quarta-feira, 26 de março de 2025

Fuxi da China

Fuxi da China – (2900 a 2000) a.C    

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da China antiga considerado o fundador da escrita na cultura chinesa. Pode ser enquadrado na chamada filosofia mítica dos primeiros pensadores primitivos. Escreveu uma obra clássica conhecida como “I Ching”, que é apontada como um dos livros mais antigos da humanidade. Conhecido como o “livro das mutações”, a obra também descreve profecias, provérbios e predições oraculares, sobre a cultura chinesa. Ficou afamado como o fundador da nação chinesa, sendo descrito como o primeiro imperador chinês, assim como quem formulou o primeiro sistema de leis desse povo. Seu nome também é especificado como Fushi, Paoxi, Pao-hsi, ou Taihao, podendo ter vários significados, sendo o mais utilizado, traduzido por o “grande brilho”.

Fuxi nasceu na localidade de Chengji, situada na província de Gansu, no curso médio-baixo do Rio Amarelo. Faleceu em uma localidade chamada de Henan, e acredita-se que ele tenha vivido aproximadamente 197 anos, tendo sua existência se dado, provavelmente, entre os anos de (2900 a 2000) a.C. Um monumento foi construído, em sua homenagem, na cidade onde ele foi sepultado, servindo atualmente como atração turística. No templo descrito, em uma das colunas, encontra-se grafada a seguinte mensagem: "Entre os três primogênitos da civilização, Fuxi ocupa o primeiro lugar". Segundo os mitólogos, sua genitora era um ser mitológico conhecido como Huaxu que tinha surgido através da criação de Pangu, e este, por sua vez, adveio de um ovo primordial.

Filosofia Mítica

Na mitologia chinesa a história do povo teria se iniciado por três seres lendários chamados de “os três Augustos” ou “os três Soberanos”, que era uma classe de governantes. A lenda da criação chinesa compreende elementos que estruturam a organização social e cultural daquele tempo. Fuxi e Nüwa foram considerados, pelos chineses, como dois dos “Três Soberanos” na primeira sociedade patriarcal da China. Acredita-se na filosofia chinesa que Fuxi, juntamente com sua irmã Nüwa, teria criado a humanidade. Nasceu de um milagre, sendo uma espécie de semideus que possuía um corpo híbrido, tendo cabeça humana e corpo de serpente. Ele surgiu em um tempo que o mundo vivia mergulhado no caos e na desordem, sendo incumbido de trazer ordem ao mundo. Teria inventado a escrita chinesa, a música, a caça, a pesca, a culinária e a domesticação de animais. Algumas esculturas antigas retratam Fuxi segurando um esquadro nas mãos, sendo descrito como o primeiro "arquiteto" da história chinesa por ter inventado a casa meia-caverna. Também criou um modelo de calendário antigo, concebeu mapas e estabeleceu as fronteiras de várias regiões da China antiga. Enquanto Nüwa é apresentada segurando uma bússola nas mãos, indicando orientação.

Filosofia Chinesa

Ele criou o “Baguá”, também conhecido como os “oitos trigramas”. Estruturando esses diagramas em 64 formatos de hexagramas e sistematizando as mutações dos elementos que representavam os princípios elementares da realidade, bem como também, os padrões de regulação da natureza. Os trigramas são os símbolos básicos do I Ching, que significam a harmonia entre os opostos, eles são os elementos fundamentais do livro chinês, que descrevem os desenhos, dentre os quais, representam as combinações entre as energias “Yin e Yang”, sendo divididas em três linhas. Esses traços podem ser cortados ou contínuos, sendo as contínuas denominadas de “Yang” e simbolizam o universo masculino (ativo), já as cortadas são chamadas de “Yin” e representam o mundo feminino (passivo).

Na simbologia chinesa o princípio do “Yin e Yang” é um símbolo que caracteriza a dualidade e o equilíbrio entre forças antagônicas, podendo assumir diversas analogias e simetrias, sendo algumas delas descritas como a Vida e a Morte, o Espírito e o Corpo, o Céu e a Terra, o Sol e a Lua, a Luz e a Escuridão, o Calor e o Frio, Energia e Matéria, Movimento e Calmaria. Os trigramas espelham o espaço-tempo que é simulado em um holograma universal, como uma bússola cósmica. O universo macrocósmico e microcósmico, representados pelo cosmos e pelo organismo humano, respectivamente, são explicados pelo chamado sistema “Yin e Yang”.

Filosofia Sapiencial

+ “É muito importante manter sua integridade no silêncio”.

+ “Cultive paciência, tolerância, adaptabilidade e desapego”.

+ “Depois de um período de escuridão e obscuridade, a luz sempre volta”.

+ “Aceite o fato de que a única coisa que pode fazer é mudar a si próprio.”

+ “Semeie as sementes corretas agora para ter uma boa colheita no futuro”.

+ “Se os resultados estão dando errado, troque o caminho, não os objetivos”

+ “Não é aconselhável revelar todos os seus pensamentos a quem o rodeia”.

+ “Nas trevas, esteja sempre ciente de que a luz, mesmo que escondida, existe”.

+ "É preciso sabedoria para se desfrutar do momento presente sem inquietar-se quanto ao futuro"

+ “Prosseguir sempre com justa discrição, evita muitas dificuldades e abre a estrada para o sucesso”

+ "Aquele que conhece a sua alma está imune ao temor e ao medo causado pelas coisas exteriores".

+ “Assim como o caos tumultuado de uma tempestade traz uma chuva nutritiva que permite à vida florir, assim também nas coisas humanas tempos de progresso são precedidos por tempos de desordem. O sucesso vem para aqueles que conseguem sobreviver à crise.”

Fatos e Curiosidades

A filosofia mítica de “Fuxi da China” exerceu muita influência não apenas na cultura oriental, mas também em grandes pensadores do ocidente. Ao longo dos anos da História da Filosofia, filósofos como Leibniz e Francis Bacon, dentre outros, escreveram ideias e teorias, sobre sistemas de pensamentos ligados a filosofia chinesa da antiguidade.

Fontes:

ABREU, Antônio Dantas. Mitologia Chinesa Primitiva: Quatro mil anos de história através das lendas e dos mitos chineses. São Paulo: Landy Editora, 2000.

BIRRELL, Anne. Uma Introdução a Mitologia Chinesa. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1993.

BODDE, Derk. Mitologia da China Antiga. Garden City: Anchor Books, 1960.

CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.

CHRISTIE, Anthony. Mitologia Chinesa. Londres: Hamlyn, 1950.

COSTA, Matheus Oliva da. Filosofia Chinesa I: Textos Selecionados. Série Investigação filosófica. Pelotas: Editora UFPle / Dissertation, 2022.

FISHER, Leonard Everett. Deuses e Deusas da China Antiga. Nova York: Holiday House, 2003.

LIU, Tao Tao. Os Mitos Chineses: Um guia para os deuses e lendas. São Paulo: Editora Vozes, 2024.

SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da Mitologia Chinesa. Porto Alegre: Editora L&PM, 2013.

