domingo, 30 de julho de 2023

Teodoro de Cirene

Teodoro de Cirene – (465 a 398) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo do período clássico da Grécia antiga pertencente à chamada escola cirenaica. Essa escola ficou conhecida também como Escola Moral de Cirene ou “Escola Hedonista”. Ele teria vivido em Cirene, na região da Líbia, e era tido como um dos principais representantes dessa escola. Inicialmente teria sofrido grande influência dos pitagóricos, tendo posteriormente desenvolvido conceitos relacionados à ética, por isso sua filosofia está relacionada com os estudos da moral. Dedicou-se principalmente as áreas da Matemática, Astronomia, Música, Filosofia e Educação. Chegou a lecionar na cidade de Atenas e conviveu com grandes filósofos da antiguidade como, por exemplo, o famoso Sócrates. Foi discípulo do filósofo Protágoras de Abdera e considerado também um dos mestres de Platão, que inclusive escreveu sobre ele, em sua obra chamada Teaetetos. Muito do que se sabe a respeito de sua vida foi escrito pelo filósofo conhecido como Teaetetos, que também teria sido seu discípulo.

Destacou-se com grande relevância nos estudos sobre os números irracionais. Escreveu uma obra chamada de: “sobre os deuses”, por isso foi apelidado de “o ateu”, tendo sido acusado de ateísmo. Sua obra foi mal compreendida na cidade de Cirene, em vista disso, ele teve que se refugiar na cidade de Atenas, mas foi reconhecido, e assim como Sócrates, condenado a beber cicuta. Retornou para a sua terra natal, e faleceu na cidade de Cirene, por volta de 398 a.C. Algumas correntes da história da filosofia tentam desvincular o Teodoro de Cirene do Teodoro Matemático, acreditando que eles sejam duas pessoas distintas e que viveram em épocas diferentes. Contudo, a maior parte da historiografia filosófica reconhece que se trata da mesma pessoa.

Filosofia Moral

Fazia uma relação da felicidade com o conhecimento e também das dores com a ignorância, em outras palavras, a alegria seria resultado da sabedoria, e o sofrimento era decorrente da ignorância. Dizia que nenhum dos prazeres ou dores era bons e nem maus. Nesse sentido, ele explicava que o objetivo da vida era a busca pelo “bem-estar” e em contrapartida o homem deveria evitar a dor. Sua teoria se aproximava um pouco dos conceitos hedonistas, em relação à ideia de que o sentimento interior de alegria e serenidade poderia despertar no homem sábio, o senso de justiça e o espírito de alegria. Pensava que para ser feliz bastava conseguir ser um "sábio" e que a alegria, a sabedoria e o senso de justiça eram suficientes para se alcançar a felicidade. Chegou a defender ideias no campo do cosmopolitismo, que era o conceito de que o homem deveria viver de acordo com as leis da natureza, sem estabelecer fronteiras geográficas entre as cidades-estados. Por conta disso, alguns teóricos afirmaram que Teodoro tinha uma veia da filosofia Cínica. Também dissertou a respeito de questões ligadas a velhice, a desvalorização da amizade e sobre o impulso das relações sexuais.

Filosofia da Matemática

Ele postulou um teorema matemático conhecido como “Espiral de Teodoro”, em que descreve um método para construir geometricamente os segmentos de comprimento, em um formato de espiral proporcional. Ficou lembrado na Matemática por sua contribuição para o desenvolvimento dos números irracionais, exercendo importantes contribuições, especialmente para a seara dos números irracionais e no que diz respeito às raízes quadradas. Segundo alguns historiadores, Teodoro teria sido um dos pioneiros nos estudos da irracionalidade das raízes dos números inteiros não-quadrados (2, 3, 5.....17). A partir do teorema de Pitágoras, ele teria desenvolvido um método novo, para provar que a raiz quadrada de dois era irracional. A existência desses números já havia sido descoberta, por outros pitagóricos, contudo, acredita-se que o método de Teodoro ajudou a consolidar novos fundamentos sobre os números incomensuráveis.

Filosofia sapiencial

+ “A felicidade pode ser alcançada com a alegria e o juízo”.

+ "São princípios da ação o prazer e a dor, que aquele dimana da sabedoria e esta da ignorância.”

+ “Ofereça os seus discursos com a maior boa vontade, “com a mão direita”, mas quanto aos ouvintes, os recebam com a mão esquerda”.

