nesse contexto, sua cosmovisão da realidade, considerava que corpos celestes possuiam uma ideia de alma em movimento, essa concepção estaria alinhada com o que mais tarde, pareceu ser algo próximo, ao conceito de inércia.

Filosofia Sapiencial

+ “O cosmos é único”

+ “Existe definidas existências infinitas”

+ “Tudo no Universo é imóvel, exceto a Terra"

+ “Há uma multidão de existências definitivamente infinitas”

+ “Todas as coisas são formadas de corpos indivisíveis e o vazio.”

+ “O cosmos é composto de átomos e governado por uma inteligência."

+ “Assim, a cidade reunida de muitas coisas diferentes imita a ordem e a harmonia do cosmos”.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Editora Edipro, 2012.

BURNET, John. A Aurora da Filosofia Grega. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2007.

CORNELLI, Gabriele. O Pitagorismo como Categoria Historiográfica. São Paulo: Editora Annablume, 2011.

DIELS, Hermann. Ecfanto: O pitagórico. Fragmente der Vorsohratiker, textos inéditos, 1954.

GUTHRIE, William. Ecfantus Em Uma História da Filosofia Grega: Os Pré-Socráticos Antigos e os Pitagóricos. Cambridge: Cambridge University Press, 1962.

HIPÓLITO DE ROMA. Tradição Apostólica: Liturgia e Catequese em Roma – séc.III. São Paulo: Editora Vozes, 2019.

HUFMANN, Carl. A história do pitagorismo. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MATTÉI, Jean François. Pitágoras e os pitagóricos. São Paulo: Editora Paulus, 2000.

SQUILLONI, Antonella. O conceito de “reino” no pensamento do filósofo Ecfanto. Fontes e tratados. Itália: Editora Olschki, 1991.

VERNANT, Jean. Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2002.


sábado, 10 de maio de 2025

Franklyn Távora

Franklyn Távora – (1842 a 1888) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

João Franklin da Silveira Távora - Foi um filósofo cearense ligado as escolas de pensamento da “Literosofia”. Inclinou-se inicialmente pela linha do romantismo brasileiro, subintitulado como regionalismo-nacionalista, migrando posteriormente na direção do naturalismo-realista. Sofreu grande influência do positivismo de Haeckel. Atuou como escritor, político e magistrado, também exerceu a função de diretor-geral da Instrução Pública e curador-geral dos órfãos. Iniciou seus primeiros estudos na cidade de Fortaleza, depois mudou-se para o município de Goiana, onde terminou o curso de humanidades, logo em seguida, transmigrou para a cidade de Recife, local em que concluiu o curso de Direito.

Foi um dos fundadores da Associação dos Homens de Letras do Brasil. Participou como membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. É patrono da cadeira número 14 da Academia Brasileira de Letras e Patrono da cadeira 16 da Academia Cearense de Letras. Pertenceu a outras agremiações literárias, filosóficas e filantrópicas. Era filho de Camilo Henrique da Silveira Távora e de Maria de Santana da Silveira. Nasceu em 13 de janeiro de 1842, em Baturité, no estado do Ceará. Faleceu em 18 de agosto de 1888, na cidade do Rio de Janeiro, vitimado por um aneurisma.  

Filosofia Literária

Utilizava-se de uma oratória eloquente para comunicar suas ideias, valendo-se dos pseudônimos de Semprônio e Farisvest, dialogando entre investigações históricas e reconstituições do passado. Na sua fase romântica, transmitiu uma aura sentimentalista, juntamente com uma idealização amorosa. Visto como um dos precursores do realismo brasileiro, nessa etapa, evidenciou as contradições sociais que permeavam o ambiente regional, retratando a influência que o meio exercia no comportamento humano e no destino dos indivíduos. Registrava um espaço rural que revelava as paisagens geográficas, expressando traços do nativismo basílico. Construiu uma visão que colocava o homem do campo como uma espécie de herói nacional. Seu regionalismo típico influenciou o surgimento do “romance de sertão”.

Sua obra ancorava-se na ideia de uma chamada “Literatura do Norte”, trabalhando, em seus textos, elementos relacionados aos costumes regionais do povo norte-nordestino, enaltecendo a cultura local e valorizando personagens tipicamente nacionais. Defendia a tese de que a literatura brasileira estava dividida em literatura do norte e do sul. Nesse sentido, sua literatura nortista visava engradecer a cultura dessa região, que era muitas vezes ignorada, mostrando uma cultura brasileira mais autêntica e original, que se diferenciava da literatura sulista, que estaria, na sua visão, eivada de vícios e estrangeirismos. Desse modo, combatia o chamado “provincianismo”, destacando o sertanismo, como elemento de valorização e idealização do sertanejo. Transmitiu através da literatura, elementos importantes da história e da cultura, pretendendo com isso, explicar em partes, o contexto nacional pelo viés regional.

Filosofia Juspolítica

A obra de Franklyn tratou de importantes questões ligadas ao Direito, servindo como fontes documentais históricas, bem como também, manifestando contradições sociais que conflitavam com a esfera jurídica. Trabalhou temas criminológicos, em sua obra, como a questão da pena de morte e o banditismo social. A questão da violência era retratada de forma crua, denunciando a corrupção moral e como o preconceito motivava os crimes cruéis. Comunicava uma visão sociológica do fenômeno delitivo que se transfigurava no caráter transgressor e no comportamento desviante, ambos resultados, de disputas pela sobrevivência e pelo poder. Alguns personagens eram retratados como pessoas excluídas da sociedade, que transitavam na fronteira entre o humano e o selvagem.     

No campo político, era visto como um progressista simpático as causas liberais, tendo desempenhado as funções de Deputado Provincial e funcionário da Secretaria do Império. Lutou em prol de mais liberdade religiosa, pontuando importantes dilemas do Direito constitucional e eclesiástico. Envolveu-se na chamada questão religiosa. Advogou em defesa do ensino livre, debatendo publicamente, a favor de mais autonomia e liberdade, para a educação. Combateu a escravidão defendendo a soltura dos cativos e atacando as injustiças contra os menos favorecidos. Escreveu para importantes periódicos de cunho sociopolítico, tendo inclusive dirigido, por um tempo, a Revista Brasileira.

Filosofia Sapiencial

+ “O fundo subsiste sempre”.

