Tristão de Alencar – (1821 a 1908) d.C
Autor: Alysomax Soares
Introdução
Tristão de Alencar Araripe foi um filósofo cearense ligado a corrente de pensamento da “História
Crítica”. Era considerado um profundo conhecedor do simbolismo heráldico. Atuou
como filósofo, historiador, escritor, jurista e político brasileiro. Ficou
conhecido como “o conselheiro Tristão de Alencar”, e às vezes se utilizava do
pseudônimo de “Philopoemen” para escrever algumas obras literárias.
Assumiu diversos cargos na administração pública do Brasil e possuía um extenso
conjunto de obras publicadas. Estudou primeiramente o curso de Humanidades, na
cidade do Recife, tendo posteriormente ingressado na Faculdade de Direito de Olinda,
porém, somente tempos depois, conseguiu obter o título de Bacharel em Ciências
Jurídicas e Sociais, pela Academia Paulista, em São Paulo. Fez parte de várias
agremiações científicas e culturais, sendo considerado um dos primeiros
historiadores cearenses a ser escolhido para compor os quadros do IHGB. Teve como
filho outro grande filósofo cearense conhecido como “Araripe Júnior”. Era filho
do Militar Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e de Dona Ana Tristão de
Araripe. Nasceu na cidade de Icó, no Ceará, em 1821 e faleceu no Rio de
Janeiro, em 1908. Foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, conhecido
atualmente como “cemitério do caju”.
Filosofia da História
Considerado um dos primeiros historiadores cearenses, ele sistematizou partes da História do Ceará, colaborando na criação de um pensamento historiográfico cearense e formando a história provincial desse Estado. De acordo com pesquisadores, sua obra “História Provincial do Ceará” seria um clássico que relatava suas observações históricas, transitando entre fatos do Brasil colônia até o início do período imperial. Seu principal objetivo como pesquisador era ajudar na elaboração de uma História Nacional, tendo como ponto de partida a História local e regional. Tristão descreveu fatos históricos que apontaram os primeiros capítulos da História do Ceará, nesse contexto, ele se via ao mesmo tempo como um narrador e um personagem indireto de suas obras, pois sua família teria sido muito atuante na construção política de sua terra natal. Essa elaboração abrangia uma teia de informações que explicavam de maneira reflexiva o contexto social, relacionando sua visão jurídica com os saberes históricos e geográficos, aos quais ele teria adquirido no IHGB.
Filosofia Política
Era visto como sendo um intelectual letrado e um importante político no
cenário do Brasil Imperial. Vivenciou a efervescência das revoltas regenciais
que se instalaram pelo país. Segundo historiadores, sua identidade política se
encaminhava mais na direção do sistema de monarquia constitucional, pois ele
sustentava a ideia de continuidade da monarquia na questão da conservação da
ordem, pontuando que o progresso deveria ser conquistado de maneira gradual,
através de um longo processo civilizatório, e por meio do diálogo político.
Embora fosse membro do partido conservador, ele advogou em defesa de algumas
pautas liberais. Desse modo, poderia ser enquadrado também como tendo um viés
moderado, já que lutava contra as mudanças violentas de cunho radical que
ameaçavam a estrutura social, mas defendia algumas causas progressistas, por
isso militou em prol das ideias civilizatórias para o Brasil. Tinha uma visão
humanista em relação aos escravos, por essa razão, advogou em defesa dos índios
e dos negros.
Filosofia Simbolista
Ensaiou estudos sobre a linguagem simbólica, tendo escrito uma obra de arqueologia intitulada de “as cidades petrificadas e inscrições lapidares no Brasil”. Nessa obra, ele destacava, em suas pesquisas, algumas das características que os povos da América central e do sul teriam, em comum, com as tribos indígenas que habitaram o Brasil primitivo, evidenciando também, elementos da escrita e da arquitetura que foram deixados nas lápides rochosas ao longo da História do Brasil antigo. Além disso, também teria criado diversos símbolos de representação dos brasões e emblemas que foram projetados para os escudos e bandeiras de vários estados e cidades brasileiras. Entre esses emblemas, são considerados de sua autoria, o brasão da cidade de Fortaleza, no Ceará e os escudos representativos da cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais e de Curitiba, no Paraná.
Filosofia Sapiencial
+ “É um útil exercício recordar as ações egrégias”.
+ “Cada geração deve assumir a responsabilidade de seus atos”
+ “O louvor e o vitupério são os grandes estímulos do homem social”.
+ “Historiando os nossos sucessos do passado, pagamos a pátria o tributo
de cidadão”.
+ “Nunca a democracia afastou-se mais de um governo do que o da
republica de Piratinin”.
+ “Não podendo cinzelar estátuas: deixamos por escrito o que do nosso
passado vamos alcançando”.