+ “Os ignorantes não aproveitam uma boa oportunidade quando ela se apresenta. Mas as pessoas sensatas agem como as abelhas, que extraem mel, do tomilho, planta que é seca e azeda, assim do mesmo modo, de forma similar, as pessoas sensatas muitas vezes obtêm para si algo de útil e aprazível das mais situações adversas”.


Fatos e Curiosidades:

Diógenes Laercio relata, que certa vez, o filósofo Estilpo teria questionado Teodoro lhe indagando: -- Teodoro!  No seu nome “Teo”, significa Deus, correto. Logo em seguida, Teodoro teria respondido: -- Sim! Estilpo, está correto. Então, em seguida, o filósofo Estilpo adverte a seguinte conclusão.... Se teu nome é Teodoro, e teu nome quer dizer deus, logo, tu és deus? Nessa hora, Teodoro refuta com um riso irônico: “Meu querido, tu demonstrarias por este raciocínio, que tu és uma gralha ou um outro animal do gênero”.

 

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2012.

BARNES, Jonathan. Filósofos pré-socráticos. Trad. Julio, Fischer. São Paulo: Editora Martins Fontes. 1997.

CÍCERO, Marcus Tullios. A academia do Cícero. Trad. Harris Rackham. Attalus. 1933.

EVES, Howard. Introdução a História da Matemática. São Paulo: Editora Unicamp, 2011.

JÂMBLICO. Suma Pitagórica. Milão: Bompiani, 2006.

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2ª ed. Brasília: UnB, 2008.

PLATÃO. Diálogo: Crátilo e Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 1988.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Gregos, 2010.

SIMPLICÍO. Física.  Trad. Alexandre Costa. Col. Anais de filosofia clássica. Vol. 3. N; 06. UFRJ. 2009.

ZINGANO, Marco. Estudos de Ética Antiga. São Paulo: Editora Discurso Editorial, 2007.

Hermótimo de Clazômenas

Hermótimo de Clazômenas – (610 a 570) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo da antiguidade grega que viveu no período pré-socrático, durante a época dos primeiros filósofos gregos. Algumas correntes da história da filosofia classificavam esses filósofos, que antecederam os primeiros pré-socráticos, como sendo os “filósofos hiperbóreos”. Enquadra-se no período da filosofia grega, em que estava se iniciando a transição do pensamento mítico para o pensamento racional. Trabalhou, em seu sistema de pensamento, tanto ideias ligadas a filosofia da mente, bem como também, ao xamanismo, mantendo certa relação com os conceitos pitagóricos. Acredita-se que Hermótimo teria sido um dos mestres de Anaxágoras e que tenha convivido com outros notáveis pensadores de seu tempo. Considerado um filósofo lendário, alguns dos discípulos de Pitágoras chegaram a afirmar que ele seria uma reencarnação de Hermótimo. O próprio Pitágoras também teria confirmado essas alegações, ao dizer que se lembrava de suas vidas passadas, tendo recordado e reconhecido antigos objetos de outras vidas.

Não se sabe ao certo a data exata de seu nascimento e de sua morte, o que se sabe é que ele floresceu por volta de 610 a.C, tendo falecido após realizar um transe, em que sua alma viajava no tempo, fora do corpo, porém alguns inimigos aproveitaram sua vulnerabilidade e atearam fogo no seu corpo adormecido. Segundo relatos, em um fatídico dia, após entrar em transe e realizar uma viajem astral, a sua esposa teria cometido uma traição, devido uma intriga pessoal entre o casal, permitindo que os algozes de Hermótimo queimasse seu corpo, enquanto o mesmo se encontrava em estado letárgico. Por conta de tal fato, sua alma teria retornado tarde demais para seu corpo inconsciente, provocando o seu falecimento. Posteriormente, os habitantes da cidade ergueram um templo para Hermótimo, exprimindo uma homenagem. As mulheres ficaram proibidas de frequentar o templo, simbolizando a marca da traição que teria sido realizada por sua esposa.

Filosofia da Mente

Estabeleceu como “arché” do universo a ideia de uma mente transformadora, ou seja, uma razão, que seria a força propulsora e geradora das mudanças na matéria, em outras palavras, defendia a ideia de que uma espécie de inteligência ordenadora teria dado causa originária a tudo. Ele trabalhava o conceito de mudança das coisas, através da mente, isto é, a mente seria um regente do cosmos, porém a essência da matéria permanecia estática. Nesse sentido, sua teoria é considerada dual, pois estabelecia um princípio material e outro ativo, como sendo as causas primeiras que davam origem a tudo no universo. As teorias de Hermótimo antecederam os pensamentos que tinham a mesma similitude, porém o seu discípulo Anáxagoras foi o responsável por sistematizar essas concepções com mais fundamentação.