+ “O Engenho é o solar do Norte”

+ “A vida não passa de uma quimera”

+ “A honestidade deve ser a base do caráter da mulher”

+ “Lá se foi o tempo em que eu podia castigar tão grandes ousadias”

+ “Um indivíduo propenso ao crime, pode ser salvo pelo amor, pela educação e pelo trabalho”.

+ “Que vida temos nós, que felicidade!...Ornada dos festões da poesia; isenta da moral...a hipocrisia livre como no mar a tempestade!”

+ “O meu fim único é dar ideia dos costumes e paixões dominantes daquele tempo; é autorizar a narrativa com a tradição, junto da História”.

+ “A história de Pernambuco nos oferece exemplos de heroísmo e grandeza moral que podem figurar nos fastos dos maiores povos da antiguidade sem desdourá-los.”

+ “A filosofia da vida, dava pela primeira vez a ler ao bisonho almocreve uma das páginas tristes, que o homem versado em letras encontra aos milhares no imenso livro da história.”

+ “Proclamo uma verdade irrecusável. Norte e Sul são irmãos, mas são dois. Cada um há de ter uma literatura sua, porque o gênio de um não se confunde com o do outro. Cada um tem suas aspirações, seus interesses, e há de ter, se já não tem, sua política”.  

+ "Ah! meu amigo, a pena de morte; que as idades e as luzes têm demonstrado não ser mais que um crime jurídico, de feito não corrige nem moraliza. O que ela faz [...] é abater o poder que a aplica; é escandalizar, consternar e envilecer as populações em cujo seio se efetua. A justiça executou o Cabeleira por crimes que tiveram sua principal origem na ignorância e na pobreza."

Fatos e Curiosidades

Relata-se, segundo alguns biógrafos, que antes de falecer, Távora teria ficado desesperançado com algumas questões pessoais, tendo destruído vários manuscritos e crônicas. Entre as obras perdidas, estariam dois manuscritos inéditos que tratavam sobre a revolução pernambucana. Ainda assim, outras obras originais e dispersas, foram atribuídas a sua autoria, após sua morte.

Conta-se que Franklyn chegou a defender a ideia de que alguns escritores cearenses e brasileiros, não deveriam construir uma literatura de gabinete, sem conhecimento da realidade social. Segundo ele, seria necessário que os escritores, para transmitir a cultura que era revelada nas obras, caíssem em campo, para conhecer, verdadeiramente, as tradições populares e regionais.

Obras:

Trindade Maldita; Os Índios do Jaguaribe; Um mistério de família; A Casa de Palha; Um Casamento no Arrabalde; Três Lágrimas;       O Cabeleira; O Matuto; Lendas e Tradições do Norte; Lourenço; Sacrifício; Cartas a Cincinato; A Verdade; A Consciência Livre.

Fontes:

ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

AGUIAR, Cláudio. Franklin Távora e o seu tempo. Rio de Janeiro: ABL, 2005.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 1970.

CÂNDIDO, Antônio. A Nova Narrativa. São Paulo: Editora Ática, 2003.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

LEAL, Vinícios Barros. Franklyn Távora: A Dimensão Nacional de um Regionalista. Fortaleza: Revista Instituto do Ceará, 2003.

PIMENTEL, Samarkandra Pereira dos Santos. Literatura, História e Sociedade Em Estilo de Casa: Um Casamento do Arrabalde de Franklyn Távora. Revista Fênix de História e Estudos Culturais. Fortaleza: UFC, 2009.

ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1953.

SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TÁVORA, Franklyn. O Cabeleira. São Paulo: Editora Martins Claret, 2014.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Fuxi da China

Fuxi da China – (2900 a 2000) a.C    

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da China antiga considerado o fundador da escrita na cultura chinesa. Pode ser enquadrado na chamada filosofia mítica dos primeiros pensadores primitivos. Escreveu uma obra clássica conhecida como “I Ching”, que é apontada como um dos livros mais antigos da humanidade. Conhecido como o “livro das mutações”, a obra também descreve profecias, provérbios e predições oraculares, sobre a cultura chinesa. Ficou afamado como o fundador da nação chinesa, sendo descrito como o primeiro imperador chinês, assim como quem formulou o primeiro sistema de leis desse povo. Seu nome também é especificado como Fushi, Paoxi, Pao-hsi, ou Taihao, podendo ter vários significados, sendo o mais utilizado, traduzido por o “grande brilho”.

Fuxi nasceu na localidade de Chengji, situada na província de Gansu, no curso médio-baixo do Rio Amarelo. Faleceu em uma localidade chamada de Henan, e acredita-se que ele tenha vivido aproximadamente 197 anos, tendo sua existência se dado, provavelmente, entre os anos de (2900 a 2000) a.C. Um monumento foi construído, em sua homenagem, na cidade onde ele foi sepultado, servindo atualmente como atração turística. No templo descrito, em uma das colunas, encontra-se grafada a seguinte mensagem: "Entre os três primogênitos da civilização, Fuxi ocupa o primeiro lugar". Segundo os mitólogos, sua genitora era um ser mitológico conhecido como Huaxu que tinha surgido através da criação de Pangu, e este, por sua vez, adveio de um ovo primordial.

Filosofia Mítica

Na mitologia chinesa a história do povo teria se iniciado por três seres lendários chamados de “os três Augustos” ou “os três Soberanos”, que era uma classe de governantes. A lenda da criação chinesa compreende elementos que estruturam a organização social e cultural daquele tempo. Fuxi e Nüwa foram considerados, pelos chineses, como dois dos “Três Soberanos” na primeira sociedade patriarcal da China. Acredita-se na filosofia chinesa que Fuxi, juntamente com sua irmã Nüwa, teria criado a humanidade. Nasceu de um milagre, sendo uma espécie de semideus que possuía um corpo híbrido, tendo cabeça humana e corpo de serpente. Ele surgiu em um tempo que o mundo vivia mergulhado no caos e na desordem, sendo incumbido de trazer ordem ao mundo. Teria inventado a escrita chinesa, a música, a caça, a pesca, a culinária e a domesticação de animais. Algumas esculturas antigas retratam Fuxi segurando um esquadro nas mãos, sendo descrito como o primeiro "arquiteto" da história chinesa por ter inventado a casa meia-caverna. Também criou um modelo de calendário antigo, concebeu mapas e estabeleceu as fronteiras de várias regiões da China antiga. Enquanto Nüwa é apresentada segurando uma bússola nas mãos, indicando orientação.

