terça-feira, 28 de novembro de 2023

Augusto Comte

Augusto Comte - (1798 a 1857) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Isidore Áuguste Marie François Xavier Comte - Foi um filosofo francês pertencente ao período contemporâneo. Ficou consagrado como sendo o pai do positivismo. Contribuiu significativamente para as teorias da filosofia sociológica, influenciando principalmente as áreas da filosofia, ciências e política. Estudou inicialmente no Liceu de Montpellier, posteriormente ingressou na escola politécnica de Paris. Trabalhou como secretário do filósofo Saint-Simon e como professor de Matemática. Chegou a sofrer de um mal-estar, visto na época, como sendo colapsos nervosos que evoluíram para um quadro de transtornos psicológicos. Após se recuperar, iniciou seus estudos teóricos sobre a “filosofia positiva”. Partes de suas teorias foram frutos de experiências vividas, tanto em sua vida conjugal com sua esposa chamada Clotilde de Vaux, bem como também, em influências teológicas, principalmente do catolicismo. Elaborou um formato de calendário sócio-histórico contendo 13 meses de 28 dias, em que todos os períodos correspondiam a uma personalidade da história que representava a evolução humana.  Era filho de um senhor conhecido como Louis Comte com a senhora Rosalie Boyer. Nasceu na cidade de Montpellier, localizada na França, em 1798, e faleceu em Paris, capital da França, por volta de 1857, vitimado por um câncer no estômago.  

Filosofia do Conhecimento

Defendia a ideia de que o conhecimento científico era o conhecimento mais válido, sendo os outros tipos de saberes, como o teológico e o metafísico, apenas concepções supersticiosas e superficiais sobre os fenômenos. Para Comte o conhecimento científico seria superior aos outros, sendo ele o mais apropriado para explicar os fenômenos sociais e as relações humanas. A principal metodologia do pensamento positivista era a observação desses fenômenos. Buscava explicar uma classificação das ciências, a partir de uma ordem, que iria das ideias mais simples para as concepções mais complexas. Seu conceito de positivismo teria sido formulado a partir de uma vertente do iluminismo, tendo uma forte relação com o materialismo e com o evolucionismo.

Desenvolveu uma teoria que ficou conhecida como a lei dos três estados, ancorando-se na tese de que o conhecimento humano passava por três estágios principais: Teológico, Metafísico e Positivo. No primeiro estado, chamado de teológico, as ações sociais ou da natureza, eram explicados de maneira deífica e mítica, em que se recorria à ideia de sobrenatural ou de narrativas ficcionais e fantásticas. Nesse estágio, os fenômenos seriam frutos de uma ação volitiva e mais autônoma. O estado teológico se subdividia também em outras três fases, descritas como animismo, politeísmo e monoteísmo. O segundo estado, denominado de metafísico, buscava uma reflexão mais racional, induzindo o pensamento a encontrar respostas abstratas e conceituais, esses fenômenos possuíam uma causa.  Em relação ao terceiro estado, pontuado como positivo, a sociedade compreendia os fenômenos sociais e de ordem natural, através da observação, elaboração de hipóteses, experimentação e formulação de leis universais, essa última concepção tinha um caráter mais científico. A visão positivista era dividida em dois eixos: chamadas de orientação científica e orientação psicológica.

Filosofia Positivista

Seu sistema de pensamento tinha como finalidade propor a organização de uma nova ordem social que pudesse explicar os processos dinâmicos dos quais se desenvolvem em uma sociedade. O método elaborado por ele visava analisar criticamente a sociedade, a partir de um prisma histórico e científico. Enquanto os pensadores iluministas buscavam modificar a realidade, Comte desejava apenas estruturar de forma ordenada uma sistematização da realidade. Alguns acontecimentos históricos influenciaram, de maneira significativa, seu sistema de ideias, como, por exemplo, a revolução francesa e a revolução industrial.  Esses fatos geraram problemas sociais específicos de seu tempo, por isso Comte pretendia, com sua filosofia positiva, produzir soluções para os problemas sociais. Nesse sentido, Comte pontuava que: "os fenômenos sociais bem como também os físicos podem ser reduzidos à lei científica, pois toda a filosofia deve se concentrar no progresso moral e político da humanidade". A filosofia positiva possuía alguns atributos característicos ao conhecimento que seriam: a realidade, a utilidade, a certeza, a precisão, a organização e a relatividade.

Filosofia Social

Foi um dos primeiro pensadores a utilizar o termo sociologia, evidenciando em suas pesquisas o declínio das sociedades feudais, pontuando, com isso, a transição que se emergia entre a sociedade moderna e a urbana. Para ele, embora as sociedades contemporâneas tivessem atingido certo estágio de positivista, elas ainda não estariam totalmente completas, necessitando corrigir algumas imperfeições. Por isso, a física social ou a sociologia seria uma nova ciência que deveria compreender as disfunções sociais para organizar e reformar os problemas que eram pontualmente gerados na dinâmica social. Ele defendia a ideia de que os estudos sociais deveriam ser feitos com um autêntico espírito científico e uma verdadeira objetividade. A sociologia deveria, igualmente como as outras ciências, dedicar-se à busca constante dos acontecimentos, verificando e constatando os fenômenos repetitivos da natureza, através da observação, experimentação e comparação desses fenômenos. Segundo Comte, os fenômenos sociais são caracterizados por questões específicas que permeiam a realidade, por isso devem ser explicados pela filosofia social. Nesse contexto, ele utilizava métodos racionais e científicos para compreender os aspectos da sociedade. Ademais, a sociedade precisaria passar por uma reforma que deveria se dá primeiramente no campo intelectual, depois no aspecto moral, e por fim no âmbito político.

Filosofia Teológica

Criou uma espécie de religião moral que ficou conhecida como “religião da humanidade” em que fundamentava sua doutrina na ideia de uma organização científica da vida social. Buscava, com isso, a substituição das religiões tradicionalistas, por uma religião positivista, baseada na evolução sistemática da sociedade, através de princípios éticos e ideologias cientificistas. Para ele, no estágio positivista, o homem não conseguiria ser individualista, pois o indivíduo tenderia a desenvolver seu altruísmo e sua solidariedade. A sua doutrina consolidou alguns princípios litúrgicos e apresentava simbolismos para realização de cultos. Acreditava em um ser supremo que era representado pelo instinto coletivo acumulado pelas gerações, ao longo dos anos, ou seja, uma força ordenadora constituída através da “personificação da humanidade”. Nesse sistema desenvolvido por ele, o amor ao próximo, que era descrito no catolicismo, deveria ser substituído pelo amor à humanidade. Dessa maneira, sua ideia contemplava o sentimento de fraternidade que era ancorado pelos conceitos de liberdade, pacifismo, solidariedade e inserção social. Pensava a religião como sendo uma disciplina de vida, com a função de regular a existência individual, sendo dotada simultaneamente de sentimento, imaginação e raciocínio.