Acreditava na ideia de que a alma seria capaz de viajar fora do corpo durante o sono, desse modo se supõe que ele era considerado um praticante da letargia, o mesmo que, uma prática multisciente ou parapsíquica, tida como variante da meditação, esse fenômeno era muito experienciado pelos primeiros pensadores xamanicos dessa época. Segundo o historiador Plinio (1991), as chamadas “viagens extáticas” tinham como principal objetivo, se conectar com o mundo do além, para aquisição do poder de cura junto aos deuses, esse êxtase teria as mesmas características e aspectos do transe xamânico. Nas suas viagens, o filósofo da mente relatava o que viveu, em outras vidas passadas, tendo revelado fatos curiosos sobre antigas calamidades, desastres e terremotos. Enquanto alguns dos pensadores dessa época relatavam, apenas acontecimentos do passado, Hermótimo julgava também poder avançar no tempo e beber da fonte do conhecimento futuro. Segundo os doxógrafos, sua alma viajava por muito tempo e para lugares distantes, observando o passado e profetizando o futuro.

 

Filosofia Sapiencial

+ “Qualquer um pode segurar o leme quando o mar está calmo”.

+ "A raça humana está em uma melhor situação quando possui o mais alto grau de liberdade".

Fatos e Curiosidades

O filósofo Luciano de Samósata, em uma de suas obras, teria escrito uma fábula comparativa que descrevia como uma mosca poderia se reanimar, após sofrer possíveis desalentos. No seu texto, “o elogio da mosca” ele descreveu uma analogia, explicando que assim como a mosca conseguia se reascender, também seria possível para Hermótimo entrar em grandes êxtases profundos e reflorescer repetidamente, trazendo de volta sua alma ao corpo.

Fontes:

ARISTÓTELES. Metafísica. trad. Edson BINI. São Paulo: Editora Edipro, 2012.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Editora Cultrix , 1967.

CATIQUE, Mariney Souza. Xamanismo grego: sabedoria e filosofia no pensamento de Empédocles e Pitágoras. Manaus: UFAM, 2014.

CIVITA, Victor. Pré-Socráticos: Os pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultura LTDA. 1996.

DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade na Grécia Arcaica. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.

ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.

HADOT, Pierre. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Editora Lisboa, 1999.

KIRK, Geoffrey; RAVEN, John; SCHOFIELD, Malcom. Os filósofos pré-socráticos. Trad. Calor Alberto Louro Fonseca. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

LUCIANO de SAMÓSATA. Obras I: O Elogio da Mosca. Cambridge/Madrid: Editora Gredos, 1996.

PLÍNIO, O velho. História Natural.  trad. Harris Rackam. Cambridge: Harvard University Press, 1991.

PLUTARCO. Vidas Paralelas. Trad. Carlos Alcade Martín e Marta González González. Madrid: Editora Gregos, 2010.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Kagemni do Egito

Kagemni do Egito - (2600 a 2500) a.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

Foi um filósofo egípcio da antiguidade que escreveu uma obra de instrução sapiencial chamada de “Instruções de Kagemni”. Acredita-se que ele tenha vivido aproximadamente entre a IV e a VI dinastia egípcia, no chamado médio império.  Seu nome também é transliterado como “Kagemni-Memi”. Exercia a função de vizir no reino do faraó Seneferu, esse cargo acumulava várias atribuições como o de ministro, conselheiro, administrador, superintendente e juiz. Sua obra possuía algumas semelhanças com as máximas de Ptahotep, porém se diferenciava das obras de outros pensadores da época. Foi escrito no formato de “sebayt” que era um típico gênero literário egípcio, escrito com a finalidade didática de ensinar. Teria sido produzida em um estilo de escrita denominado de “hierático arcaico”. Parte de sua obra se encontra compilado no famoso Papiro de Prisse. Sua esposa era conhecida pelo nome de “Nebtynubkhet Sesheshet” e acredita-se que ela, provavelmente era filha do faraó Teti. O nome de sua esposa foi descoberto ocasionalmente, por arqueólogos, em uma pedra detectada de maneira independente. A múmia de Kagemni foi adulterada, tendo sido retirados do local os amuletos e outros objetos preciosos.