Filosofia Chinesa

Ele criou o “Baguá”, também conhecido como os “oitos trigramas”. Estruturando esses diagramas em 64 formatos de hexagramas e sistematizando as mutações dos elementos que representavam os princípios elementares da realidade, bem como também, os padrões de regulação da natureza. Os trigramas são os símbolos básicos do I Ching, que significam a harmonia entre os opostos, eles são os elementos fundamentais do livro chinês, que descrevem os desenhos, dentre os quais, representam as combinações entre as energias “Yin e Yang”, sendo divididas em três linhas. Esses traços podem ser cortados ou contínuos, sendo as contínuas denominadas de “Yang” e simbolizam o universo masculino (ativo), já as cortadas são chamadas de “Yin” e representam o mundo feminino (passivo).

Na simbologia chinesa o princípio do “Yin e Yang” é um símbolo que caracteriza a dualidade e o equilíbrio entre forças antagônicas, podendo assumir diversas analogias e simetrias, sendo algumas delas descritas como a Vida e a Morte, o Espírito e o Corpo, o Céu e a Terra, o Sol e a Lua, a Luz e a Escuridão, o Calor e o Frio, Energia e Matéria, Movimento e Calmaria. Os trigramas espelham o espaço-tempo que é simulado em um holograma universal, como uma bússola cósmica. O universo macrocósmico e microcósmico, representados pelo cosmos e pelo organismo humano, respectivamente, são explicados pelo chamado sistema “Yin e Yang”.

Filosofia Sapiencial

+ “É muito importante manter sua integridade no silêncio”.

+ “Cultive paciência, tolerância, adaptabilidade e desapego”.

+ “Depois de um período de escuridão e obscuridade, a luz sempre volta”.

+ “Aceite o fato de que a única coisa que pode fazer é mudar a si próprio.”

+ “Semeie as sementes corretas agora para ter uma boa colheita no futuro”.

+ “Se os resultados estão dando errado, troque o caminho, não os objetivos”

+ “Não é aconselhável revelar todos os seus pensamentos a quem o rodeia”.

+ “Nas trevas, esteja sempre ciente de que a luz, mesmo que escondida, existe”.

+ "É preciso sabedoria para se desfrutar do momento presente sem inquietar-se quanto ao futuro"

+ “Prosseguir sempre com justa discrição, evita muitas dificuldades e abre a estrada para o sucesso”

+ "Aquele que conhece a sua alma está imune ao temor e ao medo causado pelas coisas exteriores".

+ “Assim como o caos tumultuado de uma tempestade traz uma chuva nutritiva que permite à vida florir, assim também nas coisas humanas tempos de progresso são precedidos por tempos de desordem. O sucesso vem para aqueles que conseguem sobreviver à crise.”

Fatos e Curiosidades

A filosofia mítica de “Fuxi da China” exerceu muita influência não apenas na cultura oriental, mas também em grandes pensadores do ocidente. Ao longo dos anos da História da Filosofia, filósofos como Leibniz e Francis Bacon, dentre outros, escreveram ideias e teorias, sobre sistemas de pensamentos ligados a filosofia chinesa da antiguidade.

Fontes:

ABREU, Antônio Dantas. Mitologia Chinesa Primitiva: Quatro mil anos de história através das lendas e dos mitos chineses. São Paulo: Landy Editora, 2000.

BIRRELL, Anne. Uma Introdução a Mitologia Chinesa. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1993.

BODDE, Derk. Mitologia da China Antiga. Garden City: Anchor Books, 1960.

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.

CHRISTIE, Anthony. Mitologia Chinesa. Londres: Hamlyn, 1950.

COSTA, Matheus Oliva da. Filosofia Chinesa I: Textos Selecionados. Série Investigação filosófica. Pelotas: Editora UFPle / Dissertation, 2022.

FISHER, Leonard Everett. Deuses e Deusas da China Antiga. Nova York: Holiday House, 2003.

LIU, Tao Tao. Os Mitos Chineses: Um guia para os deuses e lendas. São Paulo: Editora Vozes, 2024.

SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da Mitologia Chinesa. Porto Alegre: Editora L&PM, 2013.

VULIBRUN, Jorge. Uma leitura filosófica de termos chineses utilizados no I Ching. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis: EDUFSC, 2006.

WILHELM, Richard. I Ching. O livro das mutações. São Paulo: Editora Pensamento; 1984.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Juvenal Galeno

Juvenal Galeno – (1836 a 1931) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Juvenal Galeno da Costa e Silva - Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da Filosofia Folclorista. Utilizou-se da literatura para comunicar sua obra, tendo seguido por uma veia artística e poética. Iniciou seus primeiros estudos na cidade de Pacatuba, deslocando-se de maneira nômade, por várias regiões alencarinas, peregrinando entre as cidades de Aracati, Fortaleza e a Serra da Aratanha, adquirindo, durante essas andanças, saberes linguísticos, agrícolas e filosóficos. Nesse decurso, estudou no Liceu do Ceará, apresentando-se no curso de humanidades. Migrou para o Rio de Janeiro com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos sobre agronomia e a cultura do café, mas acabou conhecendo grandes pensadores, como Gonçalves Dias e Machado de Assis, momento que lançou seus primeiros trabalhos literários. Retornou ao Ceará e assumiu o cargo de alferes da Guarda Nacional, passando, então, a dedicar-se ainda mais, ao universo cultural. Laborou como Inspetor Escolar, Deputado Estadual, Teatrólogo e Diretor da Biblioteca Pública do Ceará. É considerado patrono da cadeira 23 da Academia Cearense de Letras. Participou como um dos membros-fundadores do Instituto Histórico do Ceará.

Sofreu de um severo glaucoma que dificultou suas atividades laborativas, mesmo assim, contornou esses impasses, seguindo firme em seus trabalhos. Seu pai era o senhor José Antônio da Costa e Silva e sua mãe a senhora Maria do Carmo Teófilo e Silva. Também era primo pelo lado paterno de Capistrano de Abreu e Clóvis Beviláqua e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo. Nasceu em Fortaleza, em 27 de setembro de 1836, tendo falecido no dia 7 de março de 1931, na sua cidade natal, vitimado por uma Uremia. Atualmente, a casa de Juvenal Galeno é uma instituição cultural mantida pelo governo local. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas, praças, escolas e centros culturais.