VULIBRUN, Jorge. Uma leitura filosófica de termos chineses utilizados no I Ching. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis: EDUFSC, 2006.

WILHELM, Richard. I Ching. O livro das mutações. São Paulo: Editora Pensamento; 1984.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Juvenal Galeno

Juvenal Galeno – (1836 a 1931) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Juvenal Galeno da Costa e Silva - Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da Filosofia Folclorista. Utilizou-se da literatura para comunicar sua obra, tendo seguido por uma veia artística e poética. Iniciou seus primeiros estudos na cidade de Pacatuba, deslocando-se de maneira nômade, por várias regiões alencarinas, peregrinando entre as cidades de Aracati, Fortaleza e a Serra da Aratanha, adquirindo, durante essas andanças, saberes linguísticos, agrícolas e filosóficos. Nesse decurso, estudou no Liceu do Ceará, apresentando-se no curso de humanidades. Migrou para o Rio de Janeiro com a finalidade de aprimorar seus conhecimentos sobre agronomia e a cultura do café, mas acabou conhecendo grandes pensadores, como Gonçalves Dias e Machado de Assis, momento que lançou seus primeiros trabalhos literários. Retornou ao Ceará e assumiu o cargo de alferes da Guarda Nacional, passando, então, a dedicar-se ainda mais, ao universo cultural. Laborou como Inspetor Escolar, Deputado Estadual, Teatrólogo e Diretor da Biblioteca Pública do Ceará. É considerado patrono da cadeira 23 da Academia Cearense de Letras. Participou como um dos membros-fundadores do Instituto Histórico do Ceará.

Sofreu de um severo glaucoma que dificultou suas atividades laborativas, mesmo assim, contornou esses impasses, seguindo firme em seus trabalhos. Seu pai era o senhor José Antônio da Costa e Silva e sua mãe a senhora Maria do Carmo Teófilo e Silva. Também era primo pelo lado paterno de Capistrano de Abreu e Clóvis Beviláqua e pelo lado materno de Rodolfo Teófilo. Nasceu em Fortaleza, em 27 de setembro de 1836, tendo falecido no dia 7 de março de 1931, na sua cidade natal, vitimado por uma Uremia. Atualmente, a casa de Juvenal Galeno é uma instituição cultural mantida pelo governo local. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas, praças, escolas e centros culturais.

Filosofia Popular

Sua primeira obra, “Prelúdios Poéticos”, é tida, por alguns estudiosos, como o marco inicial do romantismo no Ceará. Visto como um dos primeiros poetas cearenses, ele também foi considerado um dos iniciadores do uso do folclore no Nordeste. Principiou-se por uma veia do romantismo, tendo também sofrido influência do parnasianismo, contudo desprendeu-se dessas ascendências, transmutando-se de forma mais autêntica, por uma linha popular. Cantou o regionalismo de sua gente, trovando sentimentos puros das pessoas simples, expressando a inocência e o heroísmo, transitando entre uma veia sensitiva e outra realista. Comunicou, em seus textos, boa parte da cultura nordestina, descrevendo lendas, costumes, crendices, folguedos, vivências, bem como também, a bravura do povo. Sistematizou um sincretismo cultural entre os habitantes das serras, do sertão e do litoral, enaltecendo, em sua poesia, as alegrias e tristezas, da população humilde que vivia em situações sociais desfavoráveis, como o sertanejo da área rural e o pescador do litoral, ambos trabalhadores que labutavam seu sustento, lutando contra as intempéries da natureza. Nesse contexto, ele reverberou certa vez:

“Escrevi minha obra acompanhando o povo no trabalho, no lar, na política, na vida particular e pública, na praia, na montanha e no sertão, onde ouvi os seus cantos e os reproduzi, ampliei sem desprezar a frase singela, a palavra de seu dialeto, a sua metrificação e até o seu próprio verso”. (JUVENAL GALENO).

 

Filosofia Política

Fez da literatura uma árdua missão educadora, sendo um dos promotores do projeto civilizatório brasileiro que ambicionava elevar o país, ao posto de nação, buscando formar um capital humano e intelectual que pudesse impulsionar a independência do Brasil. Apropriou-se da literatura, da cultura e da educação como ferramentas de apoio para a formação desse ideário. Utilizou o universo da palavra como arma de combate contra as injustiças sociais, denunciando os abusos autoritários que eram praticados. Alguns de seus versos possuem um tom irônico, que objetivava desvelar as contradições sociais, econômicas e morais, de seu tempo. Criticava a desigualdade que existia na sociedade, pontuando que, ao mesmo tempo, em que os vaqueiros sertanejos, os pescadores jangadeiros e os escravos cativos eram explorados na sua força de trabalho, grande parte da elite urbana e rural, deleitava-se no luxo, esbanjando seu capital, não pelo trabalho, mas sim através de vícios morais, como a corrupção e as injustiças.

Participou do movimento abolicionista, empregando sua poesia como instrumento político e social. Colaborando ativamente, em vários periódicos da época, como na revista a “Quinzena” e o “Libertador”, ambos periódicos ligados ao movimento abolicionista do Ceará. Como Deputado, tomou posse pelo partido Liberal, chegando a defender um projeto que tratava sobre a criação de uma “Escola Prática de Agricultura”.

Filosofia Sapiencial

+ “Homens das leis...brasileiros, salvai do opróbrio a nação!”

+ “Quereis a felicidade? pois não custa consegui-la: Sede bom e caridoso, que tereis vida tranquila”.

+ “Seja a vida má ou boa, cada qual cumpre seu fado, os ares para quem voa, o sertão pra criar gado”.

+ “Jangadeiro, jangadeiro, que fazes cantando assim, embalado pelas vagas no seio do mar sem fim?”

+ ‘‘Ai amor, por ti eu parto, por ti, amor, voltarei...Quanto amor levo pros mares, nas praias quanto deixei!’’

+ “Eia, as lidas! Que o estudo nos ilustra e dá vigor! Eia, avante, a luz divina, que nas trevas geme a dor”.

+ “O lar é sempre mansão, que o Céu garante e ilumina, dentro da qual toda mãe, é um anjo da Luz Divina”.

+ “Quando a paixão toma vulto, em qualquer causa do mundo, o juízo das pessoas, sai pela porta do fundo”.

+ “Poeta nasci, foi sorte cantando a vida passar, como a cigarra da serra, que canta até rebentar, por isso até na velhice, nunca deixei de trovar”.

+ “Após as dores me vias, brincando ledo e feliz o ‘tempo será’, e outros, brinquedos que eu tanto quis. Depois, cismando a teu lado, em muito verso que fiz, cajueiro pequenino, me vias brincar feliz”.

Fatos e Curiosidades:

Relata-se que, em certa ocasião, teria chegado a Fortaleza, uma comissão científica de exploração, tendo como membro o poeta Gonçalves Dias. Após manter contato com Juvenal, todos decidem sair para uma confraternização. Porém Galeno deixou de se apresentar ao batalhão do exército, ao qual pertencia, para uma revista que ele teria sido convocado. Então, um comandante da Guarda Nacional de sobrenome “Machado”, teria ficado insatisfeito, solicitando o recolhimento de Juvenal a prisão, pelo descrito incidente. Posteriormente, Galeno publicou um poema, satirizando seu superior e narrando ironicamente o fato apresentado, dando o título de “A Machadada”, ao episódio, fazendo referência e contestação, ao drama sofrido.