Filosofia Moral

Segundo algumas fontes, Kagemni foi considerado o primeiro pensador pacifista do antigo Egito. A servidão ao próximo era um exercício humano que, segundo ele, agradava a Deus. Defendia a teoria de que era preciso ter respeito e compaixão por todos os seres vivos. Por isso, também era visto como um forte defensor da natureza e dos animais. Sua obra foi agrupada em um compilado de máximas instrutivas que revelavam conselhos proverbiais para a condução de uma vida boa. A escrita retravava ensinamentos práticos para a vivência, orientando sobre como obter moderação e praticar a virtude da modéstia. As instruções são fontes importantes para os padrões morais e éticos do antigo Egito. Ele explicava que o homem virtuoso seria aquele que conseguia cultivar o silêncio, pois este sabia ter moderação, praticando o autocontrole e a calma. Advertia também sobre como evitar os vícios da gula, ensinava a respeito de saber como se alimentar bem, praticando bons hábitos alimentares. Esse seu tratado, a respeito da arte de viver bem, trazia recomendações sobre comportamentos sociais, explanando algumas regras de etiqueta. Defendia um conceito ético de que o ser humano deveria realizar ações corretas quando acreditasse que verdadeiramente estava certo, deveria se policiar para não buscar interesses egoísticos ou vantagens pessoais. Exercitava o hábito da simplicidade como sendo uma qualidade necessária para o homem se tornar um sábio. Recriminava a corrupção moral que era ocasionada pelo orgulho desmedido.   

Filosofia da História

Seu túmulo está localizado em uma mastaba, situada em um sítio arqueológico do Egito conhecido como “Saqqara”. As mastabas são espécies de tumbas do antigo Egito que possuíam um formato piramidal. A mastaba de Kagemni é uma das mais conhecidas e procuradas por turistas, tendo um labirinto de quartos e antessalas que servem de visitação. Logo na entrada, há uma pintura que descreve Kagemni segurando na mão direita um cetro, simbolizando o poder e na mão esquerda um longo bastão, representando a arte do ofício. Nas salas de sua mastaba se encontram vários quadros pintados que retratam cenas do cotidiano político de Kagemni, juntamente com elementos da natureza. Os temas teriam sido sugeridos pelo próprio Kagemni com a finalidade de descrever a arquitetura local, a fertilidade do campo e a riqueza de bens.  A fauna descrita apresenta animais selvagens e domésticos, como peixes, sapos, crocodilos, insetos, pássaros, gansos, hienas, hipopótamos e vacas. Os quadros também exprimem peças de artes cênicas como pessoas praticando acrobacias e danças variadas.

Alguns historiadores afirmam que provavelmente teriam existido duas pessoas com o mesmo nome, chamados de Kagemni I e Kagemni II, outros pesquisadores acreditam que esse nome, seria na verdade um sobrenome de família que descrevia uma linhagem tradicional do antigo Egito. Contudo, à maioria dos especialistas apontam que Kagemni produziu suas obras com o objetivo de ser lembrado pelos seus descendentes, por isso, houve, em outros períodos da história antiga, algumas comemorações de ancestralidade, em homenagem a sua memória, esse fato é que pode ter gerado tal dubiedade.

Filosofia Sapiencial

+ “São as nossas ações que falam por nós”

+ “O homem sábio não se exalta e nem se gaba”.

+ “Não se gabe de sua força no meio de jovens soldados”

+ “Deixe seu nome avançar enquanto você silencia tua boca”

+ “O homem tímido prospera e é louvado quem sabe se adaptar”.

+ “As ações que levam seu nome são melhores que palavras ao vento”

+ “O homem humilde floresce, e aquele que age com retidão é elogiado”

+ “Reserve um momento para conter seu coração e sua ganância ignóbil”

+ “As tendas são abertas ao silencioso e espaçoso é o assento do satisfeito”

+ “Uma coisa boa significa bondade, o que é bom, e o pouco substitui o muito”

+ “Leva apenas um breve momento para conter o coração e é vergonhoso ser ganancioso”.

+ “Quando for chamado não venha com grande personalidade, para que não seja desafiado”

+ “As facas estão afiadas contra o imprudente, e ninguém avança rapidamente se não é a seu tempo”.