+ “Nada excita tanto o esforço do homem para o bem como a recordação das
nobres ações deu seus antepassados maiores”
+ “A natureza te distinguiu e te deu, marcos de separação; para
indicar-te, a própria suficiência e capacidade; obra, pois por ti”
+ “Liberdade imediata dos escravos: com este brado fez dos infelizes cativos,
que foram vítimas sacrificadas ao truculento egoísmo, proveitosos cidadãos”.
+ “Suprima-se o exemplo do passado, e teremos a humanidade sempre no
berço da infância, sempre nos jogos pueris, falta do poderosíssimo auxílio da
experiência”.
+ “Em tempos outrora, aplaudiam-se os guerreiros, que talavam os campos,
e arrasavam as cidades, hoje, deve-se exaltar-se aos sábios, que ensinam a
fertilizar os campos, e enchem as cidades de doutrinas”.
+ “A virtude, escopo primário e último da vida humana, não está somente
nos feitos estrondosos, pois no sossego das paixões e nos acontecimentos
modestos, às vezes também se encontram grande somas de virtudes”.
+ “Também é de lamentar que os políticos baianos nunca tivessem tentado
se aproximar dos chefes jagunços (conselheiristas), por intermédio de políticos
e autoridades que com eles mantinham contato, para tentar medidas suasórias."
+ “Nação recente, ainda nos falta tempo para ter a verdadeira história.
Somos de ontem, e os povos novos, no pensar de um insigne escrito antigo, não
aprenderam ainda a escrever a sua história. Quando a soubermos escrever, acharão
os bons engenhos futuros os documentos precisos para o artefato monumental das
nossas glórias”.
Curiosidades
Araripe era primo do escritor José
de Alencar e neto da Barbara Pereira de Alencar, revolucionária que atuou na revolução
pernambucana e na Confederação do Equador. Seu pai, o senhor Tristão Gonçalves de Alencar Araripe e o seu
tio, o senhor José Martiniano Pereira de Alencar (pai do escritor José de
Alencar) também teriam participado desses movimentos. Conta-se que sua mãe, a
senhora Ana Tristão de Araripe, teria ficado
conhecida como a “Ana triste”, após seu marido ser executado na luta a favor da
confederação do Equador.
Obras:
A Eleição de 1853; O Rei e o Partido Liberal; História da província do Ceará; Cidades petrificadas e inscrições lapidares no Brasil; Males Presentes; A questão religiosa; Patriarcas da Independência; Primazias do Ceará; Pater-famílias no Brasil nos tempos coloniais; Negócios do Ceará; Visconde do Rio Branco na Maçonaria; Guerra civil no Rio Grande do Sul; O Ceará no Rio de Janeiro; Código Civil Brasileiro (1885); Neologia e neografia geográfica do Brasil; Expedição do Ceará em auxilio do Piauí́ e Maranhão; Independência do Maranhão; Movimento colonial da América; Primeiro navio francês no Brasil; Como cumpre escrever a história da pátria; Notícias sobre a Maioridade; Classificação das leis do processo criminal e civil; Consolidação do processo criminal do Império do Brasil; Primeiras linhas sobre o processo orfanológico.
Fontes:
ARARIPE, Tristão de Alencar. Cidades petrificadas e inscrições
lapidares no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Rio de Janeiro: IHGB, 1887.
________________________ História da Província do Ceará: Desde os
tempos primitivos até 1850. Recife: Tipografia do Jornal do Recife, 1867.
BARREIRA, Dolor. História do Ceará. Fortaleza: Instituto do
Ceará, 1986.
BEZERRA, Antônio. O Ceará e os cearenses. Fortaleza: Fundação
Waldemar Alcântara, 2001.
BLOCH, Marc. História e Historiadores. Lisboa: Teorema, 1998
BRÍGIDO, João. Ceará, homens e fatos. Rio de Janeiro: inelivros,
2001.
HRUBY, Hugo. O século XIX e a escrita da história do Brasil: diálogos
na obra de Tristão de Alencar Araripe (1867-1895). Tese de Doutorado. Porto
Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2012.
RAMOS, Francisco Régis Lopes. Passado Sedutor: A História do Ceará
entre o fato e fábula. Repositório Digital. Fortaleza: UFC, 2008.
RIBEIRO, Clóvis. Brasões e Bandeiras do Brasil. São Paulo: Editora
São Paulo, 1933.
SACRAMENTO, Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1902.
SILVA, Leandro Maciel. Tristão de Alencar Araripe e a História da
Província do Ceará: Contribuição a História Nacional. Dissertação de
Mestrado. João Pessoa: UFPB, 2013.
STUDART, Guilherme. Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense.
Fortaleza: Typografia, 1910.
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