Conta-se que, após ficar com sua visão comprometida, Galeno continuou a produzir sua obra, recitando suas poesias, que eram anotadas pela sua filha e por sua esposa. Ainda em vida, Juvenal teria recebido, em sua residência, a visita de vários intelectuais, que realizavam eventos literários e culturais, utilizando os salões, de sua casa, como palco para as apresentações.

Obras:

Prelúdios Poéticos; A Machadada; Quem com ferro fere, com ferro será ferido; Porangaba; Lendas e Canções Populares; Canções de Escola; Lira Cearense; Folhetins de Silvanus; Cenas populares; Medicina Caseira; Senhor das Caças; O cearense.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

ANDRADE FILHO, João Batista. Juvenal Galeno e suas canções populares: reflexo do propósito educacional romântico sob os auspícios do espiritualismo eclético (1836 – 1889). Tese de Doutorado. Fortaleza: UFC, 2016.

BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura brasileira. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1976.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Martins, 1969.

COELHO, Milena Marques. Ao modo de paris: percepção do Folhetins de Silvanus sobre as modificações urbanas e sociais da cidade de Fortaleza. (1860-1890). XXVII Simpósio Nacional de História. Natal: ANPUH, 2013.

GALENO, Juvenal. Cenas Populares. Fortaleza: Secretaria da Cultura, 2010.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

MONTENEGRO, Braga. Evolução e Natureza do Conto Cearense: Uma Antologia do conto cearense. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.

NETTO, Raymundo. Cronologia comentada de Juvenal Galeno. Col. Nossa Cultura. Fortaleza: Comercial, 2010.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Gregório de Matos

Gregório de Matos – (1636 a 1695) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Gregório de Matos Guerra - Foi um filósofo luso-brasileiro ligado as correntes de pensamento da Filosofia da Arte. Pode ser descrito como um pensador que trilhou sua obra entre as linhas do asteísmo e do esteticismo. Utilizou-se da literatura para representar sua obra, tendo seguido pelos caminhos do barroco e da poesia lírico-filosófica. É considerado patrono da cadeira de número 16 da Academia Brasileira de Letras. Floresceu no período da História do Brasil compreendido como período colonial. A princípio ele teria cursado Humanidades no colégio dos jesuítas de Salvador, tendo migrado depois para Coimbra, em Portugal, onde concluiu o curso de Ciências Jurídicas. Atuou inicialmente como escritor e magistrado, laborando nas funções de curador de órfãos e juiz criminal, em Portugal, tendo posteriormente regressado ao Brasil e assumido as atividades de vigário-geral e tesoureiro-mor. Recebeu o apelido de “boca do inferno”, devido aos comentários sarcásticos que ele fazia para a sociedade dirigente da época. Era filho do senhor Gregório de Matos com a senhora Maria de Guerra. Nasceu na cidade de Salvador, em 23 de dezembro de 1636. Faleceu em Recife, por volta do dia 26 de novembro de 1695, vitimado por uma forte febre.

Filosofia Literária

Recebeu o título de primeiro grande poeta brasileiro, tendo sua poesia sido representada como a maior expressão do Barroco literário brasileiro. Outros pesquisadores o configuram como o verdadeiro “iniciador da literatura brasileira”. Recorria a poesia para realizar duras críticas aos alvos de seus versos satíricos. Empregou outros formatos literários como a trova e os sonetos, valendo-se de antíteses e paradoxos. Sua marca ficou caracterizada por um humor ácido, porém ele também escreveu versos que possuíam um tom amoroso e religioso. Nessa visão, sua obra compreende os aspectos da poesia lírica, sacra, satírica, elogiosa e erótica. Além disso, teria retratado fatos culturais da sociedade baiana. Misturou elementos humanistas com conceitos classicistas na sua veia lírico-filosófica. Dessa forma, utilizou a razão para trabalhar conteúdos e formas. Na vertente sacra, ele teria falado a respeito da fragilidade humana e das transgressões religiosas, pontuando um certo temor em relação a morte e ao castigo eterno. Ademais, é possível identificar, em sua obra, tipificações relacionadas ao cultismo, fusionismo e conceptismos.

Filosofia Política

Embora não tenha participado ativamente no campo político, foi apontado como um criticista político-social, tendo contestado quase todos que faziam parte do sistema dominante de seu tempo. Segundo os pesquisadores, devido sua língua virulenta, ele teria feito muitos inimigos. Desse modo, por conta dessas duras críticas às autoridades da Bahia, foi deportado para Angola, na África. Entre os alvos de suas reprimendas estavam o clero, a nobreza, o governo, os colonizadores e os colonizados. Atacava principalmente as corrupções políticas e os vícios morais. Enquanto esteve exilado, ajudou o governo de Luanda a combater uma conspiração política local. Sua obra foi considerada subversiva por se utilizar do discurso humorístico para dissimular suas contestações e agravos, contra os seus adversários. Fez de suas habilidades discursivas um forte instrumento de poder. Na sua poesia erótica, vislumbrava combater o conservadorismo brasileiro que estaria, na sua visão, eivado de um falso puritanismo. Nessa perspectiva, sua obra buscou revelar e denunciar as contradições da sociedade de seu tempo. Apontando os vícios dos poderosos, ridicularizando os falsos moralistas, atacando os dogmas e os “bons costumes”.

Filosofia Sapiencial

+ “Para os bons sou inferno e para os maus paraíso”

+ "Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura?"

+ “No Brasil, o honesto é pobre, o ocioso triunfa, e o incompetente é quem manda”.

+ “Aqui eles se justificam mentindo com pretextos enganosos, e com rodeios fingidos.”

+ “Parti, coração, parti, navegai sem vos deter, ide-vos, minhas saudades, a meu amor socorrer”.

+ “Eu sou aquele, que passados anos cantei na minha lira maldizente torpezas do Brasil, vícios, e enganos”

+ “A vós, lado patente, quero unir-me, a vós, cravos preciosos, quero atar-me, para ficar unido, atado e firme”.

+ “Todos somos ruins, todos perversos, só os distingue o vício e a virtude, de que uns são comensais, outros adversos.”

+ “Não cantes mais que a morte lisonjeias; esconde a voz e esconderás a vida, que em ti não se vê mais que a voz que canta”.

+ “O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo sendo parte, Não se diga que é parte, sendo todo”.

+ “Ícaro foste, que atrevidamente, te remontaste à esfera da Luz pura, de onde te arrojou teu voo ardente. Fiar no sol é irracional loucura; porque nesse brandão dos céus luzente, falta a razão, se sobra a formosura”.

+ "O Fidalgo de solar se dá por envergonhado de um tostão pedir prestado para o ventre sustentar: diz, que antes o quer furtar por manter a negra honra, que passar pela desonra, de que lhe neguem talvez; mas se o virdes nas galés com honras de Vice-Rei, esta é a justiça, que manda El-Rei."