+ “Cuidado para não criar conflitos; não se sabe o que pode acontecer, o que o Deus fará quando castigar”

+ “Um copo de água aplaca a sede, a glutonaria é grosseira e censurável e um punhado de vegetais fortalece o coração”.

+ “É desprezível aquele cujo ventre continua cobiçando depois que passou a hora de comer: Esquece-se daqueles que vivem na casa quando devoras”.

+ “Se você se sentar com um glutão, coma quando ele terminar; se você se sentar com um bêbado, aceite apenas uma bebida, e seu coração ficará satisfeito”.

+ “Se um homem carece de boa comunhão, nenhum discurso tem qualquer influência sobre ele. Ele é azedo para os de bom coração que são gentis com ele. Ele é uma dor para sua mãe e seus amigos”.

+ “Não seja arrogante entre seus pares por causa de sua força. E tome cuidado para agir de maneira a incentivar a oposição. Pois não se sabe o que acontecerá ou as coisas que Deus fará para punir o mal”.

Fontes:

ALLEN, James Peter. Egípcio Médio: Uma Introdução à Língua e à Cultura dos Hieróglifos. Inglaterra: Universidade de Cambridge, 2000.

ASANTE, Molefi Kete. Os filósofos egípcios: Vozes Antigas Africanas para Estes Tempos de Imhotep a Akhenaten. Site: Docero Brasil. Internet: Acesso em 2023.

BROWN, Brian. A Sabedoria dos Egípcios. Nova Iorque: Brentano, 1923.

CARPICECI, Alberto Carlos. Arte e História do Egito. Florença: Editora Bonechi, 1994.

CARREIRA, José Nunes. Filosofia Antes dos Gregos. Lisboa: Editora Europa-América, 1994.

CELADA, Benito. Literatura Egípcia: Origem, Características, Autores e Obras. Espanha: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 1935.

DIOP, Cheikh Anta. História Geral da África. São Paulo: Editora Ática/UNESCO, 1980.

GUNN, Battiscombe. A Instrução de Ptah-Hotep e a Instrução de Kagemni: Os livros mais antigos do mundo. Londres: A Sabedoria do Oriente, 2009.

KASTER, Joseph. A Sabedoria do Antigo Egito. Reino Unido: Editora Michael O'Mara, 1995.

PACHECO, Francklim. Os ensinamentos para kagemni: Textos de Sabedoria. Egito: Comissão Diocesana da Cultura, 2016.

TALLET, Pierre. História da cozinha faraônica. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

Teixeira de Azevedo

Teixeira de Azevedo – (1715 a 1800) d.C

Autor: Alysomax soares

Introdução

Gaspar Teixeira de Azevedo foi um filósofo brasileiro ligado a corrente de pensamento da Filosofia da História. Fundamentou-se por um sistema de ideias entre o campo da Historiografia Regional e da Filosofia Racional. Estudou as áreas da Filosofia, Teologia e História. Buscou conciliar algumas teorias científicas entre a fé e a razão, ancorando-se entre os pensamentos filosóficos do espiritualismo, materialismo, positivismo, sensualismo, ecletismo e da escolástica. Iniciou seus estudos no chamado Colégio da Companhia de Deus, na região de Santos. Fez parte da chamada Academia dos Renascidos na Bahia e da Academia Real de Ciências de Lisboa. Ganhou destaque como sendo um grande orador sacro. Laborou como escritor e monge beneditino. Após se formar padre, ficou conhecido pelo codinome de “O Frei Gaspar da Madre de Deus”. Era avesso a honrarias, tendo recusado várias homenagens e também alguns dos cargos que lhe foram oferecidos. Chegou a atuar como professor substituto das disciplinas de Filosofia e Teologia, tendo, logo depois, concluído o curso de Mestrado e de Doutorado. Com isso, assumiu os ministérios de mestre do mosteiro de São Bento, e Abade Provincial, na cidade do Rio de Janeiro. Deixou escrito, em torno de vinte obras, porém apenas algumas dessas obras ainda se encontram conservadas. Era filho do Militar Domingos Teixeira de Azevedo, ficou órfão de seu pai, ainda cedo, tendo sido criado por sua mãe, a Senhora Ana de Siqueira e Mendonça. Nasceu na localidade de São Vicente, em São Paulo, por volta de 1715 e veio a falecer também nessa região de São Paulo, em 1800, com 85 anos. 