Filosofia Popular

Sua primeira obra, “Prelúdios Poéticos”, é tida, por alguns estudiosos, como o marco inicial do romantismo no Ceará. Visto como um dos primeiros poetas cearenses, ele também foi considerado um dos iniciadores do uso do folclore no Nordeste. Principiou-se por uma veia do romantismo, tendo também sofrido influência do parnasianismo, contudo desprendeu-se dessas ascendências, transmutando-se de forma mais autêntica, por uma linha popular. Cantou o regionalismo de sua gente, trovando sentimentos puros das pessoas simples, expressando a inocência e o heroísmo, transitando entre uma veia sensitiva e outra realista. Comunicou, em seus textos, boa parte da cultura nordestina, descrevendo lendas, costumes, crendices, folguedos, vivências, bem como também, a bravura do povo. Sistematizou um sincretismo cultural entre os habitantes das serras, do sertão e do litoral, enaltecendo, em sua poesia, as alegrias e tristezas, da população humilde que vivia em situações sociais desfavoráveis, como o sertanejo da área rural e o pescador do litoral, ambos trabalhadores que labutavam seu sustento, lutando contra as intempéries da natureza. Nesse contexto, ele reverberou certa vez:

“Escrevi minha obra acompanhando o povo no trabalho, no lar, na política, na vida particular e pública, na praia, na montanha e no sertão, onde ouvi os seus cantos e os reproduzi, ampliei sem desprezar a frase singela, a palavra de seu dialeto, a sua metrificação e até o seu próprio verso”. (JUVENAL GALENO).

 

Filosofia Política

Fez da literatura uma árdua missão educadora, sendo um dos promotores do projeto civilizatório brasileiro que ambicionava elevar o país, ao posto de nação, buscando formar um capital humano e intelectual que pudesse impulsionar a independência do Brasil. Apropriou-se da literatura, da cultura e da educação como ferramentas de apoio para a formação desse ideário. Utilizou o universo da palavra como arma de combate contra as injustiças sociais, denunciando os abusos autoritários que eram praticados. Alguns de seus versos possuem um tom irônico, que objetivava desvelar as contradições sociais, econômicas e morais, de seu tempo. Criticava a desigualdade que existia na sociedade, pontuando que, ao mesmo tempo, em que os vaqueiros sertanejos, os pescadores jangadeiros e os escravos cativos eram explorados na sua força de trabalho, grande parte da elite urbana e rural, deleitava-se no luxo, esbanjando seu capital, não pelo trabalho, mas sim através de vícios morais, como a corrupção e as injustiças.

Participou do movimento abolicionista, empregando sua poesia como instrumento político e social. Colaborando ativamente, em vários periódicos da época, como na revista a “Quinzena” e o “Libertador”, ambos periódicos ligados ao movimento abolicionista do Ceará. Como Deputado, tomou posse pelo partido Liberal, chegando a defender um projeto que tratava sobre a criação de uma “Escola Prática de Agricultura”.

Filosofia Sapiencial

+ “Homens das leis...brasileiros, salvai do opróbrio a nação!”

+ “Quereis a felicidade? pois não custa consegui-la: Sede bom e caridoso, que tereis vida tranquila”.

+ “Seja a vida má ou boa, cada qual cumpre seu fado, os ares para quem voa, o sertão pra criar gado”.

+ “Jangadeiro, jangadeiro, que fazes cantando assim, embalado pelas vagas no seio do mar sem fim?”

+ ‘‘Ai amor, por ti eu parto, por ti, amor, voltarei...Quanto amor levo pros mares, nas praias quanto deixei!’’

+ “Eia, as lidas! Que o estudo nos ilustra e dá vigor! Eia, avante, a luz divina, que nas trevas geme a dor”.

+ “O lar é sempre mansão, que o Céu garante e ilumina, dentro da qual toda mãe, é um anjo da Luz Divina”.

+ “Quando a paixão toma vulto, em qualquer causa do mundo, o juízo das pessoas, sai pela porta do fundo”.

+ “Poeta nasci, foi sorte cantando a vida passar, como a cigarra da serra, que canta até rebentar, por isso até na velhice, nunca deixei de trovar”.

+ “Após as dores me vias, brincando ledo e feliz o ‘tempo será’, e outros, brinquedos que eu tanto quis. Depois, cismando a teu lado, em muito verso que fiz, cajueiro pequenino, me vias brincar feliz”.

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, em certa ocasião, teria chegado a Fortaleza, uma comissão científica de exploração, tendo como membro o poeta Gonçalves Dias. Após manter contato com Juvenal, todos decidem sair para uma confraternização. Porém Galeno deixou de se apresentar ao batalhão do exército, ao qual pertencia, para uma revista que ele teria sido convocado. Então, um comandante da Guarda Nacional de sobrenome “Machado”, teria ficado insatisfeito, solicitando o recolhimento de Juvenal a prisão, pelo descrito incidente. Posteriormente, Galeno publicou um poema, satirizando seu superior e narrando ironicamente o fato apresentado, dando o título de “A Machadada”, ao episódio, fazendo referência e contestação, ao drama sofrido.

Conta-se que, após ficar com sua visão comprometida, Galeno continuou a produzir sua obra, recitando suas poesias, que eram anotadas pela sua filha e por sua esposa. Ainda em vida, Juvenal teria recebido, em sua residência, a visita de vários intelectuais, que realizavam eventos literários e culturais, utilizando os salões, de sua casa, como palco para as apresentações.

Obras:

Prelúdios Poéticos; A Machadada; Quem com ferro fere, com ferro será ferido; Porangaba; Lendas e Canções Populares; Canções de Escola; Lira Cearense; Folhetins de Silvanus; Cenas populares; Medicina Caseira; Senhor das Caças; O cearense.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

ANDRADE FILHO, João Batista. Juvenal Galeno e suas canções populares: reflexo do propósito educacional romântico sob os auspícios do espiritualismo eclético (1836 – 1889). Tese de Doutorado. Fortaleza: UFC, 2016.

BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1976.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Martins, 1969.

COELHO, Milena Marques. Ao modo de paris: percepção do Folhetins de Silvanus sobre as modificações urbanas e sociais da cidade de Fortaleza. (1860-1890). XXVII Simpósio Nacional de História. Natal: ANPUH, 2013.