Filosofia Sapiencial

+ "Conhecimento é poder".

+ "Saber para prever a fim de poder."

+ “Progredir é conservar melhorando”.

+ “Cada vez mais os mortos governam os vivos”

+ “Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto”

+ “A liberdade é o direito de fazer o próprio dever”

+ “O orgulho divide-nos ainda mais que o interesse.”

+ “Só existe uma máxima absoluta: Nada é absoluto”.

+ “O interesse nunca determina ligações duradouras.”

+ “No fundo, o que realmente existe é a humanidade.”

+ "Muito mais do que o interesse é o orgulho que nos divide".

+ “Nem sempre é possível ou conveniente suspender o juízo”.

+ “A humanidade está composta mais por mortos do que vivos.”

+ “O progresso não é mais do que o desenvolvimento da ordem”

+ "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim."

+ “Não existe sociedade sem governo, assim como governo sem sociedade”.

+ “Cansamo-nos de agir e até de pensar, mas jamais nos cansamos de amar”.

+ “O tempo corresponde a regular o presente a partir do futuro deduzido do passado”.

+ "Viver para os outros não é somente a lei do dever, mas também a da felicidade."

+ “Não se conhece completamente uma ciência enquanto não se souber da sua história”.

+ “A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas”.

+ “Toda a educação humana deve preparar todos para viverem pelo outro a fim de reviverem no outro”.

+ “A mulher sem ternura é uma monstruosidade social maior ainda que o homem sem coragem.”

+ “O progresso é a lei da história da humanidade, e o homem está em constante processo de evolução”.

+ "Todos os bons intelectos têm repetido, desde o tempo de Bacon, que não pode haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis."

+ “Somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados. Considerando como absolutamente inacessível e vazia de sentido para nós a investigação das chamadas causas, sejam primeiras, sejam finais”.

+ “Inquietas pretensões pessoais, desenvolvidas por essa desastrosa  educação,  não  tardam  em  transformá-la  em perturbações políticas, sob a influência direta duma viciosa erudição histórica  que,  fazendo  prevalecer  uma  falsa  noção  do  tipo  social próprio  da  Antiguidade,  impede-os  comumente  de  compreender  a sociabilidade moderna”.

Fatos e Curiosidades

As ideias de Comte influenciaram profundamente os intelectuais do Brasil república, que utilizaram alguns lemas do positivismo, como, por exemplo, a inscrição “ordem e progresso” estampado na bandeira.  

Obras:

Apelo aos conservadores; Opúsculos de Filosofia Social; Plano de Trabalho Científico para Reorganizar a Sociedade; Curso de Filosofia Positiva; Discurso sobre o Espírito Positivo; Catecismo Positivista; Síntese Subjetiva;   Religião da Humanidade; Sistema de política positiva.

Fontes:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000.

BENOIT, Lelita Oliveira. Augusto Comte: O fundador da física social. São Paulo: Editora Moderna, 2006.

COSTA, Cruz. Augusto Comte e as origens do positivismo. São Paulo: USP, 1951.

GIANOTTI, José Arthur. Os Pensadores: Augusto Comte. São Paulo: 2000.

GUIMARÃES, Elisa Maria Castelo; COELHO, Maria Vieira Lima. A filosofia positivista de Augusto Comte. Fortaleza: Editora Gráfica LCR, 2001.

REALE, Giovanni. História da Filosofia: O Positivismo. São Paulo: editora Paulus, 1981.

JÚNIOR, Ribeiro. O que é Positivismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.

SAVIANI, Dermeval. A história das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2010.

SUPERTI, Eliane. O Positivismo no Brasil e a Revolução de 30: a construção do Estado Moderno no Brasil. Tese de Mestrado, São Carlos: UFSCar, 1998.

TRINDADE, Hélgio. O positivismo: Teoria e prática. Porto Alegre: UFRGS, 2007.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Gottfried Leibniz

Gottfried Leibniz – (1646 a 1716) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Gottfried Wilhelm Von Leibniz foi um filósofo alemão pertencente à linha de pensamento do racionalismo. Direcionou seus estudos para o campo da filosofia científica. Desenvolveu teorias nas áreas da Matemática, Física, Teologia, Direito, História e Filosofia, relacionando esses saberes com as esferas do conhecimento científico, político e literário. Floresceu no período da filosofia denominada de idade moderna. Ficou conhecido como um grande polímata que sistematizou seus saberes através de ensaios filosóficos. Considerado um autodidata, aos 14 anos, ingressou na Universidade de Leipzig. Concluiu sua primeira graduação, em Filosofia, com a tese “Meditação sobre o princípio da individuação”. Tendo posteriormente terminado seu doutorado na área das ciências jurídicas. Laborou como diplomata exercendo importantes mediações em conflitos políticos e religiosos, utilizando a filosofia como instrumento de conciliação da paz. Participou da Sociedade Alquímica de Nuremberg, onde conheceu importantes intelectuais. Foi também membro da Academia de Paris, da sociedade Rosa-Cruz e da Real Sociedade de Ciências de Londres.

Seu pai era um professor de filosofia em Leipzig, chamado de Friedrich Leibniz, e sua mãe era a Sra. Catharina Schmuck. O pai faleceu muito cedo, quando ele ainda era criança, por isso foi criado apenas pela sua mãe que lhe transmitiu importantes ensinamentos religiosos. Era descrito como sendo um homem de hábitos moderados. Nasceu na cidade de Leipzig, na Alemanha, em 1646 e faleceu em Hannover, por volta de 1716, vítima de uma crise de gota. Segundo alguns biógrafos, Leibniz morreu solitário, e no seu funeral se encontrava apenas seu fiel secretário. Grande parte da nobreza aristocrática, do qual ele convivia, teria lhe deixado de lado, aos poucos ele foi sendo esquecido pelos membros da socialite local.  