+ "Os letrados peralvilhos citando o mesmo doutor. a fazer de Réu, o Autor, comem de ambos os carrilhos: se se diz pelos carrilhos sua prevaricação, a desculpa, que lhe dão, é a honra de seus parentes e entonces os requerentes, fogem desta infame grei: esta é a justiça, que manda El-Rei."

+ "Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha Vergonha. (…) E que justiça a resguarda? Bastarda. É grátis distribuída? Vendida! Quem tem, que a todos assusta? Injusta. Valha-nos Deus, o que custa, O que El-Rei nos dá de graça, Que anda a justiça na praça Bastarda, Vendida, Injusta." 

Obras:

Conquanto exista uma série de compilações que revelam sua obra, seus textos eram manuscritos e distribuídos de maneira furtiva, apenas entre seus leitores. Não houve publicações oficiais durante sua vida, tendo sido realizada a primeira publicação de sua obra no século XX, pela Academia Brasileira de Letras. Acredita-se que ele tenha produzido mais de setecentos textos sobre os mais variados temas.

Fontes:

BANDEIRA, Manuel. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1951.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 2015.

CALMON, Pedro. A vida Espantosa de Gregório de Mattos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.

CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do Barroco na formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos. Salvador: FCJA, 2011.

GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

JÚNIOR, Araripe. Gregório de Matos. Rio de Janeiro: s/ed., 1894.

MATOS, Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo: Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro. Bibvirt/ USP, acesso em 2025.

MOISÉS Massau. A Literatura Brasileira através dos textos. São Paulo: Editora Cultrix, 2012.

REALE, Miguel. Figuras da Inteligência Brasileira. São Paulo: Siciliano, 1994.

ROCHA Peres, Fernando da. Gregório de Matos. Nova Iorque: Editora Macmillan, 1989.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Fausto Barreto

Fausto Barreto – (1852 a 1915) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Fausto Carlos Barreto foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento da filologia. Ficou consagrado como um dos mais ilustres gramáticos brasileiros. Laborou como professor de línguas, especializando-se nas línguas do Francês, Português, Latim e Inglês. Iniciou seus primeiros estudos no Ateneu cearense, migrando posteriormente para o seminário da prainha em Fortaleza. Chegou a cursar Medicina na cidade do Rio de Janeiro, porém desistiu do curso e seguiu carreira como professor de língua portuguesa do colégio Dom Pedro II, além disso, lecionou no Colégio Militar e na Escola Normal. Foi prestigiado com a cadeira de número 9 da Academia Cearense de Letras. Participou como membro correspondente do Instituto do Ceará. Na esfera política teria atuado como presidente da província do Rio Grande do Norte e como deputado geral no Ceará, pelo partido liberal. Era filho do senhor Antônio Carlos Barreto com a senhora Maria José de Oliveira Barreto. Nasceu no dia 19 de dezembro de 1852, na localidade dos Inhamuns, região de Tauá, no Ceará. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1915. Teve um filho que também se tornou outro importante filólogo, conhecido pelo nome de Mário Barreto.

Filosofia da Linguagem

Foi conceituado como um dos maiores especialistas em Gramática do seu tempo, tendo organizado de maneira criteriosa e sistemática, juntamente com Carlos Laet, uma obra clássica chamada de “Antologia Nacional”, em que dissertava sobre os principais escritores da língua portuguesa. Seus textos possuíam grande intelecção, refletindo de maneira lógica, a clareza necessária para a compreensão expressiva do pensamento. Enaltecia o vocabulário nacional, buscando valorizar a linguagem contemporânea. De acordo com pesquisadores, Barreto considerava as línguas, como sendo, organismos naturais que eram independentes da vontade do homem. Nesse contexto, ele pontuava alguns vícios de linguagem, explicando que esses vícios faziam parte da linguagem popular, colocando os fenômenos do idiomatismos, provincialismos, brasileirismo e dialetação, que antes eram vistos como anomalias gramaticais, em uma outra realidade da língua, passando-as a integrá-las. Seu trabalho buscou se desvencilhar da influência colonizadora, rompendo com o tradicionalismo da filosofia gramatical portuguesa, visando um novo prognóstico cultural e propondo uma modernização da língua, que se aproximasse do regionalismo brasílico. A natureza dos textos continha critérios objetivos e elucidativos que norteavam o ensino da língua portuguesa. Esclarecia que a gramática geral poderia ser separada em gramática histórico-comparativa e gramática descritiva-expositiva.

Filosofia da Educação

Sua obra serviu de bússola orientadora para a educação brasileira por várias gerações, tendo sido estudada, de forma didática, nas principais escolas do país. Colégios como Dom Pedro II, o Colégio Militar e a Escola Normal, utilizaram seu trabalho na formação de seus alunados. A riqueza de sua obra atingiu um público variado, estando presente em instituições que possuíam pensamentos divergentes, como instituições republicanas, monarquistas, conservadoras, liberais e progressistas. Seus livros atendiam ao público do chamado ensino secundário, dando autonomia para que o professor pudesse conduzir suas aulas com uma maior flexibilidade. A “Antologia Nacional” foi considerada o primeiro manual didático de português escrito por brasileiros. Fausto lançou em 1887 um programa de Português para os Exames Gerais de Preparatórios, com a finalidade de padronizar o estudo da língua em todo o Brasil. Esse programa trouxe uma inovação para época, pois determinava a realização dos exames de português antes dos demais. Dividiu o programa avaliativo em duas partes, sendo a primeira voltada para a compreensão oral e de leitura, os quais eram sugeridos pela comissão julgadora. A segunda tinha critério escrito, em que seriam avaliados os aspectos etimológicos, fonéticos e sintáticos da gramática textual. Nesse contexto, as obras de Barreto deram origem a um fenômeno que ficou conhecido como “gramatização brasileira do português”.

Filosofia Sapiencial

+ “O rubor da modéstia, é o sangue da virtude”.

Obras:

Antologia nacional; Arcaísmos e neologismos da língua; Temas e raízes; Discurso; Seleção literária.             

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.

BARRETO, Fausto; LAET, Carlos de. Antologia Nacional. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1963.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

GUIMARÃES, Eduardo. Sinopse dos Estudos do Português no Brasil: a Gramatização Brasileira. Campinas: Língua e Cidadania,1996.

MALVEIRA, Antônio Nunes. Memória: Dr. Fausto Carlos Barreto. Revista Academia Brasileira de Filologia. N. XI Rio de Janeiro: Nova Fase, 2012.

NOBRE, F. Silva. 1001 cearenses notáveis.  Fortaleza: Editora casa do Ceará, 1996.

PASSERINI, Thiago Zilio. O Programa de Fausto Barreto e a Gramaticografia Brasileira Oitocentista. Revista VERBUM. São Paulo: PUC, 2021.

RAZZINI, Marcia. Antologia Nacional (1895-1969) Museu Literário ou Doutrina? Dissertação de Mestrado em Letras. São Paulo: Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 1992.