GALENO, Juvenal. Cenas Populares. Fortaleza: Secretaria da Cultura, 2010.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

MONTENEGRO, Braga. Evolução e Natureza do Conto Cearense: Uma Antologia do conto cearense. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.

NETTO, Raymundo. Cronologia comentada de Juvenal Galeno. Col. Nossa Cultura. Fortaleza: Comercial, 2010.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Gregório de Matos

Gregório de Matos – (1636 a 1695) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Gregório de Matos Guerra - Foi um filósofo luso-brasileiro ligado as correntes de pensamento da Filosofia da Arte. Pode ser descrito como um pensador que trilhou sua obra entre as linhas do asteísmo e do esteticismo. Utilizou-se da literatura para representar sua obra, tendo seguido pelos caminhos do barroco e da poesia lírico-filosófica. É considerado patrono da cadeira de número 16 da Academia Brasileira de Letras. Floresceu no período da História do Brasil compreendido como período colonial. A princípio ele teria cursado Humanidades no colégio dos jesuítas de Salvador, tendo migrado depois para Coimbra, em Portugal, onde concluiu o curso de Ciências Jurídicas. Atuou inicialmente como escritor e magistrado, laborando nas funções de curador de órfãos e juiz criminal, em Portugal, tendo posteriormente regressado ao Brasil e assumido as atividades de vigário-geral e tesoureiro-mor. Recebeu o apelido de “boca do inferno”, devido aos comentários sarcásticos que ele fazia para a sociedade dirigente da época. Era filho do senhor Gregório de Matos com a senhora Maria de Guerra. Nasceu na cidade de Salvador, em 23 de dezembro de 1636. Faleceu em Recife, por volta do dia 26 de novembro de 1695, vitimado por uma forte febre.

Filosofia Literária

Recebeu o título de primeiro grande poeta brasileiro, tendo sua poesia sido representada como a maior expressão do Barroco literário brasileiro. Outros pesquisadores o configuram como o verdadeiro “iniciador da literatura brasileira”. Recorria a poesia para realizar duras críticas aos alvos de seus versos satíricos. Empregou outros formatos literários como a trova e os sonetos, valendo-se de antíteses e paradoxos. Sua marca ficou caracterizada por um humor ácido, porém ele também escreveu versos que possuíam um tom amoroso e religioso. Nessa visão, sua obra compreende os aspectos da poesia lírica, sacra, satírica, elogiosa e erótica. Além disso, teria retratado fatos culturais da sociedade baiana. Misturou elementos humanistas com conceitos classicistas na sua veia lírico-filosófica. Dessa forma, utilizou a razão para trabalhar conteúdos e formas. Na vertente sacra, ele teria falado a respeito da fragilidade humana e das transgressões religiosas, pontuando um certo temor em relação a morte e ao castigo eterno. Ademais, é possível identificar, em sua obra, tipificações relacionadas ao cultismo, fusionismo e conceptismos.

Filosofia Política

Embora não tenha participado ativamente no campo político, foi apontado como um criticista político-social, tendo contestado quase todos que faziam parte do sistema dominante de seu tempo. Segundo os pesquisadores, devido sua língua virulenta, ele teria feito muitos inimigos. Desse modo, por conta dessas duras críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola, na África. Entre os alvos de suas reprimendas estavam o clero, a nobreza, o governo, os colonizadores e os colonizados. Atacava principalmente as corrupções políticas e os vícios morais. Enquanto esteve exilado, ajudou o governo de Luanda a combater uma conspiração política local. Sua obra foi considerada subversiva por se utilizar do discurso humorístico para dissimular suas contestações e agravos, contra os seus adversários. Fez de suas habilidades discursivas um forte instrumento de poder. Na sua poesia erótica, vislumbrava combater o conservadorismo brasileiro que estaria, na sua visão, eivado de um falso puritanismo. Nessa perspectiva, sua obra buscou revelar e denunciar as contradições da sociedade de seu tempo. Apontando os vícios dos poderosos, ridicularizando os falsos moralistas, atacando os dogmas e os “bons costumes”.

Filosofia Sapiencial

+ “Para os bons sou inferno e para os maus paraíso”

+ "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura?"

+ “No Brasil, o honesto é pobre, o ocioso triunfa, e o incompetente é quem manda”.

+ “Aqui eles se justificam mentindo com pretextos enganosos, e com rodeios fingidos.”

+ “Parti, coração, parti, navegai sem vos deter, ide-vos, minhas saudades, a meu amor socorrer”.

+ “Eu sou aquele, que passados anos cantei na minha lira maldizente torpezas do Brasil, vícios, e enganos”

+ “A vós, lado patente, quero unir-me, a vós, cravos preciosos, quero atar-me, para ficar unido, atado e firme”.

+ “Todos somos ruins, todos perversos, só os distingue o vício e a virtude, de que uns são comensais, outros adversos.”

+ “Não cantes mais que a morte lisonjeias; esconde a voz e esconderás a vida, que em ti não se vê mais que a voz que canta”.

+ “O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo sendo parte, Não se diga que é parte, sendo todo”.

+ “Ícaro foste, que atrevidamente, te remontaste à esfera da Luz pura, de onde te arrojou teu voo ardente. Fiar no sol é irracional loucura; porque nesse brandão dos céus luzente, falta a razão, se sobra a formosura”.

+ "O Fidalgo de solar se dá por envergonhado de um tostão pedir prestado para o ventre sustentar: diz, que antes o quer furtar por manter a negra honra, que passar pela desonra, de que lhe neguem talvez; mas se o virdes nas galés com honras de Vice-Rei, esta é a justiça, que manda El-Rei."

+ "Os letrados peralvilhos citando o mesmo doutor. a fazer de Réu, o Autor, comem de ambos os carrilhos: se se diz pelos carrilhos sua prevaricação, a desculpa, que lhe dão, é a honra de seus parentes e entonces os requerentes, fogem desta infame grei: esta é a justiça, que manda El-Rei."

+ "Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha Vergonha. (…) E que justiça a resguarda? Bastarda. É grátis distribuída? Vendida! Quem tem, que a todos assusta? Injusta. Valha-nos Deus, o que custa, O que El-Rei nos dá de graça, Que anda a justiça na praça Bastarda, Vendida, Injusta." 