Filosofia da História

Escreveu uma obra sobre a História da Capitania de São Vicente, que posteriormente passou a se chamar o Estado de São Paulo. Nos seus escritos, procurou desconstruir o mito negativista que existia em torno dos paulistas, que eram vistos como preguiçosos e covardes. Fomentou uma concepção teórica chamada de “lenda dourada” que mostrava um paulistano guerreiro e valente, o qual possuía coragem e força, e que buscava desbravar novas terras, em busca de riquezas e metais preciosos. Sua principal obra, embora retrate a história da antiga capitania de São Vicente, ela tem um viés autobiográfico, pois a família de Gaspar foi uma das primeiras famílias que povoaram a região de Santos, em São Paulo. Desse modo, a vida do Frei Gaspar se contextualiza com a formação dessa capitania.

Fez notáveis pesquisas históricas, investigando arquivos e documentos com a finalidade de contribuir com formação do pensamento historiográfico brasileiro. Desenvolveu dois métodos inovadores de pesquisa para a época, a chamada “verificação documental” e a “regionalização perquisitória”. Suas pesquisas corroboraram para esclarecer pontos difusos e lacunas que havia em partes da história escrita. Sua obra foi muito importante no processo de formação e preparação das elites dirigentes do país. Seu posicionamento histórico evidenciava a política de ocupação do território pelos portugueses, retratando fatos da vida diária, dos quais eram experienciados na colônia.

Filosofia da Educação

O Frei ficou muito conhecido nos centros intelectuais da época, por conta de ter desenvolvido importantes mudanças nos métodos de ensino da Filosofia. A concepção pedagógica da época se estruturava em torno dos estatutos pombalinos e da Universidade de Coimbra. As alterações que foram por ele implementadas tinham como finalidade fomentar a produção de conhecimento científico. A disseminação desses novos saberes pedagógicos visava renovar o conhecimento educacional, para efetivar um saber mais utilitário. Desse modo, ele investiu na formação técnica e fundou duas principais oficinas de trabalho: a de pintor e a de encadernador.

Seus estudos ajudaram na compreensão da doutrinação indígena e como isso afetou o processo de formação da educação brasileira. Retratou as características pedagógicas que se fundamentavam na ordem beneditina. Pontuando as orientações e as regulamentações que eram implantadas nos currículos educacionais. Na época colonial, não existia uma clara separação entre política e religião, e nem entre a igreja e a coroa portuguesa. Nesse contexto, Gaspar explicava como a coroa portuguesa tinha utilizado a catequese como instrumento político de administração do território e como um meio de controle social. Ele evidenciou, de maneira crítica, importantes fatos que mostravam como o pensamento intelectual brasileiro estava se formando, a partir do sincretismo entre os homens religiosos e os homens públicos.

Filosofia Sapiencial

+ “A boa fé com que escrevo obriga-me a não ocultar outra notícia que pareça destruir tudo quanto fica dito”.

Obras:

Notícias dos anos em que se descobriu o Brasil; Dissertação e Explicações; Extrato Genealógico; Memórias da História da Capitania de São Vicente; Fundação da Capitania de São Vicente; Memórias para a História da Capitania de São Vicente; Curso de Filosofia; Filosofia Platônica; Catálogo dos capitães-mores e generais do Rio de Janeiro; Entradas das religiões e suas fundações; Oração fúnebre, exéquias e Sermões.

Fontes:

AZEVEDO, Gaspar Teixeira. Memorias para a História da Capitania de São Vicente. Biblioteca Histórica Paulista. São Paulo: Editora Livraria Martins, 1976.

BEZERRA, Alcides. A filosofia na fase colonial. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1935.

BRASIL. Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional: Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras. Site do CPBN. Brasília: Fundação da Biblioteca Nacional, Acesso em 2023.

BUARQUE, Sergio. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2012.

FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Livraria de Frei Gaspar da Madre de Deus. Col. Memória Atlântica. Marília: Editora Cultura Acadêmica, 2019.

LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. História da capitania de S. Vicente desde a sua fundação por Martim Affonso de Souza em 1531. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro: IHGB, 1847.

PITA, Sebastião da Rocha. História da América Portuguesa. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1976.

RODRIGUES, José Honório. A historiografia paulista: História da História do Brasil - Historiografia colonial. São Paulo: Editora Nacional, 1979.