SOARES, Magda. O livro didático como fonte para a história da leitura e da formação do professor-leitor. Campinas: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil – ALB, 2001.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TERRA, Ernani. A Antologia Nacional. Site Blog do Ernani: Um espaço para falar de língua e literatura. Internet, acesso em 2025.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Filosofia Medieval

Filosofia Medieval

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A filosofia medieval é considerada um período da História da Filosofia que se iniciou no momento de transição da idade antiga para o período helenístico, tendo se consolidado durante toda a Idade Média. Pode ser caracterizada, entre os cem primeiros anos da era cristã, até aproximadamente 1500 d.C. Contudo, as correntes tradicionais, mais didáticas, costumam delimitar esse período, a partir do século V. d.C, quando surge, mais propriamente, a patrística. A principal característica desse ciclo foi o considerável sincretismo, entre a filosofia e a teologia, em que eram misturados elementos da filosofia grega e romana, com pensamentos de outras correntes teológicas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Nessa época, também emerge, paralelamente, as correntes da filosofia árabe, africana e oriental. Nesse período surgem as grandes universidades que aprimoram o pensamento ocidental, estabelecendo os pilares do conhecimento crítico e reflexivo. Preocupando-se em debater e problematizar complexas “Questões Universais”.

Desenvolvimento da Filosofia Medieval

Ficou marcada pela busca de conciliação entre a fé e a razão, investigando a relação entre o mundo divino com a lógica. Grandes estudiosos, dessa época, como Agostinho e Tomás de Aquino, examinaram ideias de pensadores antigos como Platão e Aristóteles, e relacionaram essas ideias com o pensamento da igreja, produzindo um profundo debate entre a filosofia e a religião. Produziu-se uma forte consolidação da fé católica, que foi utilizada como instrumento político, por vários governos. Esse período ficou dividido em quatro grandes fases, chamadas de fase: apostólica, apologética, patrística e escolástica.

Na fase apostólica os chamados “pais da igreja” buscavam sistematizar os primeiros ensinamentos deixados pelos apóstolos de cristo e seus primeiros discípulos, sendo desenvolvida, entre os séculos (I e II) d.C. Procurava exortar os primeiros conceitos da igreja. Na etapa apologética aconteceu um esforço em defesa dos dogmas da igreja católica, sendo desenvolvida entre os séculos (III e IV) d.C. Os pensadores utilizavam linguagens figurativas, mantendo acentuadas relações com a filosofia clássica.  A filosofia patrística ficou mais conhecida com a figura de Santo Agostinho. Iniciando-se a partir do século IV d.C e perdurando até o século VIII. Os Padres, nessa etapa, consolidaram os pensamentos cristãos sobre influência da filosofia de Platão, destacando conceitos de base ética e política. A escolástica teve como principal exponencial o filósofo São Tomás de Aquino. Tendo se desenvolvido durante o século IX d.C e se estendido até o século XVI. Esse momento sofreu intensa influência das obras de Aristóteles, baseando-se em explicar a existência de Deus, por meio da razão. Desenvolvendo argumentos empíricos, que eram pautados na lógica, incluindo concepções de ordem moral e social.

Embora exista um número considerável de pensamento religioso nesse período, a filosofia medieval não se resume apenas a ideias religiosas, tendo destaque, em outras regiões, a sistematização de outras correntes filosóficas, que se diferenciam do pensamento da igreja católica, bem como também, de outras doutrinas ligadas as outras religiões. Na História da Filosofia, quase sempre, existiram pensadores que ganharam destaque, em relação a outros, construindo uma forma de pensar hegemônica, ou exercendo influência sobre outros sistemas de pensamento. Por algum motivo específico ou, quem sabe, uma soma de fatores, alguns desses pensadores são mais enaltecidos e supervalorizados que outros, gerando um domínio de determinada corrente filosófica.

Considerações Finais

Entre os variados temas estudados, nesse período, teve grande destaque as questões éticas, metafísicas, ontológicas e epistemológicas das doutrinas religiosas. Analisando dilemas sobre a verdade divina, a imortalidade da alma, a salvação, o pecado, a santíssima Trindade, os dogmas e doutrinas ligadas a fé. Promove-se a defesa das religiões, a refutação aos conceitos do paganismo e a disseminação do cristianismo. Todo esse conjunto de correlações do medievo foi denominado, por alguns pensadores, como sendo, uma civilização sacral, ou melhor dizendo, um “sacralismo civilizacional”. No contexto educacional, houve um enfoque na formação moral e espiritual do indivíduo, que buscava unir o saber revelado com o conhecimento racional, integrando a teologia e a razão. O homem desse tempo respirava através de uma atmosfera religiosa, vivendo uma “razão que se movia, em direção aos horizonte da fé”. Aos poucos o ideal do sábio humanista foi dando espaço para o arquétipo do filósofo santo, ou seja, criando uma relação entre o humano e o divino.

Fontes:

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

COUTINHO, Jorge. Elementos de História da Filosofia Medieval. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2008.

CRESCENZO, Luciano. História da Filosofia Medieval. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2012.

JAEGER, Werner. Cristianismo primitivo e a paideia grega. México: FCE, 1998.

LIBERA, Alain de. A Filosofia Medieval. São Paulo: Editora Loyola, 1998.

PADOVESE, Luigi. Introdução à teologia patrística. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 1993.

SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos: A Filosofia na época da expansão do Cristianismo. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

STORCK, Alfredo Carlos. A filosofia medieval. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2003.

VASCONCELLOS, Manoel. Filosofia Medieval: Uma breve introdução. Pelotas: Editora Dissertation Incipiens, 2014.  

sábado, 30 de novembro de 2024

Padre Mororó

Padre Mororó – (1774 a 1825) d.C


Autor: Alysomax Soares


Introdução


Gonçalo Inácio de Loiola e Albuquerque Melo – Foi um filósofo cearense ligado as correntes de pensamento teopolíticas, inclinando-se por uma tendência mais radical. Era considerado um grande orador sacro, tendo se utilizado dos sermões para comunicar sua obra. Atuou como sacerdote, escritor, filósofo, botânico e político, sendo visto como um notável intelectual que também estudou as áreas das ciências jurídicas, físicas, naturais, linguísticas e biológicas. Cursou teologia no seminário de Olinda, em Pernambuco. Participou do movimento literário conhecido como “os oiteiros”, tendo seguido por uma linha voltada para o arcadismo. Ficou conhecido como o “Padre Mororó”, acredita-se que esse nome teria sido escolhido, por conta de uma árvore que possui uma madeira muito dura, simbolizando um antigo ditado que dizia: “enverga, mas não quebra”, esse cognome é de origem tupi, e significa também um conjunto de várias plantas da caatinga que possuem um fim nutritivo e medicinal. Foi prestigiado como sendo o primeiro cearense a ter uma obra publicada na “Tipografia Real do Brasil”. Fundou o primeiro periódico cearense chamado de “Diário do Governo do Ceará”. Foi consagrado como patrono da cadeira de número 10 da Academia Cearense de Letras. Chegou a ascender ao Grau de Mestre na Maçonaria.