Filosofia do Conhecimento

Juntou concepções da filosofia escolástica com pensamentos da filosofia moderna. Formulou importantes princípios como o da identidade, o da “não contradição” e o da razão suficiente, que serviram de base para o amadurecimento do método científico moderno. Leibniz contribuiu para a matemática, física e principalmente para as áreas da tecnologia, introduzindo conceitos e noções em diversos outros ramos como biologia, medicina, linguística e geologia. Chegou a afirmar que a Terra, inicialmente, já teria sido no passado, uma grande massa fundida. Acreditava que o mal teria surgido no mundo de maneira acidental, sendo apenas fruto do acaso. Especificava que o homem, de forma natural, busca a realização plena de suas potencialidades. Defendia uma ideia de Direito natural que era fundamentado na concepção de Deus. Ao explicar o “princípio da razão suficiente”, em que define que tudo possui uma razão de existir, e para existir da maneira como existe, Leibniz apontou que a ideia de universo, da forma que o conhecemos, seria a melhor forma de cosmos existente para o homem, e também a melhor forma de mundo que Deus poderia ter criado. O criador poderia ter construído infinitas formas, mas por ser Deus, teria feito a mais perfeita possível. Desse modo, ele aclarava o seguinte dizer: “Deus criou o melhor dos mundos possíveis”.

Filosofia da Monadologia

Construiu uma teoria em que descreveu um princípio para a criação do universo, essa teoria era baseada na ideia de “mônadas”, que eram pequenas unidades primárias, os quais estariam presentes em todos os corpos. As mônadas seriam substâncias simples que não possuíam extensão, era descrita por ele como sendo indivisíveis e eternas. Para ele, apenas Deus poderia criar ou destruir as mônadas. As mônadas possuíam diferenças entre si, sendo que algumas formavam a alma dos animais e outras as do espírito humano. As primeiras possuíam uma espécie de memória, enquanto que as segundas eram dotadas de razão lógica. Diferenciava as mônadas do corpo material das mônadas da alma, afirmando que as do corpo seguiam leis mecânicas, e as da alma leis reflexivas. Nessa perspectiva, as mônadas possuíam algumas semelhanças com os átomos, sendo que as mônadas se relacionavam com o plano metafísico, enquanto que os átomos estavam associados aos fenômenos físicos. Desse ponto de vista, em outros termos, as mônadas seriam uma espécie átomos espirituais. Assim sendo, ele exprimia: “encontro os verdadeiros princípios das coisas nas unidades de substância que este sistema introduz, e na sua harmonia preestabelecida pela substância primitiva”.

Filosofia da Matemática

Construiu uma sólida relação entre a filosofia e a matemática, sistematizando uma analogia entre essas duas áreas, formulando através do pensamento lógico um conceito de filosofia do infinito e filosofia universal. Buscou reduzir conceitos mais complexos a uma categoria de ideias mais simples, desenvolvendo combinações entre as classes uniformes até as agrupações mais estruturadas. Esse sistema ficou conhecido como a “álgebra do pensamento”, pois sistematizava a noção de matematização lógica dos princípios. A ideia de razão descrita pelo homem seria formada pela relação lógica desses princípios que eram organizadas, por meio da matemática. Após agrupar e classificar os vários signos conceituais seria possível determinar, por meio da lógica, uma “caracterização universal” do elemento estudado.

Desenvolveu algumas áreas da Matemática como o cálculo integral e o cálculo diferencial. Sistematizou partes da lógica moderna que serviu de base para a linguagem de programação. Juntamente a isso, contribuiu para o aperfeiçoamento da computação ao descrever princípios da análise combinatória e teorias a respeito da notação binária. Aperfeiçoou a noção de conhecimento relacionada às funções matemáticas. Criou um modelo de calculadora que ficou conhecida, na época, como “a máquina de calcular”. Atuando como engenheiro, Leibniz projetou e aprimorou diversos outros tipos de máquinas.

Filosofia da Física.

Foi também um enorme colaborador para as teorias da física moderna, sendo um dos desenvolvedores da estática e da dinâmica dos corpos, ramos que se preocupam com o movimento dos objetos e as forças que agem sobre eles. Contribuiu na definição da ideia do conceito de energia cinética e nas teorias ondulatórias da luz. Em um argumento, sobre as ideias de Isaac Newton, Leibniz propôs que o tempo e o espaço eram relativos, esse fato serviu como base para a teoria da relatividade geral e especial. Com isso, ele antecipou muitas ideias da física moderna, ao introduzir na dinâmica dos corpos, o conceito de espaço relativo, enquanto Newton defendia a ideia de que o espaço era absoluto, para Leibniz, não só o espaço, mas também o tempo e o movimento eram na verdade relativos. Enfatizava que nenhum corpo poderia entrar em movimento de forma natural, necessitando que um segundo corpo iniciasse uma força impulsionadora sobre o primeiro. Muitos anos mais tarde, na descoberta das partículas subatômicas e no desenvolvimento da mecânica quântica, as especulações e percepções de Leibniz antecederam muitos cientistas, como Einstein, mas suas ideias não faziam sentido até o momento e foram revistas após o surgimento do estudo desses ramos.

Filosofia Sapiencial

+ “Os fatos fazem os homens”

+ “A natureza não realiza saltos”.

+ “O mundo é o cálculo de Deus”.

+ “Não é tempo que perdemos, é vida”

+ “Porque existe algo em vez de nada?”

+ “Acaso é quando ignoramos as causas físicas”.

+ “A educação pode tudo: ela faz dançar os ursos”.

+ “Para o espírito a claridade, para a matéria a utilidade”.

+ “Amar é encontrar na felicidade do outro a própria felicidade”

+ “Mais importante que as invenções é como foram inventadas”.

+ “Temos melhor opinião sobre as coisas que não conhecemos”.

+ "Enquanto Deus calcula e exerce o seu pensamento, o mundo se faz."

+ “A harmonia universal é o invariável a que convergem todas as variações”.

+ “Cada substância singular exprime todo o universo à sua própria maneira”.

+ “É necessário abranger outras concepções filosóficas naquilo que se acha de melhor”.

+ "Nada acontece sem que haja uma razão suficiente para ser assim e não de outro modo."

+ “É indigno do homem perder seu tempo com cálculos que as máquinas podem fazer”.

+ “Amar é ser levado a ter prazer na perfeição, no bem, ou na felicidade do objeto amado.”

+ “O princípio de razão suficiente significa que nada acontece sem que haja uma razão explicativa”.

+ “Deus criou um mundo que é ao mesmo tempo o mais simples em hipótese e o mais rico em fenômenos”.

+ “O valor existencial do indivíduo, que não deve ser explicado pela matéria simplesmente ou pela forma tão pouco, mas pelo seu completo ser”.

+ “Portanto, a felicidade consistirá no estado de espírito o mais harmônico possível. A natureza do espírito é pensar; a harmonia do espírito consistirá, pois, em pensar a harmonia; e a máxima harmonia ou felicidade do espírito consistirá na concentração da harmonia universal, quer dizer, de Deus, no espírito”.