Obras:

Conquanto exista uma série de compilações que revelam sua obra, seus textos eram manuscritos e distribuídos de maneira furtiva, apenas entre seus leitores. Não houve publicações oficiais durante sua vida, tendo sido realizada a primeira publicação de sua obra no século XX, pela Academia Brasileira de Letras. Acredita-se que ele tenha produzido mais de setecentos textos sobre os mais variados temas.

Fontes:

BANDEIRA, Manuel. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1951.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 2015.

CALMON, Pedro. A vida Espantosa de Gregório de Mattos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.

CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos. Salvador: FCJA, 2011.

GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

JÚNIOR, Araripe. Gregório de Matos. Rio de Janeiro: s/ed., 1894.

MATOS, Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo: Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro. Bibvirt/ USP, acesso em 2025.

MOISÉS Massau. A Literatura Brasileira através dos textos. São Paulo: Editora Cultrix, 2012.

REALE, Miguel. Figuras da Inteligência Brasileira. São Paulo: Siciliano, 1994.

ROCHA Peres, Fernando da. Gregório de Matos. Nova Iorque: Editora Macmillan, 1989.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Fausto Barreto

Fausto Barreto – (1852 a 1915) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Fausto Carlos Barreto foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da filologia. Ficou consagrado como um dos mais ilustres gramáticos brasileiros. Laborou como professor de línguas, especializando-se nas línguas do Francês, Português, Latim e Inglês. Iniciou seus primeiros estudos no Ateneu cearense, migrando posteriormente para o seminário da prainha em Fortaleza. Chegou a cursar Medicina na cidade do Rio de Janeiro, porém desistiu do curso e seguiu carreira como professor de língua portuguesa do colégio Dom Pedro II, além disso, lecionou no Colégio Militar e na Escola Normal. Foi prestigiado com a cadeira de número 9 da Academia Cearense de Letras. Participou como membro correspondente do Instituto do Ceará. Na esfera política teria atuado como presidente da província do Rio Grande do Norte e como deputado geral no Ceará, pelo partido liberal. Era filho do senhor Antônio Carlos Barreto com a senhora Maria José de Oliveira Barreto. Nasceu no dia 19 de dezembro de 1852, na localidade dos Inhamuns, região de Tauá, no Ceará. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1915. Teve um filho que também se tornou outro importante filólogo, conhecido pelo nome de Mário Barreto.

Filosofia da Linguagem

Foi conceituado como um dos maiores especialistas em Gramática do seu tempo, tendo organizado de maneira criteriosa e sistemática, juntamente com Carlos Laet, uma obra clássica chamada de “Antologia Nacional”, em que dissertava sobre os principais escritores da língua portuguesa. Seus textos possuíam grande intelecção, refletindo de maneira lógica, a clareza necessária para a compreensão expressiva do pensamento. Enaltecia o vocabulário nacional, buscando valorizar a linguagem contemporânea. De acordo com pesquisadores, Barreto considerava as línguas, como sendo, organismos naturais que eram independentes da vontade do homem. Nesse contexto, ele pontuava alguns vícios de linguagem, explicando que esses vícios faziam parte da linguagem popular, colocando os fenômenos do idiomatismos, provincialismos, brasileirismo e dialetação, que antes eram vistos como anomalias gramaticais, em uma outra realidade da língua, passando-as a integrá-las. Seu trabalho buscou se desvencilhar da influência colonizadora, rompendo com o tradicionalismo da filosofia gramatical portuguesa, visando um novo prognóstico cultural e propondo uma modernização da língua, que se aproximasse do regionalismo brasílico. A natureza dos textos continha critérios objetivos e elucidativos que norteavam o ensino da língua portuguesa. Esclarecia que a gramática geral poderia ser separada em gramática histórico-comparativa e gramática descritiva-expositiva.

Filosofia da Educação

Sua obra serviu de bússola orientadora para a educação brasileira por várias gerações, tendo sido estudada, de forma didática, nas principais escolas do país. Colégios como Dom Pedro II, o Colégio Militar e a Escola Normal, utilizaram seu trabalho na formação de seus alunados. A riqueza de sua obra atingiu um público variado, estando presente em instituições que possuíam pensamentos divergentes, como instituições republicanas, monarquistas, conservadoras, liberais e progressistas. Seus livros atendiam ao público do chamado ensino secundário, dando autonomia para que o professor pudesse conduzir suas aulas com uma maior flexibilidade. A “Antologia Nacional” foi considerada o primeiro manual didático de português escrito por brasileiros. Fausto lançou em 1887 um programa de Português para os Exames Gerais de Preparatórios, com a finalidade de padronizar o estudo da língua em todo o Brasil. Esse programa trouxe uma inovação para época, pois determinava a realização dos exames de português antes dos demais. Dividiu o programa avaliativo em duas partes, sendo a primeira voltada para a compreensão oral e de leitura, os quais eram sugeridos pela comissão julgadora. A segunda tinha critério escrito, em que seriam avaliados os aspectos etimológicos, fonéticos e sintáticos da gramática textual. Nesse contexto, as obras de Barreto deram origem a um fenômeno que ficou conhecido como “gramatização brasileira do português”.

Filosofia Sapiencial

+ “O rubor da modéstia, é o sangue da virtude”.

Obras:

Antologia nacional; Arcaísmos e neologismos da língua; Temas e raízes; Discurso; Seleção literária.             

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.

BARRETO, Fausto; LAET, Carlos de. Antologia Nacional. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1963.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

GUIMARÃES, Eduardo. Sinopse dos Estudos do Português no Brasil: a Gramatização Brasileira. Campinas: Língua e Cidadania,1996.

MALVEIRA, Antônio Nunes. Memória: Dr. Fausto Carlos Barreto. Revista Academia Brasileira de Filologia. N. XI Rio de Janeiro: Nova Fase, 2012.

NOBRE, F. Silva. 1001 cearenses notáveis.  Fortaleza: Editora casa do Ceará, 1996.

PASSERINI, Thiago Zilio. O Programa de Fausto Barreto e a Gramaticografia Brasileira Oitocentista. Revista VERBUM. São Paulo: PUC, 2021.

RAZZINI, Marcia. Antologia Nacional (1895-1969) Museu Literário ou Doutrina? Dissertação de Mestrado em Letras. São Paulo: Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 1992.