TAUNAY, Afonso de. Frei Gaspar da Madre de Deus. São Paulo: Revista do IHGSP, 1915.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Historia geral do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Laemmert, 1854. 

domingo, 2 de julho de 2023

José de Alencar

José de Alencar - (1829 a 1877) d.C

Autor: Alysomax Soares

Introdução

José Martiniano de Alencar Júnior foi um filósofo cearense que fez parte do movimento literário chamado de romantismo brasileiro, tendo se destacado por uma linha denominada de indianismo. Utilizou-se da arte literária para comunicar suas ideias. Ficou conhecido como “o patriarca da literatura brasileira”, deixando registrado na literatura nacional uma simbiose de romances indianistas, históricos, regionalistas e urbanos, em que retrava temas relacionados a literatura, a política, a arte teatral e questões sociais. Laborou como escritor, professor, dramaturgo, advogado, filólogo e político. Concluiu seus primeiros estudos na cidade do Rio de Janeiro, posteriormente foi para São Paulo onde terminou o curso de Direito. Fundou uma revista literária chamada de “Ensaios Literários”. Chegou a lecionar a cadeira de Direito Mercantil. Teria sido eleito patrono da cadeira de número 23 na Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo renomado escritor Machado de Assis. Chegou a utilizar o pseudônimo “Ig” e “Sênio” para escrever algumas obras.   

O pai de Alencar trabalhou por um tempo como Padre, tendo posteriormente se tornado Senador do Império e Governador do Ceará, era conhecido como José Martiniano de Alencar e casou-se com a Sra. Ana Josefina. O escritor José de Alencar nasceu na localidade de Messejana, em Fortaleza, por volta de 1 de maio de 1829. Faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877, aos 48 anos, vitimado por uma tuberculose. Seu corpo foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Foi estabelecido, em sua homenagem, o dia de seu nascimento como sendo o dia nacional da literatura brasileira. Além disso, outras muitas homenagens foram prestigiadas a ele, em reverência a sua grande contribuição para arte literária.

Filosofia Literária

Problematizou em seus textos situações da vida cotidiana, pontuando questões ligadas ao comportamento humano e suas relações interpessoais. Sua vasta obra produzida tratava sobre diversos temas, tendo ganhado mais destaque os aspectos nacionais e a literatura indianista. Por isso, alguns pesquisadores apontam o idealismo e o nacionalismo como sendo marcas que qualificam sua obra. Sua literatura foi muito importante para caracterização da identidade brasileira, auxiliando no processo de nacionalização da literatura e a consolidação do romantismo no Brasil. Enalteceu a figura do índio como sendo um típico herói Brasílico. Relacionou em sua literatura, a história cultural e o folclore brasileiro com a vida urbana e rural que se construía no cenário nacional. Também descreveu personagens tipicamente brasileiros como a figura do sertanejo nordestino. Utilizou uma linguagem local com o objetivo de simplificar a comunicação que explicava a realidade brasileira. Nesse contexto, a obra de Alencar serviu como ferramenta de investigação de alguns acontecimentos históricos que permearam o Brasil. Seus escritos influenciaram não apenas o movimento literário, mas também foram fundamentais no processo emancipatório da nação brasileira.  

Escreveu uma obra autobiográfica intitulada de “Como e por que sou romancista”, em que descreveu de maneira clara seu vasto conhecimento profundo sobre os vários temas em que dissertou. Demonstrando que tinha consciência e entendimento do papel literário que sua obra possuía no contexto brasileiro, pontuando com intensa lucidez o desempenho que sua obra demonstrava no cenário literário. Esse livro foi muito importante para compreender não apenas a obra de Alencar, mas também algumas características da literatura brasileira.

Filosofia Política

Ingressou na vida política pelo Partido Conservador, assumindo o cargo de Deputado Federal e posteriormente de Ministro da Justiça. Mesmo defendendo a consolidação de um governo forte, ele dissertou a respeito de algumas questões democráticas. Alencar sofreu duras críticas de opositores, tanto na sua atuação como escritor, bem como também no seu desempenho como político. Ao contrário do que muitos especulavam sobre a ideia de que Alencar era a favor da escravidão, na verdade ele era a adepto do parecer de que a abolição da escravatura deveria se dar de forma gradativa, essa era a visão da maioria dos conservadores da época, pois defendiam o ponto de vista de que os escravos não deveriam ser jogados na sociedade, todos ao mesmo tempo, a própria sorte, sem terem políticas sociais adequadas, como moradia, alimentação, trabalho e outras condições básicas. A escrita romântica foi o instrumento que Alencar se apropriou para desempenhar sua atuação na política. Construindo teorias que ajudaram a criar a ideia de nação unificada. Até mesmo para os críticos, é difícil dissociar o Alencar escritor do Alencar político. Seu lado político teria sido influenciado não apenas pela literatura, mas também pela história de vida de sua vó (Barbará de Alencar), e de seu Pai José Martiniano de Alencar, bem como também de seu tio (Tristão Gonçalves de Alencar Araripe).