Fatos e Curiosidades:

Leibniz ingressou na universidade de Leipzig para estudar direito, porém a universidade recusou seu pedido para cursar o doutorado, pois afirmava que ele ainda era muito jovem. Sendo assim, ele deixou a universidade de Leipzig e nunca mais voltou, ingressando, logo em seguida, na universidade de Nuremberg, onde obteve o seu doutorado.

Obras:

A Teodiceia; Discurso de metafísica; Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano; Princípios da Natureza Humana; Sobre a arte da combinação; Sobre casos perplexos; Comunicação das Substâncias; Princípios da Monadologia; Discurso sobre a Teologia Natural dos Chineses.

Fontes:

ANDRÉ, Fontes. Leibniz: introdução e lógica. Site: Justiça e Cidadania. Rio de Janeiro: Editora JC, 2006.

BONNEAU, Cristiano. A Monânda e o Mundo em Leibniz. Tese de Mestrado. João Pessoa: UFPB, 2006.   

BOYER, Carl. História da Matemática. São Paulo: Editora Blucher, 2012.

BRÉHIER, Émile. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

CARDOSO, Adelino. Leibniz segundo a expressão. Lisboa: Colibri,1992.

DELLAVOLPE, Galvano.  A Lógica como Ciência Histórica. Lisboa; Edições 70, 1984.

LEIBNIZ. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1980.

LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

REALE, Giovani. História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 2006.

ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna.  São Paulo: Editora Loyola, 1999.

RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

domingo, 29 de outubro de 2023

Píndaro de Cinoscéfalos

Píndaro de Cinoscéfalos – (518 a 440) a.C   

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega que se utilizou da literatura poética para escrever sua obra. Pode ser enquadrado na chamada filosofia estética ou filosofia da arte. Era considerado um proeminente poeta lírico e sua obra é tida como um clássico da História da Literatura. Transcorreu sua obra-prima por um viés chamado de lirismo grego. Teria sido afamado, em seu tempo, com o título de o “príncipe dos poetas”. Foi considerado o autor da célebre frase: "Homem, torna-te quem tu és". Estudou as áreas da Poesia, Música e Escrita na cidade de Atenas. Especula-se que tenha escrito em torno de 17 livros, mas apenas quatro sobreviveram ao tempo. Visto por muitos como uma mistura de profeta com poeta, ele era considerado um exímio tocador de flautas. Iniciou seus estudos musicais na cidade de Delfos, tendo como mestres Agatides e Apolodoro. Posteriormente, enveredou por uma linha mais artística, estudando poesia na cidade de Atenas. Escreveu sua obra em formato de hinos, odes, cantos, elogios, ditirambos, epinícios e lamentos fúnebres. A escrita desenvolvida por ele já era vista, em seu tempo, como sendo ornada de uma linguagem primorosa e inovadora. Seu pai era um aristocrata conhecido pelo nome de Daífanto. Nasceu por volta de 518 a.C, em Cinoscéfalos, região de Tebas e faleceu em 440 a.C, na cidade de Argos.

Filosofia da Arte

Era um grande defensor do renascimento da cultura grega. Pertencia à aristocracia, por isso seus escritos defendiam uma visão de mundo relacionado à sua classe social. Sua obra tinha como objetivo principal enaltecer os atletas vencedores dos jogos olímpicos e exprimir conhecimentos da mitologia grega, dessa forma, seu trabalho cantava a glória dos vencedores. Sua poesia tinha a missão de tornar os atletas vencedores imortais. Nesse sentido, a poesia funcionava como um veículo de memória dos feitos heroicos. Mencionava heróis mortos nas guerras e chegou a escrever a poética frase em homenagem a um deles: "no fundo da terra seu coração escuta". Vivia exercendo seu trabalho de forma itinerante, recitando seus poemas através da tradição oral e da lírica coral. Figura-se na lista dos noves poetas líricos descritos pelos eruditos alexandrinos.

Filosofia Literária

Sua obra textual e poética pode ser enquadrada no ramo da filosofia denominada de estética literária. Utilizou-se da poesia como um instrumento de educação na sociedade ateniense. Píndaro foi considerado um dos primeiros poetas que refletiram a respeito da natureza da poesia e sobre o papel do poeta. Suas odes eram caracterizadas por três elementos fundamentais: elogio ao vencedor, fato mítico e conselhos morais. Dessa forma, ele valorizava um sentimento de honra e elevação moral que eram aprimorados pela emoção lírica. Retratava temas relacionados à mitologia grega. Sua linguagem trabalhava elementos elípticos nas frases, onde ele omitia alguns termos, deixando a ideia subentendida. Esse formato era algo inovador em seu tempo, tornando a linguagem mais refinada. Utilizou-se principalmente da escrita dórica em sua produção, tendo ensaiado algumas composições em linguagem eólica e homérica.

Filosofia Teopolítica

Era contrário ao estilo de democracia realizada em Atenas, desse modo, defendia um conservadorismo que apoiava a aristocracia, zelando pela ordem pública, por isso era adepto da chamada “eunomia”, o mesmo que, “boa ordem”. Utilizava-se de metáforas para misturar elementos singulares da religião com a nobreza. Misturava elementos religiosos com concepções morais em suas odes. Defendia a religião tradicional que era difundida em Tebas. Seu primeiro poema advertia aos homens sobre os perigos da guerra e exaltações da paz. Seus textos também serviram de apoio político no sentido de legitimar as conquistas e auxiliar no processo de colonização dos locais ocupados. Era adepto da metempsicose, pois acreditava na justiça e também que a justiça após a morte traria como prêmio, punições e recompensas.

Filosofia Sapiencial

+ “O que é Deus? É tudo".

+ "Homem, torna-te quem tu és".

+ “É um dia, um dia só, a vida humana”.

+ “O homem é o sonho de uma sombra”.

+ "A resignação é um suicídio cotidiano"

+ “A força, com o tempo, abate o arrogante”

+ “As palavras vivem mais do que os feitos”.

+ “O silêncio é a maior sabedoria do homem”.

+ “O dia precedente é o mestre do dia seguinte”

+ “A Serenidade, é a filha benévola da Justiça.”

+ “O melhor médico é aquele que mais adverte o paciente.”

+ “Muita vezes se diz melhor calando do que falando em demasia”.

+ “Aqueles que seguem por caminhos sinuosos, jamais serão felizes”.

+ “Minha alma não aspira à vida imortal, mas esgota o campo do possível”

+ “Não é possível com mente mortal, indagar os pensamentos dos deuses”

+ “O sucesso, para quem é um grande batalhador, apaga o esforço da luta”.