 

Era filho de Félix José de Sousa e Oliveira, com a senhora Theodósia Maria de Jesus Madeira. Nasceu no município de Groaíras, na localidade conhecida como Riacho dos Guimarães, em 24 de julho de 1774. Faleceu em 30 de abril de 1825, na cidade de Fortaleza. Padre Mororó foi executado no antigo campo da pólvora, que atualmente é conhecido como Praça dos Mártires ou Passeio Público, situada por trás da décima região militar, no centro de Fortaleza. Seu corpo foi exumado de um antigo cemitério e levado para o cemitério São João Batista. Recebeu, em sua homenagem, o nome de ruas e escolas, por várias regiões do país.

 

Filosofia Política

 

Adepto de um forte ideário republicano, ele teria, aos poucos, semeado um sentimento nativista, que serviu de base para o amadurecimento do futuro processo de independência do Brasil. Era afeiçoado com as concepções liberais, defendendo um posicionamento antiabsolutista. Seus pensamentos tiveram grande influência das ideias iluministas. Detentor de uma escrita combativa, ele empregava o discurso escrito como principal meio político de propagação de seus ideais. Exercendo, com isso, uma forte influência na construção do cotidiano social e político dos indivíduos. Lutou em prol da emancipação de alguns Estados do Nordeste, movimento que ficou conhecido, na História do Brasil, como confederação do Equador, chegando, até mesmo, a proclamar a República do Quixeramobim. Segundo os pesquisadores, o topônimo “Mororó” foi escolhido, simbolicamente, para representar um ideal nacionalista, que visava enaltecer os elementos, da cultura indígena, da fauna, da flora e das regiões geográficas. Essa representação visava romper com a influência dominadora do colonizador, destacando as raízes brasileiras.

 

Filosofia Teológica

 

Estudou, em seu tempo, com outros grandes intelectuais como Frei Caneca, Padre Miguelinho e Padre João Ribeiro. Laborou como vigário nas cidades de Boa Viagem, Tamboril e Quixeramobim. Porquanto teve destaque reconhecido dos trabalhos praticados, recebeu convite para lecionar. Utilizou-se da teologia para desenvolver alguns trabalhos voltados para a educação. Exerceu a função de professor de Latim na cidade de Aracati. Incentivou a fomentação das artes cênicas com a finalidade de influenciar, positivamente, na educação dos jovens. Desenvolvendo, com isso, um sincretismo educacional que misturava atividades religiosas, culturais e sociais. Realizou grandes sermões em que censurava os vícios da jogatina, os quais eram praticados, em algumas regiões. Era considerado, por muitos, como um homem bom, que possuía um coração generoso. Devido sua bravura ter sido evidenciada, entre atitudes espirituosas e ações valorosas, ele pode ser descrito como “o homem que riu da morte”, deixando registrado, na canonização da história, sua figura emblemática.   

 

Filosofia Sapiencial

 

+ “Sou um padre baldo de conhecimentos, que faço a minha subsistência, pelas capelanias do sertão”

+ “Assim a ingênua virtude, assim te assomas, com fronte majestosa, assim desprezas a tormenta, que assanha, e que levanta a calúnia invejosa”

+ “Assim estável Carvalho, assim triunfão, dos rijos louros, dos furacões furiosos, que teus ramos embatem, mas não estalão, ao impacto violento”.

+ “Entro numa estrada perigosíssima; e estou na certeza de desafiar inimigos sem conto; mas não esmoreço; e à custa da vida prometo perante Deus e os homens ser imparcial nas minhas narrações. Quer o imperador ostente as suas forças, quer o governo seja despótico, quer as riquezas predominem; nada, nada me abala; e a minha pobreza jamais ofuscará os sentimentos de um coração todo cheio de amor de sua Pátria adorada; e muito menos calará os ecos da verdade”

 

Fatos e Curiosidades:

 

Relata-se que, na fase final de conclusão do seu curso seminarista, em Olinda, um clérigo conhecido como Dom Azeredo Coutinho, teria preconizado a respeito de Mororó, a seguinte intuição: “Este jovem há de se perder na primeira Revolução que houver no Brasil”.

 

Conta-se que no dia do seu martírio, o Pe. Gonçalo transmitia um ar de tranquilidade e coragem, que assombravam a todos que assistiam ao sinistro. A cena trágica dos últimos instantes que antecedeu o seu suplício foi aturdida por vários episódios cômicos e irônicos, que se desvelaram no decorrer do evento. Os carrascos que eram escolhidos, entre prisioneiros e militares, recusavam-se a cumprir a sentença inicial de enforcamento. Logo depois, a pena foi trocada para a de fuzilamento, sendo finalmente executada por algozes, a tiros de arcabuz.

 

Obras:

 

Segundo informam algumas fontes, os textos de Mororó foram queimados, tendo desaparecido grandes fragmentos, poesias e sermões, entre essas obras perdidas, narra-se que existia uma importante pesquisa sobre a carnaúba, que provavelmente foi extraviada.   

 

Fontes:

 

ACL. Pesquisa Histórica. Padre Mororó. Site: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Copyright, acesso em 2024.

 

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Revista da academia Cearense de Letras. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1957.

 

BRÍGIDO, João. Ceará, homens e fatos. Rio de Janeiro: inelivros, 2001.

 

BRITO, Jorge. Diário do Governo do Ceará: origens da imprensa e da tipografia cearenses. Fortaleza: Museu do Ceará, 2006.

 

CORRÊA, Viriato. História da Liberdade no Brasil. Brasília: Civilização Brasileira, 1976.

 

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

 

LEAL, Barros. Temas Diversos. Fortaleza: Casa José de Alencar, 1996.

 

NOBRE, Geraldo. O primeiro redator cearense: O Correio Brasiliense e O Português verberados no Ceará pelo padre Gonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo. Revista de Comunicação Social, Fortaleza, 1973.

SOUSA, João Alfredo. Padre Mororó: A Revolução da Imprensa. Fortaleza: Museu do Ceará/SECULT, 2004.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

 


domingo, 27 de outubro de 2024

Escola de Éfesos

Escola de Éfesos

Autor: Alysomax Soares

Introdução

A escola de Éfesos ficou conhecida também como “Escola Heraclitiana” ou Escola Efésica, por conta de seu principal representante que era o filósofo Heráclito de Éfesos, tendo como seu principal discípulo o filósofo Crátilo de Atenas. Os filósofos dessa escola de pensamento compartilhavam a ideia de que o movimento era a causa primeira de todas as coisas, nesse contexto eles também eram denominados de filósofos “mobilistas”. Inicialmente a escola não possuiu muitos discípulos, sendo citada devido sua grande influência na filosofia e em outras correntes de pensamento. Embora não existam muitas informações sobre os discípulos de Heráclito, alguns filósofos e pensadores, de sua época, trocaram conhecimentos mútuos. Mesmo assim, alguns outros filósofos são considerados simpatizantes dessa corrente, por seguirem uma tendência similar de ideias. Um certo número de historiadores classifica a escola de Éfesos, juntamente com a de Mileto, como se elas fossem partes da escola jônica, reunindo pontos diferentes e comuns, entre elas.