SOARES, Magda. O livro didático como fonte para a história da leitura e da formação do professor-leitor. Campinas: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil – ALB, 2001.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TERRA, Ernani. A Antologia Nacional. Site Blog do Ernani: Um espaço para falar de língua e literatura. Internet, acesso em 2025.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Filosofia Medieval

Filosofia Medieval

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A filosofia medieval é considerada um período da História da Filosofia que se iniciou no momento de transição da idade antiga para o período helenístico, tendo se consolidado durante toda a Idade Média. Pode ser caracterizada, entre os cem primeiros anos da era cristã, até aproximadamente 1500 d.C. Contudo, as correntes tradicionais, mais didáticas, costumam delimitar esse período, a partir do século V. d.C, quando surge, mais propriamente, a patrística. A principal característica desse ciclo foi o considerável sincretismo, entre a filosofia e a teologia, em que eram misturados elementos da filosofia grega e romana, com pensamentos de outras correntes teológicas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Nessa época, também emerge, paralelamente, as correntes da filosofia árabe, africana e oriental. Nesse período surgem as grandes universidades que aprimoram o pensamento ocidental, estabelecendo os pilares do conhecimento crítico e reflexivo. Preocupando-se em debater e problematizar complexas “Questões Universais”.

Desenvolvimento da Filosofia Medieval

Ficou marcada pela busca de conciliação entre a fé e a razão, investigando a relação entre o mundo divino com a lógica. Grandes estudiosos, dessa época, como Agostinho e Tomás de Aquino, examinaram ideias de pensadores antigos como Platão e Aristóteles, e relacionaram essas ideias com o pensamento da igreja, produzindo um profundo debate entre a filosofia e a religião. Produziu-se uma forte consolidação da fé católica, que foi utilizada como instrumento político, por vários governos. Esse período ficou dividido em quatro grandes fases, chamadas de fase: apostólica, apologética, patrística e escolástica.

Na fase apostólica os chamados “pais da igreja” buscavam sistematizar os primeiros ensinamentos deixados pelos apóstolos de cristo e seus primeiros discípulos, sendo desenvolvida, entre os séculos (I e II) d.C. Procurava exortar os primeiros conceitos da igreja. Na etapa apologética aconteceu um esforço em defesa dos dogmas da igreja católica, sendo desenvolvida entre os séculos (III e IV) d.C. Os pensadores utilizavam linguagens figurativas, mantendo acentuadas relações com a filosofia clássica.  A filosofia patrística ficou mais conhecida com a figura de Santo Agostinho. Iniciando-se a partir do século IV d.C e perdurando até o século VIII. Os Padres, nessa etapa, consolidaram os pensamentos cristãos sobre influência da filosofia de Platão, destacando conceitos de base ética e política. A escolástica teve como principal exponencial o filósofo São Tomás de Aquino. Tendo se desenvolvido durante o século IX d.C e se estendido até o século XVI. Esse momento sofreu intensa influência das obras de Aristóteles, baseando-se em explicar a existência de Deus, por meio da razão. Desenvolvendo argumentos empíricos, que eram pautados na lógica, incluindo concepções de ordem moral e social.

Embora exista um número considerável de pensamento religioso nesse período, a filosofia medieval não se resume apenas a ideias religiosas, tendo destaque, em outras regiões, a sistematização de outras correntes filosóficas, que se diferenciam do pensamento da igreja católica, bem como também, de outras doutrinas ligadas as outras religiões. Na História da Filosofia, quase sempre, existiram pensadores que ganharam destaque, em relação a outros, construindo uma forma de pensar hegemônica, ou exercendo influência sobre outros sistemas de pensamento. Por algum motivo específico ou, quem sabe, uma soma de fatores, alguns desses pensadores são mais enaltecidos e supervalorizados que outros, gerando um domínio de determinada corrente filosófica.

Considerações Finais

Entre os variados temas estudados, nesse período, teve grande destaque as questões éticas, metafísicas, ontológicas e epistemológicas das doutrinas religiosas. Analisando dilemas sobre a verdade divina, a imortalidade da alma, a salvação, o pecado, a santíssima Trindade, os dogmas e doutrinas ligadas a fé. Promove-se a defesa das religiões, a refutação aos conceitos do paganismo e a disseminação do cristianismo. Todo esse conjunto de correlações do medievo foi denominado, por alguns pensadores, como sendo, uma civilização sacral, ou melhor dizendo, um “sacralismo civilizacional”. No contexto educacional, houve um enfoque na formação moral e espiritual do indivíduo, que buscava unir o saber revelado com o conhecimento racional, integrando a teologia e a razão. O homem desse tempo respirava através de uma atmosfera religiosa, vivendo uma “razão que se movia, em direção aos horizonte da fé”. Aos poucos o ideal do sábio humanista foi dando espaço para o arquétipo do filósofo santo, ou seja, criando uma relação entre o humano e o divino.

Fontes:

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

COUTINHO, Jorge. Elementos de História da Filosofia Medieval. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2008.

CRESCENZO, Luciano. História da Filosofia Medieval. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2012.

JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a paideia grega. México: FCE, 1998.

LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. São Paulo: Editora Loyola, 1998.

PADOVESE, Luigi. Introdução à teologia patrística. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 1993.

SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos: A Filosofia na época da expansão do Cristianismo. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

STORCK, Alfredo Carlos. A filosofia medieval. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2003.

VASCONCELLOS, Manoel. Filosofia Medieval: Uma breve introdução. Pelotas: Editora Dissertation Incipiens, 2014.  

sábado, 30 de novembro de 2024

Padre Mororó

Padre Mororó – (1774 a 1825) d.C


Autor: Alysomax Soares


Introdução


Gonçalo Inácio de Loiola e Albuquerque Melo – Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento teopolíticas, inclinando-se por uma tendência mais radical. Era considerado um grande orador sacro, tendo se utilizado dos sermões para comunicar sua obra. Atuou como sacerdote, escritor, filósofo, botânico e político, sendo visto como um notável intelectual que também estudou as áreas das ciências jurídicas, físicas, naturais, linguísticas e biológicas. Cursou teologia no seminário de Olinda, em Pernambuco. Participou do movimento literário conhecido como “os oiteiros”, tendo seguido por uma linha voltada para o arcadismo. Ficou conhecido como o “Padre Mororó”, acredita-se que esse nome teria sido escolhido, por conta de uma árvore que possui uma madeira muito dura, simbolizando um antigo ditado que dizia: “enverga, mas não quebra”, esse cognome é de origem tupi, e significa também um conjunto de várias plantas da caatinga que possuem um fim nutritivo e medicinal. Foi prestigiado como sendo o primeiro cearense a ter uma obra publicada na “Tipografia Real do Brasil”. Fundou o primeiro periódico cearense chamado de “Diário do Governo do Ceará”. Foi consagrado como patrono da cadeira de número 10 da Academia Cearense de Letras. Chegou a ascender ao Grau de Mestre na Maçonaria.