+ "Muitas vezes o silêncio é a coisa mais inteligente que um homem pode ouvir."

+ “Não é bom que toda a verdade revele tranquilamente a sua essência; e muitas vezes o silêncio é para o homem a melhor decisão”.

+ “Não banho as minhas palavras na mentira; a ação é o controle de todo o homem”.

+ “Não busque a imortalidade na vida; mas esgote todas as possibilidades que estão ao seu alcance”.

+ “Nada neste mundo se oculta dos olhos de Deus: a sua providência estende-se a tudo e por tudo”.

+ “Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente”.

+ “A glória dos mortais num só dia cresce, mas basta um só dia, contrário e funesto, para que o destino, impiedoso, num gesto a lance por terra e ela, súbito, fenece”.

+ “A glória só tem pleno valor quando é inata. Quem só tem o que aprendeu é um homem obscuro e indeciso, jamais caminha com passo firme. Apenas esquadrinha com imaturo espírito mil coisas altas”.

Fatos e Curiosidades:

Quando Alexandre, o Grande, demoliu Tebas em 335 a.C, como punição por sua resistência ao expansionismo macedônio, ele ordenou que a casa  de Píndaro fosse deixada intacta em agradecimento aos versos elogiando seu ancestral, Alexandre I da Macedônia.

A emblemática frase “Homem torna-te quem tu és”, citada por Píndaro, influenciou consideravelmente vários filósofos ao longo da história, tendo ganhando mais destaque na filosofia de Nietzsche.

Obras:

Epinícios ou odes triunfais: Odes píticas, Odes olímpicas, Odes neméias, Odes ístimicas; Prosódia; Partenéia; Cantos de Coroação; Cantos a Baco; Dafnefórica; Peãs; Hiporquemas; Hinos; Ditirambos; Escólios; Encômios; Trenos; Dramas trágicos; Epigramas épicos;  Exortações em prosa  para  os gregos.

Fontes:

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Editora Edipro, 2009.

CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 2008.

GENTILI, Bruno. Poesia Pública na Grécia Antiga. Bari: Laterza, 1984.

HESÍODO. Teogonia. Trad. Christian Werner. São Paulo: Hedra, 2013.

HOLDERLIN, Friedrich. Fragmentos de Píndaro. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.

LESKY, Albin. História da literatura grega. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

NIETZSCHE, Friedrich. Filosofia na Idade Trágica dos Gregos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

ORTEGA, Afonso. Píndaro: Odes e Fragmentos. Madrid: Editora Gredos, 1984.

ROCHA, Roosevelt. . Píndaro: Epinícios e fragmentos. Curitiba: Kotter, 2018.

SANTOS, Rubens Dos.  A sétima sinfonia de Píndaro: Ensaios de Literatura e Filologia. Vol. 05. Periódicos. UFMG, 1985.

PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Sete odes de Píndaro. Porto: Editora Porto, 2003.

domingo, 22 de outubro de 2023

Pápias de Hierápolis

Pápias de Hierápolis – (70 a 140) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo teológico que teria vivido no período de transição da filosofia antiga para a filosofia medieval. Desenvolveu uma teoria chamada de “milenarismo”. Era bispo de Hierápolis, localidade da antiga Frígia, na atual Turquia. Faz parte da lista dos chamados padres apostólicos. A igreja católica o nomeou como santo, tendo ficado conhecido como o “São Pápias”. Acredita-se que seu nome seria uma variação do verbo papear, isto é, o mesmo que gorjear. Assim como outros cristãos do seu tempo, ele também sofreu perseguição e foi martirizado, tendo sido um grande amigo e discípulo de Policarpo de Esmirna. Também conviveu com outros importantes expoentes da filosofia cristã, como o Inácio de Antioquia, o presbítero João de Éfeso e o pensador Aristion. Escreveu sua obra em formato de “logias”, que eram “ditos populares” narrados pela tradição oral. Existem poucas informações a seu respeito, pois sua obra foi perdida no tempo, restando somente poucos fragmentos isolados que foram preservados por alguns autores e comentários referenciados, sobre sua vida, que foram descritos, por outros pensadores. Pápias floresceu, aproximadamente, entre os anos (70 a 140) d.C.

Filosofia Teológica

Sua obra é considerada muito importante para a compreensão do pensamento primitivo da Igreja e também para entender as origens dos evangelhos. Foi um dos pensadores considerados pioneiros nos estudos e pesquisas a respeito da origem do cristianismo. As teorias descritas por ele foram influenciadas apenas pelos evangelhos de Marcos e de Mateus, não havendo referências ou citações dos outros evangelhos escritos. Seu sistema de pensamento era denominado como sendo de cunho pastoral e escatológico, pois defendia uma doutrina baseada no livro do Apocalipse, em que afirmava que o messias voltaria a Terra para estabelecer um reinado de mil anos, por isso essa corrente ficou conhecida como “ideias milenaristas”. Sua doutrina estabelecia uma relação entre os sete dias da criação e os sete dias da redenção.

Nessa época, ao contrário do que muitos pensam, não havia somente apóstolos, mas também discípulos que seguiam o mestre, desse modo, muitos fatos narrados, em outras literaturas ou textos considerados apócrifos, foram, provavelmente, relatados de forma oral, por discípulos que conviveram naquele meio. Irineu de Lião, por exemplo, chegou a afirmar que Pápias não recebeu ensinamentos dos santos apóstolos, mas sim de pessoas que conviveram com os apóstolos. Alegava que Marcos tinha como propósito não omitir os ensinamentos de Cristo ou falsificá-los, por isso ele tinha muito cuidado na compilação e citação dos fatos que lhe eram narrados.

Filosofia Eclesiológica

Elaborou várias teorias bíblicas que são consideradas apócrifas pela igreja católica, como uma lenda que fala sobre Judas, que após a morte de Cristo, Judas passou a viver moribundo e combalido, como forma de castigo, posteriormente, ao tentar o suicídio, Pápias disse que Judas não morreu enforcado, mas sim de uma queda, pois a corda teria se partido, tendo Judas caído de cabeça e suas entranhas ficaram expostas, depois disso, uma carruagem passou e esmagou partes de suas entranhas.

Contava sobre alguns milagres que teria ouvido de pessoas que conviveram com os apóstolos. Narrou um episódio envolvendo um homem chamado Justus Barsabas, em que este, ao ser desafiado por descrentes, teria bebido veneno de uma serpente, em nome de cristo, tendo sido protegido e nada acontecido, deixando os incrédulos surpresos. Relatou também a respeito de um milagre que ele teria ouvido de uma das filhas de Felipe, que era um discípulo evangelista, em que descreve uma pessoa morta sendo ressuscitada, possivelmente essa pessoa seria a mãe de Manaimo. Discorreu sobre a fertilidade da terra e pensamentos que relacionavam ideias judaicas e cristãs. Declarava que Jesus não teve irmãos carnais, pois estes teriam sido filhos de outra Maria.