Filosofia da Natureza

O principal foco dessa escola buscava compreender a origem e a natureza fundamental da realidade através da observação e da reflexão. Para Heráclito, o fundador dessa corrente, o fogo seria a “arché” primordial, isto é, o principal combustível responsável por essa mudança contínua no universo, pois era a substância mais ativa na natureza e que estaria em constante transformação. Essa mudança era definida como o eterno devir, ou seja, o “ir-e-vir” constantes, caracterizado pela fluidez das coisas. Também era definida como "panta rei", quer dizer, "a vida é fluxo", que era a ideia de que a realidade estaria em constante mudança, pois nada permaneceria o mesmo. Ele utilizava a metáfora do rio para explicar partes de sua teoria, dizendo que: “ninguém pode se banhar duas vezes em um mesmo rio”, querendo dizer, que o homem, ao entrar uma segunda vez no rio, não seria mais o mesmo, nem o rio também seria igualmente o mesmo. Sua ideia de movimento influenciou e ainda influência, até hoje, muitos pensadores e sistemas de pensamentos.

Filosofia da Linguagem

Heráclito também foi considerado um dos percussores da dialética, tendo utilizado a linguagem para compreender os fenômenos da natureza. Criou uma teoria chamada de doutrina dos contrários, ao qual ele pronunciava que existiria uma luta constante e eterna entre os contrários, explicando que um oposto não poderia existir sozinho sem o outro oposto, pois um dependeria do outro para existir. A contradição seria responsável pelo surgimento de uma unidade dialética. Argumentava que se um observador percebe uma subida em uma grande escada, outro observador, que esteja na parte de cima, poderia entender, essa mesma escada, como sendo uma descida. Seguindo esse mesmo raciocínio para a ideia de temperatura, pois não existiria permanentemente o frio ou o quente, mas sim o calor, descrito mais propriamente como temperatura. Em outras palavras, é como se o princípio fosse o mesmo que o fim, como em um círculo. O que estaria em baixo seria igual ao que estaria em cima, pois o caminho para ir para cima e depois para baixo seria o mesmo. Desse modo, ele estabeleceu uma síntese contraditória e permanente da realidade. Formulando um conceito de unidade permanente do ser, diante da pluralidade e mutabilidade das coisas.

Considerações Finais

Segundo essa escola de pensamento, o logos seria a lei fundamental da própria natureza. Esse logos, que seria uma força ordenadora da natureza, se revelava exatamente no universo através de contradições, que estariam em constantes transformações. A realidade seria dinâmica, tendo sua origem nas oposições, isto é, na força dos contrários, ela aconteceria na mudança, na eterna luta entre os opostos. A realidade possuiria uma unidade básica, ou seja, uma unidade na pluralidade, que poderia ser traduzida, como sendo, o logos. Dessa forma, as contradições são complementares e necessárias. O logos age como um regulador ou harmonizador natural do constante movimento que é gerado. O logos era representado pela ideia de razão, o mesmo que, um princípio universal, sendo vista como uma força cósmica que permeia tudo, trazendo ordem ao caos.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Editora Edipro, 2012.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultura LTDA, 1996.

CORNFORD, Francis. Princípio da Filosofia Grega e o Mistério Eleusino. São Paulo: Editora Cultrix, 1991.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: História e grandes temas. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte: Pax editora, 2010.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3. ed. Vol.1. São Paulo. Paulus.1990.

ROCHA, Zeferino. Heráclito de Éfeso: Filósofo do Logos. Vol. 7. N. 4. São Paulo: Revista Latino Americana de Psicopatologia Fundamental, Scielo. 2004.

VERNANT. Jean Pierre. Mito e pensamento entre os Gregos. Rio de Janeiro. PUC, 1965.

sábado, 26 de outubro de 2024

Alba Valdez

Alba Valdez – (1874 a 1962)

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Maria Rodrigues Peixe – Foi uma filósofa cearense ligada a corrente de pensamento do igualitarismo, direcionou suas ideias para o viés do feminismo. É considerada a primeira mulher a entrar na Academia Cearense de Letras, ocupando a cadeira de número 22.  Atuou como professora, escritora, ativista e filósofa, exercendo uma grande influência na cultura e na literatura Cearense. Utilizava-se do pseudônimo de “Alba Valdez” para desvelar sua obra. Tornou-se uma retirante, após ser vitimada pela seca que atingiu o Ceará, nesse ínterim iniciou seus primeiros estudos na escola Isabel Teófilo Spinoza, em Fortaleza, tendo posteriormente concluído seus estudos e se formado na Escola Normal do Ceará, diplomando-se na área do ensino, em 1889. Professorou por um tempo, na cidade de Baturité e na região de Aracatiaçu, em Sobral. Depois migrou para a capital, onde passou a lecionar no Grupo Escolar de Fortaleza, dedicando sua vida à docência e a literatura. Fez parte de importantes associações e agremiações, entre eles, o Instituto Ceará, o Centro Literário, a Boêmia Literária, a Iracema Literária, e a Ala Feminina da casa de Juvenal Galeno. Era filha do senhor João Rodrigues Peixe com a senhora Isabel Alves Rodrigues. Nasceu na localidade conhecida como Vila de São Francisco de Uruburetama, situada nas proximidades da cidade de Itapajé, no dia 12 de dezembro de 1874. Faleceu em Fortaleza, no dia 5 de fevereiro de 1962.

Filosofia Política

O cenário político da época não era favorável para o espírito feminino, isso motivou Alba a combater as barreiras que dificultavam a participação das mulheres no teatro social. Entre essas adversidades, ela pontuou situações que atravancavam a criatividade feminina, como os problemas da seca, a miséria de alguns locais e outras intempéries climáticas. Ela advogou em defesa dos direitos da mulher em várias frentes sociais, tendo lutado pela emancipação feminina nos diversos setores da sociedade. Defendeu questões como o direito do voto para as mulheres, bem como também, o desenvolvimento cultural do Ceará. Foi uma das fundadoras da primeira agremiação feminina do Ceará chamada de “Liga Feminista Cearense”, onde atuou como presidente.  

Pensadores esclarecem que, nessa época, a mulher que se lançava ao mundo das letras transmitia para a sociedade uma visão subversiva, pois o olhar conservador e tradicional, considerava a mulher, como sendo, apenas uma cuidadora do lar e da família. Nesse contexto, Alba rompeu com os estereótipos socioculturais e quebrou paradigmas, buscando atuar nos espaços públicos de grande relevância cultural, literária e social, fomentando palestras e debates que problematizavam questões de ordem feminista, com o objetivo de refletir sobre os problemas enfrentados pelas mulheres. Dessa forma, ela utilizava a oratória como ferramenta de valorização do discurso feminino, fazendo de suas participações sociais, um instrumento de consolidação e independência da mulher na sociedade.

Filosofia Literária

Contextualizou, em partes de sua obra, uma literatura que retratava fatos cotidianos de sua infância e adolescência. Pontuando vários elementos que caracterizavam as injustiças, as desigualdades sociais e de gênero. Sua obra era composta por textos em formato de prosa, contos e crônicas, em que expressava seus pensamentos, sentimentos e opiniões. Publicou seu primeiro grande livro, em 1901, o qual foi intitulado de “Em Sonho”, posteriormente escreveu “Dias de Luz”, obra publicada entre 1906 e 1907. Suas obras ganharam grande destaque, após serem traduzidas para outras línguas como o francês e o sueco.