 

Era filho de Félix José de Sousa e Oliveira, com a senhora Theodósia Maria de Jesus Madeira. Nasceu no município de Groaíras, na localidade conhecida como Riacho dos Guimarães, em 24 de julho de 1774. Faleceu em 30 de abril de 1825, na cidade de Fortaleza. Padre Mororó foi executado no antigo campo da pólvora, que atualmente é conhecido como Praça dos Mártires ou Passeio Público, situada por trás da décima região militar, no centro de Fortaleza. Seu corpo foi exumado de um antigo cemitério e levado para o cemitério São João Batista. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas e escolas, por várias regiões do país.

 

Filosofia Política

 

Adepto de um forte ideário republicano, ele teria, aos poucos, semeado um sentimento nativista, que serviu de base para o amadurecimento do futuro processo de independência do Brasil. Era afeiçoado com as concepções liberais, defendendo um posicionamento antiabsolutista. Seus pensamentos tiveram grande influência das ideias iluministas. Detentor de uma escrita combativa, ele empregava o discurso escrito como principal meio político de propagação de seus ideais. Exercendo, com isso, uma forte influência na construção do cotidiano social e político dos indivíduos. Lutou em prol da emancipação de alguns Estados do Nordeste, movimento que ficou conhecido, na História do Brasil, como confederação do Equador, chegando, até mesmo, a proclamar a República do Quixeramobim. Segundo os pesquisadores, o topônimo “Mororó” foi escolhido, simbolicamente, para representar um ideal nacionalista, que visava enaltecer os elementos, da cultura indígena, da fauna, da flora e das regiões geográficas. Essa representação visava romper com a influência dominadora do colonizador, destacando as raízes brasileiras.

 

Filosofia Teológica

 

Estudou, em seu tempo, com outros grandes intelectuais como Frei Caneca, Padre Miguelinho e Padre João Ribeiro. Laborou como vigário nas cidades de Boa Viagem, Tamboril e Quixeramobim. Porquanto teve destaque reconhecido dos trabalhos praticados, recebeu convite para lecionar. Utilizou-se da teologia para desenvolver alguns trabalhos voltados para a educação. Exerceu a função de professor de Latim na cidade de Aracati. Incentivou a fomentação das artes cênicas com a finalidade de influenciar, positivamente, na educação dos jovens. Desenvolvendo, com isso, um sincretismo educacional que misturava atividades religiosas, culturais e sociais. Realizou grandes sermões em que censurava os vícios da jogatina, os quais eram praticados, em algumas regiões. Era considerado, por muitos, como um homem bom, que possuía um coração generoso. Devido sua bravura ter sido evidenciada, entre atitudes espirituosas e ações valorosas, ele pode ser descrito como “o homem que riu da morte”, deixando registrado, na canonização da história, sua figura emblemática.   

 

Filosofia Sapiencial

 

+ “Sou um padre baldo de conhecimentos, que faço a minha subsistência, pelas capelanias do sertão”

+ “Assim a ingênua virtude, assim te assomas, com fronte majestosa, assim desprezas a tormenta, que assanha, e que levanta a calúnia invejosa”

+ “Assim estável Carvalho, assim triunfão, dos rijos louros, dos furacões furiosos, que teus ramos embatem, mas não estalão, ao impacto violento”.

+ “Entro numa estrada perigosíssima; e estou na certeza de desafiar inimigos sem conto; mas não esmoreço; e à custa da vida prometo perante Deus e os homens ser imparcial nas minhas narrações. Quer o imperador ostente as suas forças, quer o governo seja despótico, quer as riquezas predominem; nada, nada me abala; e a minha pobreza jamais ofuscará os sentimentos de um coração todo cheio de amor de sua Pátria adorada; e muito menos calará os ecos da verdade”

 

Fatos e Curiosidades:

 

Relata-se que, na fase final de conclusão do seu curso seminarista, em Olinda, um clérigo conhecido como Dom Azeredo Coutinho, teria preconizado a respeito de Mororó, a seguinte intuição: “Este jovem há de se perder na primeira Revolução que houver no Brasil”.

 

Conta-se que no dia do seu martírio, o Pe. Gonçalo transmitia um ar de tranquilidade e coragem, que assombravam a todos que assistiam ao sinistro. A cena trágica dos últimos instantes que antecedeu o seu suplício foi aturdida por vários episódios cômicos e irônicos, que se desvelaram no decorrer do evento. Os carrascos que eram escolhidos, entre prisioneiros e militares, recusavam-se a cumprir a sentença inicial de enforcamento. Logo depois, a pena foi trocada para a de fuzilamento, sendo finalmente executada por algozes, a tiros de arcabuz.

 

Obras:

 

Segundo informam algumas fontes, os textos de Mororó foram queimados, tendo desaparecido grandes fragmentos, poesias e sermões, entre essas obras perdidas, narra-se que existia uma importante pesquisa sobre a carnaúba, que provavelmente foi extraviada.   

 

Fontes:

 

ACL. Pesquisa Histórica. Padre Mororó. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2024.

 

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

 

BRÍGIDO, João. Ceará, homens e fatos. Rio de Janeiro: inelivros, 2001.

 

BRITO, Jorge. Diário do Governo do Ceará: origens da imprensa e da tipografia cearenses. Fortaleza: Museu do Ceará, 2006.

 

CORRÊA, Viriato. História da Liberdade no Brasil. Brasília: Civilização Brasileira, 1976.

 

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

 

LEAL, Barros. Temas Diversos. Fortaleza: Casa José de Alencar, 1996.

 

NOBRE, Geraldo. O primeiro redator cearense: O Correio Brasiliense e O Português verberados no Ceará pelo padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo. Revista de Comunicação Social, Fortaleza, 1973.

SOUSA, João Alfredo. Padre Mororó: A Revolução da Imprensa. Fortaleza: Museu do Ceará/SECULT, 2004.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.