Filosofia Sapiencial

+ “A verdade na tradição oral é palavra viva e permanente”.

+ “Não tenho prazer, como a maioria das pessoas, em quem fala muito, mas em quem ensina a verdade”.

+ "Chegarão os dias em que as videiras crescerão, cada uma com dez mil trepadeiras, e em cada videira dez mil galhos, e em cada galho dez mil botões, e em cada botão dez mil cachos, e em cada cacho dez mil sementes, e cada o grão prensado dará vinte e cinco metros de vinho. E quando um dos santos arranca um cacho, outro bando clama a ele: Eu estou melhor, arranca-me e, através de mim, bendiga ao Senhor! Da mesma forma que o grão de trigo produzirá dez mil espigas, cada espiga terá dez mil grãos e cada grão dará cinco chenices de farinha fina; e será o mesmo, mantendo todas as proporções, com os outros frutos, com as sementes e com a grama. E todos os animais, usando este alimento que receberão da terra, viverão em paz e harmonia uns com os outros e estarão totalmente sujeitos aos homens” 

Fatos e Curiosidades

Especula-se que o João descrito, ao qual Pápias teria extraído informações sobre a vida de Cristo, não seria o João evangelista, mas sim João o presbítero, que também era conhecido como “João, o ancião”. As correntes antigas divergem sobre esse fato, porém a corrente majoritária supõe que Pápias se referia ao João ancião. Contudo, existe uma linha intermediária de pensamento que defende a tese de que os dois Joãos seriam a mesma pessoa.

Obras:

Exposição e interpretação das palavras do Senhor

Fontes:

BERTRAND, Dominique. Os padres Apostólicos. Col. Sabedoria Cristã, Brasília: CERF, 2001.

BIBLIOTHECA Patrística. Os Fragmentos de Pápias. Site: Suma Teológica. Internet: Publicado em 2010, Acesso em 2023.

BUENO, Ruiz. Padres Apostólicos. Madrid: Editora. BAC bilíngue, 1950.

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002.

CODEX, Alexandrinus. Enciclopédia Católica. Domínio Público: British Library, 1913.

HALL, Edward Henry. Pápias e seus contemporâneos: um estudo do pensamento religioso no século II. Cambridge: Livros Gardners, 2007.

IRINEU, Lião de. Contra as Heresias. São Paulo: Editora Paulus, 2021.

JUSTINO Mártir. Diálogo com Trifão. Col. Pais da Igreja. Brasília: Repositório Cristão, 2022.

KNIGHT, Kevin. Dos Padres Ante-Nicenos. Buffalo: Christian Literature Publishing, 1885.

ROMANO, Clemente. Cartas aos Coríntios. San Juan: Biblioteca Patrística, acesso 2023.

domingo, 8 de outubro de 2023

Gilgamesh de Uruk

Gilgamesh de Uruk – (2750 a 2600) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade sumeriana que escreveu um famoso poema épico, conhecido como “A Epopeia de Gilgamesh”. Essa obra é considerada um clássico da literatura mundial, e descrita também como sendo uma das mais antigas da humanidade. Foi redigida inicialmente na linguagem sumérica, contendo caracteres cuneiformes. Posteriormente passou a ser traduzida para outras línguas, como o hitita, hurrita, elamita e semítico-acadiana. Gilgamesh ficou afamado como sendo um dos reis mais conceituados da antiga Mesopotâmia. Seu nome tinha um significado próximo ao conceito de “o velho que rejuvenesce”. Era filho de um sacerdote conhecido pelo nome de Kullab-Lugalbanda com uma semideusa chamada Ninsuna. As deidades egípcias, descritas nos tempos antigos, eram vistas como uma espécie de rei-herói que possuíam algum poder sobrenatural. Ele teria sido o quinto rei da cidade de Uruk, na antiga Suméria, durante a dinastia de Ur, por volta de (2750 a 2600) a.C. Fala-se que seu reinado teria durado cerca de 126 anos. No prólogo de sua obra está escrito o seguinte adágio: “ele veio de uma estrada distante, estava cansado e encontrou a paz”.

Filosofia Mítica

Segundo as lendas míticas da antiguidade, ele teria recebido uma força descomunal da deidade tempestade, que era também conhecida por Adad. Tendo adquirido grande beleza de Samash, uma espécie de semideus do Sol. O rei de Uruk tinha se entregado aos vícios mundanos e adquirido um caráter tirânico, o povo, então solicitou ajuda dos céus para que Gilgamesh fosse punido. Uma potência divina conhecida por Aruru teria enviado, outro herói chamado Enkidu, que foi feito do barro, para derrotar Gilgamesh, porém depois de lutarem, os dois se tornaram grandes amigos e partiram pelo mundo a procura de aventuras. Após vencerem várias peripécias, outra potestade de nome Ishtar ou Inana, ficou inconformada com as vitórias de Gilgamesh, ela, então, decidiu lançar uma maldição contra Gilgamesh, com isso seu amigo Enkidu acabou sendo morto.

Logo em seguida a morte de seu amigo Enkidu, Gilgamesh inicia outra jornada em busca de um herói chamado “Utnapishtim” que teria sobrevivido a um dilúvio e possuía o segredo da vida eterna. Depois de encontrar a planta que possuía o elixir da eternidade, Gilgamesh se distrai e tem a planta usurpada por uma serpente que engole o vegetal. A serpente retira sua velha pele e foge. Posteriormente a tudo isso, Gilgamesh aceita suas limitações frente ao acaso e os desfortúnios da vida, mas considera que tudo isso lhe serviu de lição, pois agora acredita que está mais sábio, devido às experiências de vida que acumulou entre vitórias e derrotas.

Filosofia Esotérica

A obra retrata um misto de aventura, moralidade e tragédia. Nela o personagem descrito possui características de um semideus com traços humanos. Carrega inicialmente uma personalidade opressora, subjugando a população aos seus interesses, era descrito como um jovem rebelde, por isso teria despertado a desafeição de vários inimigos que passaram a conspirar contra ele. Posteriormente ele se tornou menos agressivo, devido ter se apaixonado por uma mulher, o amor transformou seu caráter mais irascível, em uma pessoa mais branda. A partir daí, ele iniciou uma jornada espiritual em busca da imortalidade, passando a ser visto como “o sábio que viu os mistérios e conheceu coisas secretas”.