Foi considerada uma das mulheres pioneiras a se aventurar no universo das letras no Ceará, com isso, teria sido caracterizada como uma “Mulher de Papel”, expressão utilizada por críticos para descrever as mulheres que se destacaram e se constituíram, através do mundo literário. Sua filosofia descrevia uma visão nostálgica da vida infantil, buscando traduzir uma melancolia sofrida por uma infância perdida. Revelava o contraste que foi sendo construído, entre o espaço de criação dela com o de seu irmão, observando o tratamento desigual dado pelo pai, nas diferenças que existiam, principalmente sobre a questão de gênero masculino e feminino.

Filosofia Sapiencial

+ “Pus-me a andar sob o lastro da imaginação que perdera o freio”.

+ “Um sino canta docemente ao longe, é a hora misteriosa da saudade”

+ “Um luar brilhante, essa claridade que inunda o solo sobre o qual tudo passa, é a esperança”.

+ “A voz de minha mãe abençoa-me como uma orquestra angélica que me embala o ouvido”.

+ “Senhora dona Cândida, coberta de ouro e prata, descubra o seu rosto, que queremos ver-lhe a cara”.

+ “A mulher é um ser fraco, propalam, pois, então, da própria fraqueza, construirei a força necessária para comunicar as minhas emoções”.

+ “Ela, com a mente alucinada dos indômitos desejos, ansiava ser o pássaro veloz que recorta os planos luminosos para ir em busca desse ideal sonhado”

+ “A festa que decorre luminosa, como sói acontecer com as festas da inteligência, ocorre no ritmo feiticeiro das ideias, criados por artistas da palavra, que já se fizeram ouvir”.

+ “Leva toda esta alegria fictícia que me inunda, que toda ela te pertence; e a minha alma liberada nas asas da saudade, levantará o voo atravessando os mares espumosos, os desertos inóspitos e irá abrigar-se no teu seio luminoso”

+ “Raio despontava inundado de fulgores e aromas. O campo ria de verde e nos quintais plantados o vermelho variegado das rosas, o branco latescente dos cravos, o púrpuro das boninas atraía o olhar numa orgia deslumbrante de cores”.

+ “A mulher de letras do Ceará teve princípios ásperos, concorrendo para isso, como já foi dito, o isolamento da terra, sem o contato direto da civilização, a rigorosa educação familiar e os conceitos desairosos, que sobre o cérebro feminino atiraram certos filósofos”

+ “Estreitamente ligada ao lar por efeito do rigorismo educacional, sem maiores responsabilidades que as decorrentes dos afazeres domésticos, dos estudos feitos com certa limitação, a mulher visionava a vida menos pelo que possuía de real do que pelas aparências. O preparo intelectual ressentia-se do senso das realidades, convindo-lhe bem a terminologia de abstrato que os gramáticos conferem a determinados nomes”.

+ “Apesar dos esforços e tentativas que se têm feito, o nosso tráfego intelectual não apresenta nestes últimos tempos, afora uma outra joia isolada, nada que cative admiração. Não é por falta de engenhos, que os temos, do que há mister é de uma longa solidariedade inquebrantável que congregue os elementos dispersos, acabando com a apatia, o marasmo dissolvente, para a iniciação de uma fase de atividade e esplendor cultural”.

+ “Dentro da pátria não há fronteiras e muito menos a frialdade dos polos. O sol vibrante resplende por cima de rios gigantes de imponentes matas virgens de serras alcantiladas, guardando todos nos seus misteriosos recessos incalculáveis riquezas. Tudo é grande e por isso o sentimento deve ser uma consequência lógica do ambiente em que se formou. Mulher pernambucana, irmã da Cearense pelos vínculos de raça, de língua, de religião e de ideal! Mulher pernambucana, síntese de todas as virtudes sociais e domésticas! A mulher Cearense depõe na sua face pura o ósculo da amizade – flor do coração”.

Fatos e Curiosidades:

Segundo alguns biógrafos, Maria Rodrigues Peixe teria criado o pseudônimo de “Alba Valdez” com a finalidade de burlar o sistema patriarcal que imperava em seu tempo, pois não era comumente tolerado, o discurso letrado para as mulheres. Conta-se que “Alba” teria sido em homenagem a uma amiga que era filha de Tomas Pompeu, e “Valdez” seria o nome de um antigo dicionário da língua portuguesa.

Alba Valdez colaborou com vários periódicos, revistas e almanaques, entre eles estão: Revista da Academia Cearense de Letras; Revista do Ceará; Panóplia; Diário do Ceará; Correio do Ceará; A Tribuna; A Razão; Unitário; O Nordeste; Jornal do Commercio; Diário do Recife; Revista Iris de Porto Alegre; Revista O Lyrio de Recife. Alguns pesquisadores reuniram, em um compilado, vários de seus textos, que foram publicados nesses periódicos, constituindo uma obra chamada “textos esparsos”.

Poema Mãe e Filha:

Quando contemplo minha mãe querida

Olhos sem brilho, lacrimosos, baços,

Alva a cabeça, pelas cãs, perdida,

Tez enrugada, descarnados braços

À pequenita, em maternais abraços

A rir, beijando-a carinhosa e fida,

Murmuro: --- A estrela que me guiou os passos

Se abraça ao sol que me ilumina a vida!

Uma é a tarde a desmaiar tristonha,

Outra a alvorada que surgiu risonha,

Lá no horizonte de dourada cor refletida.

Obras:

Em sonho; Dias de luz; Textos Esparsos; Uma grande figura da história educacional do Ceará.

Fontes:

AMORA, Manoel Albano. Academia Cearense de Letras: Síntese Histórica. Fortaleza: Revista da academia Cearense de Letras, 1894-1954.

ANDRADE, Alves. O centenário de Alba Valdez. Revista: Academia Cearense de Letras. Fortaleza: ACL, 1976.

BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1951.

CASTRO, Carla. Resquícios de memória: dicionário biobibliográfico de escritoras e ilustres cearenses do século XIX. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2019.

GIRÃO, Raimundo. A Academia de 1894. Fortaleza: ACL, 1975.

MARTINS, José Murilo. Academia Cearense de Letras. História e Acadêmicos. Fortaleza: Edições ACL, 2013.

SILVA, Odalice de Castro. Alba Valdez (1874-1962): Estudo, antologia e bibliografia. Lisboa: BNP, 2019.

SOUZA, Keyle Sâmara Ferreira. Alba Valdez: Uma mulher de letras entre a literatura e a imprensa cearense. Revista: Letras em Revista. Teresina: SEDUC/CE, 2020.

STUDART, Guilherme. Dicionário Biobibliográfico Cearense. Fortaleza: Tipografia, 1910.

TELLES, Norma. História das mulheres no Brasil: Escritoras, escritas, escrituras. São Paulo: Editora Contexto, 2018.