Filosofia Sapiencial

+ “A ocasião faz o homem”.

+ "Tudo passa sobre a Terra"

+ “Amar é comprazer-se na perfeição”.

+ “Tinha-a eu amado para ter o direito de odiá-la”.

+ “O ciúme não nasce do amor, e sim do orgulho”.

+ “Tenho fé no amor, com ele vencerei o impossível”

+ “O amor sem esperança não tem outro refúgio senão a morte”.

+ “É na idade da ambição que se prova a têmpera dos homens”.

+ “Só a ignorância aceita e a indiferença tolera, o reinado da mediocridade”.

+ “Toda arte é bela e sublime, logo que se eleva à altura do espírito e do coração”.

+ “O sábio ensina, por onde passa, os segredos da paz, e o herói, as façanhas da guerra”.

+ “O elogio é um meio muito usado, mas sempre novo, de render homenagem à vaidade alheia”.

+ “A vida não é como a página de um livro, que podemos voltar e reler aquilo que não entendemos”.

+ “O homem é que faz sua profissão; a sua inteligência é que a eleva; a sua honestidade é que a enobrece”.

+ “Todo discurso deve ser como o vestido das mulheres; não tão curto, que nos escandalizem, nem tão comprido, que nos entristeçam”.

+ “É o entusiasmo que faz o poeta e o artista, o sábio e o guerreiro; é o entusiasmo que faz o homem-ideia diferente do homem-máquina”.

+ “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”.

+ “A imaginação é um prisma brilhante, que reflete todas as cores que decompõem os menores átomos de luz, que faz cintilar um raio de pensamento por cada uma de suas facetas diáfanas”.

+ “O amor, porém, é contagioso, com especialidade na solidão, onde a alma tem necessidade de uma companheira, e quando de todo não a encontra, divide-se ela própria para ser duas: uma, esperança; outra, saudade”.

Fatos e Curiosidades:

Acredita-se que a maioridade do D. Pedro II tenha sido articulada na casa de José de Alencar quando ele ainda era criança. Seu pai promovia, em sua residência, alguns encontros políticos, tendo acontecido, em um desses encontros, a realização dessa tramitação.

Obras:

Cinco Minutos; Mãe; Til; Os Contrabandistas; Cartas de Erasmo; Alma de Lázaro; As Minas de Prata; Os Filhos de Tupã; Iracema; O Guarani; Ubirajara; Senhora; A Guerra dos Mascates; O Ermitão da Glória; O Sertanejo e O Gaúcho; A Viuvinha; Lucíola; Encarnação; Verso e Reverso; O Demônio Familiar; As Asas de um Anjo; Diva; O Juízo de Deus; A Pata da Gazela; O Tronco do Ipê; Sonhos d'Ouro; Alfarrábios; Ao Correr da Pena; Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios; O jesuíta; O Crédito; A expiação; O sistema Representativo; Visão de Jó.

Fontes:

ABREU, Capistrano de. Ensaios e Estudos: crítica e história. Brasília: Editora INL, 1976.

ALENCAR, José. Como e porque sou romancista. Rio de Janeiro: Typografia de O. Leuzinger & Filhos, 1893.

AMORA, Antônio Soares. O Romantismo. São Paulo: Editora Cultrix, 1973.

BOSI, Alfredo. História do Brasil Nação. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2012.

CÂMARA Cascudo. O folclore na obra de José de Alencar. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1953.

CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora Itatiaia, 1997.

COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.

FREIRE, Gilberto. Reinterpretando José de Alencar. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1955.

PELOGGIO, Marcelo. José de Alencar: um historiador a sua maneira. Revista Alea. Vol. 06. Rio de Janeiro: Scielo, 2004.

SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Dois escritos democráticos de José de Alencar: O sistema representativo e a Reforma eleitoral. Rio de Janeiro: UFRJ, 1991.

VIANA, Filho Luís. A vida de José de Alencar. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1979.