A visão esotérica retrata o texto da epopeia mostrando questões fundamentais como o sentido da vida e as incertezas do destino, os quais permeiam a alma humana, desde os primórdios da civilização. Aborda de maneira alegórica os temas relacionados aos vícios e virtudes do homem, como traições, inveja, felicidade, espiritualidade, amor, sexo, amizade, força, poder, coragem, desejo e morte. A obra é vista nesse sistema de pensamento como uma metáfora que trata a respeito da jornada do herói em busca da imortalidade. Explicando que o homem ao sair da sua zona de conforto e enfrentar os desafios da vida, mesmo que não alcance o que desejava, estará, ao final da jornada, mais forte, será uma pessoa melhor, mais autêntica e mais galante.

Várias representações são mistificadas para expressar as reflexões simbólicas que o texto traz. Essa figuração mostra a transformação que alma humana passa, ao longo da vida, após o indivíduo buscar o autoconhecimento e encontrar respostas dentro do seu “eu” interior. Nesse ponto, em dado momento, um dos personagens aclara a seguinte sentença: “Que seja seu próprio reflexo, seu segundo eu”; Aponta também os perigos que homem passa quando se entrega aos vícios e paixões. Gilgamesh buscou alcançar a glória com a finalidade de se tornar imortal, apesar disso se deparou com a inescapável derrota, que lhe ensinou a entender que “os homens passam, mas as obras ficam”. 

Filosofia da História

A Epopeia era composta por 12 tábuas de argila e cada qual continha cerca de 300 versos. Elas foram encontras e preservadas, após uma escavação realizada na região de Nínive, no Oriente Médio. O arqueólogo Austen Harry Layard foi o principal responsável pelas escavações onde foram localizadas as tábuas, por volta de 1890, do século XIX. O texto teria sido publicado pela primeira vez, em 1928, com transliteração do ilustre arqueólogo britânico Campbell Thompson. Ajudaram também no processo de decodificação, os peritos Henry Rawlinson e George Smith, que decifraram as tábuas e encontraram uma narrativa a respeito do dilúvio universal.

Esse documento foi muito importante para a compreensão da cultura desenvolvida na região da Suméria, contendo informações sobre as estruturas de construção, muralhas, templos e o mercado, tudo isso teria sido demonstrado pelos estudos arqueológicos. Os escribas da antiguidade utilizavam o épico como texto para treinamento da escrita. A obra teria desaparecido após um grande incêndio que aconteceu na cidade de Nínive, esse acidente destruiu a principal biblioteca que continha a epopeia. Ela parece ter sido bastante conhecida na região onde teve origem.

Filosofia Sapiencial

+ “Tudo termina onde tudo começa”

+ “Os homens passam, mas as obras ficam”

+ “Busque ser um bom pastor para seu povo”

+ “Sou aquele que viu a profundeza do abismo”

+ “Embora os indivíduos sejam mortais, a humanidade é eterna”

+ “É tolice se preocupar com a eternidade, isso é desperdício de tempo, pois mata a vida aos poucos”.

+ "Quem por você convocará os deuses a uma assembleia, para que possa encontrar a vida que busca?"

+ “Vou apresentar ao mundo aquele que tudo viu, conheceu a terra inteira, penetrou todas as coisas e tudo explorou. Tudo que estava escondido”.

+ “A vida que você procura nunca encontrará. Quando os deuses criaram o homem, reservaram-lhe a morte, porém mantiveram a vida para sua própria posse.”

+ "Você nada mais é do que um braseiro que sai no frio; uma porta dos fundos que não impede a explosão nem o furacão; Calçado que aperta o pé de seu dono! Qual amante você sempre amou?"

+ "Quero ao país dar a conhecer aquele que tudo viu, que conheceu os mares, que soube todas as coisas, que analisou o conjunto de todos os mistérios, Gilgamesh, o sábio universal que conheceu todas as coisas: ele viu as coisas secretas, trouxe o que estava escondido, e transmitiu-nos o saber mais antigo que o Dilúvio".

+ “O destino decretado por Enlil da montanha, o pai dos deuses foi cumprido. Os heróis e os sábios, como a lua nova, têm seus períodos de ascensão e declínio. Foi-te dado um trono, reinar era teu destino; a vida eterna não era o teu destino. Assim não fiques triste, não te atormentes. Ele te concedeu supremacia sobre o povo, vitória nas batalhas. Mas não abuses deste poder; procede com justiça com teus servos no palácio, faze justiça ante a face do Sol”.

 

Fontes:

ARAÚJO, Emanuel. A literatura no Egito faraônico. Brasília: UnB, 2000.

BAPTISTA, Sylvia. Mello. O Arquétipo do caminho: Guilgamesh e Parsifal de mãos dadas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

CARREIRA, José Nunes. Gilgamesh em veste hitita. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013.

CORREA, Maria Isabelle Palma Gomes. A água os deuses e o poder na Mesopotâmia: Reflexões sobre os símbolos aquáticos na versão ninivita do épicos de Gilgamesh. Tese de Mestrado. Curitiba: UFPA, 2003.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1997.

DURANT, Will. The Story of Civilization: Our Oriental History, 1935.

KLUGER, Rivkah Scharf. O significado arquetípico de Gilgamesh: um moderno herói antigo. São Paulo: Paulus, 1999.

LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: A invenção da cidade. Rio de Janeiro: Editora Imago, 2003.

OLIVEIRA, Carlos Daudt. A Epopeia de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANDARS, Nancy. Katharine. A Epopeia de Gilgamesh. Trad. Carlos Daudt de Oliveira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

sábado, 30 de setembro de 2023

Ferreira França

Ferreira França – (1809 a 1857) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Eduardo Ferreira França foi um filósofo brasileiro ligado as correntes de pensamentos da “filosofia da mente”. Sua obra é vista como umas das primeiras investigações psicológicas das Américas. Desse modo, ele era considerado um dos pioneiros da Psicologia no Brasil. Tinha como tema central de sua abordagem a chamada “psicologia experimental”. Encaminhou-se inicialmente pelas ideias do materialismo, migrando posteriormente para as concepções do espiritualismo. Exerceu grande importância nas ciências médicas, doutorando-se em Medicina pela Faculdade de Paris, em 1834, com a tese intitulada de “Ensaio sobre as relações da influência alimentar na moral”. Além da Medicina, atuou também em várias outras áreas, como Química, Literatura, Mineralogia, Filosofia e Política. Tendo relacionado os estudos da mente humana com as ciências da filosofia, fisiologia, frenologia, psicologia e política social. Era filho do senhor Antônio Ferreira França com a dona Ana da Costa Barradas. Nasceu na cidade de Salvador, em 1809 e faleceu por volta de 1857, em alto mar. Relata-se que seu navio teria afundado a caminho da Europa.

Filosofia da Mente

Abordou temas morais relacionando o ecletismo com a psicologia, tendo se destacado, por uma linha de ideias denominada de “ética espiritualista”. Segundo contam, ele desejava encontrar elementos observáveis que pudessem ser aptos a explicar o comportamento moral das pessoas. Em 1854 publicou o livro Investigações de Psicologia. Tal livro é identificado por historiadores da psicologia como sendo um dos mais antigos das Américas. Ensaiou alguns entendimentos a respeito da “motilidade”, isto é, a capacidade de movimentação da alma humana e como a alma exerce ações sobre o corpo. Dissertou acerca dos fenômenos da consciência, dos atributos intelectuais, dos instintos humanos e das atividades volitivas, direcionando esses saberes para as questões da influência do ambiente sobre o homem.

Para a ele a concepção de moral se formava a partir de uma série de funções da mente, o resultado seria o produto equipolente das faculdades intelectivas com as propriedades emocionais. Com isso, existia, segundo ele, uma razão proporcional desses fatores, desse modo, a moral dependeria do grau de assertividade de cada fator limitante. Nesse contexto, ele explicava que os limites da faculdade mental tenderiam a aumentar ou diminuir, conforme se estendessem ou reduzissem os fatores da emoção humana. Nessa perspectiva, ele descrevia que o processo de educação do homem poderia transformar a moral humana, tanto de forma positiva, como também de maneira negativa.

Filosofia Naturalista

Teve grande influência do pensamento naturalista, descrevendo pontos fisiológicos e biológicos da condição existencial do homem. Para Ferreira, havia um determinismo que caracterizava a condição natural do ser humano. Seu naturalismo determinista abordava uma relação interior do indivíduo com questões de ordem social, desse modo, para ele, questões como a “alimentação e a civilização” eram requisitos que justificavam as condições naturais de existência. Nesse sentido, ele destacava que os alimentos e as bebidas ingeridas pelo ser humano influenciavam na formação moral do homem. Diferenciava a influencia que os alimentos de origem animal e vegetal causavam no ser humano. Pontuando que o primeiro despertava no ser humano mais vigor e agressividade, já o segundo gerava menos vigor, produzindo um sentimento de timidez no indivíduo.

Explicava que o homem era formado por duas substâncias principais, corpo e alma, e que elas mantinham uma interação mútua. Segundo Ferreira, o homem enquanto ser material mantém um determinismo característico de sua condição animal, e que por isso, seria regulado pelas leis físicas gerais dos corpos. Porém sua alma, que estaria ligada aos princípios vitais, era responsável por dá animação ao corpo, podendo agir de maneira contraposta as leis naturais dos corpos.

Filosofia Política

Exerceu atividades políticas como deputado federal, atuando em causas ligadas a saúde pública e a medicina social. Era adepto das correntes políticas do liberalismo. Para ele, as questões naturalistas exerceriam determinadas influências na liberdade humana, por consequência, isso também afetava a vida política nas cidades. Explanava que algumas nações eram mais corajosas e cruéis que outras por conta de ingerir uma alimentação rica, apenas em carne animal. Porém os povos que mantinham uma dieta de origem somente vegetal seriam mais compassivos e supersticiosos, demonstrando uma moral fraca. Contudo, as civilizações que consumiam uma alimentação mista, isto é, de origem animal e vegetal, e ao mesmo tempo, essas possuíam todas as vantagens que os alimentos forneciam e ainda eliminavam os percalços produzidos pelas dietas que eram feitas apenas de maneira isolada.

Filosofia Sapiencial

+ “Os alimentos e as bebidas influenciam significativamente nossa moral”.

+ “Não há fenômeno sem uma mudança, não há mudança sem uma causa”

+ “Não é possível ser filósofo sem ser médico nem ser médico sem ser filósofo”.

+ “O estudo do homem moral é um dos mais interessantes e dos mais úteis que existem”.

+ “Os fenômenos que percebemos diariamente são aqueles que mais merecem nossa atenção”.

+ “As constituições não devem ser feitas em favor do poder; as constituições são sempre feitas em favor dos povos”.

+ “Observar os fenômenos da alma, classificá-los, deduzir suas leis e aplicá-las: eis em resumo o fim do estudo do espírito humano”

+ “O regime animal exclusivo produz paixões violentas e sem freio, torna os homens corajosos, independentes, mas, ao mesmo tempo, cruéis e pouco sociáveis. O regime vegetal, ao contrário, estingue o aguilhão das paixões, torna os homens doces e compassivos; mas ele gera a pusilanimidade, a escravidão, e termina muitas vezes por produzir a fraqueza e a corrupção. Todos os dois, empregados exclusivamente, são contrários ao desenvolvimento da inteligência. É então por um regime misto que o homem pode adquirir as mais belas qualidades morais, que sua inteligência pode crescer e se aperfeiçoar, que ele pode ser corajoso sem ser cruel doce sem ser escravo”.      

Obras:

Investigações de Psicologia; Influência dos pântanos sobre o homem; Ornitologia brasileira; Discursos introdutórios ao estudo de química médica; Relatório sobre o Sistema Penitenciário; Influência das emanações pútridas animais sobre o homem; Ensaio sobre a influência dos alimentos e das bebidas sobre o moral do homem.

Fontes:

ARAÚJO, Bernardo Goytacazes de. As éticas espiritualistas de Cunha Seixas e Ferreira França. Revista Estudos Filosóficos. N: 07. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco, 2011.

CALMOM, Pedro. História da literatura baiana. Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1949.

CERQUEIRA, Luiz Alberto. Filosofia brasileira: ontogênese da consciência de si. Petrópoles: Editora Vozes, 2002.

FRANCA, Leonel. Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1965.

JAIME. Jorge. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1. Petrópolis: Vozes, 1997.

LEITE, Geraldo. Eduardo Ferreira França: 114. Site: Blog Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe. Internet: Publicado em 2011. Acesso em 2023.  

MARGUTTI, Paulo. As ideias filosóficas de Eduardo Ferreira França. Porto Alegre: Editorra Fiorg, 2023.

PAIM, Antônio. Ferreira França: Investigações de Psicologia. São Paulo: EDUSP/Editorial Grijalbo, 1973.

ROMERO, Sylvio. A Filosofia no Brasil: Ensaio Crítico. Porto Alegre: Typ. de Deutsche Zeitung, 1878.

SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.